A Ordem de Drugstrein escrita por Kamui Black


Capítulo 87
Retorno à Drugstrein - Parte 2


Notas iniciais do capítulo

Será que Kayan realmente é capaz de enfrentar dois mestres de elite ao mesmo tempo?



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Capítulo 086

Retorno à Drugstrein (Parte 2)

Os primeiros minutos em que os mestres mais velhos permaneceram encarando o mais jovem foram tensos para todos os presentes, exceto o próprio Kayan.

As muralhas do castelo de Drugstrein podiam ser vistas há muitos metros atrás do Atreius e todos os mestres e granmestres presentes reuniam-se a uma grande distância sobre uma elevação do descampado onde ocorreria o duelo.

— Parece que você não pretende atacar, então eu mesmo iniciarei esse duelo.

Glarion estendeu ambos os braços para frente e utilizou todo o potencial de sua esfera primordial contra Kayan. Uma massiva onda de terra se elevou a mais de seis metros de altura e avançou rapidamente contra o mago negro, que estendeu a mão direita contra a mesma e lançou uma precisa rajada de fogo.

Assim que o crisis katris atingiu o clayn, uma grande explosão levantou uma nuvem de poeira junto um estrondoso impacto. A intenção de Kayan, porém, não foi destruir toda a onda, mas apenas criar uma abertura para que ela passasse por ele de maneira inofensiva.

Ainda sob a grande quantidade de poeira no ar, o Atreius conjurou um tangrea contra o Asford. Apesar de ser uma das duas esferas onde o mago negro era mais fraco, um grande arco elétrico avançou em linha reta enquanto ele direcionou sua mão esquerda para frente.

Glarion não teve a necessidade de se defender, uma vez que Ayla avançou e conjurou um aurus pinn para proteger seu parceiro de combate. A moça surpreendeu-se quando a força do feitiço fez com que ela fosse arrastada para trás, criando a necessidade de concentrar uma parte de sua aura em seus pés apenas para conseguir se manter estável enquanto suportava a ofensiva de Kayan.

O outro mestre de elite aproveitou aquela oportunidade para conjurar um clayn visgoon. Seis imponentes golens se formaram a partir da terra. As raízes que os sustentava eram extremamente precisas e organizadas e o mago negro admitiu para si mesmo que nunca havia visto golens tão bem construídos como aqueles.

Quando os seis constructos avançaram em uma velocidade muito maior do que qualquer um ali pudesse imaginar, Kayan viu-se obrigado a cessar sua ofensiva para combatê-los. Ayla permaneceria incapacitada por alguns segundos, ofegante devido ao grande esforço para se defender. Glarion, por sua vez, teria que se concentrar muito para manter os golens totalmente ativos e ele já havia percebido que não poderia cometer erros contra um adversário como Kayan. Com isto em mente, decidiu que deixaria suas criações cuidarem do assunto. O Atreius, então, estendeu ambas as mãos contra seus adversários e conjurou um crisis. As chamas de temperatura extremamente elevada danificavam as raízes que mantinham as rochas dos golens em movimento, deixando-os mais lentos.

— Estranho – comentou Arthuro. – Kayan não esta se movimentando neste duelo. Ele sequer deu um passo desde o inicio.

— Isso não quer dizer nada, o outro lado também não fez movimentos.

— Não é isso o que eu quis dizer, Radamanthys. Conheço bem o estilo de Kayan e ele tem uma boa mobilidade e geralmente abusa da mesma para obter alguma vantagem no duelo.

— Vou lhes explicar, granmestres – disse-lhes Thays, que assistia ao duelo como todos os presentes. – Ele está parado porque não quer vantagens. Kayan não está lutando a sério ainda.

Apesar da afirmação de Thays, Kayan percebia que seu tempo para ficar imóvel estava se esgotando. Apesar de conseguir retardar o avanço dos golens, ele percebeu a quantidade absurda de aura que Glarion estava enviando para suas criações e de que eles acabariam por alcançá-lo. E foi exatamente por isso que ele resolveu cessar seu feitiço crisis.

