POV Maria

Quando eu e Estevão estávamos saindo de casa Lorenzo chegou em seu carro. Estranho a chegada dele a essa hora da noite, seja lá o que for não podemos escutar agora. Não aguento mais deixar a minha vida de lado para escutar os problemas.

—O que faz aqui?—Pergunto esperando Lorenzo se recompor. —Não sei nem por onde começar. —Lorenzo fala e eu e Estevão nos entreolhamos desconfiados.—Prenderam Fabiana.

—Como assim? Por que prenderam ela?—Estevão pergunta no meu lugar. Sinto meu estômago embrulhar ao pensar em Fabiana presa. Lorenzo respira fundo e fala de uma vez.

—Fabiana é responsável pelo sequestro de Amara e Leandro.—Lorenzo fala e eu coloco a mão em meu ventre. Meu estômago está embrulhado e agora tenho uma sequência de tosses causadas pelo nervosismo.

—Maria!—Estevão grita pelo meu nome enquanto eu sinto minhas pernas falharem.—Mas ela estava comigo e com Maite na hora do sequestro, Lorenzo!—Exclamo nervosa e incrédula.

—Ela arquitetou tudo, Maria. Ela é responsável por todo o nosso
sofrimento.—Lorenzo fala enquanto Estevão anda de um lado para o outro.

—Miserável!—Estevão exclama passando ferozmente a mão em seus cabelos.—Lorenzo, me diga que isso é mentira!—Estevão pede e recebe o silêncio de Lorenzo como reposta.

—Meu Deus.—Falo me segurando em Lorenzo e procuro por Estevão. Estevão nota que estou passando mal e me ampara.—Como ela pode ter feito algo tão...—Paro de falar com nojo de Fabiana.

Fabiana não é uma mulher, ela é um monstro. Passou todos esses anos vendo o meu sofrimento, vendo Letícia madrugar atrás de pistas sobre os bebês, vendo Maite em coma, vendo o meu casamento com Estevão fracassar dia após dia e nada dela se arrepender ou mostrar algum sentimento nobre!Mas como eu posso esperar sentimentos nobres de uma
pessoa tão baixa? Isso é impossível. Fabiana Santisteban me tirou uma filha e por causa disso eu quase acabei com a minha vida. Quase perdi o amor da minha vida, quase perdi meus filhos e netos por causa de Fabiana. E ela nada fez ou sentiu...

—Me desculpe, Estevão. Eu espero que a nossa amizade não termine pelo erro da minha irmã.—Lorenzo fala de cabeça baixa demonstrando sua vergonha.

—Você também foi vitima dela, Lorenzo. Estamos juntos nessa.—Estevão fala demonstrando confiança para Lorenzo.—Onde está Maite?

—Em casa com Letícia.—Lorenzo responde um pouco triste.

—E a menina Letícia?—Pergunto.—Ela é tão apegada á Fabiana.

—Está mal.—Lorenzo responde vagamente com pena de Letícia.—A minha filha está mal com tudo o que está acontecendo.

—Todos estão.—Falo rapidamente por causa do terrível enjoo que sinto.—Eu não me sinto bem.—Falo.

—Depois de saber que Fabiana é culpada por todo o nosso sofrimento...—Estevão fala assim que me apoio á ele.—Você tinha que ficar mal.—Ele fala enquanto nos olhamos.

—Será que encontraram a nossa filha?—Pergunto com esperança de que Amara esteja viva.—Será que ela está viva?

E assim foi o restante da minha noite. Morrendo de ansiedade ao pensar que talvez a minha filha esteja mesmo viva. E de que muito em breve a terei em meus braços.

POV Estevão

Fabiana é a culpa por todo o meu martírio, por toda a minha preocupação, pelas lágrimas
que Maria derramou ao longo desses dezessete anos, pelo que Maite sofreu, pela busca inalcançável de Letícia pelos bebês e pela a minha frustração de pai. Ela viu os meus filhos desconhecerem Maria quando a mesma tentou se matar. Viu Lorenzo viajar para vários países tentando arranjar uma cura para Maite, e mesmo assim não demonstrou
arrependimento.Fabiana abraçou Maria inúmeras vezes quando ela estava se sentindo desamparada. Fabiana enxugou cada lágrima de Letícia quando ela sentia falta de Maite. Não me resta dúvidas, Fabiana Santisteban é um monstro. Nas veias desta mulher não existe sangue, existe gelo. Ela é fria de sentimentos, não ama ninguém!

