A Ordem de Drugstrein escrita por Kamui Black


Capítulo 48
Batalha na Península de Darthan - Parte 1


Notas iniciais do capítulo

A vitória esmagadora ao defender Gynoolock, uma nova decisão deve ser tomada.



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Capítulo 047

Batalha na Península de Darthan (Parte 1)

Os cinco anciões dos anões estavam reunidos em torno da enorme mesa redonda de madeira de carvalho. O salão onde estavam também era em formato circular e situava-se na casa comunal dos Truin, maior clã de anões de Gynoloock. Era uma sala feita com pedras cinzentas e cortadas em blocos. Diversas tochas mantinham a iluminação enquanto armas feitas em ouro e prata decoravam o ambiente.

Juntamente aos anões estavam todos os mestres das três ordens de magos presentes naquela guerra, assim como o granmestre de Kaz Elenak. Quem lhes dirigia a palavra era Spaak.

— Sim, podemos confiar na informação que eu obtive de Turenhead. Ele tem usado a fortaleza de Naubusec, dos orcs, como uma central de operações nesta guerra.

— Não queremos duvidar de suas palavras, Spaak, mas gostaria de entender como você conseguiu essa informação – um dos mestres de Kaz Barak argumentou.

— Digamos que o general dos taurinos tem uma boca muito grande e gosta muito de contar vantagem. Ele nunca iria imaginar que eu poderia escapar dele sem alguma ajuda.

— Então, Artesão das Correntes em Chamas, o que sugere que façamos com essa informação?

O mestre sorriu ao ouvir o título recém adquirido depois da batalha da noite anterior. Em seguida, voltou com sua ideia.

— Vamos atacá-los em seu próprio covil.

Uma discussão começou a tomar forma no ambiente. Os anciões anões argumentavam entre si. Os mestres comentavam sobre a declaração entre os de suas respectivas ordens.

— Spaak, acho que entrar em território inimigo seria extremamente perigoso – contestou-o Jonathan.

— Talvez. Mas não podemos nos esconder para sempre. Quanto mais tempo hesitarmos, mais vidas serão perdidas.

— Concordamos com o Artesão das Correntes em Chamas – o mais venerável dos anões ergueu sua voz. – Enquanto ficamos protegidos em Gynoloock, nossos clãs sofrem com a guerra. Além das cidades humanas que não tem nem uma fração da defesa que temos. Concordamos em marchar sobre a Península de Darthan e derrubarmos a fortaleza que os orcs levaram tantas décadas para levantar.

Com a decisão dos anões tomada, ficou muito mais fácil para que os mestres concordassem que essa era a melhor possibilidade de exterminar a guerra de uma vez por todas. Se a fortaleza caísse e a península ficasse livre de povos bárbaros, era possível que não houvesse mais guerra durante vários anos.

* * *

Kayan permanecia com os olhos fechados apenas ouvindo. Sabia que estava sendo observado, mas isso não lhe incomodava. Ele estava recostado em uma árvore de tamanho colossal. Seu tronco era escuro e retorcido e ela estendia-se a mais de dez metros de altura, ao seu redor, pequenas vegetações cercavam o local, assim como algumas rochas.

Algo que o jovem mago ouviu fez com que ele se pusesse em movimento. Avançou de maneira veloz e, em seguida, girou o corpo, erguendo ambos os braços. Em suas mãos estava bem seguro o punho de uma espada. A lâmina desta tinha quase um metro de comprimento e era estreita, reluzindo a luz do sol.

Com o movimento que ele havia feito no instante passado, conseguiu amparar o golpe fulminante da arma de um anão: uma espada mais curta e mais larga que a sua própria. O som do impacto foi estridente e faíscas saltaram ao ar com ele. O atacante, que havia investido com um salto, foi arremessado para trás e caiu em pé.

Kayan deixou escapar um pequeno sorriso quando viu que Grinllin aproximava-se com o mesmo armamento do irmão de clã. Eles combatiam com espadas de treinamento, que eram cegas para que não cortasse quem fosse atingido por elas. Mesmo assim, hematomas poderiam surgir no caso de um impacto.

