Anjo De Cristal escrita por Maria Fernanda Beorlegui


Capítulo 35
Ambição




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POV Maria

Era um dia claro e quente, toda a família estava a beira na praia, esperando alguém chegar. Ana Rita e Daniela estavam se aproximando de mim, e assim que Ana ficou mais próxima consegui ver o quanto seus olhos estavam mais claros que de costume. Ela se sentou ao meu lado e fez um gesto para Daniela sair.

—Quem estamos esperando? —Pergunto curiosa. O olhar de Ana Rita parecia estar perdido e ela quer me falar algo, mas parece temer a minha reação.

—Sabe que não gosto da ideia deles terem se casado... —Ana Rita fala me deixando confusa. —Leandro não merece ter ela como esposa...

—Quem é a esposa de Leandro, Ana?—Pergunto confusa. Me deparei com uma figura feminina se aproximando de nós. Ela dava passos lentos sobre a areia da praia, mas olhava com firmeza para Leandro.

—Amara?—Pergunto assustada.

Meus olhos se abriram com medo, eu despertei de um sonho. Vi Estevão de pé em minha frente e de imediato me levanto da cama.

—O que aconteceu?—Pergunto ao ver o seu nervosismo.

—Nem eu sei como te explicar. Só vendo para entender. —Estevão fala me deixando confusa. —Você precisa ver ela, Maria.

(...)

Após me arrumar, desci com Estevão e seguimos para a piscina. Por Estevão me traria para a piscina da nossa casa?
Vejo Fernando olhar para o seu reflexo na água e colocar a mão no bolso, mas seu olhar foi de encontro ao relógio de pulso que ele usava.

—O que ele faz aqui?—Pergunto. Estevão solta a minha mão e me deixa ir sozinha ao encontro de Fernando. —O que você faz aqui? —Pergunto surpresa.

—Se lembra quando Ana Rita disse que Amara sabia nadar perfeitamente bem? —Fernando pergunta me deixando confusa. —Ela tinha razão. —Ele fala.

Nossos olhares vão de encontro a mulher que surge repentinamente de dentro das águas. Ela usava roupas não proporcionais para mergulho, mas ela havia mergulhado mesmo assim. Sua respiração estava ofegante, ela parecia ter ficado muito tempo debaixo da água como Amara fazia. Meu corpo tombou para trás ao ver o rosto da mulher desconhecida, senti seu olhar cair sobre mim, e então ela se retirou da piscina.

—O que significa isso? —Pergunto. A minha voz está alterada e isso faz Fernando me olhar assustado.

—Maria, você precisa me escutar. —Fernando pede. Eu olho assustada para a mulher, todavia ela sorri. —Ela é...

—Amara. —Falo amedrontada. Estevão se aproxima e segura a minha mão querendo dar ao entender que algo de grave aconteceu.

—Ela é uma sósia de Amara, Maria. —Fernando revela. Meu semblante era de total confusão e medo. Quem é essa mulher?

—Me chamo Angélica. —A mulher fala parecendo escutar a minha pergunta mental. —E eu não sou sua filha...

—Ela pediu me ajuda. —Fernando fala. —Ela estava trancafiada em uma clínica sem saber quem de fato é e se tem ou não uma família.

—Clinica psiquiátrica? —Pergunto. Sinto o olhar de Estevão afirmar a minha dúvida, todavia permaneço esperando uma resposta de Fernando. —É impossível ela não ser Amara, Fernando...

—Por que Amara forjaria a própria morte? Se ela tivesse inimigos eu poderia acreditar na hipótese dela ter sofrido um atentado. —Fernando fala com razão. —Eu pensei em outra hipótese, mas ela é totalmente ridícula. —Ele revela.

—Ele pensou que tivéssemos escondido uma suposta irmã gêmea de Amara. —Estevão fala.

—Você acha mesmo que eu iria fingir que Amara não tinha uma irmã? Mesmo sabendo que quase morri por ter perdido ela? —Eu estou em total descontrole, sinto meu rosto ferver de raiva ao olhar para Fernando.

—E como explicar tamanha semelhança? —Ele pergunta ao abrir os braços. —Eu preciso saber da verdade.

—Eu não sei de nada. —Falo ao enfrentar com meu olhar.

—Um fio de cabelo seu pode ser a resposta. —Fernando fala. Um exame de DNA?

—Ainda pensa que essa mulher é irmã gêmea de Amara e que eu a deixei presa em uma clínica psiquiátrica? —Pergunto exaltada.

—Eu penso, eu ainda tenho esperança, de que esta mulher seja Amara!—Fernando fala alterando a voz.

—Faça o teste, Maria. —Estevão pede. A essa altura eu estava encarando Angélica. Na verdade, eu estava tentando achar uma saída. Mas eu me vi sem nenhuma alternativa, então decidi aceitar a proposta de Fernando.

