A Ordem de Drugstrein escrita por Kamui Black


Capítulo 93
Outro Exame para Mestre - Parte 6




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Capítulo 092

Outro Exame para Mestre (Parte 6)

Kayan avançou e maneira rápida e letal. Zillan, por sua vez, saltou cinco metros para trás em meio ao mais puro instinto. Nesse meio tempo, ativou uma das cargas de seu feitiço crisis clayn. As chamas avançaram para cima de maneira fulminante, mas, atento a aura daquele feitiço, o Atreius esquivou-se facilmente apenas movimentando-se para o lado no momento exato em que foi atacado.

Sem desesperar-se, o Marcaw apontou ambas as mãos para frente e conjurou duas labaredas de fogo ao mesmo tempo. Kayan, que não desejava medir forças diretamente contra seu oponente, concentrou-se em esquivar-se para a esquerda.

Apenas uma das labaredas seguiram seu movimento enquanto a outra continuou avançando. O Atreius, então, saltou enquanto girava em pleno ar para evitar aquelas chamas. Não tardou a perceber que a rajada que permanecia em movimento retilíneo havia sido remanejada para retornar e atingi-lo pelas costas. A outra, por sua vez, fez uma curva e avançou para a lateral de seu corpo.

Cansado de se esquivar das tentativas de seu adversário de atingi-lo, Kayan fincou sua espada feita através do giudecca no solo e estendeu uma de suas mãos para cada uma das labaredas de fogo, conjurando um warhi logo em seguida.

Quando a massiva quantidade de água atingiu o fogo nas duas direções, um forte chiado foi ouvido e muito vapor extremamente quente começou a preencher o ambiente.

Tanto Kayan quanto Zillan possuíam uma aura forte o suficiente para evitar qualquer dano causado pela alta temperatura do vapor. A maioria dos magos, porém, não poderia fazer o mesmo e eles perceberam que o espaço de pelo menos cinquenta metros que havia entre eles e os demais combatentes aumentou-se quando tanto os magos de Zeneth quanto os de Drugstrein afastavam-se ainda mais dos dois.

O Marcaw aproveitou aquela oportunidade para ativar mais uma das cargas de seu feitiço especial. Kayan, que estava ocupado defendendo-se dos dois feitiços crisis, não conseguiu escapar daquela investida, sendo atingido de maneira certeira.

Quando as primeiras pedras sob os pés do Atreius foram lançadas para cima, o mesmo desequilibrou-se e começou a cair de costas. Foi nesse momento que o restante das chamas elevaram-se para fora do solo e atingiram as costas de Kayan, que direcionou toda sua aura para as mesmas e para a parte de trás das pernas, que também receberam as fortes chamas do inimigo.

Enquanto abafava um gemido de dor, o mago negro foi lançado mais de vinte metros no ar antes de começar a cair novamente. Zillan não perdeu aquela oportunidade de conjurar um crisis katris para terminar o que havia começado.

A massiva quantidade de fogo avançou contra o Atreius, que esticou ambos os braços para frente e redirecionou sua aura novamente enquanto conjurava um escudo de energia.

Aquele feitiço continha uma quantidade absurda de aura e não causou apenas uma explosão, mas sim uma trilha delas que avançou em direção a uma das paredes rochosas que franqueavam o desfiladeiro, arrastando Kayan consigo e apenas parando ao atingir a muralha natural e causar a maior das explosões, que levantou muita poeira e fragmentos de rocha para o ar.

— Maldito mago negro presunçoso. Teve o que merecia.

Um tanto quanto ofegante, Zillan começou a caminhar lentamente na direção em que Kayan havia sido arremessado devido a explosão. Podia sentir a aura do mago negro bastante enfraquecida e esperava encontrá-lo extremamente ferido, talvez agonizando em dor, apenas para terminar seu serviço. Parou seu movimento e arregalou os olhos, surpreso, quando sentiu a aura do Atreius se manifestar novamente.

Zillan agradeceu-se mentalmente por manter-se atento mesmo após pensar que havia vencido o duelo, pois isso tornou possível que ele sentisse quando uma segunda aura avançou vindo de trás enquanto Kayan avançava veloz contra si. Ele esquivou-se para o lado um momento antes da espada negra passar ao seu lado enquanto avançava girando no sentido vertical em direção ao mago negro.

