A Ordem de Drugstrein escrita por Kamui Black


Capítulo 78
Novos Horizontes - Parte 3


Notas iniciais do capítulo

Após um tempo de relativa paz em Wesmeroth, Kayan e Thays tomam uma importante decisão.



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Capítulo 077

Novos Horizontes (Parte 3)

Sakuro caminhava de um lado para o outro na pequena sala de espera. Por ser no primeiro piso do castelo, árvores do bosque de Drugstrein podiam ser vistas pelas janelas. Spaak e Aghata estavam sentados no grande sofá. Anita olhava ansiosamente para a porta de madeira enquanto Allef, ao seu lado, a abraçava. Arthuro permanecia isolado, sentado em uma das três poltronas próximo à entrada.

A porta próxima ao mago negro se abriu e por ela passou Thays, seguida por Kayan.

— Acabamos de chegar da missão e viemos correndo assim que soubemos. Esta correndo tudo bem, primo?

— Não sei, só estou preocupado.

— O parto esta sendo feito pelo granmestre Grendolow e pela mestre Galia Maxwel. Se os primeiro e terceiro melhores magos brancos da ordem não derem conta de um parto, o que seria de nós? – disse Arthuro na intenção de acalmar os presentes.

— Eu sei disso, mas é meu primeiro filho. Não tem como eu não ficar preocupado.

— Acalme-se primo. Agora é só uma questão de tempo. Também estou ansiosa para ver meu priminho ou priminha.

Thays caminhou até Sakuro e segurou sua mão direita entre as suas na intenção de acalmá-lo.

— Acho melhor conversarmos um pouco para nos distrairmos – disse Spaak enquanto se levantava. – Como foi a missão de vocês? Soube que foi outra classe A.

— Nada se comparada a de eliminar aquele rei taurino deposto. Foram apenas três trolls que avançaram muito para nosso território.

— O Kayan não nos deixou fazer nada. Disse que queria um pouco de desafio.

— Com magia negra fica fácil derrubá-los – afirmou Arthuro.

— Sim, mas qual seria a graça disso?

— Kayan lutou apenas com as esferas do fogo, gelo e ar. Foi a primeira vez que vi esses trolls, mas não me pareceram oponentes muito fortes. Ao menos não contra mestres – disse Thays.

— O problema é quando eles atacam em quantidade. Alguns deles podem superar até mesmo um mago, já que sua capacidade de regeneração pode superar a capacidade ofensiva de seu oponente – afirmou Aghata. – O Kayan e a Anita viram o que eles podem fazer quando os combatemos no norte.

— Eles mataram alguns de nossos magos em Garyjan. Uma mestre também, se não me engano. São criaturas terríveis, não os subestime, Thays – daquela vez foi Anita quem descreveu o que sabia sobre as criaturas.

— Naquela época você já conseguia derrotá-los sem magia negra, Kayan? – indagou a Cyren.

— Naquela batalha eu levei uma surra do Turenhead. Se achou aquele taurino que enfrentamos forte é porque nunca viu o general deles.

— Se bem me lembro, fui eu quem teve que ir lá te salvar daquela vez.

— Foi mesmo, Spaak. Incrível como você escapou dele. Será que o Sakuro conseguiria derrotá-lo?

O questionamento de Kayan foi mais para chamar a atenção do granmestre, que estava tenso demais para o gosto dos ali presentes.

— Provavelmente sim. Só mesmo tentando pra saber. Soube que até mesmo Radamanthys teve um desafio ao enfrentá-lo.

A porta se abriu naquele momento e um homem de cabelos longos e brancos e barba bem aparada saiu da sala. As rugas de seu rosto curvavam-se junto com um grande sorriso.

— Parabéns, Sakuro, é um menino.

Nem bem Grendolow anunciou aquilo e o Cyren entrou na sala. Thays o seguiu e pouco a pouco todos os presentes ocuparam o cômodo que servia como enfermaria para a ordem.

