A Ordem de Drugstrein escrita por Kamui Black


Capítulo 79
Elfos - Parte 1


Notas iniciais do capítulo

Quase um ano se passou desde que Kayan e Thays deixaram Drugstrein e agora eles estão prontos para explorar regiões de Wesmeroth onde nunca estiveram antes.



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Capítulo 078

Elfos (Parte 1)

Os ventos gelados de outono castigavam o continente de Wesmeroth. E isso era ainda mais verdade no extremo norte, nas terras repletas de gelo e neve conhecidas como Terras Gélidas Mirron.

Naquela imensidão gelada, enfrentando uma forte tempestade de neve, uma figura humana cortava os cinquenta centímetros de neve enquanto caminhava, sempre em frente. Seu corpo estava totalmente protegido por um manto com capuz feito de lã e couro.

Uma grande comoção de neve ocorreu a sua frente quando o que parecia ser apenas um grande morro de terra soterrado pela neve levantou-se revelando um imponente troll com mais de quatro metros de altura.

A criatura cinzenta abriu seus braços e urrou, fazendo com que o ar a sua volta chegasse a tremer. Provavelmente considerava que aquele humano que transitava por ali podia significar sua próxima refeição.

Antes que pudesse atacar, porém, sentiu a dor de ter seu ombro direito dilacerado por algo invisível. Seu sangue quente espirrou para trás formando um grande leque carmesim. Urrou com ainda mais violência enquanto a regeneração cuidava de fechar o ferimento enquanto unia novamente o membro que quase fora arrancado.

Avançou para o ataque, mas seu ombro esquerdo sofreu o mesmo tratamento que o direito e um novo esguicho vermelho profanou a pureza da neve atrás da criatura bárbara. Seus olhos pequenos e malignos miraram para o humano a sua frente, incrédulos. Ele sequer havia se mexido, então de onde vieram os ataques?

A terceira e última lâmina de vento foi dirigida diretamente contra seu pescoço, decapitando o troll imediatamente. O corpo cinzento tombou para frente e o seu algoz movimentou-se rapidamente para o lado para evitar que ele caísse sobre si.

O humano misterioso contornou o corpo troll como se ele fosse apenas um contra tempo e continuou seu caminho. Mais algumas horas e ele chegou a uma região um pouco montanhosa. Parou em frente a um dos pequenos morros coberto em neve como muitos outros. Ali ele estendeu sua mão direita e a terra começou a se abrir lentamente. Entrou e fechou a fissura atrás de si.

O novo ambiente, dentro da rocha, era muito mais quente que o exterior. Tudo era feito de pedras, mas relativamente bem acabado. A iluminação não era das melhores, mas se aproximava da fornecida pelo fogo. Havia uma mesa e cadeiras ali, além de uma espécie de fogão e armários. Tudo feito de pedra.

Colocou a pesada mochila que carrega no chão e retirou a grossa capa e a mascara que o protegia do frio pendurando-os ao lado de outra igual em um gancho na parede. Retirou as botas e sentiu a aspereza das pedras sob seus pés. Sair do frio e entrar em um ambiente aquecido acabou deixando-o com calor, então o rapaz também removeu sua túnica, ficando apenas com seus calções.

Agitou seus cabelos negros enquanto caminhava até as prateleiras de pedra. Pegou um jarro com água e derramou-a em um copo cerâmico. Sorveu o líquido avidamente e quando olhou em direção a passagem que dava para outro cômodo do abrigo um largo sorriso se formou em seu rosto.

A mulher que ali apareceu trajava apenas seu sobretudo de mestre, deixando seu corpo praticamente exposto. Seus cabelos longos e azulados caiam como cascatas sobre seus seios, deixando-os parcialmente ocultos.

Thays correu em direção ao seu amado e saltou sobre ele. Enquanto Kayan a suportava com seus braços, ela envolveu-lhe a cintura com suas pernas e o beijou intensamente.

— Você estava com tantas saudades assim? – perguntou ele ainda com a moça enroscada em si.

— Você esteve fora por três dias inteiros. Eu fiquei preocupada. Aí quando nossos encantamentos de proteção se ativaram e eu senti a sua aura, me preparei para te receber – explicou-se com um sorriso no rosto.

— Eu tive que sair para caçar nosso alimento. Trouxe o suficiente para uns dez dias naquela mochila. E também isto.