Kayan mantinha sua mão direita estendida enquanto convocava sua espada, que havia ficado fincada no solo. Nesse meio tempo avançava contra seu oponente, que aparentava ter gasto uma quantidade razoável de sua aura naquele último feitiço. Assim que tocou o cabo da espada, uniu sua mão esquerda à direita e desferiu um golpe na diagonal contra seu adversário.

O mago negro foi tão veloz que Zillan quase não teve tempo de saltar para trás perante o golpe desferido e, na verdade, apenas conseguiu escapar daquele ataque porque a velocidade de Kayan havia sido reduzida devido aos ferimentos. Apesar disso, em meio ao reflexo de se afastar, colocou seu braço esquerdo em frente ao rosto na intenção de se proteger e aquilo resultou em um ferimento bastante superficial, mas que se alastrava rapidamente, provocando a necrose dos tecidos próximos.

Gemendo devido a dor, Zillan afastou-se ainda mais enquanto concentrava sua aura no braço até que ela parasse o efeito do feitiço adversário. Observou Kayan naquele meio tempo e percebeu que ele estava bastante ofegante. Tanto seu sobretudo quanto a túnica e as calças estavam bastante danificadas na parte de trás e ele podia perceber as diversas queimaduras. Apesar de não aparentar muito, ele sabia que seu crisis katris também havia causado sua cota de ferimentos ao seu adversário.

— Parece que você está levando a pior, não é mesmo, Atreius? – disse o granmestre enquanto exibia um sorriso no rosto.

— Pois é, você me pegou de jeito, mas eu já sofri ferimentos piores. E agora você tem apenas mais uma carga de seu crisis clayn restando.

Como que para refutar a afirmação de Kayan, Zillan apontou ambas as mãos para o solo e iniciou a conjuração de seu feitiço da esfera do fogo. O mago negro, entretanto, não pretendia permitir que seu adversário ganhasse essa vantagem novamente e avançou contra o mesmo em meio a uma ofensiva.

O golpe vertical da espada giudecca fez com que o granmestre se visse obrigado a desistir de sua conjuração ofensiva e se defender com um aurus pinn. O escudo de energia recebeu um enorme impacto quando o feitiço do Atreius se chocou contra ele e Zillan tentou afastar-se de seu oponente logo em seguida.

Kayan sabia que enfrentava um adversário experiente e habilidoso e que não seria tão fácil manter um combate corpo a corpo sem que o mesmo conseguisse escapar. Apesar disso, pretendia manter sua vantagem o maior tempo possível e girou a espada giudecca em sua mão direita antes de atacar novamente, desta vez com um golpe na horizontal.

Sem sobressaltar-se, Zillan moveu seu escudo de energia para amparar aquela nova ofensiva. Fagulhas negras surgiram perante o impacto dos dois feitiços, mas Kayan não manteve sua lâmina em contato por muito tempo e enquanto a afastava também impulsionava-se para sua esquerda em rápido movimento de pernas. Sentia a dor nos membros inferiores, mas forçava-se a ignorá-la em prol de um ataque veloz.

A nova ofensiva almejou o ombro direito do Marcaw, que foi ágil o suficiente para remanejar novamente seu aurus pinn e parar o movimento na diagonal que Kayan fazia com seu perigoso feitiço.

A próxima ação do Atreius, no entanto, surpreendeu o granmestre.

Kayan manteve sua lâmina segura apenas na mão esquerda enquanto mantinha sua pressão contra o escudo de energia. Zillan sentiu a pressão diminuir, então já esperava um novo ataque em outra direção e estava preparado para redirecionar seu escudo de energia novamente. Ao invés de fazer isso, porém, o mago negro usou a mão direita que havia acabado de liberar para conjurar um durhan tangrea.

O Atreius conjurou seu feitiço rapidamente e ele saiu muito mais fraco que se fosse conjurado normalmente. Aquela atitude, porém, permitiu que ele surpreendesse seu adversário, que foi atingido diretamente na lateral esquerda de seu abdômen.

Zillan, mesmo mantendo sua aura protegendo seu corpo o tempo todo, sentiu a dor da energia negra penetrando-lhe a carne e músculos. Foi sorte Kayan não ter conseguido atingir a força total de seu feitiço e isso permitiu que sua aura impedisse que o durhan tangrea ferisse gravemente seus órgãos internos.

O Marcaw, então, aproveitou que a pressão sobre seu escudo foi reduzida e saltou para trás impulsionado por sua aura e desvencilhando-se momentaneamente do raio negro de seu adversário.

