A Ordem de Drugstrein escrita por Kamui Black


Capítulo 88
Outro Exame para Mestre - Parte 1


Notas iniciais do capítulo

Outro exame para mestres se aproxima e desta vez medidas mais cautelosas precisam ser tomadas.



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Capítulo 087

Outro Exame para Mestre (Parte 1)

A sala de reunião da torre dos granmestres estava quase cheia com quatro granmestres e dez mestres de elite presentes. Alguns aguardavam há mais de uma hora para que todos os presentes se reunissem. Spaak, Kayan e Thays foram os primeiros a chegar e alguma conversa descontraída envolvia o trio enquanto outros se uniam a eles pouco a pouco.

— Acho que podemos começar – afirmou o granmestre Ramanthys assim que Glarion e Ashtar Asford uniram-se ao grupo.

— Muito bem. Como todos sabemos, retornei ontem de uma reunião com os granmestres das outras ordens referente ao exame para mestre que irá começar daqui a vinte e oito dias.

Todos os presentes atentaram-se para o que Arthuro lhes dizia.

— O local proposto pelos granmestres de Kaz Barak e Kaz Elenak foi a fortaleza de Darsec. O local foi aprovado por maioria dos votos.

Um pequeno alvoroço de opiniões conflitantes se espalhou e se acalmou rapidamente pela sala.

— Você votou a favor, granmestre? Mesmo sabendo que esta fortaleza fica no território dos povos bárbaros?

Os protestos vieram por parte de Kayan.

— Eu votei a favor ao ouvir a proposta do exame final, o qual seria que o candidato a mestre teria que trazer a prova de ter eliminado dois trolls, que sabemos ser uma raça abundante desta região.

— Sem duvidas de que isso traria benefícios para os reinos humanos que fazem fronteira com aquela região – observou Sakuro. – Mas assim como o mestre Kayan observou, será algo bem perigoso para nossos candidatos.

— Não vejo um risco assim tão grande, uma vez que a fortaleza de Darsec foi parcialmente destruída e está desabitada há séculos. Além disso, até onde sabemos, pouco dos povos bárbaros frequentam aquela região com exceção dos trolls.

Aquela foi a opinião de Radamanthys e foi muito bem recebida pela maioria dos presentes.

— Mesmo assim, devo concordar com o mestre Kayan sobre o perigo que isso poderá representar para os nossos candidatos a mestre. Mesmo seis granmestres podem não ser o suficiente para proteger todos eles caso algo saia fora do controle.

— Sua preocupação foi levada em conta, mestre Thays – respondeu-lhe Arthuro. – Durante a reunião com os demais granmestres foi decidido que cada ordem também levaria dois mestres de elite para garantir a segurança do local. Nenhum exercito dos povos bárbaros poderoso o suficiente para fazer frente a uma força dessas poderia ser reunido em tão pouco tempo.

Diante daquelas palavras, Kayan e Thays entreolharam-se e encontraram certa calma um no outro. Parecia que tudo ficaria bem no final das contas.

— Nessas condições serei eu o granmestre a acompanhar o exame deste ano.

Mais um pequeno alvoroço se formou no amplo salão.

— Tem certeza disso, granmestre Radamanthys? Você sempre evita esse tipo de atividade social.

A indagação veio por parte de Arthuro. Um meio sorriso escapou dos lábios do Atreius mais velho.

— Não que isto me agrade, mas um granmestre e dois mestres de elite da ordem de Zeneth estarão presentes. Além disso, quero que o mestre Kayan e a mestre Katherine me acompanhem. O primeiro devido a capacidade de combate e a segunda devido a ter uma das melhores capacidades de leitura de auras conhecida em toda Wesmeroth, além de sua habilidade de curar fora do comum.

— Concordo completamente com o granmestre Radamanthys. Essas escolhas nos trarão total garantia de segurança para nossos magos e futuros mestres.

Praticamente todos os presentes concordaram com a opinião dos dois Atreius e aquilo colocou um ponto final à questão. Arthuro, então, colocou em pauta um segundo assunto para a reunião.

