A Ordem de Drugstrein escrita por Kamui Black


Capítulo 51
Batalha na Península de Darthan - Parte 4


Notas iniciais do capítulo

Spaak, Kayan e Sarah lutam para chegar até o restante dos magos de sua ordem. Neste meio tempo, mais uma batalha transcorre na península.



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Capítulo 050

Batalha na Península de Darthan (Parte 4)

Sob o sol fraco e parcialmente oculto por nuvens um sangrento combate teve seu início. Os gigantes bradavam seus tacapes e clavas rústicas feitos simplesmente com madeira e pedras. Os anões eram os principais seres à combatê-los, empunhando seus machados, espadas ou até mesmo arco e flecha. Eles saltavam contra seus inimigos mortais sem nem um momento de hesitação.

Os artesões comandavam seus golens para travar um combate de igual para igual contra a raça que mais odiavam em toda Wesmeroth. Os magos, por sua vez, mantinham-se separados em suas respectivas equipes e destroçavam os orcs sem piedade alguma.

— Aghata e Karion, vocês e suas equipes devem dar apoio aos anões ao leste! Tentem evitar que muitos deles morram!

Jonathan gritou em meio aos sons de metal contra metal e gritos de agonia do campo de batalha. Os magos tinham a obrigação de manter o maior número de anões a salvo que conseguissem, visto que a raça era corajosa, porém inconsequente no campo de batalha.

As equipes da Ordem de Kaz Barak perceberam o que as de Drugstrein estavam fazendo e decidiram imitá-los. Para eles foi relativamente mais fácil, uma vez que, ao invés de apenas quatro, eles contavam com nove equipes completas.

Conforme as horas iam passando e os magos mais jovens se exaurindo, Jonathan comandava-os para que recuassem e cuidassem apenas da retaguarda e dos anões que se feriram.

Nathie, Mark e Nicolas foram os que recuaram das equipes de Drugstrein. No caso de Kaz Barak esse número foi de oito magos, sete jovens e um de idade já avançada.

Com uma boa administração do combate, nenhum dos magos havia perdido a vida até aquele momento, apenas alguns receberam ferimentos leves, que eram curados por magia branca logo após serem infringidos. Esse fato dava mais moral aos anões que, apesar de ter perdido quase sete centenas de seus guerreiros, ainda permaneciam aos milhares e combatiam com a mesma coragem e vigor do início da batalha.

Os gigantes tinham um espírito de combate, coragem e determinação semelhante ao dos anões. Justamente por isso, recusaram-se a se retirar do campo de batalha quando os orcs deram a mesma por perdida e começaram a recuar.

Quase mil orcs conseguiram sair do campo de batalha, abandonando cerca de dois mil corpos para trás. Dentre os gigantes, que eram de um número próximo de quinhentos, não houve sobreviventes.

Foi assim, que, já ao final da tarde, a primeira e intensa batalha na península de Darthan teve seu fim. Novamente eles acamparam antes mesmo que o crepúsculo surgisse no horizonte.

Porém, mesmo com o acampamento já preparado, os anões só se deitaram após recolher os corpos de seus mortos e cremá-los, dedicando-os ao seu deus da guerra, Mijiaünirr, para que ele os levasse, como guerreiros honrados que foram, para juntos de seus antepassados.

— Isso é muito triste.

Anita, em meio a uma expressão melancólica, comentou com Nathie, que estava sentada ao seu lado enquanto assistiam os ritos fúnebres dos anões.

— Eles perderam tantos familiares, imaginem como devem estar se sentindo.

— Nós sentimos tanto quando apenas um dos nossos morre, imagine eles que perderam centenas deles.

A garota abraçou as próprias pernas enquanto sentia o pesar que deveria estar afligindo a outra raça.

— E os gigantes e orcs? Eles também devem sentir a mesma coisa. E nem podem enterrar seus mortos, já que eles ficaram aqui ao lado, nem a quinhentos metros de onde estamos acampando – complementou Nathie.

— Eles são bárbaros, garotas, não têm sentimentos.

— Igual a você, Gorgar? – disse Jonathan ao se aproximar da mesma maneira que o outro mestre: sorrateiramente.

As duas garotas se viraram para ver os dois homens que estavam parados logo atrás delas. Era visível a hostilidade que mantinham um para com o outro.