Mal as chamas haviam se encerrado e os constructos recuperaram toda sua velocidade e avançaram freneticamente contra o Atreius. Envoltos em chamas, eles saltaram sobre Kayan em uma tentativa de agarrá-lo e esmagá-lo e por um momento pareceu que foi exatamente isso o que aconteceu.

Um amontoado de rochas, raízes e chamas se formou no lugar onde estava o mago negro. No segundo seguinte, porém, muitas pedras foram lançadas para o alto e para os lados quando Kayan ressurgiu enquanto se elevava a mais de trinta metros de altura. Ele havia utilizado um feitiço jinn diretamente contra o solo e isso o impulsionara para cima em linha reta e em grande velocidade.

Recuperada do feitiço tangrea que ela havia defendido há pouco, Ayla uniu ambas as mãos em frente ao seu corpo para conjurar o mais poderoso ryado que conseguiu. Um turbilhão de gelo avançou em linha reta por toda a grande distância que a separava de Kayan, que simplesmente estendeu a mão direita contra o feitiço e conjurou um crisis katris.

As chamas avançaram contra o gelo formando diversas explosões em todo o seu percurso até que a rajada flamejante se aproximasse da Gunver. Ela arregalou os olhos ao perceber que não conseguiria se defender daquela contra-ofensiva tão forte que vinha contra ela. Sentiu, naquele exato momento, que poderia acabar morta ali mesmo, sem chance alguma de se defender.

Glarion não ficou parado enquanto o Atreius contra-atacava sua parceira e conjurou mais um clayn. Daquela vez, porém, concentrou-se em uma formação rochosa menor e muito mais densa. Ao invés de uma grande onda de terra, um enorme cilindro de pedras com cerca de três metros de diâmetro avançou toda a distância entre ele e seu adversário em grande velocidade. A maioria dos que assistiam aquilo sequer podiam imaginar que aquilo podia ser feito com magia. Eles presenciavam uma verdadeira batalha entre magos dentro os mais poderosos que poderiam existir em toda Wesmeroth.

Para se defender da enorme e massiva rocha que avançava para lhe atingir enquanto ele voltava para o solo, Kayan estendeu sua mão esquerda e criou um escudo de energia que absorveu todo o impacto físico que seu corpo receberia. Apesar disso, ele foi forçado para o alto na diagonal e ainda para mais longe de seus oponentes. Seu próprio feitiço, no entanto, avançava ainda mais rápido contra Ayla.

Desde o principio nunca fora a intenção de Kayan atingir a Gunver com seu crisis katris. Ele sabia que se a atingisse com força total talvez a ferisse mais do que ele poderia suportar com sua aura e por mais que Kayan não gostasse muito dela jamais desejaria feri-la daquela maneira. E foi por este motivo que ele encerrou sua contra-ofensiva alguns metros antes das chamas atingirem sua adversária.

— Como isso é possível? Eles estão a uns cem metros de distância um do outro e ainda conseguem enviar aura para seus feitiços! – exclamou Jonathan, incrédulo.

— É realmente impressionante, mas alguns magos conseguem isso com esferas que tem um bom domínio. Acho que posso fazer isso com a esfera do gelo, Sakuro alcança uns trezentos metros – afirmou Katherine.

— Impressionante, primo, posso controlar minhas chamas a uns duzentos metros apenas – complementou Thays.

Apesar de incrédulo sobre o que via e ouvia, tanto Jonathan quanto os demais mestres de elite menos experientes ou poderosos tiveram que ficar em silêncio uma vez que o duelo ganhava novos movimentos.

Kayan havia livrado a mão direita, então apontou-a para baixo enquanto se defendia com a esquerda. Manipulou uma pequena parte das rochas controladas por seu adversário para que um degrau se formasse sob seus pés. Ele, então, utilizou-o para saltar sobre o cilindro de rocha e avançou rapidamente contra Glarion.

O mestre da esfera da terra respirou fundo enquanto se recuperava após a enorme quantidade de aura que havia gasto. Deixou que seus braços caíssem ao lado do corpo enquanto movimentava os dedos nervosamente. Fechou os olhos e apontou ambas as mãos para frente enquanto se concentrava.