Kayan, por sua vez, fincou sua espada giudecca no solo a sua frente e uniu a mão esquerda à direita para intensificar seu durhan tangrea. Zillan, para defender-se, reconjurou seu aurus pinn e amparou o feitiço de seu adversário, que enviou ainda mais aura para o mesmo. Devido toda aquela aura sendo direcionada para o raio de energia destrutiva ele aumentou consideravelmente de tamanho, chegando a criar novos arcos vindos do original. As nova ramificações elevaram-se no ar e rumaram para as costas do granmestre, que foi obrigado a ampliar seu escudo de energia para que o mesmo se transformasse em uma barreira que lhe protegia em todas as direções.

Um impasse havia se estabelecido. Kayan mantinha seu feitiço, mas não conseguia penetrar as defesas de seu oponente. Zillan, por sua vez, não poderia se mexer dali sem ser atingido pelo feitiço de seu oponente. Cedo ou tarde, porém, o mago negro seria obrigado a encerrar sua ofensiva devido ao cansaço. Isto, é claro, caso seu adversário não tivesse nenhum recurso guardado sob o solo.

Bastou que o Marcaw se concentrasse para que ativasse seu crisis clayn e um vulcão de chamas se manifestasse sob Kayan. O mago negro, entretanto, esperava por isso quando encurralou seu adversário e um meio sorriso curvou seus lábios enquanto abandonava completamente a conjuração de seu durhan tangrea e avançava rapidamente contra seu oponente e agarrava com firmeza o cabo de sua espada feitiço.

Uma grande coluna de fogo e rochas se elevou atrás de Kayan quando ele avançou. Zillan desfez sua barreira de energia no momento em que sentiu a pressão do feitiço do adversário se diminuir e preparou-se para conjurar um aurus pinn novamente para amparar o golpe de espada que se seguiria.

Contrariando completamente o que o granmetre esperava que acontecesse, Kayan não chegou a avançar completamente os poucos metros que os separava. Ao invés disso, arremessou sua espada giudecca quando ainda faltava três metros para alcançar seu objetivo.

Surpreso, Zillan não teve a reação rápida o suficiente para se defender e sentiu toda a dor de ter a lâmina atravessando seu peito. Os efeitos do feitiço giudecca começaram a se manifestar e mesmo ele concentrando toda a sua aura para impedir aquilo e segurando o cabo da arma mágica para tentar remove-la seu poder não foi suficiente para evitar o que acabara de tornar-se inevitável.

Kayan caminhou tranquilamente até seu oponente enquanto o mesmo caia de joelhos. Segurou o cabo de sua espada giudecca, unindo sua mão direita às do adversário e olhou-o de cima para baixo.

— Sinto muito por isso, Zillan. Você era um granmestre poderoso e importante para defender o território humano, mas essa guerra sem sentido entre Zeneth e Drugstrein tem que acabar.

O Atreius, então, desfez seu feitiço e deixou o corpo já sem vida de seu oponente cair por terra. Ele sabia que os efeitos do giudecca continuariam agindo e dentro de alguns segundos já não haveria mais corpo algum ali.

* * *

Cristallia enfrentava uma maga alta e magra que ela lembrava-se de ter visto durante o exame para mestre há poucos dias. Ela própria já havia derrotado um dos inimigos e sua atual adversária havia derrubado dois dos magos de Drugstrein.

Apesar da força dos feitiços de terra de sua inimiga, a Iker conseguia evitar as ofensivas e destruir os golens que avançavam contra ela com grande habilidade. Até aquele momento o embate de forças mostrava-se equivalente e qualquer uma das duas poderia sair vitoriosa.

Foi quando a maga de Zeneth conjurou um feitiço exemplarmente poderoso da esfera da terra que Cristallia sentiu a forte aura se aproximando rapidamente. Seria um grande susto caso ela não houvesse aprendido a reconhecer o dono da mesma através da intensidade.

A Iker já havia erguido seus braços para conjurar um aurus pinn, mas abaixou-os novamente e abriu as mãos enquanto dava de ombros em meio a uma expressão de deboche. A outra moça não compreendeu o que acontecia de imediato e intensificou sua aura imaginando que aquela seria uma boa chance de conseguir sua terceira vitória do dia.