Com alguma dificuldade, Kayan colocou sua mão no bolso de sua calça e retirou uma flor do tamanho da palma de sua mão. Ela tinha dezenas de pétalas no formato de folhas e uma tonalidade azul claro que se tornava mais escura conforme se aproximava do centro. Ela era dura como cristal, uma vez que parecia estar congelada.

— Feliz aniversário!

— Obrigada! Ela é muito linda!

Thays liberou Kayan de seu abraço e voltou para o chão para poder receber seu presente. Pegou a flor com carinho enquanto observava cada detalhe.

— Ela se chama flor do eterno inverno. Li sobre ela naquela época em que passava a maior parte do tempo estudando em Drugstrein. Ela é muito rara, por isso levei dois dias para encontrá-la e um para caçar.

— Não precisava ter se preocupado com isso.

— Eu não iria deixar seu aniversário de dezoito anos passar em branco.

Thays voltou a abraçar o namorado e sussurrou-lhe no ouvido.

— Ainda faltam umas três luas para seu aniversário, mas também tenho algo para te presentear – e conduzi-o pela mão até o cômodo ao lado.

* * *

Sobre uma cama de pedra, acolchoada provisoriamente pelos colchonetes que o casal havia levado em sua viagem por Wesmeroth, ambos permaneciam abraçados após seus momentos de amor. Thays havia fixado a flor em seus cabelos, como uma presilha, e a cor combinava muito bem com a das madeixas da Cyren.

— Acho que já faz umas onze luas que saímos de Drugstrein – comentou ela. – E umas nove que estamos aqui no norte.

Kayan encostou sua testa na da moça e olhou em seus olhos. Havia compreendido o que ela queria dizer.

— Você está cansada daqui, não é? Não aguenta mais esta linda casa de pedra que construímos com clayn e alguns encantamentos.

— Até que ela ficou bem mais confortável e funcional do que eu imaginei que ficaria quando estudamos como construí-la com os anões de Gynoloock. Pra falar a verdade eu até gosto daqui e de ter tanto tempo só para nós dois, mas você havia me prometido mostrar toda Wesmeroth e até agora eu só vi homens baixinhos, troncudos e barbudos e um monte de neve e gelo.

— Eu entendo o que você quer dizer. Minha ideia de vir até as Terras Gélidas de Mirron era por que aqui nem mesmo a maioria dos povos bárbaros consegue viver. Como temos que utilizar nossa aura para sobreviver à temperatura, todo treinamento com magia fica muito mais forçado e produtivo.

— E quando você percebeu o quanto estávamos evoluindo ficou empolgado e acabamos ficando aqui mais tempo do que pretendíamos ficar.

— Você pensa igual a mim, então não foi só minha culpa – disse ele, divertindo-se.

— Não estou te culpando – respondeu ela enquanto fazia um carinho no peito do namorado. – Apenas estive pensando em sairmos daqui e continuarmos com nossos planos. Além disso, precisamos escrever para Drugstrein, eles devem estar preocupados.

— Você tem razão. Para onde quer ir?

— Que tal para Elfelian. Nunca vi um elfo, mas sei que eles nos receberiam de bom grado em uma de suas cidades. E Elfelian é a que fica mais ao norte.

— Então iremos para Elfelian – disse Kayan enquanto levantava-se para começar a organizar as coisas.

— Calma – pediu-lhe Thays, enquanto segurava sua mão esquerda entre as suas. – Não precisamos de pressa. E ainda tem mais do seu presente para você pegar – complemento com um sorriso sapeca no rosto.

* * *

Dois dias mais tarde, o casal organizou as coisas que conseguiriam levar consigo e deixou o acampamento para trás em meio a neve e gelo. Evitaram a fortaleza Misthra Duicon dos taurinos, temendo um confronto contra um grande número de guerreiros ou shamans.

Três dias depois eles passavam pelos Portões do Exílio. Aquele vale entre as duas enormes montanhas era a única passagem por terra que ligava aquelas terras montanhosas ao restante do continente. Os livros de história diziam que no início da terceira era todos os povos bárbaros foram exilados ao norte daquele ponto. Isso já fazia mais de dois mil e trezentos anos e somente os mais antigos dos elfos poderiam confirmar se aquilo era verdade ou não.

A partir daquele ponto tornava-se muito mais perigoso passar pelas terras conhecidas como Myrmyn do Norte. Ambos haviam desenvolvido um pouco mais suas capacidades de leitura de aura e isso possibilitava evitar qualquer conjurador que estivesse ativo recentemente. Apesar disso, a viagem tornou-se bem lenta para evitar contato desnecessário com qualquer orc ou taurino.