Rochas começaram a se levantar do solo em ondas na tentativa de atingir Kayan. Como a movimentação do mago negro era muito ágil, Glarion guiava-se pela aura. Apesar disso, Kayan saltava de um lado para o outro da formação rochosa e às vezes para frente ou para trás. Esquivava-se das investidas de seu oponente enquanto se aproximava do mesmo. Ayla conjurava um crisis para tentar atingi-lo e quanto as chamas o Atreius sequer se dava o trabalho de se esquivar, defendendo-as com um jinn ou mesmo apenas com sua própria aura, deixando-se ser atingido sem que o fogo realmente penetrasse as defesas em volta de seu corpo.

Pouco a pouco ele ganhou terreno e mesmo que a distância menor fizesse com que os ataques de Glarion ficassem mais precisos, Kayan conseguia evitar todas as investidas. Quando chegou a menos de cinco metros saltou para o alto em meio a um giro que o deixou de cabeça para baixo no exato instante em que estava sobre seu adversário.

O Asford virou o rosto para cima naquele momento e abriu os olhos apenas para ver Kayan encarando-o de cima para baixo. Um largo sorriso curvou os lábios do mago negro quando ele apontou ambas as mãos para seu adversário e fez com que um turbilhão de chamas avançasse contra o mestre de elite.

Glarion sabia exatamente que aquilo era um crisis katris, mas também sabia que não teria tempo de conjurar um aurus pinn. Com aquilo em mente, direcionou toda a sua aura para as pernas e as costas. Com a força extra nas pernas ele avançou o mais rápido que pode e com a defesa em suas costas ele pretendia resistir ao que lhe atingisse do feitiço adversário.

Uma grande explosão fez com que muita terra e poeira fosse arremessadas para o alto, além de um estrondo que foi ouvido muito bem lá no castelo Drugstrein. Kayan foi impulsionado para cima e se protegeu de seu próprio feitiço enquanto completou sua acrobacia e caiu em pé alguns metros a frente.

Glarion, por sua vez, foi atingido nas costas por grande parte da explosão e arremessado para frente. Tentou apoiar as mãos no chão e girar em uma tentativa de ficar em pé, mas seu giro apenas fez com que ele batesse no chão e rolasse algumas vezes antes de parar caído com a parte frontal de seu corpo voltado para o solo. Forçou-se a ficar em pé enquanto tossia e abafava gemidos de dor. Seu sobretudo havia sido destruído e a parte da frente de sua túnica sem mangas caiu no chão quando perdeu o sustendo da parte de trás. O mestre de elite arrancou, com certa raiva, as mangas longas que restaram do sobretudo e jogou-as no chão. Em suas costas havia grandes manchas vermelhas de queimaduras que começavam a verter sangue.

— Mestre Ayla, cure o mestre Glarion para que possamos continuar.

As palavras de Kayan saíram com um tom de autoridade que não agradou a nenhum dos dois mestres.

— Se eu fizer isso você irá nos atacar enquanto estamos vulneráveis – protestou a moça.

— Não farei isso. Aguardarei pacientemente enquanto você termina. Sei que é uma maga branca e esses ferimentos não são muitos profundos, então levará apenas alguns segundos.

Relutantemente Ayla aproximou-se de maneira rápida, porém cautelosa e conjurou um ressin para curar o outro mestre. Quando já estava recuperado, Glarion dirigiu suas palavras a Kayan.

— Não será necessário continuarmos. Você já comprovou sua força para que todos nós pudéssemos ver. Sou orgulhoso, mas não orgulhoso demais para admitir quando um mago é mais forte do que eu.

— Mestre Glarion, como pode dizer isso? – protestou Ayla.

— Pense bem, mestre Ayla – disse ele, calmamente – se aquele tangrea do início do duelo fosse um durhan tangrea, você certamente já estaria morta agora. E nas condições em que eu me encontrava, sem você para me curar, bastava alguns segundos para que o Atreius cravasse um giudecca em meu peito. Em outras palavras, se nós dois fossemos mestres de elite de Zeneth e o mestre Kayan assim o desejasse, estaríamos ambos mortos agora.