A onda terra que parecia imponente acalmou-se e voltou ao solo enquanto a maga de Zeneth sentia a aura que enviava para seu feitiço ser anulada completamente. A sua frente, cobrindo a visão que ela tinha de sua adversária havia aparecido um rapaz um pouco mais jovem que ela e de cabelos e olhos completamente negros. A principio ela não compreendeu exatamente o que estava acontecendo, mas seus olhos se abriram em meio ao espanto que tomava conta de sua mente no momento em que ela reparou nos detalhes prateados do sobretudo e deduziu a identidade do jovem à sua frente.

— Olá.

Kayan cumprimentou-a enquanto erguia sua mão direita e conjurou um tangrea. O raio elétrico avançou rapidamente e encontrou um escudo de energia conjurado as pressas. Penetrou-o facilmente e atingiu a maga atrás dele apenas durante o tempo suficiente para deixá-la desacordada.

— Você não precisava se arriscar apenas para debochar de sua adversária, Cristallia.

— Desculpe-me. Não resisti ao impulso quando percebi que você já estava neutralizando o feitiço dela.

— Tudo bem, vou lhe dar um desconto porque sei que você tem uma capacidade de leitura de aura acima do normal. Mudando de assunto, poderia me curar? Estou um bagaço.

Sem perder tempo, Cristallia começou a curar o mestre, tocando seu corpo para acelerar o processo. Geralmente uma batalha como aquela tornava a tarefa de curar os aliados muito difícil para os magos brancos caso eles não tivessem alguma cobertura de seus amigos. Naquele caso, porém, nenhum dos magos e mestres de Zeneth parecia muito interessado em desafiar Kayan diretamente, mesmo sabendo que se ele fosse tivesse seus ferimentos curados seria ainda mais difícil derrotá-lo. O fato era que, assim que perceberam a derrota de Zillan, a maior parte dos inimigos de Drugstrein começou a mover seus esforços mais para se retirarem da batalha que para vencerem seus oponentes.

Cristallia já havia quase terminado de curar Kayan quando Katherine aproximou-se de ambos. As vestimentas da Sttiken indicavam que o combate também não havia sido fácil para ela, mas seu corpo não apresentava ferimentos.

— Kayan, quer ficar aqui ou ir ajudar os demais? Este lado do campo de batalha já está praticamente dominado.

— Irei para o lado sul e levarei Cristallia comigo para cuidar dos feridos. Se puder nos fazer o favor de cuidar dos que estão aqui. Acho que seria bom começar pelo mestre Joseph. Parece que o mestre de elite Lair Kolluvan feriu-o e se retirou do combate.

— Sim, um dos meus adversários também fugiu enquanto eu cuidava dos outros. Pelo menos faremos uma mestre de elite deles de prisioneira.

Sem mais conversa, Kayan e Cristallia rumaram para o sul. Quando chegaram ali, segundos mais tarde, a batalha também já se encaminhava para a vitória, uma vez que Thays e Radamanthys haviam derrotado ao menos três dezenas de adversários, facilitando muito para os demais magos e mestres.

— Kayan, o Mathen...

— Sim, ele ainda esta lutando, mas está visivelmente ferido. Pode ir curá-lo primeiro. Após isso, podem ir atrás dos outros magos brancos para escoltá-los para curar outros de nossos magos. Agora é só uma questão de tempo até a vitória completa.

O Atreius, então, passou a ajudar os aliados que demonstravam estarem em maiores dificuldades contra seus adversários. Radamanthys também havia derrotado seus oponentes e fazia o mesmo.

Thays, por sua vez, enfrentava dois mestres de Zeneth. Eles não conseguiam se aproximar da Cyren devido ao crisis sapris, então concentravam-se em feitiços de longo alcance. Ela estava mantendo o combate sem grandes dificuldades e aguardava apenas um erro de um dos oponentes para derrubá-lo. A oportunidade surgiu quando um deles decidiu se retirar da batalha ao perceber que a derrota era inevitável. Sozinho, o mestre que restou tornou-se um alvo fácil para moça de cabelos azulados, que derrubou-o com um poderoso crisis katris.

A batalha havia se encerrado. Os poucos magos que não haviam sido derrotados ou fugido acabaram por se renderem. Minutos mais tarde todos estavam sendo reunidos, inibidores de aura foram colocadas em seus pescoços e aos mais perigosos foram oferecidas poções inibidoras de concentração.