—Passou a madrugada acordado.—Maria fala da porta do quarto. Ela estava usando um belo vestido azul longo, mas ainda tem o cabelo emaranhado. O seu rosto está pálido, mas os seus olhos estão um pouco inchados de tanto chorar.

—Não consegui dormir.—Falo hipnotizado por Maria.

—O que vamos fazer agora?—Maria pergunta mostrando medo. Ela se mantém imóvel na porta do quarto e eu olho fixamente para ela. E então me passa uma ideia pela cabeça.Me arrumo rapidamente e Maria me observa curiosa. Passo por ela sem falar para onde vou e ela me segue preocupada.

—Para onde você vai?—Maria pergunta me seguindo com mais alvoroço.

—Sair.—Falo a deixando confusa e ela fica na porta de casa me observando entrar no carro. Eu saio em alta velocidade e vejo Maria preocupada na porta de casa.

POV Fabiana

Sozinha. É assim que me sinto dentro desta cela sem me comunicar com ninguém. Um local abafado e sem raios de sol, sem nenhum som ou cor atrativa. Mas eu bem que deveria ter imaginado na possibilidade de ser presa um dia. Mas da minha boca não irá sair absolutamente nada!

—Tem visita, Fabiana.—Dalila fala e eu me aproximo das grades. Fico surpresa ao saber que posso receber visitas.—Seria bom você nem receber.

—Quem é?—Pergunto e vejo Estevão aparecer de supetão. Eu me espanto ao vê-lo bem na minha frente. Dalila abre a grade para ele entrar, ele realmente entra.

—Em fim sós.—Estevão fala com um tom ameaçador e se aproxima de mim. Eu solto
uma risada falsa e ele permanece sério.

—Se venho aqui me lembrar tudo o fiz, vai perder o seu tempo.—Falo dando as costas para ele.

—Não, não foi para isso.—Estevão fala risonho.—Vim para te ver enclausurada e
trancafiada. No fundo do poço!—Ele exclama gesticulando com a mão.—Vim para ver o seu estado deplorável.—Fala e eu passo a mão por entre meus cabelos totalmente desconfiada.

—Acabou os dias de princesa.—Dalila fala e sorri juntamente á Estevão.—É isso que você merece.—Estevão fala me tirando do sério.

—Vai querer apunhalar uma faca no meu coração agora?—Pergunto desaforada e ele me olha transmitindo ameaça para
mim.

—Eu até que gostaria de fazer isso. Mas como irei fazer isso se você não tem coração...—Estevão fala lentamente e sorri ao terminar de falar.—Você pode ter tirado Amara dos braços de Maria, mas em breve a minha filha irá voltar.

—Duvido muito.—Falo convencida.

—Não subestime a força de uma mãe.—Estevão fala e eu desabo.—Mas sobre a força de uma mãe você nunca vai entender.—Ele fala e eu recuo bruscamente .—A verdade dói, não é?—Ele pergunta se aproximando de mim.

—Você não sabe de nada.—Falo na defensiva, mas sem mostrar a minha dor. Permaneço fria...

—Sei muito bem.—Estevão fala se aproximando de mim.—Você é uma miserável, um ser humano podre em todos os sentidos.—Estevão fala por entre os dentes.

—Como ousa me ofender dessa maneira?—Pergunto o desafiando.

—Você merece isso e muito mais!—Estevão exclama e eu sinto o peso de sua mão em meu rosto. Me desequilibro e caio de joelhos apoiada na beira na cama. Sinto meu rosto arder, quase queimar, por causa do tapa que acabo de levar.

—Estevão!—Dalila exclama entrando na cela e o segurando.—Você passou dos limites! Vá embora!—Dalila exclama o puxando para fora.