O mago lutava de maneira fugaz. Sua velocidade e destreza surpreendiam os anões. Ele utilizava sua aura para ampliar suas habilidades físicas e conseguir se equiparar a dois deles ao mesmo tempo. Sua plateia era formada por Sarah – a qual ele fazia questão de tentar impressionar – Anita e Nathie. As três garotas exclamavam sempre que um novo golpe era desferido contra o rapaz.

Não levou muito tempo até que o rapaz retomasse a iniciativa do combate. Ele avançou veloz contra o mais baixo dos anões, enquanto fazia movimentos inconstantes pra confundi-lo.

Atacou.

Os golpes rápidos e precisos do mago foram suficientes para desarmar seu adversário, que acabou sendo atingido na perna direita, costelas e ombro. Kayan havia reduzido sua força para não feri-lo desnecessariamente.

Grinllin avançou contra o jovem, que se defendeu de suas investidas com grande êxito. O anão era um excelente combatente, mas as habilidades ampliadas com aura do mago foram superiores. O Turulhin também foi desarmado e recebeu uma estocada no peito que o derrubou ao chão.

— Foi uma boa luta, artesão espadachim Kayan. Nunca iria esperar perder um combate de armas para um artesão – disse Grinllin enquanto o mago lhe ajudava a se levantar.

— Você deveria gastar seu tempo treinando magia ao invés de ficar aí brincando.

Spaak disse, no mesmo tom de voz divertido de quando fazia algum tipo de brincadeira, enquanto aproximava silenciosa e lentamente do grupo.

— Hum... eu acho que praticar o manejo de uma espada é importante, nunca sabemos quando poderemos precisar disso – respondeu o jovem.

— Interessante. Então quero que me mostre do que é capaz.

O mestre respondeu-lhe enquanto pegava uma das espadas de treinamento que estavam posicionadas em um canto, recostadas em uma rocha particularmente grande.

— Spaak, você também sabe lutar com armas? – questionou-lhe Sarah.

— Um pouco – foi a resposta. Ele deixaria que todos vissem com seus próprios olhos.

Um breve segundo mais tarde as espadas estavam entrecruzadas em uma espécie de medição de forças. Ambas as lâminas eram praticamente idênticas, sendo assim, a única vantagem que o mestre teria seria seu tamanho. Spaak e Kayan tentavam golpear um ao outro com suas espadas sem fio de lâmina, mas cada investida terminava em uma defesa de igual valor.

Os minutos foram passando e as investidas continuavam. Depois de um tempo, além de faíscas as armas começaram a emitir pequenos feixes luminosos ao se chocarem, isso se devia a uma quantidade absurda de aura empregada nos ataques. A velocidade, força e complexidade aumentavam conforme os dois magos esforçavam-se, mas, mesmo assim, eles não se tocavam em nenhum momento, a não ser que fosse espada contra espada.

Depois de um certo tempo, ambos afastaram-se. Os dois rapazes estavam ofegantes e tensos, nenhum deles desistiria do embate até que um estivesse desarmado ou caído. Foi então que Spaak surpreendeu Kayan e a todos os presentes com um feitiço conjurado de maneira rápida e fugaz. Uma lâmina de fogo foi lançada contra o Atreius, que teve de utilizar toda sua velocidade para esquivar-se. Quando conseguiu, surpreendeu-se com o fato do mestre aproximar-se logo atrás do feitiço. Spaak, então, apontou o extremo da arma para o pescoço do jovem.

— Acabou – o mestre disse em meio a um sorriso vitorioso.

— Hei! Não valeu, você utilizou magia – protestou Kayan.

— Lógico que valeu, no amor e na guerra vale tudo. Guarde esta lição.

— Não estamos em guerra, Spaak.

O rapaz disse enquanto ambos guardavam as espadas. Ele não parecia nem um pouco aborrecido.

— Não, mas era a simulação de um combate, então...

— Isso foi simplesmente incrível!

Nathie o interrompeu enquanto aproximava-se junto as outras duas garotas.

— Deixemos isso de lado, pois vim apenas para dizer a vocês qual foi a decisão tomada na reunião. Aghata viria comigo, mas ela foi resolver algumas outras pendências.

Spaak cortou o assunto rapidamente, temendo que este se alongasse demais

— E qual foi a decisão? – perguntou Anita, curiosa.