— Diz a verdade, mestre Glarion, mas como acredito que nenhum deles seja um mago tão poderoso quanto você é, acho que eu poderia lidar com três deles ao mesmo tempo.

— Não seja presunçoso, mestre Kayan! – protestou ela, irritada

— Se quiser podemos continuar o duelo, que tal?

Kayan mantinha um sorriso amistoso em seu rosto enquanto Ayla engolia em seco. Aquela proposta do mago negro permaneceu sem resposta enquanto aqueles que assistiam ao combate se aproximavam do local onde eles estavam. Thays aproximou-se de Kayan e ele envolveu-lhe os ombros em um abraço enquanto a moça passava seu braço esquerdo por sua cintura.

— Você lutou muito bem – elogiou-o ela.

— Obrigado. O mestre Glarion foi um adversário muito bom e a mestre Ayla quase chegou a ser um pequeno incomodo.

O Atreius ficou satisfeito em ver uma veia saltando na testa da moça irritada. Aquilo o deixava satisfeito e ele decidiu que já poderia parar de provocá-la.

— Acho que com isso será unânime a aceitação do mestre Kayan como um mestre de elite em Drugstrein, não é mesmo, meu tio? – apesar de certo do que dizia, Ashtar procurou a afirmação de Glarion.

— Sem dúvidas – disse ele.

— Alguém aqui se opõe a Kayan Atreius como mestre de elite? – indagou Radamanthys, severo.

Daquela vez foi Thays quem encarou Ayla em meio a um desafio silencioso. A moça, entretanto, não encontrou argumentos e se manteve quieta.

— Muito bem, amanhã providenciarei para que tudo se torne oficial – afirmou Aikos Fixue.

— Esperem um momento – pediu Jonathan. – Kayan, você que treinou junto com Thays por todo esse tempo deve saber avaliar muito bem o poder dela, não é mesmo?

— Nós dois sabemos muito bem quais as capacidades totais um do outro – respondeu-lhe o Atreius.

— E qual dos dois é o mais poderoso? – indagou-lhe Sakuro.

— Kayan ainda esta na minha frente, primo. Quanto mais eu me esforçava para ficar mais forte que ele, mais ele se esforçava para manter a distância.

— E se Thays enfrentasse Glarion, quem venceria? – novamente Jonathan.

— Em termos de poder bruto, Glarion ainda é melhor que Thays. No entanto, ela possui um controle muito melhor de sua aura e é ainda mais ágil que eu. Diria que é difícil de estimar, mas, se o duelo acontecesse exatamente agora, apostaria na minha baixinha aqui, pois ela possui um recurso oculto do qual nenhum de vocês ainda sabe.

Quando todos encararam o casal curiosos foi ela quem respondeu-lhes.

— Criei um feitiço novo nesse meio tempo. O Kayan também.

— Me pergunto se tem algo a ver com o que teorizamos antes de vocês partirem – indagou Arthuro.

— Exatamente, granmestre. Uma draconiana dourada me ensinou algumas coisas e eu consegui dominar o feitiço perfeitamente, apesar de que ainda não sei qual nome poderia dar à ele.

— Interessante. Gostaria que me mostrasse no futuro.

Percebendo que o assunto que estava tentando abordar estava se distanciando, Jonathan completou-o subitamente.

— Eu renuncio meu título de mestre de elite. Acredito que a mestre Thays seja melhor para a posição do que eu.

Os presentes encararam-no com surpresa.

— Tem certeza, Jonathan? É uma posição de grande prestigio – indagou-lhe Aikos.

— Dentre os mestres de elite, o único que poderia derrotar o mestre Glarion era o granmestre Arthuro e foi por isso que ele se tornou granmestre. Ter um mais um mestre de elite capaz de rivalizar em poder com o mestre Glarion será muito melhor para Drugstrein nesta época de guerra.