— Eles são criaturas vivas assim como nós, humanos, elfos, ou anões. Por que não deveriam nutrir os mesmos sentimentos? – Jonathan completou o que dizia.

— Essas criaturas nos atacam, pilham, matam, destroem desde sabe se lá há quanto tempo. Eles começaram essa guerra há milhares de anos, e seremos nós que iremos terminá-la.

O mago negro fez uma pausa e sentou-se ao lado das garotas. Ele havia pensado em tudo o que Aghata havia lhe dito antes da batalha começar, e resolveu que já passara da hora de se comunicar com as pessoas.

— Para mim, essas criaturas deveriam ser todas exterminadas – disse em um tom de voz sinistro.

— Vai acabar assustando as garotas dessa maneira, Gorgar, elas não te conhecem tão bem quanto eu para saber que você só é cruel desse jeito com seus inimigos, mesmo que não seja tão simpático para com os aliados.

Os comentários de Jonathan não foram de agrado do outro mestre. Porém, ele não retrucou ou disse mais nada, apenas se levantou e se afastou do trio, que permaneceu no mesmo lugar enquanto as chamas da pira funerária dos anões dançavam à sua frente.

— Nossa, Jonathan, não precisava ser assim tão antipático com o Gorgar – repreendeu-o Nathie. – Ele parece ser tão triste – completou ao acompanhar o mago negro com seu olhar.

— Triste? Ele é sempre tão frio com todo mundo – disse Anita, em observação ao comentário da amiga.

— Ah, vocês não entendem as pessoas mesmo. Desisto.

Dizendo isso a garota também se levantou e seguiu para a barraca que dividiria com a sua amiga e companheira de equipe.

— O que deu nela? – perguntou Jonathan.

— E eu é que sei? – foi o que obteve como resposta.

* * *

As oito criaturas colossais e de pele cinzenta observavam os três magos com cautela. Seus pequenos olhos negros fitavam-nos com atenção, para que não perdessem qualquer ação inesperada. Por outro lado, os humanos também esperavam o primeiro movimento vindo do grupo adversário.

O solo tremeu quando o primeiro dos trolls avançou. Kayan apenas esperou a confirmação de Spaak, que veio com um simples aceno de cabeça, para investir contra o oponente.

A força do golpe desferido contra o rapaz seria suficiente para esmagar seu corpo, caso este fosse atingido. No entanto, o pior não aconteceu, pois ele esquivou-se para o lado no exato momento. A seguir, unindo ambas as mãos e sem proferir qualquer palavra, disparou uma rajada de chamas negras proveniente de um feitiço durhan crisis.

O ataque surtiu o efeito esperado e a regeneração do troll não foi forte suficiente para refrear a degeneração celular causada pela poderosa magia negra. Desesperado com a situação, a criatura saltou para junto de seus companheiros. No entanto, apesar da ajuda que recebeu de um de seus semelhantes, ele fraquejou e caiu de joelhos. Por fim, em meio a um grito de agonia, desabou no chão para não se levantar nunca mais, as chamas negras consumiriam seu corpo até que não restasse mais nada para queimar.

— Fácil – disse Kayan com um sorriso orgulhoso nos lábios.

Os outros sobreviventes urraram em meio a uma ira e desafio. Os três humanos puderam sentir o ar vibrando a sua volta enquanto tapavam os ouvidos para amenizar um pouco do som ensurdecedor. Os trolls avançaram no exato momento em que Spaak e Sarah haviam se unido à Kayan.

— Você tinha que se exibir desse jeito? – a garota perguntou ao namorado.

— Estava me exibindo pra você, minha maguinha.

Disse em um tom de voz carinhoso pouco antes de tocar os lábios femininos com os seus. Em seguida, avançou, ao lado de Spaak, para o combate. A maga branca levou alguns segundos para se movimentar, devido as atitudes inesperadas que obteve por parte de Kayan.

O primeiro troll a tentar atingir Spaak arrependeu-se amargamente pela tentativa, pois seu punho nem chegou a tocar o corpo do mestre, uma vez que o mago especialista na esfera do fogo utilizou um poderoso crisis katris, que atingiu justamente a junção entre o braço e antebraço da criatura. O local quebrou-se e se cauterizou imediatamente e parte do membro se soltou e caiu ao chão. A criatura se afastou, urrando e segurando o que restara deste, que, ao menos, não sangrava por causa das queimaduras intensas.