— Amanhã, ou, o mais tardar, na manhã seguinte, partiremos rumo a península de Darthan. Nós iremos nos lançar ao ataque junto aos magos de Kaz Barak e muitos dos anões. Os magos de Kaz Elenak, assim como o seu granmestre ficarão aqui para proteger a cidade de possíveis ataques.

— Ataque direto? – Sarah mordeu o lábio inferior de leve indicando preocupação. – Não seria um pouco perigoso demais?

— Acho uma boa ideia. Assim poderemos acabar com essa guerra mais rápido. Não tenha medo, Sarah, eu vou te proteger se algo der errado. Também prometo não agir de maneira inconsequente no meio do campo de batalha.

Kayan disse enquanto fitava a garota, que deixou um sorriso, ainda inseguro, transparecer em seus lábios.

Após isso, todos seguiram em direções diferentes. Muito ainda havia de ser feito antes que eles pudessem partir rumo a sua nova campanha.

* * *

Toda a organização necessária para um grande exército marchar pela península de Darthan até a fortaleza órquica de Naubusec era algo extremamente trabalhoso. Justamente por causa disso, só foi possível que a aliança partisse de Gynoloock ao terceiro dia após ter sido tomada tal decisão. A viagem era lenta e feita a pé por causa de tantas provisões que teriam de ser carregadas, portanto, demoraria alguns dias até que o objetivo fosse alcançado. Durante esse meio tempo, todos puderam seguir viagem conversando.

— Eu já pedi reforços para Drugstrein, Jonathan. Eles devem chegar em alguns dias – disse Spaak.

— É bom que você tenha feito isso, acho que essa guerra não vai terminar assim tão fácil – respondeu o outro mestre.

— O problema será: quem vai enfrentar o general Turenhead quando chegarmos em Naubusec? – perguntou Sarah.

— Spaak e eu.

Kamui, que estava um tanto quanto afastado, aproximou-se ao descobrir qual era o assunto do momento.

— Nem pensar, senhor Atreius, não depois do trabalho que me deu pra curá-lo.

Sarah retrucou e o mago negro sorriu para ela antes de dizer algo.

— Você cuida de mim de novo se algo acontecer.

O comentário fez com que a garota arqueasse a sobrancelha. Foi então que Spaak informou sua decisão.

— Três mestres devem enfrentá-lo para que tenhamos alguma chance de vencê-lo. Eu acho que o trio perfeito seria Aghata, o Jonathan aqui e eu.

O outro mestre limitou-se a acenar afirmativamente com a cabeça.

O planejamento inicial era que eles conseguissem atravessar as montanhas baixas que antecediam a península na manhã do terceiro dia de viagem. Porém, uma chuva os castigou logo na manhã do segundo dia e isto os atrasou muito. Toda a comitiva seguiu a marcha com capas de chuva, mas a terra molhada e as rochas escorregadias retardaram a comitiva ao ponto de ser possível avançar pouco mais que a metade do percurso até o fim do dia.

Antes mesmo de anoitecer completamente, os acampamentos foram montados e, para o alívio da maioria, todos puderam se abrigar da chuva. Reclamações pelo segundo dia sem poderem se banhar invadiram o local, mas eles apenas encontrariam um rio no planalto ou mais ao leste das montanhas.

A manhã do terceiro dia nasceu com um céu carregado de nuvens, mas não chovia mais, o que trouxe um grande alívio aos magos e anões.

A viagem seguiu a marcha tão lenta quanto ao dia anterior. Isso chegava a entediar a maioria dos magos, já que quem os atrasava eram os anões, que possuíam uma resistência muito maior, mas a velocidade proporcionalmente menor.

Pouco antes do almoço algo aconteceu para mudar a situação: os magos de Kaz Barak, que seguiam a frente, avistaram muitos goblins correndo em sua direção.

Uma batalha começou. Os anões e magos mais próximos avançaram contra seus inimigos, enquanto os de Drugstrein correram para entrar no combate. Quando estes chegaram, porém, ela já havia terminado e muitos dos inimigos conseguiram escapar ilesos.

A opinião geral refletiu em apenas uma coisa: eles eram batedores de um exército maior e, dentro em breve, as montanhas seriam o palco de uma grande batalha.

