A Ordem de Drugstrein escrita por Kamui Black


Capítulo 6
Aprendiz - Parte 1


Notas iniciais do capítulo

Depois das recentes descobertas sobre sua própria vida, Kayan conhece novos aprendizes na Ordem de Drugstrein.



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Capítulo 005

Aprendiz (Parte 1)

Já era tarde da noite quando Spaak deixou Kayan só com seus pensamentos. O Atreius sentou-se em uma das grandes poltronas do salão principal da torre dos aprendizes e começou a organizar tudo o que lhe acontecera durante o dia. Ele não se acostumaria com aquilo rapidamente, tinha certeza, mas precisava se adaptar à sua nova realidade.

Percebeu que já havia passado – e muito – do horário que ele costumava ir dormir. Não haviam lâmpadas mágicas em Bereth e em nenhum local ele encontraria um salão quase tão iluminado quando o dia, que era o caso daquele salão em que ele se encontrava. A luminosidade e agitação do dia eram o que mantinham-no acordado.

O sono não viria fácil devido à sua ansiedade, mas decidiu que era hora de conhecer seu novo quarto, então levantou-se da poltrona e dirigiu-se às escadas. Passou pelos corredores lentamente enquanto se atentava aos ornamentos e tapeçarias que permeavam o castelo.

Quando chegou em frente à porta onde estava grafado o número de seu quarto, procurou pela chave no bolso de seu colete e inseriu-a no buraco da fechadura. Só então percebeu que um feixe de luz saia por debaixo da porta do quarto. Os corredores dos dormitórios não eram tão iluminados quanto o salão e a luz que passava pela fresta da porta causava seu contraste. Decidiu bater antes de entrar.

­– Quem está aí? – perguntou a voz vindo de dentro do recinto.

– Sou Kayan. Dividirei este quarto com você enquanto estiver aqui na academia de Drugstrein.

Passos foram ouvidos do outro lado da porta e, em seguida, um clique da chave e a maçaneta sendo giradas. Quando a porta se abriu, Kayan pôde ver um rapaz aparentemente de sua idade. Ele tinha os cabelos loiros e meio compridos, com uma franja repicada caindo sobre sua testa. Ele também era um pouco mais largo que o Atreius em sua composição, o que denotava que se tornaria um rapaz de musculatura bem desenvolvida.

– Bem vindo, eu sou Mathen, da família Muscort. Entre.

Ele entrou no quarto, que era bem simples, porém, confortável. Haviam três camas e ao lado de cada uma havia uma pequena mesa com alguns objetos sobre ela. Um grande tapete estendia-se por quase todo o chão e uma cortina cobria uma janela de vidro. Havia, também, três baús de madeira e um grande armário.

– Eu sou Kayan Atreius – sentiu-se impelido à dizer seu nome de família recém descoberto, uma vez que o outro rapaz revelara-lhe o dele.

– Como assim? O granmestre Radamanthys não tem filhos, tem?

Um outro rapaz havia levantado-se da cama quando ouviu aquilo. Este era alto e magro, com os cabelos curtos, castanhos e levemente encaracolados.

– Não, ele não tem. Meu pai foi o granmestre Kaatus – resolveu utilizar o título que seu pai possuía. Sua voz devia soar pouco confiante devido ao fato de todas aquelas informações serem parte de algo muito recente para Kayan.

– Como assim? – perguntou Mathen. – O granmestre Kaatus morreu em combate contra Zeffirs, como todos sabem.

– Sim, mas antes disso ele havia amado minha mãe, Sellene Marlen. Ele morreu antes de eu nascer, mas o mestre Spaak convidou-me para estudar aqui.

Optou por resumir sua história, pois não tinha nenhuma vontade de detalha-la mais uma vez naquele dia. Temeu que fosse desacreditado por isso, mas aquilo não aconteceu.

– Mais um Atreius, e ele estará na nossa turma de aprendizes. Isso é incrível! – disse o rapaz mais magro. – Eu sou Fredrick Wiggly.

– Os pais de vocês fazem parte da ordem? – perguntou rapidamente Kayan, tirando seu foco da conversa.

– Sim – respondeu Mathen. ­– Meus pais estão na mesma equipe junto com um mestre. Meu irmão e minha irmã mais velhos também são magos aqui.

Em seguida foi Fedrick quem respondeu, um tanto quanto orgulhoso.

– Os meus também. Os Wiggly são uma família numerosa e bem conhecida em Drugstrein e até em outras ordens.

– Mas isso não impediu nosso amigo Fedrick aqui de reprovar nos exames finais da última turma.