O segundo a tentar a mesma proeza esperava ter um maior êxito, porém, este foi atacado por Kayan antes que pudesse completar o movimento. O jovem havia disparado um tangrea contra a criatura, que recuou ao receber o impacto do feitiço.

Aproveitando que não teria que se defender do seu agressor, Spaak avançou contra um terceiro inimigo. Contra este ele conseguiu lançar um golpe fatal.

Passando entre os braços musculosos da criatura, o mestre tocou-lhe a barriga de tamanho avantajado. A queima roupa, uma enorme explosão de chamas incinerou quase toda a parte frontal do gigante cinzento. Além disso, suas costas irromperam em chamas e entranhas, que foram expelidas para fora do corpo graças ao impacto explosivo provocado pelo feitiço.

Kayan avançou contra o próximo alvo, assim que viu que sua namorada atacava, utilizando um crisis, o troll que tentaria agredi-lo. Mais uma vez lançou seu durhan crisis, mas, desta vez, o seu inimigo protegeu-se com o próprio braço, que foi totalmente tomado pelas chamas. O mago negro tinha a intenção de atacar novamente, mas foi impedido por outro de seus adversários, que o atacou com o punho. Um aurus pinn foi erguido e amparou o golpe poderoso.

O rapaz conjurou um feitiço durhan tangrea e seu punho direito fervilhou em fagulhas de eletricidade negra. Em seguida, desfez o escudo de energia que tinha feito com o braço esquerdo e contra-atacou, com um soco, o punho adversário. Neste exato momento o troll sentiu o poder do feitiço, que começou a corroer seus músculos, tendões e nervos. O impacto deste ataque foi ainda mais fatal que um durhan crisis seria, e a criatura tombou.

Sarah, por sua vez, estava tendo certa dificuldade. Seu feitiço de fogo não era forte suficiente para subjugar a regeneração acelerada do inimigo. No meio desse impasse, um dos trolls avançou contra ela na intenção de esmagar seu pequeno corpo. Antes, porém, que ela se defendesse, percebeu que isso seria desnecessário, uma vez que Spaak corria contra a criatura para ajudá-la.

Dos antebraços estendidos do mestre, correntes flamejantes surgiram e avançaram contra o seu alvo. Em cada uma das extremidades havia uma ponta afiada também adornada em fogo. As duas armas conjuradas fincaram-se nas costas da criatura e saíram por seu peito, atravessando seu corpo. Com um pouco mais de esforço, o mestre fez com que todo o corpo de seu inimigo entrasse em combustão.

Bastaria alguns segundos a mais para que o troll queimasse completamente, visto que os ferimentos se abriam em sua pele em uma velocidade muito maior do que o seu poder de cura podia suportar. No entanto, outros dois oponentes avançaram contra o mestre, sendo que o braço de um deles estava começando a se formar novamente – era exatamente o que havia perdido parte do membro pelas chamas do próprio Spaak.

O mago de fogo, então, puxou a corrente flamejante de seu braço direito das entranhas do troll que apunhalara e a dirigiu diretamente contra o adversário mais avançado. A arma conjurada atingiu exatamente o meio da testa da criatura, que tombou no exato momento.

O mestre ficou muito feliz pelo fato dela ter baixado tanto a guarda em sua investida. No entanto, teria de retirar a outra corrente do outro inimigo para poder se defender. Novamente alegrou-se ao ver que Kayan investia contra o segundo dos trolls e ele teria total liberdade para acabar o que havia começado.

O mago negro avançou enquanto movimentava sua mão esquerda sobre o braço direito. Ao fazer isso, uma lâmina negra começou a se crescer de seu antebraço. O troll desistiu de perseguir Spaak e se voltou contra ele. Tentou golpeá-lo com seu braço esquerdo, mas o rapaz se esquivou de forma veloz e, em seguida, tentou a mesma manobra com o braço direito, mesmo que este ainda não estivesse novamente recuperado.

Pela segunda vez no dia se arrependeu do ato, e esta foi a última. No momento em que o troll atacou, o mago negro esquivou-se para o mesmo lado e golpeou o braço do inimigo estendido, cortando-o. A degeneração celular foi muitas vezes maior do que a provocada pelas chamas negras, assim como a dor. A criatura levantou o que restou do braço e segurou o ferimento com a outra mão, na vã tentativa de contê-lo.