—Seja breve. —Falo. Fernando recolhe alguns fios de cabelo meu e os guarda em um pequeno saco plástico.

—Lúcia e Dalila estão me ajudando com isso. —Fernando revela.

—Não sabia que Dalila estava de volta. —Estevão fala surpreso. Meu olhar estava fixo em Angélica, é como se eu estivesse hipnotizada.

—Daniela já sabe?—Pergunto mudando de assunto.

—Não. —Fernando responde enquanto vejo Angélica olhar o jardim. —Mas Leandro já sabe...

—Como ele ficou sabendo?—Pergunto assustada.

—Ele nos encontrou no aeroporto. —Assim que Fernando fala, na minha mente se passa milhões de lembranças.

Amara e Leandro poderiam ter sido felizes, mas a minha filha escolheu Fernando, e mesmo escolhendo ele, ela morreu. Não tem a mínima possibilidade de Angélica ser Amara, minha filha não teria o descaramento de nos conversavam enganar. Por que Amara se fingiria de morta? E por que foi internada em uma clínica psiquiátrica? A história de Amara e Angélica se cruzam em apenas um ponto, o tempo. Faz exatos quatro anos que minha filha morreu, o mesmo tempo que Angélica possívelmente ficou presa.

Percebi a forma como Angélica e Estevão se olhavam, a mesma forma que Estevão e Amara se olharam da primeira vez. O mesmo ciúmes e medo que senti ao ver Amara como Regina retorna todas as vezes que olho para Angélica. Eu quero acreditar que essa mulher é Amara, mas minha razão diz que não é, isso é impossível. Amara não seria dissimulada ao ponto de fazer tamanha insanidade.

—Eu preciso me retirar, com licença. —Falo olhando Angélica pela última vez.

Assim que dou as costas para todos, uma lágrima cai dos meus olhos. Sempre chorei ao sentir medo e dor, mas esse choro com certeza é o pior de todos. Eu perdi Amara duas vezes, e agora que vejo uma mulher extremamente parecida com ela não posso se quer me deixar levar pela ilusão dela ser a minha filha. O olhar de uma é completamente diferente da outra, são distintos. Em Amara se via amor, mas em Angélica se vê ambição.

POV Zara

Eu observei cada canto da casa e percebi que Maite conseguiu tudo aquilo que um dia quis. Não deve ter sido facil para ela perder o filho e depois saber que Letícia nunca foi sua filha. Sei que Fabiana lhe rendeu muita dor, mas a morte dela não se encaixa.

—Você suspeita que alguém matou Fabiana? —Lorenzo pergunta. Eu esperava que Maite fizesse essa pergunta, porém Lorenzo me surpreende.

—Ela não teria motivos para se matar. —Respondo. O semblante de Lorenzo muda completamente e seu olhar cai sobre Maite.

—Você não estava em casa quando Fabiana morreu. —Lorenzo fala. —Rafal havia chegado de viagem e veio à procura de Letícia. Foi nesse dia que nossa filha decidiu ir embora do país.

—Sua filha. —Maite rebate enojada. —Acha mesmo que eu tenho coragem de matar uma pessoa?

—Quando se tem ódio na alma... —Lorenzo rebate. Sinto o olhar raivoso de Maite na minha direção. —Você nunca me contou onde esteve, Maite...

—Eu não me lembro, faz muito tempo. —Maite fala.

—Vou falar com Lúcia. —Lorenzo fala ao se levantar na mesa. —Ah...—Ele vem até mim. —Se preciso for eu irei chamar Letícia. —Ele ameaça. —Talvez ela entenda o que Zara pensa. —Lorenza fala no momento que me olha.

—Até que em fim alguém me deu créditos... —Falo. Maite me olha com uma certa raiva, mas nada faz. Isso faz com que eu suspeite dela, ela sim teria motivos de sobra para matar Fabiana.

—Não se esqueça de que Maria e Estevão também odiaram Fabiana... —Ela fala ao se levantar da mesa e ficar próxima de Lorenzo.

—Está insinuando que Maria matou Fabiana? —Lorenzo pergunta. —Se ela não teve coragem de matar Patricia, ela não teria coragem de matar a minha irmã. —Ele rebate e por fim se retira.

—O que você veio fazer aqui afinal? —Maite pergunta ao se virar bruscamente para ficar frente a frente comigo.

—Vim entender a morte de Fabiana. —Falo ao me levantar com calma. —E agora tenho a certeza de que ela foi morta...

—Você não sabe de nada. Você estava na França, fazendo Deus sabe lá o que enquanto eu estava em coma. —Maite fala brava. Se ela soubesse o que eu fiz durante a minha estádia na França... —Volte para lá e esqueça a morte de Fabiana.

—Eu vou ficar, Maite. Você não vai mudar a minha opinião só por que tinha ódio à Fabiana. —A enfrento.