Logo após a parada para o almoço, quando todos começaram a se mover novamente e uma chuva muito fina recomeçou, eles puderam avistar os primeiros orcs marchando em direção aos combatentes da aliança. Junto aos inimigos eles puderam ver goblins, gnolls e alguns trolls.

Sob a garoa a batalha teve início. Do lado norte, os enormes e imponentes orcs avançavam em uma corrida acelerada, que fazia com que a terra e rochas das montanhas tremessem. Do outro lado, os anões corriam de maneira ordenada conseguindo ainda mais velocidade. Golens foram conjurados pelos artesões enquanto eles próprios faziam seus feitiços de terra para destruir seus inimigos.

Os gnolls defendiam seus atacantes contra os projéteis lançados de longe. Nesse meio tempo, os magos humanos combatiam-nos com seus feitiços numa tentativa de furar as defesas adversárias.

— Kayan, Sarah, derrubem os gnolls. Eu cuidarei dos trolls que se aproximarem.

Assentindo com a cabeça, o casal avançou contra a massa cinzenta e esverdeada que inundava o território a sua frente. O combate corpo-a-corpo teve seu início. Mesmo com a desvantagem de seu tamanho, os guerreiros anões não eram facilmente subjugados pelos orcs, que tinham o dobro de sua altura.

Com terra e gelo, os magos combatiam os gnolls que tentavam enfraquecer os contingentes dos anões. A terra tremia e não demorou muito tempo para que desmoronamentos começassem a surgir em diversos locais. Terra e pedras começaram a ser lançadas contra os aliados. Apesar dos artesões anões tentarem conter todo o desmoronamento, grande parte dele ainda soterrava ambas as raças ali presente. Apenas os magos pareciam escapar ilesos com a situação toda.

Kayan e Sarah, que haviam derrubado uma infinidade de gnolls, agora não viam mais nenhum dos magos dos bárbaros pela região onde estavam do campo. Spaak combatia, próximo a eles, um troll de tamanho assustador. Muito perto, estava a equipe de Aghata, que enfrentava, junto aos anões, muitos orcs.

Alguns deles aproximaram-se do casal. O mago negro, então, utilizou um crisis katris para derrubar dois dos guerreiros esverdeados. Outros três surgiram da fumaça, o que os forçou a afastar alguns passos para trás. Não levou muito tempo para que eles estivessem encurralados entre os seus pretensos algozes e um desfiladeiro profundo.

— Kayan! Nós não podemos mais nos afastar, senão vamos cair.

— Eu sei, Sarah, não se preocupe.

As chamas surgiram das mãos estendidas do mago. Então, elas se lançaram, em forma de labaredas, contra os orcs. Uma enorme explosão pegou todos os três. O impacto do feitiço, porém, causou um novo tremor de terra. A trepidação fez com que rachaduras se formassem em toda a região. Por fim, Kayan pode ver que estas se dirigiam para onde eles estavam.

No exato segundo seguinte, o Atreius pôde contemplar, abismado, que a terra sob os pés de Sarah, que estava logo as suas costas, cedeu. Com isso, a garota perdeu o equilíbrio e caiu, de costas, desfiladeiro a baixo. Ela gritou, mas antes mesmo de ouvir tal grito, o rapaz jogava-se atrás dela, sem nem pensar antes de agir.

— Kayan! Sarah!

Um grito foi ouvido vindo da direção de Spaak enquanto ele lacerava o troll contra o qual lutava. A seguir, ignorando os outros inimigos, correu até a beira do desfiladeiro onde ambos haviam sumido. Cogitou a hipótese de segui-los, mas foi impedido por Aghata, que o segurou pelo braço.

— Nós precisamos de você aqui. Por favor, não vá.

Ele a encarou e o olhar que ela lhe lançava o induziu a pensar direito no que iria fazer.

— Eles também precisam – argumentou.

— Não tanto quanto nós. Eles não enfrentarão uma batalha lá embaixo. Kayan saberá o que fazer, confie nele.

Spaak mordeu o lábio inferior ao perceber que o que a Willian lhe dizia era a mais pura verdade.

— Certo. Vamos voltar para a luta.