— Falando na Ordem de Zeneth, o granmestre Sakuro e eu estivemos discutindo uma ação estratégica contra nosso inimigo nesse meio tempo. Uma ação a ser liderada por três mestres de elite.

— Originalmente eu tinha cogitado em escolher os mestres Kayan, Thays e Spaak para esta missão, mas o mestre Kayan estará ocupado, então sugiro substituí-lo pelo mestre Glarion.

— Devo discordar disso, granmestre Sakuro – contrariou-o Aikos Fixue. – Não gostaria de enviar nossos cinco mestres de elite mais fortes e nosso mais poderoso granmestre para longe da ordem ao mesmo tempo.

— Acho que o granmestre Aikos tem razão – afirmou Ashtar Asford. – Não sou tão poderoso quanto meu tio, mas acredito que possa substituí-lo enquanto ele protege nosso castelo.

— Talvez o mestre Joseph Smalter possa me substituir – disse-lhes Spaak. – Tenho treinado com ele esses dias, para relembrar os velhos tempos quando o granmestre Aikos ainda era um mestre e liderava nossa equipe, e posso afirmar que ele é quase tão bom quanto eu em combate.

— Gentileza sua dizer isso, mestre Spaak, ainda não sou tão forte quanto você, mas acho que posso desempenhar bem este papel. Além disso, seu filho está para nascer e sei o quanto gostaria de permanecer na ordem quando o momento chegar.

— Muito bem, mas acredito que seja fundamental que ao menos a mestre Thays siga com a missão. Sua força será necessária – insistiu Sakuro. – Cada um de vocês três deverá escolher dois mestres para formar uma equipe. Além disso, deverão reunir três equipes de mestres, dez lideradas por um mestre e dois magos de apoio e trinta equipes apenas de magos. Ao menos dez por cento de magos de suporte será necessário.

Kayan e Thays entreolharam-se preocupados.

— Pelo que estou entendendo isso será uma grande batalha com mais de cem de nossos magos – concluiu Kayan.

— Exatamente. Irei explicar-lhes os detalhes que eu e o granmestre Arthuro temos a sugerir.

As próximas horas se passaram enquanto a estratégia era definida e escolhas chaves eram feitas para integrar o grande grupo de magos que seria escolhido para completá-la.

* * *

Vinte dias se passaram desde a reunião. Enquanto a maioria dos magos de Drugstrein continuaram com suas vidas e completando missões normalmente, os escolhidos para a missão liderada por Thays, Ashtar e Joseph concentravam-se em treinar e se preparar para o que estava por vir. Naquela noite, porém, estariam livres para passarem algum tempo com os magos que partiriam para o exame para mestre.

Era final da tarde e Kayan reunia-se com Spaak e Mathen na taverna da ordem. Tomavam uma forte cerveja de maça que era comprada dos anões e alimentavam-se com pães e javali assado.

— Realmente é uma pena que irei partir amanhã e seu filho ainda não nasceu – disse-lhes Kayan.

— Nem me fale. Tanto a Aghata quanto eu estamos ansiosos por isso. A barriga dela esta enorme e ela sempre se queixa de dores e enjôo.

— Falando nisso, acredito que seria a Katherine quem faria o parto, mas ela estará longe. Quem assumirá esse papel? – Mathen indagou-lhe pouco antes de tomar um grande gole de sua bebida.

— Será a mestre Ayla Gunver.

— Sério? Achei que você e ela não se davam muito bem – comentou Kayan.

— E isso é verdade, mas Aghata e ela são grandes amigas. O Pai de Ayla e o mestre Afonso Willis sempre foram grandes amigos e as duas foram aprendizes juntas. Além disso, todos devemos concordar que ela é a segunda melhor maga branca da ordem agora que não temos mais Grendolow e Galia Maxwell.

— Às vezes devemos deixar nossos desejos pessoais de lado para escolhermos o que é melhor para todos – observou Kayan enquanto cortava uma fatia do pedaço de javali à sua frente.

— Isso é mesmo verdade. Falando nisso, estou meio preocupado com essa escolha do local do exame para mestre. E vocês não podem mesmo dizer qual será o último exame?