POV Estevão

Quando Maria se retirou eu dei as costas para Fernando e Angélica e a observei andar. Eu imagino tudo o que o que deve estar se passando na mente de Maria, não está sendo fácil para mim, imagine para ela!

—Tudo vai acabar bem. — Angélica fala colocar sua mão em meu ombro. —Vamos achar uma resposta para tudo isso.

—Enquanto o teste é feito, estaremos na casa de Lúcia. —Fernando fala.

—Você não pretende ficar? —Pergunto para Angélica. —Fiquem, por favor...

—Não acho que seja conveniente, Estevão. Fernando responde.

—Mas é claro que fico. —Angélica responde. Percebo a surpresa no olhar de Fernando com a decisão de Angélica. —Por que não ficar, Fernando?—Ela pergunta enquanto olha para Fernando.

—Tem razão. —Fernando responde a contra gosto. —Ficaremos. —Sua resposta faz Angélica sorrir em minha direção.

O sorriso de Angélica acabou fazendo eu sorrir, mas eu percebi o quanto o sorriso dela é diferente do de Amara. Mas de toda forma fico feliz ao ver seu sorriso.
Seu sorriso não pode ser o mesmo de Amara, mas me faz ser feliz. Seu sorriso me é familiar...
Não sei por que associo o sorriso de Angélica ao sorriso de Fabiana. São as mesmas expressões, o mesmo sorriso...

—Não sei o que falar para o senhor. —Angélica fala, agora, com a expressão confusa.

—Temos muito o que conversar, Angélica...

POV Fernando

Eu observava Estevão e Angélica conversarem no jardim da mansão San Román. Lúcia falava comigo através do celular, mas eu não dou atenção. Eu apenas observo Angélica se comportar de uma forma diferente, ela não está sendo quem de fato é. Ela está sendo amável, simpática...
Angélica é dissimulada. Ela mergulhou na piscina com o pleno intuito se fazer Maria se confundir, e eu como o belo fantoche que sou, permiti. Existem pessoas que são dissimuladas pela própria natureza, são teatrais por que querem... Angélica quer ser Amara enquanto estiver na mansão San Román.

—Depois falo com você. —Falo e encerro a ligação. Vejo Angélica se levantar da mesa após uma empregada avisar algo para ela e Estevão. —Pode me dizer onde ela vai dormir? —Pergunto sem nenhuma vergonha para a empregada.

—No antigo quarto da senhorita Amara. — A subalterna responde e sai apressada.

(...)

Eu fiquei sentado de frente para a porta do quarto esperando Angélica entrar, ela havia saído novamente com Estevão pela vigésima quinta vez, talvez eu esteja exagerando, mas esse afeto entre os dois não me agrada. Angélica havia saído também com Maria, mas para onde eu não sei. Ela está conquistando Maria e Estevão em menos de um dia. Meus pensamentos são interrompidos com a chegada de Angélica no quarto, logo a recepciono batendo palmas.

—O que está fazendo?—Ela pergunta arqueando a sobrancelha. Seus lábios estavam vermelhos, e para mim, Maria foi a influência disso.

—Parabéns, Angélica. —Falo e ela fecha a porta sem tirar os olhos de mim. —Você é uma excelente atriz.

—E você um péssimo investigador. —Ela fala ao jogar as sacolas na cama. —Eu preciso fazer isso, Fernando. Eu preciso deles e eles de mim.

—De louca fugitiva á salvadora? —Pergunto irônico e ela bate o pé. —Ótimo avanço, Angélica.

—Me poupe. —Ela fala esnobe. —Eu vou me proteger nesta casa, vou confortar eles dois e depois levar tudo. —Ela me deixa surpreso. —O "tudo" não é deles, é claro. —Ela fala e me dá as costas.

—De quem então? —Pergunto.

—Leandro. —Ela responde. Ela vira o seu rosto e me olha maquiavelicamente. — Existe uma rivalidade boba entre vocês dois, eu vi hoje. —Ela fala se aproximando sorrateiramente. —Estevão é amigo de Lorenzo, mas amigo ainda de Maite. E eu vou... —Ela me cercava. —Me aproximar deles aos poucos, até me tornar uma "filha" deles.

—Vai se mostrar mais eficiente que Leandro para Maite e Lorenzo? —Pergunto e ela sorri. Ela me abraça pelas costas e me surpreende.

—E até lá você descobre a minha história. —Ela fala. —Esse teste de DNA é apenas um passatempo não é? —Ela pergunta curiosa. Eu de fato vou fazer este exame de DNA, ela querendo ou não.

—Claro que não. —Minto.

—Você vai ter Leandro na lama, Montenegro. —Angélica fala com deboche e em seguida nossas risadas egocêntricas tomam conta do ambiente. Eu nunca fui ambicioso ou egocêntrico, mas Angélica está me mostrando o quanto é bom ser essas duas coisas.


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