O Muscort passou o braço pelo pescoço do amigo enquanto falava em um tom de deboche. O outro rapaz, porém, livrou-se do abraço do outro com certa agressividade.

– Foi falta de sorte. Este ano eu certamente serei aprovado e entrarei para Drugstrein.

Irritado, ele puxou uma fina corrente presa ao lado da esfera luminosa presa ao teto. A corrente acionou um mecanismo que liberou um tecido negro para envolver a esfera, impedindo que sua luminosidade atingisse o ambiente. Após isso dirigiu-se de volta para sua cama.

Mathen apressou-se em ir para a mesa ao lado de sua cama e acender uma vela. Fedrick, em reação à isto, girou para o lado oposto à luz e tentou dormir.

Kayan deduziu que a última cama do canto seria a sua e rumou até ela. Retirou suas botas e o colete, preparando-se para dormir.

– Espere, Kayan – disse Mathen enquanto deitava-se na cama. – Você viveu fora do castelo todo esse tempo, não?

O aprendiz de cabelos negros apenas afirmou com um aceno de cabeça enquanto repetia o ato do amigo e checava a cama confortável.

– Conte-me como é lá. Minha vida inteira foi aqui no castelo, mas sempre quis saber como é viver com os que não são magos.

– Eu lhe conto, mas apenas se você me disser como é viver aqui em Drugstrein.

Mais tarde, Fedrick também decidiu participar daquela conversa e foi desta maneira que Kayan conheceu os primeiros de muitos aprendizes que ele viria a conhecer.

* * *

Alguns dias se passaram e o início dos estudos se aproximava para os aprendizes. No decorrer desses dias, muitos novos aprendizes chegaram à torre. Grande parte vinha de dentro da própria ordem, mas alguns vinham de guildas espalhadas por Wesmeroth. Mathen conhecia a maior parte dos rapazes e moças cujos pais pertenciam à ordem e os apresentava à Kayan.

Com as novas amizades que começavam a surgir, Kayan cada vez mais familiarizava-se com a vida em Drugstrein. Ele ainda não possuía acesso ao restante do castelo, mas podia caminhar pelo grande jardim interno e até mesmo sair para cavalgar, caso quisesse.

Sua história havia se espalhado e a maioria dos magos e aprendizes já sabia que ele era da prole de Kaatus Atreius. Uma grande expectativa começou a se formar em volta do garoto devido a quem fora seu pai e ao irmão mais velho do mesmo. Alguns dos aprendizes chegavam até mesmo a olhar Kayan com admiração ou até mesmo certa inveja. Alguns, também, tratavam-no como se ele fosse especial e isto era o que mais irritava o rapaz.

Mas, na maioria das vezes, quando conversavam com ele e começavam a conhecê-lo aquela estranheza inicial se desfazia e assim ele fez várias amizades com os jovens ali reunidos.

Certa noite, apenas três dias antes dos tão esperados estudos se iniciarem, Kayan e alguns amigos reuniam-se na sala comum para jogar um jogo de tabuleiro. O Atreius e um outro rapaz enfrentavam Mathen e sua dupla.

Era a vez de Kayan jogar quando algo chamou-lhe a atenção. Uma garota que ele nunca tinha visto antes descia as escadarias e se instalava em um dos grandes sofás perto da lareira. Ela era um pouco mais baixa do que ele e tinha os cabelos castanhos claro, lisos e levemente ondulados nas pontas sendo que seus olhos eram de uma tonalidade um pouco mais escuros. Seu corpo era esbelto enquanto suas formas femininas começavam a se desenvolver, mas notava-se que se tornaria cada vez mais bonita. Para Kayan ela era linda da maneira como estava naquele momento.

– Hei! É sua vez, faça sua jogada – um dos adversários do Atreius chamou-lhe a atenção.

Ele fez a jogada sem pensar e sem prestar qualquer atenção ao jogo, visto que ela estava totalmente em outro lugar.

– Ah! Kayan, você acabou de abrir caminho para o adversário, droga! – reclamou seu parceiro.

– Hei, Bren, assuma meu lugar – ele disse enquanto jogava uma peça do jogo para um dos rapazes que estavam apenas assistindo.

– Não pode abandonar o jogo assim! Ainda vou te vencer nisto! – protestou Mathen, em vão.

Ele se aproximou tão sutil e silenciosamente que ela apenas o percebeu quando ele estava bem próximo. Por um momento eles ficaram apenas se olhando, sem saber o que dizer. Finalmente, o Atreius resolveu quebrar o silêncio.

– Oi. Será que eu posso me sentar ao seu lado?