Katherine estava sentada sobre a cama, lençóis brancos a cobriam e, enrolado em um cobertor, estava seu bebê. Sakuro aproximou-se rapidamente para ver seu filho recém nascido.

— Parabéns aos dois – disse-lhes Galia. – É um bebê completamente saudável.

— Deixe-me ver meu priminho.

Como parentes diretos, todos deixaram que Thays e Anita fossem os primeiros a irem ver a criança.

— Kat, você tem que mandar uma carta para nossa irmã em Kaz Elenak. Ela vai querer ver o sobrinho.

— Eu a escreverei mais tarde e enviarei. Acho que ela virá rapidamente para cá.

Como todos ali sabiam, a irmã mais velha de Katherine era uma dos mestres de elite de Kaz Elenak.

Sakuro, cuidadosamente, pegou seu filho em seus braços. Foi nesse momento que Kayan pode se aproximar dele.

— Cabelos azuis – disse ele. – É um Cyren.

— Sim, assim como os Atreius, a prole de um Cyren sempre tem as características de um Cyren – explicou-lhe Arthuro.

— Isso me faz perguntar o que acontece quando a criança é filho de um Atreius e uma Cyren – indagou Allef, olhando para Kayan e Thays.

— Acho que vocês vão ter que esperar alguns anos para saber – disse-lhes Thays, rindo.

— Sim, muitos anos – complementou Kayan.

— E qual será o nome do meu sobrinho? – indagou Anita, olhando para sua irmã.

— Nós já tínhamos combinado, o Sakuro e eu, que se fosse uma menina eu escolheria o nome, mas como é um menino...

— Kattus. O nome do meu primeiro filho será Kattus Cyren.

Kayan não pode deixar de sorrir ao saber que o granmestre tinha tanto apreço por seu pai para dar o nome dele ao próprio filho.

* * *

Mais tarde, no inicio da noite daquele mesmo dia, Kayan e Thays encontravam-se nos aposentos do rapaz. O Atreius trajava apenas suas calças e estava sentado sobre o grande sofá que ali havia. Thays usava um vestido leve e bem curto e sentava-se de lado enquanto suas pernas repousavam sobre as de Kayan.

— Você viu que lindo o bebê do meu primo – disse ela enquanto fazia um carinho na mão direita do namorado.

— Sei lá, pra mim todos os recém nascidos são iguais com carinhas enrugadas.

— Como você é mau. Quero ver se vai falar isso quando tivermos o nosso.

— Aposto que seus vários pretendentes não ficariam nada satisfeitos em saber que você planeja tão a frente um futuro junto comigo.

— Meus pretendentes? Do que você está falando?

— Eu andei investigando, senhorita Cyren, e descobri ao menos mais três pessoas que tinham esperanças de um envolvimento mais sério com você – provocou o Atreius.

— Ah, isso. Você achou o que? Que eu iria ficar no celibato enquanto você fazia amor todas as noites com a Sarah?

— Fala como se tivesse ido muito longe com eles.

— Agradeça que não apareceu nenhum que valesse a pena, senão você poderia ter perdido a sua Thays aqui.

Rindo, Kayan beijou brevemente a namorada antes de tocar no assunto sobre o qual realmente queria falar.

— Thays, eu estive pensando em algumas possibilidades. Acho que praticar aqui na ordem não está dando mais o mesmo resultado que dava antes. E nossas missões estão meio tediosas e fáceis demais.

— Isso é verdade, em três luas nós fizemos três missões de classe A, mas apenas a do taurino foi um verdadeiro desafio.

— E aí que entra nossas possibilidades, mas apenas seguirei em frente se você for comigo.

— Fale logo, você está me deixando curiosa.

— Pensei em viajar por Wesmeroth com você. Tenho até ideia de um lugar em que podemos treinar nossa magia e melhorar bastante. Acho que seria interessante. Você não conhece os anões e nem a maior parte dos povos bárbaros. Poderíamos até mesmo visitar os elfos e ir para Mandrakory ver os draconianos. O que você me diz?