Kayan não perdoou a oportunidade e passou ao lado do inimigo ao mesmo tempo em que lhe golpeava a lateral do corpo. A lâmina negra cortou a carne, músculos e ossos como se não fossem nada e mais uma das criaturas tombou.

O rapaz investiu contra o último dos trolls ao ver que o mesmo corria em direção a Sarah. Seus movimentos foram tão rápidos que a criatura só percebeu sua presença quando seu segundo braço caiu ao chão, arrancado pela lâmina negra.

Apesar da dor excruciante de ter um braço destruído por um durhan crisis e o outro por um giudecca, o troll não desistiu e ainda tentou chutar o mago negro, que se esquivou facilmente desta nova investida. Agora o troll acabara de perder também uma perna. Kayan, então, encerrou seu sofrimento com um golpe direto na cabeça.

Nesse meio tempo, Sarah mantinha suas chamas envolvendo o troll, que não conseguia, de maneira alguma, se desvencilhar do feitiço da garota, pois esta sempre arranjava uma maneira de mantê-lo subjugado. Mesmo assim, ela não conseguia derrubá-lo. Estavam em um impasse.

Percebendo que todos à sua volta estavam vencendo seus combates, seu orgulho falou mais alto e ela decidiu que iria vencer pelo menos um de seus inimigos, mesmo que tivesse que se arriscar para isso. Liberou a criatura de seu feitiço.

Enquanto suas últimas feridas se fechavam, o troll avançou, com uma fúria desenfreada, contra a garota. Sarah se esquivou da primeira investida e ele passou direto por ela. A garota se virou ao mesmo tempo em que contra-atacava. Enquanto ela girava o corpo, mantinha seu braço direito estendido. Isso possibilitou que uma lâmina de fogo fosse lançado em direção ao adversário, que já avançava novamente.

O ataque da maga branca, porém, foi baixo demais e acabou apenas atingindo o peito do inimigo que, apesar do ferimento profundo, ignorou a dor e manteve a investida. Sarah tentou a mesma evasiva, mas, desta vez, seu sucesso não foi completo e o braço do inimigo raspou em seu corpo, derrubando-a ao chão.

Ela estava caída e o troll se aproximou dela de maneira veloz e a encarou de cima para baixo. Ele levantou o punho e se preparou para dar seu golpe final. A garota tremia de medo, mas sua determinação não diminuiu por conta disso. Movimentou o braço em um novo arco e lançou um feitiço crisis. Desta vez, o ataque foi certeiro e a lâmina de fogo atingiu diretamente o pescoço robusto do troll.

Ela conjurou um aurus pinn logo em seguida, na esperança de que a barreira de energia segurasse o ataque do inimigo caso o seu próprio tivesse falhado. Foi com grande alívio que ela observou que a cabeça cinzenta e de olhos pequenos caiu para trás.

No momento seguinte ela viu que o corpo já sem vida da criatura vacilou e tombou justamente para o seu lado.

— Droga!

A garota gritou no exato momento em que fortificava ainda mais a barreira para aguentar o impacto. O aurus pinn aguentou e a maga branca soltou a respiração, aliviada. Em seguida, conjurou um grande pulso de aura que lançou o corpo inerte para trás no exato momento em que ela desfez a barreira.

— Você está bem?

Kayan lhe perguntou enquanto lhe estendia a mão para  ajudá-la a se levantar.

— Estou sim, obrigada.

Respondeu enquanto segurava a mão do rapaz. Ele a puxou para junto de si e envolveu sua cintura com o outro braço em um movimento tão veloz que a fez corar.

Foi nesse exato momento em que Spaak terminou de executar o último dos inimigos. Assim que desfez seu feitiço, virou-se para o casal com uma expressão de poucos amigos no rosto.

— Kayan, espero que não fique confiante demais depois dessa vitória fácil. Você derrubou quatro deles utilizando magia negra e só conseguiu isso porque sua esfera tem vantagem sobre o poder de cura dos trolls. Se não puder utilizá-la, terá dificuldades.

— Hum... certo, entendi – respondeu simplesmente.

Então, o mestre se aproximou um pouco mais dos dois e encarou Kayan. Pensou em fazer um último comentário, mas achou melhor guardar este para quando pudesse conversar a sós com rapaz.

O mestre seguiu caminho na frente e deixou que o casal tivesse um pouco de privacidade para conversar enquanto caminhavam lado a lado.