—Eu deveria mata-la! Deixa-la queimar no fogo!—Estevão exclama com puro ódio. A raiva é tanta que seu rosto fica imensamente vermelho.

—Queime você no inferno!—Exclamo me levantando com dificuldades.—Você e toda a sua família!

—Cala a boca!—Dalila exclama empurrando Estevão. E por fim os dois desaparecem da minha vista.

POV Fernando

"O escândalo entre a nobreza”. Essa é a manchete do jornal de hoje, com a foto da família Santisteban e da família San Román. O escândalo foi inevitável, está em todos os jornais. Em um deles a capa da manchete é Fabiana, mencionada como "Anjo quase perfeito”.

—Fabiana Santisteban, irmã do maior exportador de minério e ferro do pais, é responsável pelo maior escândalo familiar de duas famílias consagradas e privilegiadas do
pais. Alguns passaram chamar ela de "anjo quase perfeito” e outros de "anjo mal”. Isso deve-se á sua aparência sublime e beleza exótica, que fez com que ninguém suspeita-se da mesma.—Leio uma parte da noticia e Lúcia revira os olhos.—Vai ficar feia e velha na cadeia agora.

—E abandonada.—Lúcia fala dando uma gargalhada estridente.—Prender Fabiana foi a melhor coisa que aconteceu!—Ela exclama.

—Hoje o dia não está tão calmo como eu pensei que fosse.—Dalila fala entrando na sala. Ela mostra a capa de um jornal e mostra sua frieza.

—Família San Román, a família amaldiçoada.—Lúcia lê a manchete e eu me espanto.—Isso deve-se á injustiça que Maria sofreu quando foi presa injustamente.

—Um resumo da família inteira.—Dalila fala jogando o jornal em cima da mesa de Lúcia.

—E em breve a família Gutiérrez estará ocupando seu lugar nas manchetes.—Falo desanimado.—Pelo o que estou vendo, esse escândalo vai durar o ano inteiro.

—E pelo o que eu vejo as três famílias vão passar pro crise na empresa que elas comandam.—Lúcia Helena fala preocupada e eu concordo.—E tudo isso deve-se á Fabiana Santisteban.

POV Regina (Amara)

Hoje eu vou com meu pai trabalhar na empresa. Estou nervosa, não sei como irei me sair o ajudando em meio a tanto problema. E além do mais, hoje os resultados dos meus exames serão entregues.

—Para mim? Mas meu aniversário é daqui á três dia!—Escuto Daniela falar e sigo o som da sua voz. Logo vejo Leandro e ela se abraçando e risadas escapando da boca de minha irmã mais nova.

Com tantos problemas eu acabei me esquecendo do
aniversário da minha irmã. Mas ainda está em tempo de presentea-la com
algo. Talvez quando eu for pegar meus exames eu compre o presente
dela.

—Não vamos hoje.—Meu pai fala me assustando.—Houve uma confusão.

—Que tipo de confusão?—Pergunto e ele me entrega o jornal.Barbaridades. É isso o que leio no jornal, um show de horrores sobre os Santisteban por causa de Fabiana. Uma terrível imagem da imprensa sobre a família San Román...—Ela é culpada pelo sequestro dos bebês.—Falo assustada e ele faz um gesto negativo com a cabeça.

—Uma avalanche de emoções...—Meu pai fala e eu me arrepio só de imaginar a
dor de Lorenzo por ter a irmã presa.

Quem poderia imaginar que Fabiana era responsável pela desgraça da própria familia e da família San Román? Ela soube fingir uma aparência calma e tranquila por todos esses anos, conseguiu enganar todos.

—Podemos conversar?—Leandro pergunta se aproximando de mim.

—Claro.—Falo e nos dirigimos para o meu quarto. Talvez essa seja a melhor oportunidade de acabar de uma vez por todas com essa loucura.

—Também preciso conversar com você sobre nós.—Falo me sentando na poltrona.

—Oh, então fale você primeiro.—Leandro fala esperando eu falar. Eu respiro fundo e então crio coragem para falar.