A garota recostou sua cabeça no sofá enquanto olhava para o rapaz à sua frente. Ele lhe dera uma proposta tentadora, mas havia muita coisa a se considerar.

— Mas e nossos amigos e família aqui em Drugstrein? Eu quero ver meu priminho crescer.

— Não seria algo definitivo. Penso em um ano ou pouco mais. Podemos aproveitar esse período de paz que temos, nem mesmo muitas missões estão aparecendo.

— E se eu disser que não quero ir? Você iria sem mim?

— Já disse que só farei isso se for com você.

Como que para reforçar as palavras, Kayan levou a mão esquerda até o rosto da namorada e lhe fez um leve carinho.

— Um ano... acho que podemos fazer isso. Mas antes teremos que fazer alguns preparativos. Preciso arranjar outro mestre para a Nathie. O Allef a ajuda com a esfera de terra, mas eu a ajudo com as outras esferas.

— Será que a Aghata não aceitaria ensiná-la? Ela me parece ser uma mestre muito boa. Sei que você aprendeu muito com ela e a Anita melhorou demais quando vocês a tinham como líder de equipe.

— Posso conversar com ela sobre isso. Ela está sem equipe e parece que não pretende arranjar uma tão cedo. E quanto ao Karzus? A Ellien disse que ele é um líder muito bom e sei que é você quem o está treinando para o exame para mestre do próximo ano.

— Já pensei nisso. Ele está num ponto em que já consegue seguir sozinho. Única coisa que ele precisa de um pouco de ajuda para conseguir um controle mais avançado é em sua própria esfera. Pensei em pedir uma ajuda para a Anita, que também é da esfera do gelo.

— Parece que você pensou em tudo. E quando partiremos?

— Não hoje, porque não sairemos deste quarto esta noite.

E, com aquela afirmação, Kayan deitou Thays no sofá para beijá-la intensamente.

* * *

— Vocês têm bons argumentos e não precisam de minha permissão, então porque vieram até mim? – indagou Sakuro, sentado atrás de sua mesa. – Além disso, você, prima, acabou de completar dezessete anos e você, Kayan, irá completar daqui a três luas, no final do inverno. Vocês já têm idade para tomar as próprias decisões.

— Não viemos pedir sua permissão. Estamos decididos – respondeu-lhe Kayan. – Apenas queremos saber sua opinião. Além disso, teríamos que nos despedir em algum momento.

O granmestre encarou o casal que se encontrava sentado em um dos sofás de sua sala. Levantou-se e caminhou até a poltrona que havia lá perto. Apenas informou-lhes sua opinião após sentar-se de maneira confortável.

— Acho que será uma experiência valiosa para vocês. É importante que vocês dois evoluam como magos, pois serão a próxima geração a liderar Drugstrein. Tenho apenas uma ressalva a fazer. Sellene Rovkraz ainda está à solta e ela parecia bem determinada a manter Kayan por perto dela.

— Aquela mulher é realmente perigosa, mas ela não tem aparecido há quase um ano. Além disso, não ficaremos muito tempo em um mesmo lugar na planície de Daran, então não será fácil para ela nos encontrar mesmo que queira.

As palavras de Thays faziam sentido e aquilo reconfortou o granmestre de alguma forma.

— E quando pretendem partir?

— Daqui a uns quinze dias. Ainda temos algumas coisas para preparar – disse Kayan.

— Acho que poderíamos nos despedir de todo mundo na taverna, como geralmente fazemos quando alguém ficará muito tempo fora.

— Boa ideia, Thays. Eu mesmo pedirei para que os servos do castelo vejam qual grupo de bardos temos de melhor na região e os contratarei – ofereceu-se Kayan, animado com a ideia.

— Sentirei falta de vocês dois nesse meio tempo, principalmente agora que estão juntos de novo. Espero que escrevam para nós sempre que estiverem perto da civilização humana.

