A Ordem de Drugstrein escrita por Kamui Black
Notas iniciais do capítulo
Depois das recentes descobertas sobre sua própria vida, Kayan conhece novos aprendizes na Ordem de Drugstrein.
Capítulo 005
Aprendiz (Parte 1)
Já era tarde da noite quando Spaak deixou Kayan só com seus pensamentos. O Atreius sentou-se em uma das grandes poltronas do salão principal da torre dos aprendizes e começou a organizar tudo o que lhe acontecera durante o dia. Ele não se acostumaria com aquilo rapidamente, tinha certeza, mas precisava se adaptar à sua nova realidade.
Percebeu que já havia passado – e muito – do horário que ele costumava ir dormir. Não haviam lâmpadas mágicas em Bereth e em nenhum local ele encontraria um salão quase tão iluminado quando o dia, que era o caso daquele salão em que ele se encontrava. A luminosidade e agitação do dia eram o que mantinham-no acordado.
O sono não viria fácil devido à sua ansiedade, mas decidiu que era hora de conhecer seu novo quarto, então levantou-se da poltrona e dirigiu-se às escadas. Passou pelos corredores lentamente enquanto se atentava aos ornamentos e tapeçarias que permeavam o castelo.
Quando chegou em frente à porta onde estava grafado o número de seu quarto, procurou pela chave no bolso de seu colete e inseriu-a no buraco da fechadura. Só então percebeu que um feixe de luz saia por debaixo da porta do quarto. Os corredores dos dormitórios não eram tão iluminados quanto o salão e a luz que passava pela fresta da porta causava seu contraste. Decidiu bater antes de entrar.
– Quem está aí? – perguntou a voz vindo de dentro do recinto.
– Sou Kayan. Dividirei este quarto com você enquanto estiver aqui na academia de Drugstrein.
Passos foram ouvidos do outro lado da porta e, em seguida, um clique da chave e a maçaneta sendo giradas. Quando a porta se abriu, Kayan pôde ver um rapaz aparentemente de sua idade. Ele tinha os cabelos loiros e meio compridos, com uma franja repicada caindo sobre sua testa. Ele também era um pouco mais largo que o Atreius em sua composição, o que denotava que se tornaria um rapaz de musculatura bem desenvolvida.
– Bem vindo, eu sou Mathen, da família Muscort. Entre.
Ele entrou no quarto, que era bem simples, porém, confortável. Haviam três camas e ao lado de cada uma havia uma pequena mesa com alguns objetos sobre ela. Um grande tapete estendia-se por quase todo o chão e uma cortina cobria uma janela de vidro. Havia, também, três baús de madeira e um grande armário.
– Eu sou Kayan Atreius – sentiu-se impelido à dizer seu nome de família recém descoberto, uma vez que o outro rapaz revelara-lhe o dele.
– Como assim? O granmestre Radamanthys não tem filhos, tem?
Um outro rapaz havia levantado-se da cama quando ouviu aquilo. Este era alto e magro, com os cabelos curtos, castanhos e levemente encaracolados.
– Não, ele não tem. Meu pai foi o granmestre Kaatus – resolveu utilizar o título que seu pai possuía. Sua voz devia soar pouco confiante devido ao fato de todas aquelas informações serem parte de algo muito recente para Kayan.
– Como assim? – perguntou Mathen. – O granmestre Kaatus morreu em combate contra Zeffirs, como todos sabem.
– Sim, mas antes disso ele havia amado minha mãe, Sellene Marlen. Ele morreu antes de eu nascer, mas o mestre Spaak convidou-me para estudar aqui.
Optou por resumir sua história, pois não tinha nenhuma vontade de detalha-la mais uma vez naquele dia. Temeu que fosse desacreditado por isso, mas aquilo não aconteceu.
– Mais um Atreius, e ele estará na nossa turma de aprendizes. Isso é incrível! – disse o rapaz mais magro. – Eu sou Fredrick Wiggly.
– Os pais de vocês fazem parte da ordem? – perguntou rapidamente Kayan, tirando seu foco da conversa.
– Sim – respondeu Mathen. – Meus pais estão na mesma equipe junto com um mestre. Meu irmão e minha irmã mais velhos também são magos aqui.
Em seguida foi Fedrick quem respondeu, um tanto quanto orgulhoso.
– Os meus também. Os Wiggly são uma família numerosa e bem conhecida em Drugstrein e até em outras ordens.
– Mas isso não impediu nosso amigo Fedrick aqui de reprovar nos exames finais da última turma.