– Sim – respondeu a garota em meio a um sorriso.

Ele, então, sentou-se no sofá ao lado dela. Queria se aproximar mais, mas temeu que ela não apreciasse um contato tão direto. Naquele momento Kayan lembrou-se de como a vida dos magos poderia ser melhor em relação a dos humanos comuns. Os casamentos não eram arranjados e ele tinha a oportunidade de conhecer bem uma garota antes de resolver se envolver com ela.

– Meu nome é Kayan Atreius

O aprendiz aguardava uma reação de surpresa ou qualquer uma das que ele estava acostumado a receber quando se identificava para alguém. Surpreendentemente, nada disso aconteceu, para seu alívio.

– Muito prazer, Kayan, meu nome é Sarah. Sarah Harppon, mas creio que não vá conhecer minha família.

– Não conheço, mas é porque eu não vivi em Drugstrein, então não conheço o nome das famílias mais tradicionais.

– Isto é muito coincidência, porque eu também não vivi aqui. Eu vim bem do norte da planície de Daran, bem do norte mesmo. Meus pais são fazendeiros e só minha avo que era uma maga em uma guilda.

– Isso quer dizer que o dom da magia pode pular uma geração?

– Sim, meu pai até consegue fazer algumas coisas simples, mas nada muito complicado. Minha avó agora não esta mais ativa, mas me ensinou a ler e a escrever, história e muitas outras coisas. Não sei como, mas ela conseguiu com que eu fosse aceita aqui na academia de Drugstrein.

Por algum momento eles ficaram sem assunto e Kayan começou a pensar freneticamente em uma maneira de prolongar aquela conversa. Por fim, ele voltou com um questionamento bem simples.

– E você conhece algum feitiço?

– Não – respondeu com sinceridade. – Aprendi alguns truques, mas minha avo decidiu que seria melhor que eu aprendesse com um mestre de Drugstrein. E você?

– Na verdade eu sei alguns dos feitiços básicos, mas acredito que vou aprender muito mais aqui. É bem possível que alguns aprendizes daqui saibam muito mais que eu.

– Então você já tem alguma vantagem sobre mim, não é?

– Parece que sim. Mas, se você precisar de alguma ajuda quando nossos estudos começarem, pode ter certeza de que pode contar comigo.

– Fico feliz em ouvir isso.

E o assunto morreu novamente. Kayan pensava em alguma outra maneira de alonga-lo, mas ele não tinha muita experiência ao lidar com o sexo oposto e não sabia o que falar. Sarah também parecia meio encabulada enquanto eles ficavam ali apenas se olhando. Ela, então, levantou-se de repente.

– Vou indo me deitar. Amanhã quero conhecer um pouco do castelo e do jardim bonito que eu vi quando cheguei hoje – ao dizer isso ela rumou para as escadas mas antes de se afastar demais virou-se para Kayan. – Foi bom te conhecer hoje – o rosto da garota corou levemente ao dizer aquelas palavras.

– Também gostei muito de te conhecer. Durma bem.

Sarah virou-se rapidamente e dirigiu-se para a escada. Kayan, por sua vez, acompanhou-a com o olhar até que viu ela se virar e acenar para ele. Retribuiu o aceno e viu-a subir as escadas.

O jovem aprendiz recostou-se no sofá, pensativo. Poderia voltar para seus amigos e jogar, mas não tinha mais nenhuma vontade de fazer aquilo. Resolveu que era melhor ir para seu quarto.

Chegando ao seu dormitório, Kayan encontrou Fedrick já dormindo, então retirou a maior parte de suas roupas em silêncio e deitou-se para, logo depois, puxar um cobertor quente e aconchegante sobre seu corpo.

Antes de dormir, ele refletiu sobre sua conversa com Sarah. Algo nela lhe atraia, mas ele não sabia exatamente o que. Ele queria ter pensado em algo mais para prolongar a conversa. Culpava-se por sua falta de jeito e de assunto. Porém, após refletir por alguns minutos, chegou a conclusão de que aquilo não importa realmente, uma vez que ele teria um ano inteiro para conversar com Sarah.

Um pouco mais relaxado, Kayan virou-se na cama e preparou-se para dormir. E naquela noite ele dormiria com um sorriso no rosto.


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Notas finais do capítulo

E ai pessoal. Desculpem a demora deste capítulo, mas as culpadas são as provas da faculdade.

Críticas, sugestões, comentários? Se gostou deixe um comentário, se gostou mais ainda favorite e deixe uma recomendação. Se não gostou, comente também e aponte onde devo melhorar.

Vejo vocês no próximo capítulo.



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