Mais de uma vez o casal acabou esbarrando com os povos bárbaros, mas, assim como fizeram ao viajar para o norte, fugiram de seus inimigos ao invés de confrontá-los. Tendo diversas opções de caminho e o feitiço clayn para cobrir suas pegadas, não era difícil despistar guerreiros e rastreadores das duas raças. Goblins talvez pudessem encontrá-los, já que eram os melhores rastreadores conhecidos, mas mesmo um exercito deles não seria problema para os dois mestres.

Foi apenas no oitavo dia que eles conseguiram deixar o território inimigo para trás e voltar para as terras dos homens. Aquele reino era chamado Mihurur e era um dos mais fortemente militarizado dos reinos humanos.

Assim que chegaram numa grande cidade chamada Lanir, foram barrados por soldados que guardavam os portões da muralha de mais de dezoito metros que protegia a cidade.

— O que desejam em Lanir? – perguntou-lhes o homem trajando cota de malha, grevas, gorjal e braçadeiras.

— Apenas boa comida, camas quentes, um bom banho e roupas novas – respondeu-lhe Kayan, sorrindo.

— Não temos lugar para mendigos em Lanir.

Kayan olhou para Thays e depois para si mesmo. A garota riu quando ele fez isso.

— Acho que ele tem motivos para dizer isso. Nossas roupas estão uns trapos.

— Pois é, precisamos de algumas novas.

Kayan caminhou em direção ao soldado e, quando ele avançou para bloqueá-los, o mago negro concentrou sua aura em suas pernas e saltou por cima dele, pousando cinco metros a frente e dentro da cidade. Thays imitou-o.

— Vocês precisam aprender a reconhecer magos quando vêem um. Principalmente se eles forem mestres – disse-lhes a Cyren, enquanto afastavam-se e deixavam os guardas boquiabertos para trás.

A primeira coisa que fizeram foi procurar um alfaiate para que ele lhes fizesse novas roupas. Eles descobriram uma alfaiataria que já havia feito roupas para Drugstrein e aquilo facilitou muito para eles conseguirem suas novas vestimentas, que lhes foram prometidas para a manhã seguinte.

Naquele meio tempo, Thays comprou roupas quase comuns para ambos. Para Kayan ela comprou calças de algodão, uma camisa de manga longa de linho e um corselete de couro que deu um ar nobre ao rapaz. Para si mesma ela comprou um vestido longo na cor azul apenas para combinar com a presilha feita com a flor do eterno inverno.

— Você não precisava comprar roupas assim tão caras. Elas valem mais do que os uniformes novos que mandamos fazer e serão descartadas amanhã quando continuarmos nossa viagem.

— Como se dinheiro fosse problema para nós. Trouxemos um monte de moedas de ouro de Drugstrein e temos mais um monte lá quando voltarmos. Além disso, eu queria te ver vestido como um príncipe só por hoje.

— E você esta parecendo uma princesa com esse vestido. Ficou realmente linda, embora eu a ache ainda mais atraente sem ele.

— Mas será possível que você só pensa em abusar do meu corpo? – disse ela, rindo.

— Agora acho que só falta encontrarmos a melhor taverna da cidade. Quero comer uma carne preparada por alguém que sabe cozinhar direito e tomar um bom vinho.

— Você tem razão. Se resolvermos nos afastar da civilização de novo, um de nós dois vai ter que aprender a cozinhar. E acho que serei eu, por que você não leva o melhor jeito para isso.

— Agora você fala isso, mas quando estávamos na nossa linda casa de pedras geralmente era eu quem preparava nossas refeições.

— Só porque eu sou preguiçosa demais para fazer isso.

Naquele clima descontraído e despreocupado o jovem casal continuou a passear pela cidade, mantendo suas mãos entrelaçadas enquanto caminhavam. Dificilmente não chamariam a atenção das pessoas a sua volta, mas eles realmente não se importavam com isso.

* * *

Na manhã seguinte, Kayan e Thays despertaram um pouco mais tarde do que pretendiam devido à cama excessivamente confortável. Vestiram suas roupas elegantes e, após um farto café da manhã, seguiram até a alfaiataria para pegar seus uniformes novos.

O próximo passo do casal foi seguir até um dos maiores estábulos da cidade, onde puderam comprar dois ótimos cavalos para seguir com sua viagem. Aproveitaram para contratar os serviços de um mensageiro que levaria as cartas que eles haviam escrito para seus amigos na Ordem de Drugstrein.