— Parecia que o Spaak queria falar mais alguma coisa com você.

— Ele quer. E eu sei até o que. Provavelmente será outra bronca.

— Por quê? – perguntou, intrigada.

O rapaz olhou para os lados e pensou nas melhores palavras para o que teria de dizer.

— Espero que não fique muito brava comigo, mas eu terminei meu último combate com tempo suficiente para te auxiliar no momento em que o troll te derrubou no chão, mas eu decidi deixar você lidar com a situação sozinha. Fiz isso porque confio na sua capacidade. Além disso, fiquei pronto para intervir caso algo desse errado.

— Obrigada, Kayan. Eu... eu te amo.

A garota deu um breve beijo no rosto do rapaz pouco antes de, constrangida, correr para o lado de Spaak. Kayan ficou alguns segundos estático enquanto pensava no que havia acabado de acontecer. Depois, juntou-se ao trio e, diversas vezes durante o resto dia, trocou olhares com a garota, que desviava o rosto corado para o lado oposto sempre que ele o fazia.

* * *

Três dias completos se passaram desde a batalha na península de Darthan. Nesse meio tempo, a comitiva da aliança seguiu, a passos lentos, rumo à fortaleza de Naubusec. Apenas no entardecer do terceiro dia o objetivo foi alcançado.

As sentinelas foram posicionadas em um perímetro de meia lua em volta da base dos orcs, mantendo sempre uma distância de segurança de pelo menos cinco quilômetros. De maneira estratégica, o acampamento foi montado em sua forma integral. Além das pequenas barracas utilizadas por todos para passar a noite, também foram armadas grandes tendas reservadas para reuniões estratégicas, alimentação, arsenal, entre diversas outras coisas.

Os magos de Drugstrein ficaram no acampamento central, enquanto os de Kaz Barak dividiram-se e ocuparam cada metade uma das pontas do semicírculo. Outros dois acampamentos centrais ficaram apenas com anões. Ao extremo nordeste do acampamento passava um rio. Não era muito largo ou com grandes volumes de água, mas a mantinha em quantidades suficientes até para que todos se banhassem com a intensidade que quisessem.

Como a fortaleza era protegida por montanhas em sua retaguarda, era possível que as sentinelas verificassem se alguma retirada estava sendo feita ou reforços estavam a caminho.

Enquanto uma reunião estava sendo executada entre mestres das duas ordens e artesões dos anões, a maior parte dos presentes no acampamento teve tempo livre para fazer o que quisessem.

Os gêmeos Wigg estavam adormecidos em sua tenda enquanto seu irmão mais velho saía do local de maneira sorrateira. Karion vestia-se com seu uniforme casual. Este era formado por uma calça na cor bege e uma blusa de manga longa de um tom vermelho opaco, com detalhes na mesma cor da calça. Seus pés estavam protegidos por botas e uma espécie de cachecol pendia em seu pescoço.

O rapaz caminhou pelo acampamento de forma despreocupada, parecendo totalmente alheio à batalha que poderia ter início a qualquer momento. Passou a alguns metros de um grupo de anões que se aqueciam em uma fogueira. Os pequenos seres fitaram-no com curiosidade, porém, ele fingiu nem notar.

Após passar por mais algumas tendas solitárias, o rapaz chegou a uma das barracas maiores, que era utilizada pelos anões para algo que ele não fazia a menor questão de saber. Assim que contornou este novo obstáculo se deparou com seu objetivo.

Nathie estava recostada em um dos mastros de sustentação da tenda de cor cinzenta. Seus cabelos negros e cacheados estavam soltos e se agitavam ao sabor do vento. Ela também trajava seu uniforme da ordem, que era composto por uma calça na cor azul e uma camiseta branca, coberta por uma jaqueta pouco mais clara que a vestimenta de suas pernas. Calçava sapatos de cano baixo e seu agasalho era a peça de roupa onde o distintivo de Drugstrein estava contido. Seus olhos verdes fitavam as montanhas no horizonte.

Um sorriso curvou os lábios femininos assim que ela percebeu a aproximação sorrateira de Karion. Ele parou a pouco mais de um metro de distância, então a garota virou-se para encará-lo.

— Disse que queria falar comigo? – perguntou.