— Não podemos dizer, Mathen. E não se preocupe com Cristallia, garantirei que nenhum mal aconteça com ela.

— Saber que você e o granmestre Radamanthys estarão lá realmente é um tanto quanto tranquilizador, mas ainda assim me preocupo um pouco.

— Vivemos tempos difíceis – observou Spaak. – Essa guerra entre Drugstrein e Zeneth está deixando todas as ordens preocupadas e isso será uma medida para garantir que os povos bárbaros continuem intimidados e não decidam iniciar uma nova guerra nesse momento.

— Além disso, estou mais preocupado com você e com Thays. A missão de vocês será bastante perigosa – disse-lhe Kayan.

— Preocupado com a Thays? Eu ainda não acredito no que a vi fazendo durante as seções de treinamento. Nem parece que fomos aprendizes juntos. Vocês devem ter mesmo pegado pesado nesse último ano para evoluírem tanto.

— Um pouco. Mas passamos muitos bons momentos juntos também.

Mais um pouco de conversa se seguiu enquanto a comida e bebida eram lentamente consumidos. Após isso, tanto Kayan quanto Mathen pretendiam passar a noite com suas respectivas namoradas antes de se separarem por pelo menos uma quinzena.

Kayan subiu as escadas da torre dos mestres um tanto quanto zonzo devido a bebida, mas quando chegou em frente aos aposentos de Thays já estava completamente sóbrio. Retirou a cópia da chave que tinha consigo e abriu a porta para entrar.

Foi uma surpresa encontrar a Cyren o esperando enquanto trajava um bonito vestido de ceda na cor verde e semi transparente. Ficou alguns segundos admirando o corpo da moça enquanto ela se aproximava para beijá-lo.

— Venha, tire essas roupas e coloque outras mais confortáveis. Quero aproveitar bem esta noite, já que ficaremos alguns dias separados.

Kayan fez como ela lhe pediu e vestiu-se com as calças de algodão que gostava de usar em seus momentos de folga. Nesse meio tempo, a garota sentou-se no sofá que havia em seus aposentos e puxou uma pequena mesa de madeira mais para perto de si. O tempo todo ela manteve um sorriso travesso em seu rosto.

— Você está aprontando alguma, tenho certeza – disse ele enquanto sentava-se ao seu lado e recebia um dos cálices de vinho dos dois que havia sobre a mesa. Enquanto ele experimentava a bebida percebeu que a namorada também sorvia o liquido carmesim lentamente.

— É impressão sua. Tudo o que eu fiz foi arranjar mais um pouquinho daquela poção feita com ingredientes vindo do sudeste da planície de Daran. Aquela que chamam de poção do amor.

— Ah sua safadinha!

E entornou todo o conteúdo da taça antes de puxar a Cyren para junto de si e beijá-la intensamente.

* * *

Como todo ano, o exame para mestres iniciou-se no 61º dia da primavera. Aquele era o final da tarde do terceiro dia dos exames e havia sido o exame de duelo, uma vez que o teórico e de demonstração de habilidades já haviam se encerrado.

A fortaleza abandonada era maior do que a maioria dos castelos humanos que existiam, perdendo apenas para os das ordens de magos. O maior salão havia sido parcialmente restaurado e estava sendo utilizado para o exame enquanto barracas haviam sido armadas para que os presentes pudessem passar as noites de maneira mais confortável.

Havia mais de uma dezena de grandes torres de estruturas quadradas espalhadas no perímetro da muralha e era sobre uma destas que Kayan fitava a lua cheia que começava a surgir com um ar quase distraído.

— Eu daria uma moeda de ouro para saber sobre o que você esta pensando – brincou Katherine enquanto mantinha-se em pé, com os braços cruzados e recostada nas ameias do lado oposto da torre.

Kayan virou-se para a moça em meio a um sorriso antes de responder-lhe.

— Acho que gastaria sua moeda sem necessidade. Não é difícil adivinhar no que estou pensando.