O Muscort passou o braço pelo pescoço do amigo enquanto falava em um tom de deboche. O outro rapaz, porém, livrou-se do abraço do outro com certa agressividade.
– Foi falta de sorte. Este ano eu certamente serei aprovado e entrarei para Drugstrein.
Irritado, ele puxou uma fina corrente presa ao lado da esfera luminosa presa ao teto. A corrente acionou um mecanismo que liberou um tecido negro para envolver a esfera, impedindo que sua luminosidade atingisse o ambiente. Após isso dirigiu-se de volta para sua cama.
Mathen apressou-se em ir para a mesa ao lado de sua cama e acender uma vela. Fedrick, em reação à isto, girou para o lado oposto à luz e tentou dormir.
Kayan deduziu que a última cama do canto seria a sua e rumou até ela. Retirou suas botas e o colete, preparando-se para dormir.
– Espere, Kayan – disse Mathen enquanto deitava-se na cama. – Você viveu fora do castelo todo esse tempo, não?
O aprendiz de cabelos negros apenas afirmou com um aceno de cabeça enquanto repetia o ato do amigo e checava a cama confortável.
– Conte-me como é lá. Minha vida inteira foi aqui no castelo, mas sempre quis saber como é viver com os que não são magos.
– Eu lhe conto, mas apenas se você me disser como é viver aqui em Drugstrein.
Mais tarde, Fedrick também decidiu participar daquela conversa e foi desta maneira que Kayan conheceu os primeiros de muitos aprendizes que ele viria a conhecer.
* * *
Alguns dias se passaram e o início dos estudos se aproximava para os aprendizes. No decorrer desses dias, muitos novos aprendizes chegaram à torre. Grande parte vinha de dentro da própria ordem, mas alguns vinham de guildas espalhadas por Wesmeroth. Mathen conhecia a maior parte dos rapazes e moças cujos pais pertenciam à ordem e os apresentava à Kayan.
Com as novas amizades que começavam a surgir, Kayan cada vez mais familiarizava-se com a vida em Drugstrein. Ele ainda não possuía acesso ao restante do castelo, mas podia caminhar pelo grande jardim interno e até mesmo sair para cavalgar, caso quisesse.
Sua história havia se espalhado e a maioria dos magos e aprendizes já sabia que ele era da prole de Kaatus Atreius. Uma grande expectativa começou a se formar em volta do garoto devido a quem fora seu pai e ao irmão mais velho do mesmo. Alguns dos aprendizes chegavam até mesmo a olhar Kayan com admiração ou até mesmo certa inveja. Alguns, também, tratavam-no como se ele fosse especial e isto era o que mais irritava o rapaz.
Mas, na maioria das vezes, quando conversavam com ele e começavam a conhecê-lo aquela estranheza inicial se desfazia e assim ele fez várias amizades com os jovens ali reunidos.
Certa noite, apenas três dias antes dos tão esperados estudos se iniciarem, Kayan e alguns amigos reuniam-se na sala comum para jogar um jogo de tabuleiro. O Atreius e um outro rapaz enfrentavam Mathen e sua dupla.
Era a vez de Kayan jogar quando algo chamou-lhe a atenção. Uma garota que ele nunca tinha visto antes descia as escadarias e se instalava em um dos grandes sofás perto da lareira. Ela era um pouco mais baixa do que ele e tinha os cabelos castanhos claro, lisos e levemente ondulados nas pontas sendo que seus olhos eram de uma tonalidade um pouco mais escuros. Seu corpo era esbelto enquanto suas formas femininas começavam a se desenvolver, mas notava-se que se tornaria cada vez mais bonita. Para Kayan ela era linda da maneira como estava naquele momento.
– Hei! É sua vez, faça sua jogada – um dos adversários do Atreius chamou-lhe a atenção.
Ele fez a jogada sem pensar e sem prestar qualquer atenção ao jogo, visto que ela estava totalmente em outro lugar.
– Ah! Kayan, você acabou de abrir caminho para o adversário, droga! – reclamou seu parceiro.
– Hei, Bren, assuma meu lugar – ele disse enquanto jogava uma peça do jogo para um dos rapazes que estavam apenas assistindo.
– Não pode abandonar o jogo assim! Ainda vou te vencer nisto! – protestou Mathen, em vão.
Ele se aproximou tão sutil e silenciosamente que ela apenas o percebeu quando ele estava bem próximo. Por um momento eles ficaram apenas se olhando, sem saber o que dizer. Finalmente, o Atreius resolveu quebrar o silêncio.
– Oi. Será que eu posso me sentar ao seu lado?
– Sim – respondeu a garota em meio a um sorriso.