Na saída da cidade eles viram um homem de meia idade repreendendo os soldados que mantinham a vigília dos portões. Eles não pegaram toda a conversa, mas perceberam que ele era um dos capitães a serviço do lorde local e os culpava por tentarem barrar a entrada de magos na cidade.

 – Não seja tão duro com eles, capitão – disse-lhe Thays. – Da maneira que nos vestíamos ontem até eu mesma me confundiria com um mendigo.

O homem virou-se assustado e, por um momento ficou sem saber ao certo como reagir.

— Mesmo assim devo pedir desculpas em nome de meus homens. É comum que as roupas dos magos se danifiquem em suas missões, mas eles deveriam reconhecer os brasões de Zeneth que vocês usam sobre as roupas... mas não são de Zeneth...

Ele parecia confuso e isso fez com que Kayan risse antes de corrigi-lo.

— Somos de Drugstrein.

— Então devo pedir-lhes desculpas novamente. Pensei que fossem de Zeneth porque nossa cidade contratou uma missão de classe A nessa ordem. Bem que eu achei estranho, pois os magos de Zeneth dificilmente visitam a cidade, apenas cumprem a missão e depois enviam os agentes para cobrar o serviço.

— Eles não visitam a cidade? – indagou Thays. – Estranho, nós de Drugstrein sempre passamos na cidade que contratou nossos serviços para verificarmos se ela está segura.

— Sério? Isso seria uma abordagem interessante. Se os gigantes atacassem teríamos magos para nos defender.

— Uma missão de caça a gigantes? – perguntou Kayan, curioso.

— Sim, cinco deles desta vez. Como estamos perto de Myrmym do Norte eles acabam nos atacando uma ou duas vezes por ano. Geralmente gigantes jovens em algum tipo de prova de coragem entre eles. Poderíamos abatê-los com nosso exercito, mas pagar o alto valor em ouro para a Ordem de Zeneth se livrar deles sai muito mais barato que as vidas que seriam perdidas num confronto destes.

— Como a missão é de Zeneth não devemos interferir, mas estamos indo para o oeste e se eles estiverem por lá poderíamos passar pelas vilas e protegê-las enquanto os magos de Zeneth não chegam – disse-lhe Kayan.

— Isso seria muito bom. Eles já arrasaram uma vila. A maior parte dos aldeões escapou em seus cavalos, mas terão trabalho em reconstruir tudo.

— Então vamos prosseguir nossa viagem. Obrigado pela hospitalidade da cidade – despediu-se Thays.

* * *

Algumas horas mais tarde, o casal parou em uma cidade para almoçar. Eles já se alimentavam quando Thays chamou a atenção do companheiro.

— Kayan, estou sentindo três auras vindo para nesta direção. Devem ser os magos de Zeneth.

— Sim, estão a uns seis quilômetros daqui. Eu tinha sentido há alguns segundos atrás. Devem ter usado magia hoje de manhã, já que é apenas um resquício e não da pra perceber se são fortes ou fracos.

— Percebeu antes de mim. Você ainda continua melhor nisso que eu.

— Naturalmente, evoluímos nisso juntos. Mas você já consegue uma distância maior que a maioria dos magos brancos e todos sabemos que essa esfera é especialista na leitura de aura.

— Fico feliz em saber que ainda sou mais ágil que você. E tenho um controle melhor dos meus feitiços de fogo.

— É mais ágil porque é pequena.

— Me chamando de baixinha – fez uma expressão de brava apenas para provocá-lo.

— Mas é a minha anãzinha – disse Kayan enquanto a abraçava e evidenciava seus quinze centímetros a mais.

Quando terminaram de comer e montaram seus cavalos, tiveram uma decisão a tomar.

— Eles ainda não nos perceberam, provavelmente. Devemos evitá-los? – indagou Thays.

— Manteremos nosso caminho. A Ordem de Drugstrein e de Zeneth estão em paz, ao menos por enquanto. Além disso, não usamos nossa aura hoje, então eles não devem percebê-la se não chegarem muito perto.

— Certo.

Continuaram seu caminho e quando chegaram muito perto de cruzar o caminho com os magos da outra ordem, perceberam que elas se agitaram repentinamente, como se estivessem em meio a um conflito.

— Encontraram os gigantes. Quer ver como vão se sair? – indagou Kayan.

— Está preocupado com os magos de Zeneth?