— Hum... aposto que está pensando em uma bela garota de cabelos azulados. Está com saudades?

— Não exatamente, mas no último ano não ficamos sequer um dia sem nos vermos, então é natural que eu sinta a falta dela. Imagino que você também sinta falta de Sakuro e do Kattus.

— Você está certo. De certo modo, acabei me acostumando a ficar alguns dias longe de Sakuro de vez em quando, mas deixar o meu bebê sozinho é o que mais me aperta o coração. Ainda bem que encontramos uma criada de confiança para cuidar dele porque a Anita estará na missão junto com a Thays e o Sakuro não pode ficar com ele o tempo todo.

— Drugstrein tem criadas para isso, mas encontrar alguém de total confiança é importante – concordou o mago negro.

— Kayan, você está aí em cima?

Quando o Atreius se aproximou das ameias da torre para ver quem o chamava lá de baixo, viu que Nathie e Cristallia olhavam para cima enquanto lhe chamavam.

— Olá garotas. Como foram no exame?

— Fomos reprovadas – respondeu-lhe Nathie, uma pontada de decepção transparecendo-lhe na voz.

— Os granmestres foram implacáveis ao duelarem conosco – complementou Cristallia. – E o granmestre Radamanthys foi muito cruel em ser o primeiro a nos reprovar.

— Tenho certeza de que ele fez isso por saber o quão perigoso será o último exame. Venham aqui para cima.

Kayan tocou as pedras da estrutura da fortaleza para que elas transmitissem seu feitiço clayn até o solo. As moças gritaram devido a surpresa de ter uma coluna de terra se elevando logo abaixo de seus pés e elevando-as até o nível da torre. O Atreius desmanchou a coluna assim que elas saltaram para a solida estrutura defensiva.

— Me-mestre Katherine! Bo-boa noite – cumprimentou-a Cristallia, nervosa.

— Boa noite, mestre Katherine – disse-lhe Nathie, também um pouco sem jeito.

— Boa noite, garotas, não precisam ficar nervosas desse jeito.

— I-impossível, a mestre Katherine é um exemplo para todas as magas brancas – disse-lhe Cristallia.

— Engraçado. Sarah dizia a mesma coisa. Dizia que além de talentosa com a esfera de luz, Katherine era uma excelente maga de combate e muito bonita. Realmente um exemplo a ser seguido por magas desta esfera.

— Desse jeito sou eu quem ficará nervosa, Kayan.

Apesar das palavras, Katherine agia como quem estava acostumada com elogios como aquele.

— De qualquer maneira, você nos disse que o motivo por trás do granmestre Radamanthys ter sido tão rígido no exame do duelo era o perigo do último exame. Qual seria esse exame, Kayan?

O Atreius divertiu-se com a curiosidade que percebia nos olhos da amiga e decidiu brincar um pouco com aquilo. Foi com um sorriso debochado que lhe respondeu.

— Será que eu deveria lhe revelar este segredo?

— Kayan! – protestou Katherine.

— É brincadeira. Vocês só irão saber disso amanhã, quando for revelado aos aspirantes a mestre que chegaram até a última etapa.

— Você é mau! Brincando com nossa curiosidade dessa maneira.

Tudo o que o mago negro pode fazer foi rir das duas amigas.

— De qualquer maneira esses exames para mestres são bem injustos com nós, magos brancos. Muitos de nós somos especialistas na esfera de luz, mas não muito bons como combatentes. Não me espanta termos tão poucos mestres desta esfera.

— Concordo com você em partes, Cristallia – ao ouvir a mestre Katherine dirigindo a palavra para si, a moça sentiu-se novamente nervosa. – Sei que os magos brancos tem que se esforçar muito mais se quiserem se tornar mestres, mas isso também faz com que nós fiquemos dentre os melhores mestres.

— Sinceramente, acho que vocês duas tem um grande potencial. Não desanimem por não conseguirem se tornarem mestres este ano, pois sempre tem o ano seguinte. Agora vocês três fiquem aqui que eu vou ver se arranjo algum vinho pra gente. Quero relaxar esta noite, porque estou prevendo que amanhã será um dia bastante tenso.