— Pode deixar, primo, faremos isso.

— Exatamente, primo, daremos notícias.

— E agora vai começar a me chamar de primo? Daqui a pouco você chamará a Samantha de mãe.

Kayan riu com o comentário de Sakuro.

— O pior é que minha mãe mima mais ele do que eu quando vamos visitá-la nos seus aposentos na torre dos servos.

— É por causa do meu carisma natural.

E aquilo foi o estopim para mais de uma hora de conversa jogada fora entre o trio.

* * *

— Eu posso fazer o que está me pedindo, Kayan, mas não entendo porque está me pedindo isso, já que você é tão bom ou até melhor que eu na esfera de gelo.

O salão de refeição da torre dos mestres estava quase vazio naquele horário, já que havia passado duas horas do meio do dia. Apesar disso, Kayan e Anita almoçavam juntos em uma das mesas mais reservadas.

— Não poderei mais treinar o Karzus porque pretendo deixar o castelo de Drugstrein por um ano.

— Deixar o castelo? Como?

— Pretendo conhecer um pouco mais de Wesmeroth. Estudar um pouco a magia dos elfos e talvez até dos draconianos.

— Justo agora que você e a Thays estão juntos você vai abandoná-la? Isso é tão...

— Ela virá comigo – interrompeu-a Kayan. – Nós vamos fazer essa viagem juntos.

— Ah, entendo – disse ela sem jeito. – É bem a cara de vocês dois, buscar novos desafios todo momento. Sentirei saudades. Quando pretendem partir?

— Em breve. Estamos acertando as coisas para irmos. Faremos uma festa na taverna antes de sairmos e você deve comparecer.

— Chega até a ser romântico. Uma viagem em casal por Wesmeroth. Conhecer a beleza das cidades dos elfos...

— Por que você e o Allef não fazem isso também?

— Não acho que seria uma boa ideia. Ele é muito caseiro, gosta muito de estar com a família. E eu também sou meio medrosa pra sair andando por aí meio sem rumo. Melhor deixar essas loucuras pra vocês dois mesmo.

* * *

Já era final da tarde quando a equipe de Karzus chegou da missão que tinham a cumprir. Assim que passou pela porta levadiça do castelo recebeu uma mensagem de que deveria se dirigir para a sala de reunião quatorze da torre dos mestres.

Quando chegou ao local designado encontrou a sala bastante iluminada. Kayan sentava-se atrás de uma mesa e seus pés estavam sobre a mesma enquanto ele se mantinha entretido com um livro. Na capa, em dourado, Karzus pode ler o título: A história de Wesmeroth segundo os anões. Volume 3.

— Vamos lá, sente-se – convidou o mestre, sem desviar sua atenção da leitura. – Está com fome? – e apontou para uma tigela sobre a mesa que continha algumas frutas.

Karzus pegou um pêssego antes de se acomodar na cadeira à frente da mesa. Deu uma mordida na suculenta fruta assim que o fez.

— Queria falar comigo, mestre Kayan?

— Mestre Kayan? Desde quando me trata com tanta formalidade? – indagou o Atreius enquanto fechava o livro, colocando-o em cima da mesa. Sentou-se de maneira mais adequada após isso.

— Você me mandou vir para esta sala, então achei que fosse alguma reunião importante.

— É importante, mas não uma reunião. Seremos apenas nós dois.

O rapaz limitou-se a observar o mestre enquanto terminava de comer o pêssego e pegava mais um na cesta a sua frente.

— Como vocês estão indo nas missões?

— Bem, hoje tivemos nossa segunda de classe C. Dão um pouco de trabalho, mas Ellien e Lair estão evoluindo pouco a pouco. Eles já faziam esse tipo de missão com a mestre Thays, mas acho que ela os protegia demais.

— Acredito que sim. Ela tem seus motivos para fazer isso. Eu li seus relatórios. Você está se saindo muito bem como líder. Será um bom mestre.