— Nesse caso, não seria melhor retirarmos a mestre Ayla? Ela é a mais fraca dentre os mestres de elite.

A declaração de Spaak fez com que a mestre em questão se sobressaltasse. Ela estava pronta para protestar, mesmo sem ter argumentos quanto aquilo. Surpreendeu-se quando Kayan falou em seu favor.

— Não, mestre Spaak. Ela pode não ser tão boa em combate, mas é a segunda melhor maga branca de Drugstrein. Acho importante tê-la entre os mestres de elite para inspirar outros magos brancos a melhorarem suas capacidades.

— Concordo com a visão do mestre Kayan – disse-lhes Sakuro. – Magos de suporte são muito importantes para minimizarmos nossas perdas.

— Já que esta tudo acertado, providenciarei a documentação e os novos sobretudos para os dois. Passem em minha sala amanhã para pegarem as vestimentas com os detalhes prateados.

Depois da declaração de Aikos, todos começaram a rumar de volta para Drugstrein. No meio do caminho, Spaak parabenizou os dois novamente e eles seguiram junto de Sakuro, Katherine e Aghata.

— Acho que vocês vão querer rever todos os seus amigos novamente, não? – indagou-lhes o mestre da esfera do fogo.

— Amanhã. Pode não parecer, mas eu estou bastante cansado – afirmou-lhe Kayan.

— Já que mencionou isso, seus aposentos estão limpos e arrumados aguardando o retorno de vocês. Basta pegar as chaves com as camareiras – disse-lhes Sakuro.

— Perfeito. Mas acho que não aguento subir até meu quarto, então terei que parar no de Thays, que fica alguns andares abaixo – disse ele, um sorriso travesso curvando-lhe os lábios.

— Diz que está cansado, mas sempre tem energia pra fazer safadezas comigo – protestou a baixinha de cabelos azulados. E aquilo foi o motivo para que o grupo caísse na risada.

* * *

A primeira coisa que Kayan e Thays fizeram na manhã seguinte foi retirar seus sobretudos com o granmestre Aikos, uma vez que queriam impressionar seus amigos com suas novas posições na ordem.

A próxima coisa a fazer seria visitar seus amigos mais próximos. No meio do caminho conversaram com muitos magos e mestres conhecidos, mas encontraram-se com uma pessoa que eles conheciam muito bem no meio dos corredores das torres dos magos onde Thays pretendia visitar Ellien e Kayan iria conversar com Mathen.

— Thays! Que saudades!

Viktor se adiantou para abraçar a moça, que acabou retribuindo-lhe o gesto quase que involuntariamente.

— Se você quer mesmo manter essa cabeça feia em cima de seu pescoço é melhor você largar a minha namorada agora mesmo, Smalter.

— Ah, você também voltou, Atreius, pena que não foi morto pelos bárbaros nos Portões do Exílio.

Apesar das palavras ásperas, elas não eram hostis como costumavam ser quando eram aprendizes. Ainda assim, tão logo Thays se desvencilhou de Viktor, Kayan tratou de abraçá-la.

— Não precisa ficar com ciúmes, Kayan. Viktor e eu somos apenas amigos – e beijou o rosto do namorado para acalmá-lo.

— Mas você sabe muito bem que ele sente alguma coisa por você.

— Parem de falar como se eu não estivesse aqui! E, além disso, eu também tenho uma namorada agora. Uma maga da esfera do ar que era da guilda de meu pai e veio conosco para Drugstrein. Allie Turnne, o nome dela. Tenho que apresentá-la a você Thays, assim que você tiver um tempo.

— Fico muito feliz por você. Espero que realmente a ame, pois eu já tenho meu lindo mago negro comigo e não o largo nunca mais porque deu muito trabalho conquistá-lo.

— Eu tinha que seguir em frente, não é mesmo? Ainda mais depois de saber que vocês viajariam juntos por Wesmeroth. Alias, parabéns por se tornar uma mestre de elite. Para você também, Atreius. Meu pai me contou como foi o duelo ontem à noite, gostaria de ter assistido.