Antes que qualquer uma pudesse reclamar, Kayan saltou da torre e desapareceu de vista em um piscar de olhos. As garotas deram de ombros e concentraram-se em perder a timidez perante a presença de uma mestre de elite.

* * *

Kayan e Katherine acordaram bem cedo na manhã seguinte. Antes mesmo do último exame ser anunciado, a dupla saiu da fortaleza para assumir suas posições.

A intenção deles era poder proteger seus magos em caso de uma emergência. Radamanthys permaneceria junto aos demais granmestres enquanto os mestres de elite se afastariam pela região. Kayan avançou para o sul até o limite que poderia sentir a aura do tio. Katherine, por sua vez, seguiria para o norte até o limite em que poderia perceber a aura do Atreius mais jovem.

Daquela maneira eles poderiam monitorar a aura dos magos na maior área possível, que abrangeria um circulo de raio de dez e trinta quilômetros. Esperavam que aquilo fosse o suficiente e que conseguissem chegar a tempo caso algum dos magos de Drugstrein precisassem de ajuda.

Kayan avançou de maneira veloz, ignorando os trolls que encontrava pelo caminho apenas para deixá-los para os candidatos a mestre. Parou quando chegou a uma pequena e reconfortante queda d’água. Sentou-se no topo de uma grande pedra e aguardou, atento aos arredores.

Tinha a estranha sensação de que algo estava para acontecer, apenas não sabia o que.

* * *

Viktor Smalter caminhava tranquilamente através da vegetação rasteira e poucas árvores de troncos retorcidos que há pouco se recuperaram do inverno que acabara há apenas duas luas. Reparava como aquela era uma boa terra, embora não tão fértil quando a maior parte da planície de Daran.

A principio estava apreensivo quanto ao último exame. Nunca havia enfrentado trolls antes e era de conhecimento geral que eles eram os mais perigosos dentre os povos bárbaros, exceto os mais habilidosos shamans dos taurinos. Após raciocinar um pouco, entretanto, percebeu que os granmestres apenas haviam aprovado no exame de duelo quem eles tinham absoluta confiança de que poderiam superar aquele desafio.

Não era por menos que apenas ele, o rapaz chamado Karzus, pelo qual Kayan parecia ter sido um dos responsáveis pelo treinamento, e uma maga da família Asford haviam sido aprovados dentre os de Drugstrein.

Pensar em Kayan o remeteu a Thays. Por anos acreditou que amava a Cyren, embora nunca fora correspondido e mais de uma vez havia sido rejeitado sem sequer conseguir um beijo da maga de cabelos azulados. E como admirava a cor daqueles cabelos.

Naquele momento, no entanto, em que tinha sua própria companheira, percebia que aquela convicção que tinha em sua cabeça dava lugar à dúvida.

Ele certamente admirava a Cyren, tanto como mulher, quanto como maga. Não duvidava que realmente a amava, mas será que não a amava apenas como amiga devido a grande admiração que tinha por ela?

Apesar disso, também não tinha certeza de que Allie era a pessoa certa para ele. Nem mesmo quando se amaram pela primeira vez, pouco antes de sua partida para aquele exame, ele teve certeza disso e naquele momento em que deveria se concentrar no exame final aquelas dúvidas martelavam em sua cabeça.

Suas divagações foram varridas como poeira ao vento quando avistou o troll. Ele era enorme, quase quatro metros de altura e vinha caminhando pela relva assim como ele.

Quando a criatura de couro acinzentado colocou seus pequenos olhos cheios de malicia no Smalter, ela virou-se e encarou-o por um momento, incrédula de que realmente havia um humano ali.

Um poderoso urro chegou a estremecer o ar pouco antes do troll avançar de maneira desenfreada contra Viktor. O mago, por sua vez, manteve a calma e dispensou-lhe um meio sorriso enquanto via metade de sua aprovação no exame logo a sua frente. Agitou os braços em uma série de movimentos em semi-circulo que, junto a conjuração do feitiço jinn, criavam velozes lâminas de vento que dilaceravam a carne do bárbaro.