— Na verdade não. Por mim tanto faz se eles morrem ou vivem, mas se falharem aqui outros vilarejos podem ser atacados.

— Como você é mau – afirmou Thays, rindo. – Vamos ver, então, se está preocupado.

Eles pressionaram seus cavalos para que eles entrassem em um galope ao invés de um trote. Chegaram quando o confronto ainda acontecia, mas os magos de Zeneth eram três mestres e eliminavam a última das ameaças naquele instante.

— Parece que me preocupei a toa – comentou Kayan enquanto desmontava seu cavalo.

Só então ele percebeu os cabelos castanhos e as pequenas tatuagens sob os olhos do mais alto dos três mestres.

— Karion Wigg – quase cuspiu o nome.

— Ora, vejam só o que temos aqui. O maldito Atreius e a puta da Cyren. Já que estão aqui, que tal eu te aleijar, estuprar essa vadia e depois matar vocês dois – disse o Wigg com um sorriso no rosto.

Kayan permanecia calmo até aquele momento, mas aquelas palavras o irritaram profundamente. Quando Thays percebeu as precipitações de uma aura negra na mão direita do namorado, desmontou seu cavalo e colocou sua mão sobre seu ombro em meio a um toque delicado para acalmá-lo.

— Vamos embora daqui, Thays.

— E quem disse que iremos permitir.

— Vamos, Karion, a Ordem de Zeneth e Drugstrein já negociaram a paz. Vamos deixá-los quietos – disse o mestre de cabelos negros e longos, que aparentava seus quarenta anos.

— Isso aqui não tem nada a ver com nossas ordens, Joshua. É pessoal. Além disso, sabemos que esses dois não estão mais exatamente vinculados à Drugstrein. Podemos matá-los e jogar seus corpos nas montanhas. Ninguém nunca vai descobrir. Cerquem-nos. É uma ordem.

A princípio os dois pareceram hesitantes. Segundos depois, movimentaram-se de maneira a formar uma espécie de triangulo onde cada um dos três de Zeneth era um dos vértices e o casal de Drugstrein seu centro.

Eles se preparavam para atacar, mas Kayan sorria. Quando percebeu aquilo, Thays não pode evitar sorrir também.

— Pelo que percebi, Karion é o líder e o mais forte entre vocês três. Sinto muito, mas vocês não têm a menor chance.

— Como ousa subestimar nossa ordem, seu maldito!

Daquela vez foi o mais jovem, que parecia ter a mesma idade que Karion, quem se pronunciou. Kayan praticamente ignorou-o.

— Quando foi a última vez que você enfrentou Karion, Thays?

— Há um ano e meio, durante a invasão de Drugstrein.

A moça já sabia no que aquilo iria conduzi-los, mas deixou que Kayan terminasse suas palavras mesmo assim e inclusive interagiu com ele. Era quase como atuar em um teatro.

— E qual foi o resultado?

— Eu venci, mas apenas porque a Nathie me ajudou. Alias, vejo que o Karion possui todos os dentes, então um mago branco deve tê-lo curado, já que a Nathie quebrou alguns deles com um chute quando ele já estava caído.

Eles perceberam como aquilo havia irritado o inimigo, mas eles ainda não haviam atacado porque estavam curiosos sobre o que o mago negro tinha a dizer.

— Então basicamente está me dizendo que, naquela época, perderia o duelo se não tivesse ajuda.

— Possivelmente.

— Certo. Eis aqui minha proposta extremamente vantajosa para vocês. Se os três se unissem contra mim, talvez tivessem uma chance. Mas para isso acontecer, Thays teria que estar fora de combate. Sendo assim, proponho que ela e Karion duelem para ver quem é o mais forte.

Aquilo pareceu agradar o mago da esfera da eletricidade, que sorriu presunçosamente em frente à proposta.

— Muito bem, então. Enfrentarei a Cyren em um duelo e a farei chorar.

— Vamos lá, então – respondeu-lhe a moça enquanto soltava a flor do eterno inverno dos cabelos. – Kayan, segure para mim. Não quero que se quebre.

Kayan, então, pegou a presilha da garota, segurou as rédeas dos cavalos e afastou-se de Thays para que o duelo pudesse começar.

O primeiro movimento foi de Karion, que reuniu uma grande quantidade de aura em suas mãos e conjurou um poderoso tangrea contra sua oponente.