— Obrigado – um grande sorriso se formou no rosto de Karzus. – É muito importante ouvir isso vindo de você.

— Em breve não poderei mais treiná-lo. Mas não se preocupe, já conversei com a Anita Sttiken e ela continuará de onde paramos. Ela é da esfera do gelo e possui conhecimentos teóricos muito bons.

Por um momento o rapaz não soube o que falar para o Atreius. Ele sentia que estavam se tornando mais do que mestre e discípulo. Eles eram amigos agora, então não entendia os motivos para que Kayan não quisesse mais treiná-lo.

— Por quê? Por que não quer mais me treinar?

— Não é que eu não quero. A Thays e eu tomamos a decisão de viajarmos por Wesmeroth. Queremos conhecer mais sobre as raças e magia que temos no nosso mundo e também nos aperfeiçoarmos no processo.

— Ah! Então é isso. Achei que estava decepcionado comigo.

— Claro que não, você é um mago muito bom.

Feliz com os elogios que recebeu do mestre, Karzus resolveu mudar o assunto para algo que queria comentar com o amigo.

— Ah! preciso te contar uma coisa. Eu acho que o Lair e a Ellien estão namorando.

— Sério? Bem que o Mathen me falou que ela parou de correr atrás dele, então é esse o motivo. Mas você só acha?

— Ainda não é nada oficial, pelo que parece, mas nessa missão eu deixei os dois sozinhos para conversar com o lorde local na cidade da missão e quando eu voltei eles se separaram e ficaram me olhando meio constrangidos.

— Espero que eles sejam felizes. E você, Karzus? Não está interessado em nenhuma garota? Pelo que eu ouvi por aí você faz sucesso entre elas. Acham o seu rosto delicado e bonito.

— Eu... não me interesso por nenhuma delas – respondeu ele, constrangido.

Kayan deu um sorriso ao ver ter causado a reação esperada.

— Você ainda vai encontrar alguém que te interesse. Talvez você queira uma princesa. Que tal, hein? Mas cuidado que com elas você tem que casar antes de se divertir.

Aquele comentário fez com que o garoto ficasse ainda mais enrubescido. Kayan continuou se divertindo com a situação do rapaz, deixando-o cada vez mais encabulado.

* * *

Na noite do octogésimo segundo dia do outono do 2356 º ano da terceira era, houve uma pequena e singela festa no pouco utilizado salão de festividades do castelo de Drugstrein.

Thays havia sugerido utilizar a taverna para aquela despedida, mas Kayan teve a ideia de utilizar o salão, então ele próprio contratou os bardos e pagou pela comida e bebida. Tudo aquilo havia lhe custado algumas moedas de ouro, mas não foi nem um quarto do que ele havia acumulado com seus dois anos e meio de missões para a ordem.

O clima era de alegria e ao mesmo tempo um pouco de tristeza, já que os dois iriam ficar longe de Drugstrein por um período relativamente grande de tempo.

Havia menos de cinquenta pessoas ali. O casal conhecia muitos magos dentro da ordem, mas resolveram convidar apenas o mais próximos. Naquele momento, Thays conversava com sua mãe em particular. Samantha havia aceitado a decisão da filha, apesar de ser contra. E despedidas nunca eram fáceis.

— Fico feliz que você tenha vindo, Katherine, mesmo com o Kattus sendo tão pequenino ainda – disse Kayan enquanto brincava com o bebê recém nascido.

— Sakuro não me deixaria faltar, não é mesmo. Quer segura-lo um pouco?

— Eu? Mas ele parece ser tão frágil... – disse o rapaz, nervoso.

— Vamos lá, Kayan. Um dia você também terá um assim, deveria treinar – incentivou-o Spaak.

Cuidadosamente, o Atreius segurou o pequeno Kattus em seus braços. Ele ainda era muito novinho e estava com os olhos fechados, mas quando Kayan o segurou ele os abriu e fez uma expressão que poderia ser considerada como um sorriso.

— Parece que ele gostou de você – disse Sakuro.