Kayan não pode deixar de demonstrar surpresa pela maneira como estava sendo tratado pelo Smalter. Naquele momento ele lembrou-se das palavras que Spaak havia lhe dito há muito tempo, onde o mestre dizia que eles ainda poderiam se tornar bons amigos.

— Muito obrigado, Viktor. Alias, acredito que você irá participar do exame para mestre daqui a duas luas.

— Irei sim. Meu pai tem me treinado quase todos os dias e estou bem confiante desta vez. Faltou muito pouco para que eu conseguisse no ano passado.

— Tenho certeza de que irá conseguir. Você é um mago talentoso e esforçado – disse-lhe Thays.

— Engraçado como tive a terceira melhor avaliação quando éramos aprendizes, perdendo apenas para você, que ficou em primeira e o Atreius, que ficou em segundo, mas agora vocês já são mestres de elite em Drugstrein e eu ainda sou um simples mago – apesar da lamentação, Viktor parecia bem conformado com a situação.

— Isso não quer dizer nada, Viktor. Ninguém mais de nossa turma conseguiu tornar-se mestre até agora exceto nós dois – disse-lhe Kayan.

— Não é isso o que quis dizer. Ainda acredito que eu seja o melhor mago dentre os que estudaram em nosso tempo. Apenas quero salientar a diferença que há entre vocês dois e o restante da turma. Fico incrédulo ao ver o quanto vocês dois evoluíram em tão pouco tempo.

— Estatisticamente falando, isso acontece com um mago a cada dez mil, aproximadamente – explicou-lhe Thays. – Acho que tivemos um histórico parecido recentemente com Kattus e Radamanthys Atreius e meu primo Sakuro.

— Acho que está explicado. Cyren e Atreius. Esta no sangue.

— O que os dragões nos ensinaram também ajudou bastante – concluiu Kayan.

— De qualquer maneira, aposto que quando a noticia de que vocês dois retornaram se espalhar, todos ficarão mais confiantes de que podemos vencer a Ordem de Zeneth.

— O pessoal de sua guilda também foi um bom reforço para nossa ordem – comentou Thays em retribuição.

— Agora vou ver a minha namorada e deixar vocês dois terminarem suas coisas.

O casal esperou que o Smalter começasse a subir o próximo lance de escadas antes de voltarem a caminhar enquanto conversavam.

— Quem é esse que substituiu o Viktor? Ele está muito diferente.

— Eu já havia te falado que ele havia mudado, mas você não quis acreditar – disse Thays. – E realmente não precisa ficar com ciúmes. Você sabe muito bem que se eu tivesse algum interesse no Viktor nós teríamos ficado juntos há muito tempo.

— Eu sei disso. E confio em você.

Quando chegaram ao final do corredor, Kayan virou-se para a esquerda enquanto Thays pretendia seguir para o próximo lance de escadas.

— Nos vemos de novo à noite, antes do jantar.

O casal trocou um breve beijo após as palavras de Thays e cada qual seguiu para seu destino.

Kayan caminhou até a terceira porta de madeira reforçada e bateu suavemente na mesma. Quando Mathen a abriu, não teve nenhuma outra reação exceto abraçá-lo com força.

— Se você não parar de me abraçar desse jeito vou ter que usar minha aura para não ter os ossos partidos.

— Seja muito bem vindo de volta, meu amigo. Vamos, entre, tem mais pessoas aqui em casa que sentiram sua falta.

Quando eles entraram, Kayan viu que Luanne Muscort estava junto de seu namorado e cumprimentou-os. O que o surpreendeu foi ver que o amigo havia se sentado ao lado de Cristallia Iker.

— Vocês dois estão juntos? – indagou ele enquanto sentava-se numa das duas confortáveis poltronas que ali haviam.

— Sim. Faz umas seis luas já – disse ela.

— No começo a minha maguinha branca aqui não me queria, mas depois de tanto esforço consegui conquistá-la. Teria te dito em uma carta, mas nunca sabíamos onde você e a Thays estavam.