Ele, então, sentou-se no sofá ao lado dela. Queria se aproximar mais, mas temeu que ela não apreciasse um contato tão direto. Naquele momento Kayan lembrou-se de como a vida dos magos poderia ser melhor em relação a dos humanos comuns. Os casamentos não eram arranjados e ele tinha a oportunidade de conhecer bem uma garota antes de resolver se envolver com ela.
– Meu nome é Kayan Atreius
O aprendiz aguardava uma reação de surpresa ou qualquer uma das que ele estava acostumado a receber quando se identificava para alguém. Surpreendentemente, nada disso aconteceu, para seu alívio.
– Muito prazer, Kayan, meu nome é Sarah. Sarah Harppon, mas creio que não vá conhecer minha família.
– Não conheço, mas é porque eu não vivi em Drugstrein, então não conheço o nome das famílias mais tradicionais.
– Isto é muito coincidência, porque eu também não vivi aqui. Eu vim bem do norte da planície de Daran, bem do norte mesmo. Meus pais são fazendeiros e só minha avo que era uma maga em uma guilda.
– Isso quer dizer que o dom da magia pode pular uma geração?
– Sim, meu pai até consegue fazer algumas coisas simples, mas nada muito complicado. Minha avó agora não esta mais ativa, mas me ensinou a ler e a escrever, história e muitas outras coisas. Não sei como, mas ela conseguiu com que eu fosse aceita aqui na academia de Drugstrein.
Por algum momento eles ficaram sem assunto e Kayan começou a pensar freneticamente em uma maneira de prolongar aquela conversa. Por fim, ele voltou com um questionamento bem simples.
– E você conhece algum feitiço?
– Não – respondeu com sinceridade. – Aprendi alguns truques, mas minha avo decidiu que seria melhor que eu aprendesse com um mestre de Drugstrein. E você?
– Na verdade eu sei alguns dos feitiços básicos, mas acredito que vou aprender muito mais aqui. É bem possível que alguns aprendizes daqui saibam muito mais que eu.
– Então você já tem alguma vantagem sobre mim, não é?
– Parece que sim. Mas, se você precisar de alguma ajuda quando nossos estudos começarem, pode ter certeza de que pode contar comigo.
– Fico feliz em ouvir isso.
E o assunto morreu novamente. Kayan pensava em alguma outra maneira de alonga-lo, mas ele não tinha muita experiência ao lidar com o sexo oposto e não sabia o que falar. Sarah também parecia meio encabulada enquanto eles ficavam ali apenas se olhando. Ela, então, levantou-se de repente.
– Vou indo me deitar. Amanhã quero conhecer um pouco do castelo e do jardim bonito que eu vi quando cheguei hoje – ao dizer isso ela rumou para as escadas mas antes de se afastar demais virou-se para Kayan. – Foi bom te conhecer hoje – o rosto da garota corou levemente ao dizer aquelas palavras.
– Também gostei muito de te conhecer. Durma bem.
Sarah virou-se rapidamente e dirigiu-se para a escada. Kayan, por sua vez, acompanhou-a com o olhar até que viu ela se virar e acenar para ele. Retribuiu o aceno e viu-a subir as escadas.
O jovem aprendiz recostou-se no sofá, pensativo. Poderia voltar para seus amigos e jogar, mas não tinha mais nenhuma vontade de fazer aquilo. Resolveu que era melhor ir para seu quarto.
Chegando ao seu dormitório, Kayan encontrou Fedrick já dormindo, então retirou a maior parte de suas roupas em silêncio e deitou-se para, logo depois, puxar um cobertor quente e aconchegante sobre seu corpo.
Antes de dormir, ele refletiu sobre sua conversa com Sarah. Algo nela lhe atraia, mas ele não sabia exatamente o que. Ele queria ter pensado em algo mais para prolongar a conversa. Culpava-se por sua falta de jeito e de assunto. Porém, após refletir por alguns minutos, chegou a conclusão de que aquilo não importa realmente, uma vez que ele teria um ano inteiro para conversar com Sarah.
Um pouco mais relaxado, Kayan virou-se na cama e preparou-se para dormir. E naquela noite ele dormiria com um sorriso no rosto.
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Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!Notas finais do capítulo
E ai pessoal. Desculpem a demora deste capítulo, mas as culpadas são as provas da faculdade.
Críticas, sugestões, comentários? Se gostou deixe um comentário, se gostou mais ainda favorite e deixe uma recomendação. Se não gostou, comente também e aponte onde devo melhorar.
Vejo vocês no próximo capítulo.