Naquele momento, uma pessoa alta e austera passou pela porta. Seu sobretudo negro e dourado se agitava enquanto ele caminhava e seus cabelos longos e negros acompanhava aquele movimento.

— Mestre Kayan, gostaria de ter uma palavra em particular com você.

Distraído, o Atreius não percebeu quando seu tio se aproximou pelas suas costas. Não conseguiu esconder a surpresa quando se virou.

— Claro, granmestre Radamanthys, mas não precisa ser tão formal, isso aqui é uma festa, afinal de contas.

Kayan entregou o pequeno Kattus de volta para Katherine e os dois, então, caminharam até uma mesa um pouco afastada da multidão.

— Fico feliz que tenha vindo, granmestre Radamanthys.

— Você me convidou, não foi? E você não havia dito que não precisávamos de formalidades?

Involuntariamente, Kayan sorriu ao ouvir aquelas palavras vindas de seu tio.

— Você tem certeza do que está fazendo? Tanto você quanto a prima de Sakuro tornaram-se importantes magos em nossa ordem. Perder vocês dois seria uma significativa redução em nosso poder de combate.

— Não se preocupe com isso, Radamanthys, não será algo definitivo. Sempre seremos magos de Drugstrein e pretendemos nos comunicar com vocês através de cartas a cada volta de lua.

— Isso é bom de se ouvir. Estamos em uma trégua com a Ordem de Zeneth, mas no futuro devemos planejar um meio de nos desfazermos desta ordem.

Ouvir o tio tocar naquele assunto não era muito agradável, mas Kayan tinha que aceitar que aquele era o jeito do granmestre. Da maneira dele, tudo o que ele fazia sempre era pensando no bem coletivo da ordem.

— Além disso, vocês devem tomar muito cuidado com Sellene Rovkraz. Ela ainda não foi encontrada e pareceu possuir algum interesse particular em você, de acordo com o que li no relatório da mestre Katherine.

— Também não precisa se preocupar com isso. Não será fácil nos encontrar onde pretendemos ir.

Radamanthys, então, levantou-se.

— Mais uma coisa, Kayan. Fico feliz que você tenha se unido à uma Cyren. Seus filhos certamente serão magos poderosos.

Ele deu alguns passos em direção à saída antes de Kayan falar algo.

— Espere, não vai ficar na festa?

— Não gosto muito de festas – disse com uma voz austera.

— Mas nesta irá ficar – disse-lhe Arthuro, aproximando-se do Atreius mais velho.

— Exatamente, granmestre. Kayan pagou tudo isto para nós, o mínimo que devemos fazer é aproveitar – disse Gorgar, que vinha junto com seu tio.

Poucas horas mais tarde, ainda antes do sol nascer, o casal saiu sorrateiramente pelos portões do castelo. Levando apenas bolsas laterais com roupas e o mínimo de alimentos eles cavalgaram por algumas centenas de metros.

Ao chegar ao topo de uma elevação eles pararam e viram-se para o castelo. Daquele ponto eles podiam ver toda a grandiosidade de Drugstrein. Kayan estendeu sua mão direita para Thays e ela segurou-a com a sua. Por alguns minutos eles permaneceram observando o castelo para, depois, se virarem e seguirem em rumo aos novos horizontes que os aguardava.


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Notas finais do capítulo

Demorou muito, mas finalmente chegamos nessa parte da história. A próxima parte terá dois capítulos, sendo o primeiro dividido em cinco partes e chamado: Elfos. Será a segunda e mais curta fase da história, mas com um desenvolvimento muito importante para chegarmos na terceira e última fase, que será quase tão longa quanto a primeira, segundo meus planos.

Sobre este capítulo, senti que ele ficou meio corrido em suas transições de cenas, mas me faltou habilidade para consertar isso da forma que eu gostaria. Apesar disso, consegui passar tudo o que gostaria para o texto. Digam o que acharam do capítulo e o que esperam do próximo arco.



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