—Acabou.—Falo sentindo o meu coração acelerar. É como se meu coração estivesse sendo perfurado por mil agulhas.

—O que acabou?—Leandro pergunta incrédulo. Meu coração dispara e eu sinto a fúria dele sobre mim.

—Nós dois. Não podemos continuar...—Falo o olhando com serenidade e ele fica paralisado.

—Como assim? Regina...—Leandro fala incrédulo e eu fecho os olhos para nem se quer
olha-lo.—Regina, olhe para mim.—Ele pede desconsolado e eu o olho friamente.—Por que?

—Não vê que nosso relacionamento...—Começo a falar e repenso ao ver que falei "relacionamento”.—Se é que posso chamar isso de relacionamento...—Falo arqueando a minha sobrancelha e o olho com deboche.

—Regina!—Leandro exclama bravo e eufórico.

—Tudo isso é...—Paro de falar com medo de magoa-lo ainda mais.—Bizarro.—Falo em
um tom de voz irreconhecível. Leandro me olha sem ter palavras em sua boca e então eu contínuo.—Acabou.

—Só isso?—Leandro pergunta e eu vejo que seus olhos estão vermelhos.—Espero que saiba...—Ele para de falar e respira.—Que eu vou te esperar.

—Por Deus, Leandro!—Exclamo brava com toda a situação.—Não existe "nós”. Não tem como existir!—Falo brava e ele sai do quarto batendo a porta.Meus pensamentos e sentimentos são interrompidos pelo meu celular tocando euforicamente. Ando de um lado para o outro quando vejo o nome na tela do celular.

Talvez a paixão que ele sente por mim me livre da obsessão e bizarrice do que sinto por
Leandro. Talvez com Fernando eu viva com mais tranquilidade e sem temer nenhuma crítica. Fernando Montenegro pode ser a solução.

—Regina?—Ele fala assim que atendo a ligação. A voz de Fernando me faz mudar e eu nunca sei o por que disso.—Eu quero te pedir desculpas primeiramente...

—Tudo bem, Fernando.—Falo e escuto um sorriso abafado do outro lado da linha.

—E eu liguei também para te convidar para jantar.—Fernando fala e eu sorrio de canto.

—Bom...—Começo a falar pensando em recusar, mas mudo de opinião.—Tudo bem. Eu
vou.—Falo pensativa em relação ao que pode acontecer comigo depois do que aconteceu comigo e Leandro.

POV Daniela

Leandro me deixou na sala quando foi conversar com Regina. Passei algum tempo admirando o presente que ele me deu como lembrete de meu aniversário. Leandro e meus pais sempre falam do meu aniversário com entusiasmo, diferente da minha irmã Regina.Quando vou para o jardim escuto um choro e soluços agonizantes. Quando me
aproximo do som do choro percebo que tem uma mulher escondida em um canto escuro, é a minha mãe.

—Mãe.—Falo e ela se vira para me olhar.—Por que está chorando?—Pergunto com receio de me aproximar dela.

—Seus irmãos, minha filha.—Minha mãe fala soluçando.—Eu vou perder eles.—Ela fala erguendo os braços.—E pensar que os carreguei nos meus braços.

—E que os carregou no ventre.—Falo dando um sorriso de canto e ela me olha estranha.—A senhora demorou anos para ter filhos,mãe. Pensou que nunca teria.—Falo me aproximando dela, mas elarecua.—Mas veja só! Teve três.—Falo tentando anima-la.

—Não, Daniela. Eu tive apenas um filho.—Minha mãe fala com medo em cada palavra. Fico sem entender o que minha mãe fala e levo a mão até a cabeça.—Engravidei apenas uma vez.

—Mamãe, a senhora teve três filhos.—Falo e ele faz um gesto negativo com a cabeça.—Por que nega?—Pergunto com falha na voz temendo o pior.

—Leandro e Regina não são meus filhos.—Minha mãe fala e eu fico em choque. Como assim? Leandro e Regina não são meus irmãos?—Você é minha única filha, Daniela. Vou perder eles dois, mesmo sabendo que de fato nunca foram meus!