Vendo aquele raio vindo em sua direção enquanto danificava o solo e a vegetação, Thays não pensou duas vezes antes saltar para o lado na intenção de evitar o ataque. Ela se esquivou com perfeição e correu para sua direita. Karion, por sua vez, conduziu seu feitiço na mesma direção para que perseguisse sua adversária.

A Cyren permaneceu em linha reta por mais algum tempo, ciente de que o feitiço logo a alcançaria. Quando ele estava bem próximo, ela direcionou a maior parte de sua aura para suas pernas e saltou em meio a um elegante giro de costas. Com toda a força que ela tinha quando usava sua aura daquela maneira ela conseguiu transcrever um raio de aproximadamente cinco metros e cair bem afastada do tangrea do inimigo.

Praguejando, Karion manejou seu feitiço para o lado inverso. Antes de completar a manobra, porém, a maga do fogo apontou sua mão esquerda para ele calmamente enquanto conjurava um crisis. A rajada de fogo que surgiu impressionou os mestres de Zeneth pela sua força e velocidade. Quase em desespero, o Wigg encerrou sua ofensiva e passou sua mão na frente do corpo rapidamente para conjurar um jinn. A ventania foi forte o suficiente para dissipar as chamas e até mesmo chegou a agitar os cabelos da garota que estava a uns quinze metros de distância.

O próximo movimento de Karion foi conjurar uma lâmina de vento com o braço livre. A mestre de Drugstrein esquivou-se daquele feitiço com certa facilidade, mas o Wigg não havia desistido e aproveitou-se da distância para atacá-la diversas vezes com aquele feitiço. A garota esquivava-se das ofensivas enquanto se aproximava. As lâminas de vento eram muito velozes, mas a Cyren era mais e aquilo estava irritando profundamente seu adversário.

Quando se aproximou o suficiente, Thays mudou sua postura defensiva para uma ofensiva. Assim que se esquivou do feitiço adversário, uniu ambas as mãos na frente do corpo e uma esfera de fogo foi lançada contra seu oponente. Karion foi esperto o suficiente para perceber que aquele feitiço não era um simples crisis e, sim, um crisis katris e, com isso em mente, conjurou um aurus pinn ao invés de tentar dissipar as chamas com o vento como da última vez.

Uma poderosa explosão devastou o solo e fez até mesmo o chão tremer. O Wigg, porém, conseguiu resistir àquela ofensiva muito bem com seu escudo de energia e, embora tenha sofrido pequenas queimaduras, conseguiu contra atacar com um jinn quase que imediatamente.

Daquela vez o ataque foi em forma de uma grande lâmina de vento na horizontal. Devido a grande extensão da lâmina, Thays viu-se obrigada a saltar para evitar o feitiço do inimigo. Quando viu um sorriso no rosto de Karion soube que fez exatamente o que ele esperava que ela fizesse.

O mestre de Zeneth apontou a mão direita para ela e uma poderosa descarga elétrica se propagou a partir dela. Em pleno ar, a Cyren não teria tempo de se esquivar e, devido a curta distância, nem para conjurar um escudo de energia. Sem alternativas, ela defendeu-se com sua aura e abafou um gemido de dor enquanto seu corpo era castigado pela forte descarga elétrica.

Na visão de Karion aquele duelo estava acabado naquele momento, mas surpreendeu-se quando viu que a garota ainda conseguia se mover mesmo sobre o efeito de forte feitiço. Ainda no ar, Thays uniu suas mãos na frente do corpo e conjurou um jinn. A rajada de ar foi tão forte que a impulsionou vários metros para o alto e para trás, tirando-a do alcance do feitiço inimigo. Quando ela voltou para o solo, estava a apenas uns três metros de Kayan.

— E aí, o que está achando? – perguntou ele.

Sem olhar para trás, ela sorriu antes de responder-lhe.

— Esse Karion é bem forte. Também evoluiu nesse um ano e meio. Talvez eu possa vencê-lo sozinha, mas não tenho certeza.

— Foi o que eu pensei também – disse ele, mais calmo do que era de se esperar. – Use o seu crisis sapris.

— Tem certeza? Nunca o utilizei em combate antes.

— Essa é uma ótima oportunidade para testá-lo.

Ao ouvir aquelas palavras, o sorriso de Thays se intensificou ainda mais.


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Notas finais do capítulo

E ai, alguém ai tem alguma ideia do que seria o crisis sapris do qual Kayan falou para Thays utilizar?

Sei que prometi elfos e eles ainda não apareceram, mas virão em breve. Espero que tenham gostado do capítulo.



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