A batalha se seguiu durante horas, até que a vantagem do lado da aliança começou a aumentar. Os orcs começaram a ficar acuados quando perceberam que não havia nenhum troll ou gnoll junto a eles. Os goblins começaram a discutir entre si no idioma órquico. Por fim, eles começaram a se retirar do combate, os anões de melhor visão puderam ver que eles seguiam de volta para o norte, provavelmente para se reagruparem em algum outro local.

Alguns pensaram em seguir os inimigos, mas os líderes, tanto dos anões quanto dos humanos, decidiram que o melhor seria descansar e lutar em um outro dia.

* * *

A encosta da montanha passava veloz diante dos olhos de Sarah enquanto ela caía. No momento em que ela viu que Kayan havia saltado atrás de si, ela parou de gritar. Não sabia por que, mas, embora o medo ainda atingisse o seu corpo, ela tinha confiança de que tudo acabaria bem.

Num movimento rápido, o jovem mago juntou os braços ao corpo na intenção de aumentar sua velocidade em um mergulho. Em dois segundos ele já havia se aproximado o suficiente da companheira de equipe e lhe estendeu a mão. Sarah esticou seu braço direito e os dedos das mãos do casal se entrelaçaram. Rapidamente, Kayan a puxou junto de si e a abraçou muito forte, como se suas vidas dependesse disso. Após isso, gritou.

— Agora Sarah! Aurus pinn!

Juntos, o casal lançou o feitiço com sua mão esquerda, uma vez que a direita permanecia bem segura uma na outra. O escudo de energia se alongou cobrindo toda a lateral do corpo dos dois e chegou até a extremidade da montanha, tocando a rocha.

Num grande esforço, ambos fizeram com que ele penetrasse na terra e pedras até que a velocidade da queda começasse a ser reduzida. Eles podiam sentir a vibração intensa do ato, mas estava claro que iriam sobreviver.

Assim que o chão ficou muito próximo e o escudo o tocou, Kayan girou o corpo e apertou o de Sarah junto ao seu. Desta maneira, o rapaz pôde utilizar suas próprias costas envolvidas em aura para terminar de amparar a queda que o escudo de energia não conseguisse suportar.

Eles não tiveram um pouso realmente confortável. Porém, o rapaz saiu dessa apenas com uma leve dor nas costas que passaria com o tempo.

— Sa... Sarah, você está bem?

Perguntou para a garota. Assim que ela percebeu que suas faces estavam bem próximas uma da outra e ela se mantinha deitada em cima do rapaz, corou, constrangida. Por fim, respondeu.

— Sim. Estou é preocupada com você que absorveu toda a força do impacto.

— Não se preocupe com isso, eu estou bem. Espero que você esteja confortável.

— Eu...

Desistiu de responder e investiu seus esforços em se levantar o mais rápido possível. Após isso, ajudou o rapaz a fazer o mesmo. Ambos limparam a terra que maculava suas roupas e olharam para cima.

— Acha possível subirmos de novo? – perguntou Sarah, por fim.

— Talvez. Poderíamos formar degraus com o feitiço clayn. Mas tem um problema: com essa chuva, a encosta da montanha pode estar escorregadia e subir nela pode ser perigoso. Além disso, demoraria um tempo considerável. Além de esgotar nossas energias.

— Então... o que sugere?

Ambos desviaram seu olhar da montanha e voltaram a se encarar.

— Se contornarmos esta montanha, estaremos diretamente na península de Darthan. Acho que seria a melhor escolha.

— Certo.

Ainda castigados pela chuva que aumentava cada vez mais, o casal pôs-se a se mover pela região montanhosa. Era um caminho ainda mais difícil que o de cima dela. No entanto, por não contar com o atraso proporcionado pelos anões, eles chegaram a conclusão de que poderiam chegar ao mesmo tempo que os outros que utilizavam o caminho mais curto.

Passado poucas horas de caminhada, quando a noite estava próxima de cair e a chuva havia dado uma trégua, Sarah percebeu algo que a deixou intrigada: um goblin aproximava sorrateiro de onde eles estavam.

— Vamos fazer silêncio.

Kayan disse assim que ela lhe mostrou o que tinha visto. A seguir, ele a puxou para uma pequena fresta na rocha onde poderiam se esconder. Era um local apertado, mas era o suficiente para observarem sem serem observados.