As intenções do rapaz não eram exatamente conversar. Para comprovar isto, ele segurou a mão direita da moça com força e a puxou para junto de si. Seus lábios procuraram os dela. Um beijo intenso e cheio de volúpia se iniciou. A princípio Nathie tentou resistir, mas, por fim, acabou cedendo e se entregando as carícias do rapaz.

— Senti sua falta – disse ele, por fim.

A garota sentiu o rubor em sua face se evidenciar enquanto mantinha-se abraçada ao corpo masculino.

— Mentiroso – respondeu em uma voz muito baixa, quase inaudível.

— Falo a verdade.

— Você sentiu falta é de fazer sexo – sua intenção era ser agressiva, porém, sua voz apenas transmitiu uma pontada de tristeza.

Ele limitou-se a acariciar os cabelos encaracolados da garota enquanto a mantinha envolvida em seus braços. Por fim, resolveu quebrar o silêncio que tinha se instaurado. Aproximou seus lábios da orelha da garota e lhe sussurrou:

— Sabe que não é verdade. Sabe que gosto de você de verdade.

Em seguida beijou-lhe o pescoço, o que causou um breve arrepio no corpo feminino.

— Se o que diz é verdade, porque não aceita nosso namoro publicamente.

— Porque não posso – sussurrou novamente.

— Tudo por causa dessa sua ambição.

— Sabe que é algo importante para mim.

— Sei... – suspirou pesadamente. – Só não entendo no que isso impede você de levar uma vida normal como qualquer outro rapaz. Poderíamos namorar, nos casarmos e termos filhos. Isso até iria ajudar você a completar sua “ambição”.

— No momento certo sim, mas este momento ainda não chegou.

— Sempre misterioso – ela desvencilhou-se do abraço e acariciou a face do rapaz com sua mão direita. – Nem mesmo seus irmãos sabem dos seus planos?

— Apenas eu sei – respondeu de maneira seca.

Nathie deslizou suas mãos para os ombros do rapaz e, a seguir, para as costas. Então, beijou-lhe os lábios de forma carinhosa.

— Droga... por que eu tinha que amar justamente a pessoa mais complicada da ordem toda? – protestou a garota.

Enquanto ela recostava a cabeça no ombro masculino, Karion demonstrava um simples sorriso pretensioso. Depois, desceu suas mãos pela lateral do corpo feminino e segurou a delicada mão esquerda da garota entre a sua direita.

— Será que a sua barraca está vazia? – perguntou.

— Sim. A Aghata está naquela reunião e a Anita disse que ia tomar um banho. Acho que as duas vão levar pelo menos meia hora para voltarem.

— Então teremos um pouco de tempo.

O casal seguiu pelo acampamento em direção a tenda que fora comentada há pouco. Ao chegarem à pequena barraca, Nathie parou de caminhar e segurou, também, os movimentos de Karion puxando-o pela mão.

— Lembre-se do que combinamos. Já que você não quer assumir nosso romance, então lhe peço pelo menos que seja fiel.

— Sabe que eu serei.

Ele a beijou de maneira carinhosa e, só então, entraram na tenda.

* * *

A noite se passou sem nenhuma inconveniência. Na manhã seguinte, porém, assim como foi decidido na reunião, a batalha teria início. O plano seria muito simples: ataque direto em todos os cinco flancos.

A primeira batalha não tinha nenhuma pretensão de tomar a base inimiga, mas sim, de testar suas defesas. Os preparativos levaram quase uma hora para serem feitos. Nesse meio tempo os povos bárbaros mantinham-se em seus postos para se defenderem do ataque eminente.

Os aliados avançaram em quase metade do perímetro da imponente fortaleza. Os anões bradavam seus gritos de guerra enquanto os urros dos trolls e gigantes podiam ser ouvidos a quilômetros de distância.

Assim que se aproximaram um pouco mais dos inimigos algo os surpreendeu: o céu tornou-se completamente rubro. Segundos após isso, diversos meteoros surgiram diretamente das torres da fortaleza e rumaram contra os batalhões da aliança.

A batalha finalmente havia começado.


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Notas finais do capítulo

E mais um mês chegou e com ele o tão prometido capítulo. Pois bem, esse arco está se aproximando de seu clímax e vocês já devem imaginar que a equipe de Spaak chegará bem no meio da batalha.

E o que tem achado de Karion e Nathie? Será que eles tem futuro? E sobre Gorgar? Gostam dele? Ou o odeiam?



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