— Prateado... você voltou como um mestre de elite, Kayan? – a percepção veio por parte da Iker.

— É verdade. Nem tinha reparado.

Orgulhoso, Kayan apenas pode sorrir enquanto era parabenizado pelos presentes.

— A Thays também. O mestre Jonathan cedeu sua posição para ela.

— A Thays também... alias, onde ela está?

— Foi conversar com a Ellien antes que ela saia em sua próxima missão. Alias, sinto muito pelo seu tio, Cristallia.

— Não éramos muito próximos, mas minha mãe ficou um pouco arrasada por perder o irmão mais novo. E minha prima ficou ainda pior.

A sala ficou um momento em um desconfortável silêncio antes que Kayan resolvesse mudar o assunto.

— Mathen, você prestará o exame para mestre deste ano?

— Não levo jeito para ser mestre – disse ele. – Mas a Cristallia irá.

— Isso é muito bom. Precisamos de mais mestres da esfera da luz. E vocês tem mais novidades para me contar?

— Nosso irmão e a Anita Sttiken não estão mais juntos – disse Luanne. – Só porque eu estava esperando por sobrinhos lindos e loirinhos.

— Depois de toda aquela enrolação para que os ficassem juntos e agora eles se separam...

— Pois é. O Allef vivia reclamando que ela era muito mimada e que não aguentava mais o jeito dela. Fazer o que. Mas no final foi ela quem rompeu o relacionamento e agora parece que esta com um Asford. Neto do mestre de elite Glarion, pelo que sei.

— E o Allef deve estar seguindo seus passos de aprendiz de Spaak antes da Aghata novamente.

— Certamente que sim. Disse que não quer saber de se envolver seriamente com outra pessoa tão cedo – disse Mathen.

 – Deve ser mal de Muscort isso. Soube que a Luanne também era bem saidinha antes que eu a conquistasse – disse Guill.

— Digamos que eu apenas gostava de me divertir, mas agora você sabe que sou só sua.

Apesar do comentário, o olhar que o rapaz deu para a namorada causou boas risadas nos presentes da sala.

* * *

O dia passou rápido enquanto Kayan e Thays reviam as pessoas que lhe eram mais próximas. Ao final da noite, entretanto, ambos estavam novamente juntos, deitados sobre a grande cama nos aposentos do Atreius enquanto conversavam após seu momento de amor.

— Viajarmos juntos foi muito bom tanto por termos nossos momentos a sós e pelas coisas que aprendemos, mas também foi muito bom voltar a rever todas essas pessoas que são importantes para nós.

— Foi mesmo. O Gorgar insistiu para que lhe mostrasse meu novo feitiço, mas disse que apenas o faria depois de testá-lo em um combate de verdade.

— Também insistiram para que eu lhes mostrasse meu crisis sapris. Sua ideia de deixá-los curiosos foi divertida.

Kayan acariciou-lhe o rosto enquanto apreciava o belo sorriso que a Cyren lhe oferecia.

— Nós temos que ser fortes, Thays, fortes e espertos. Precisamos proteger essas pessoas que nos são importantes de nossos inimigos porque estamos entre os poucos que podem fazer isso.

A moça levou sua mão até a do namorado e segurou-a com força.

— E nós iremos. Usaremos tudo o que aprendemos e evoluímos neste um ano para o bem de Drugstrein.

Com essa resolução em mente o casal adormeceu. Apesar disso, estavam bem despertos para os perigos que enfrentariam dali em diante.


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Notas finais do capítulo

E aí, o que acharam do retorno do Viktor? Parece que ele está bem mudado, não é mesmo, mas será mesmo que esqueceu seus sentimentos por Thays de vez?

E a esfera da vez é a eletricidade, que conta apenas com um feitiço chamado tangrea. É algo bem simples e extremamente ofensivo, pois é um feitiço capaz de criar eletricidade para atacar seus inimigos. A aura de outro mago é capaz de isolar a descarga elétrica, então basicamente os ferimentos causados por esse feitiço depende da habilidade de seu conjurador e da força de defesa do mago que é atingido pelo feitiço.



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