Amigos, famílias e casais que estavam separados durante o conflito começaram a se reunir novamente. Os feridos foram tratados e os corpos dos que pereceram recolhidos e encobertos por tecidos que os condutores de carruagens trouxeram quando foram chamados novamente.

Com o trabalho praticamente finalizado Kayan finalmente pode relaxar e se aproximar de Thays. A moça reencontrou-o com um caloroso abraço e um rápido beijo nos lábios.

— Você está bem, Kayan? Suas roupas estão todas rasgadas.

— O granmestre Zillan me deu muito trabalho, mas a Cristallia já me curou. E você, como está?

— Eu... eu não me feri.

Apesar do que dizia, Kayan conhecia a namorada o suficiente para perceber que ela não estava bem apenas pelo tom de sua voz. Alguma coisa havia acontecido e se havia algo que ele pudesse fazer para melhorar a situação ele o faria, mas não desejava conversar com ela na presença de todos ali, então passou seu braço esquerdo atrás das pernas da Cyren e a levantou em seus braços.

Surpresa devido a atitude inesperada, Thays deixou que um suspiro lhe escapasse pelos lábios. Apesar disso não resistiu e apenas abraçou o Atreius quando o mesmo utilizou toda a força de sua aura para saltar para a parte mais alta do desfiladeiro onde poderiam conversar de maneira mais reservada.

— O que houve, Thays? – indagou enquanto a colocava de volta no chão.

— Kayan... eu... eu matei uma pessoa hoje. Um garoto que não devia ter mais que quinze ou dezesseis anos.

Ao externar aquilo a Cyren não conseguiu evitar que as lágrimas lhe rolassem pelo rosto.

— Ele entrou no alcance do meu crisis sapris e antes que eu percebesse já estava caído no chão. O desespero da garota que estava com ele... uma namorada ou irmã... não sei... mas foi terrível. Eu sou uma pessoa horrível, Kayan!

Ela, então, abraçou-o com força enquanto enterrava o rosto em seu peito. Kayan podia sentir as lagrimas umedecendo o que restara de sua túnica. Por um momento tudo o que ele pode fazer foi envolvê-la em seus braços numa tentativa de confortá-la.

A mente do Atreius trabalhava freneticamente na tentativa de encontrar palavras que a fizessem se sentir melhor. Ele próprio já havia tirado a vida de três magos humanos. Ele sabia que Zillan tinha um casal de filhos e netos e, mesmo assim, não sentia-se mal por tê-lo derrotado no combate matando-o no processo. Se Thays fosse uma pessoa horrível sentindo todo o peso da vida que ela tirara, o que era ele se sequer sentia remorso?

A verdade é que para Kayan tirar aquelas vidas não foi assim tão diferente do que tirar a vida de um taurino ou um srath. Eles eram seus inimigos e se aquele era o preço a se pagar para impedir que eles ferissem as pessoas que eram importantes para Kayan ele o pagaria sem se arrepender. No entanto, nada daquilo servia para consolar a garota em seus braços, então o Atreius teria que tentar outra abordagem.

— Você não é uma pessoa horrível. Você é uma garota que se importa tanto com as pessoas que lhe são queridas que foi capaz de ir para a linha de frente de um combate onde todos corremos perigo sem pensar duas vezes. E o fato de você sentir tanto pela morte de um rapaz que você nem conhecia apenas prova o quão gentil você é.

Kayan afastou-a um pouco para poder olhá-la diretamente nos olhos. Secou suas lágrimas com os dedos antes de prosseguir.

— Foi um acidente, Thays. Todos lutávamos pelas nossas vidas e eu sei que você nunca tiraria a vida de uma pessoa intencionalmente.

— Foi por causa do meu crisis sapris. Se ele não tivesse entrado na área de efeito daquela maneira...

— Espero que você não esteja pensando em parar de utilizar seu feitiço. Ele é um trunfo muito importante.

— Não. Não posso fazer isso. Meu crisis sapris é muito importante para me colocar num nível acima dos mestres de elite. O que eu preciso fazer é aprimorá-lo ainda mais. Preciso torná-lo mais seguro.

— Exatamente – disse ele, ainda com ambas as mãos no rosto de sua amada. – Não se deixe abater por isso. Sei o quanto esta guerra está sendo ruim para todos nós, mas vamos superar essa situação difícil. Eu sei que iremos.

Inesperadamente, então, Thays aproximou seu rosto do de Kayan lentamente até que seus lábios se tocassem em um beijo carinhoso, porém, intenso.