Apesar da dor que sentia e do sangue que era lançado ao ar, o imponente troll não diminuiu sua marcha e continuou avançando enquanto gritava. Sua regeneração começava a lhe curar onde havia sido ferido, mas mal havia a pele se fechado e uma nova lâmina o dilacerava sem piedade.

Viktor não estava certo de que poderia derrubar o adversário antes que ele o alcançasse. Sabia sobre a regeneração dos trolls e percebia que aquele ali não fraquejava nem um pouco enquanto avançava. Apesar disso, não desistiu de sua estratégia até que o adversário estivesse sobre si, golpeando-o com o punho de cima para baixo.

O Smalter conjurou um aurus pinn e o escudo de energia recebeu todo o impacto do golpe sem que o mago sequer fraquejasse. Utilizou um pouco se energia para afastar o punho da criatura enquanto saltava para trás e apontava ambas as mãos para o peito do troll.

Com um crisis katris, Viktor causou uma poderosa explosão que atingiu seu inimigo a queima roupa. Quando a poeira baixou, ele percebeu que o troll ainda estava em pé. Um de seus braços pendia, deformado. A explosão havia destruído metade do tórax da criatura e algumas das gigantes costelas podiam ser vistas. A regeneração tratava de curar e começava a colocar o braço no lugar lentamente.

O Smalter decidiu que não daria tempo para que seu oponente se recuperasse. Apontou a mão direita para o troll enquanto mantinha-se ereto. Uma poderosa descarga elétrica atingiu-o quando Viktor conjurou um tangrea. Lentamente ele viu a pele cinzenta se carbonizando enquanto a vitalidade deixava lentamente os olhos do troll. Bastou alguns segundos para que ele caísse para nunca mais se levantar.

Além de derrotar o troll ele precisava de uma prova de sua conquista, por isso aproximou-se da criatura e agarrou uma das presas, que chegavam a mais de quinze centímetros, e arrancou-a com a força de sua aura.

— Cara, isso é muito nojento! – protestou para o vento.

Enquanto guardava seu troféu recém adquirido, percebeu que uma aura aproximava-se lentamente de onde ele estava. Pela força daquela aura, tinha certeza de que não era um dos magos que participavam do exame.

Quando o dono da aura chegou, ele pode reparar que era um rapaz alto e de cabelos longos e castanhos que caiam sobre os ombros do sobretudo de mestre que ele utilizava. A indumentária era de cor verde escuro e a bainha, tal como detalhes no pulso e gola eram de cor prateada, o que o indicava como mestre de elite. O símbolo da Ordem de Zeneth e as duas pequenas tatuagens que ele tinha sob os olhos revelaram a identidade do recém chegado mesmo que o Smalter nunca o tenha visto antes.

— Você deve ser Karion Wigg – não era uma pergunta. – Se não me engano você não esta entre os mestres de elite de sua ordem que vieram garantir nossa segurança durante o exame.

— Acertou. Até que você é inteligente para um mago de Drugstrein.

O tom sarcástico na voz e o sorriso debochado no rosto fizeram com que o Smalter achasse o Wigg muito desagradável. Algo lhe dizia para sair da companhia do mestre de elite o mais rápido possível.

— Eh... bom, tenho um exame para concluir, então acho que vou indo.

Enquanto falava, Viktor impulsionou-se para o lado oposto ao de Karion, antes que se afastasse mais de dez metros, entretanto, o outro mago havia feito o contorno e parado a sua frente.

— É muita falta de educação sair enquanto um mestre esta falando com você.

Apesar da temperatura amena, Viktor percebeu o suor começar a brotar-lhe na testa. Esta mais do que claro que a intenção de Karion naquele lugar era simplesmente eliminar os magos de Drugstrein. E, ao ver a velocidade absurda com a qual ele se movimentava, concluiu que não seria nada fácil escapar de lá com vida.


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Notas finais do capítulo

E aqui está Karion novamente fazendo mais das suas. Como será que Viktor irá escapar dessa situação desfavorável e terminar seu exame para mestre?



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