— Eu estava com saudades do seu toque e do seu carinho. Espero que nunca mais tenhamos que ficar separados.

Com seus braços ainda em volta do corpo do Atreius, a Cyren encostou seu rosto no peito do namorado e fechou os olhos pelos quais algumas lágrimas ainda insistiam em escorrer lentamente.

— Também senti muito sua falta nesses últimos dias – disse ele enquanto acariciava-lhe a nuca, bagunçando levemente os cabelos azulados. – Mas ainda temos algum trabalho a fazer.

Quando o casal de mestres de elite voltou a se reunir com seus amigos, as coisas já estavam bastante calmas e quase tudo já estava organizado para partirem daquele local e voltarem para Drugstrein. Gorgar e Nathie aproximaram-se dos dois nesse meio tempo.

— Vocês dois estão bem? – indagou a garota com a voz meio embargada.

— Estamos – respondeu-lhe Thays. – Você estava chorando, Nathie?

— Sim – disse ela, secando os olhos. – Um rapaz que foi aprendiz durante o mesmo tempo que eu morreu. Seus olhos estão vermelhos. O que aconteceu?

— Mais tarde falamos sobre isso. Sinto muito pelo seu amigo.

— Não éramos exatamente próximos, mas ainda assim foi uma morte muito triste.

— Só porque ele confessou os sentimentos que tinha por você antes disso?

A frieza com a qual Gorgar fez aquela pergunta surpreendeu aos outros três. O mestre da esfera da destruição percebeu o quanto foi cruel em seu comentário ao ver que Nathie limitou-se a ficar quieta e olhar para baixo enquanto se continha para não voltar a chorar. Decidiu mudar de assunto antes que as coisas se tornassem piores.

— Soube que você derrotou o granmestre de Zeneth em um duelo um contra um, Kayan. Do nosso lado Thays e o granmestre Radamanthys também promoveram um massacre nas linhas inimigas.

Daquela vez foi a Cyren quem ficou quieta enquanto apertava o braço de Kayan que estava envolvido por um dos seus.

— Suas escolhas de palavras não estão nas melhores condições hoje, Gorgar – disse-lhe Kayan, levemente irritado. – Foi um duelo difícil, mas não teremos mais que nos preocupar com o mais forte dos granmestres de nossos inimigos.

Após aquele breve diálogo todos os presentes foram reunidos por Radamanthys, que decidiu parabenizar aos presentes antes da partida.

— A mestre Katherine ajudou-me a organizar um breve relatório dos resultados desta batalha enquanto os mestres Kayan e Thays vigiavam o perímetro para nos certificarmos que o inimigo realmente havia se retirado.

Apesar das palavras, o olhar de desaprovação que o granmestre dirigiu ao casal foi o suficiente para gelar a espinha de ambos.

— Infelizmente perdemos dezoito de nossos magos e três de nossos mestres. As baixas do inimigo foram de treze magos, nove mestres e um granmestre. Capturamos dois mestres de elite, doze mestres e cento e quarenta e sete de seus magos.

— Devo reforçar que todos são nossos prisioneiros e mesmo que algum deles tenha tirado a vida de um dos nossos, não quero nenhuma tentativa de vingança de nossa parte – complementou Katherine. – Atualmente a Ordem de Zeneth tem quatro mestres e vinte e nove de nossos magos como prisioneiros e todos estão sendo tratados com dignidade apesar da privação da liberdade, então iremos fornecer o mesmo tratamento para nossos prisioneiros.

Após as palavras dos dois, Kayan também sentiu a necessidade de dizer alguma coisa.

— Sei que estamos tristes pelos amigos e familiares que perdemos hoje, mas foi uma vitória importante e o fim desta guerra está cada vez mais próximo, então a morte deles não foi em vão.

Apesar da tristeza pelos que partiram, certa alegria pela vitória preenchia algum espaço no coração dos vitoriosos que rumavam de volta para casa. No céu, alguns tênues raios de sol afastavam as nuvens. Aquele dia permaneceria nublado, mas não haveria chuva.


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Notas finais do capítulo

Esqueci de programar a postagem ontem, então saiu um pouquinho atrasado.

E finalmente acabou essa batalha, espero que não tenha ficado cansativo de ler. O duelo entre Kayan e Zillan certamente foi o ponto alto e espero ler opiniões sobre ele e o encerramento desse capítulo gigante de 6 partes.

Até o próximo mês.



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