O goblin passou por eles sem os perceber, após isso, alguns outros fizeram o mesmo trajeto. O casal chegou a conclusão de que deveriam ser batedores, assim como o que eles haviam encontrado na batalha da qual tinham escapado – mesmo sem a intenção.

Com a possibilidade de encontrarem um batalhão inteiro de orcs a frente, eles seguiram com ainda mais cautela que antes. A qualquer momento poderiam precisar se esconder de inimigos, e teriam de estar preparados para isso.

— Estranho não cruzarmos com os orcs ainda – comentou Sarah enquanto corriam em torno da montanha.

— Sim, é isso o que me preocupa.

— Não tem como sermos surpreendidos por uma tropa inteira.

— Espere – sussurrou Kayan enquanto segurava o braço da garota, fazendo, assim, com que ela parasse de correr.

— O que foi?

O rapaz não lhe respondeu, simplesmente limitou-se a ficar sério e olhar para a montanha, como se procurasse por algo. Alguns segundos de espera se passaram até que ele descobrisse o que procurava. Saltando de meio as rochas e caindo logo a sua frente, surgiu um orc de tamanho superior a todos os outros que o casal já havia visto.

Ele estava vestido com uma armadura totalmente feita de aço. Em sua cabeça um elmo ornamentado com dois chifres curvos deixava que seus cabelos negros, crespos e trançados lhe caíssem as costas. Ele não portava arma alguma, apenas um par de luvas com ferrões justamente em cima da junção dos dedos com a mão.

Um urro alto e em uma voz grossa assustou Sarah e fez com que a garota procurasse abrigo escondendo-se atrás das costas de Kayan, que permanecia firme encarando o inimigo.

— Ora, ora, ora, o que temos aqui. Dois magos perdidos de seus caminhos.

Ambos surpreenderam-se com o fato da criatura falar seu idioma tão fluentemente, porém, não o demonstraram. Sarah recuperou sua coragem e encarou o inimigo assim como o Atreius fazia.

— Quem é você? Não parece ser um orc comum – Kayan perguntou, por fim.

— Tem razão, eu não sou. Meu nome é Kiliker Broch. Já devem ter ouvido falar de mim.

Os magos arquearam a sobrancelha, nunca tinham sequer cogitado a ideia de que orcs também tinham nomes. Depois concluíram que até mesmo os trolls deveriam ter e que, para os inimigos bárbaros, os nomes humanos também pouco importavam.

O inimigo, por sua vez, não ficou feliz com a reação dos dois à sua frente. Novamente urrou como tinha feito no primeiro contato visual. Enquanto emitia seu som grotesco mantinha-se arqueado para frente, exibindo o peitoral e os dentes afiados. Após isso, voltou a sua postura ereta e voltou a falar com sua voz grossa e rouca.

— Para vocês que são completos desinformados eu direi quem sou. Sou o mestre da guerra Kiliker Broch. Sou o maior dos maiores entre os orcs. E, mais importante, estou substituindo o general Turenhead enquanto ele está fora do comando de Naubusec.

— Informação interessante a que você acabou de nos passar. Quer dizer que Turenhead não está na fortaleza dos orcs – provocou Kayan. – O que ele está fazendo?

Kiliker mostrou os dentes e soltou um rosnado baixo. Não gostou de ser motivo de gozação, principalmente porque desconfiava que estava sendo subestimado por conta do general dos taurinos. Por fim, disse.

— Isso não interessa à vocês. O importante é que agora eu marcharei sobre Gynoloock por dois caminhos diferentes. E vocês dois perecerão antes que isso aconteça.

— Será mesmo? – Kayan voltou a provocar. – E se Naubasec desaparecer antes disso?

— O que quer dizer com isso? – perguntou o orc, intrigado.

Sarah encarou o amigo sem entender nada, no entanto, ele continuou a revelar as ações que os aliados planejavam fazer.

— As suas tropas que seguiam montanha acima entraram em conflito contra as tropas aliadas. Nós acabamos por nos separar do grupo há algumas horas, mas nossa vantagem numérica era visível.

Kiliker arregalou os olhos com o espanto da notícia. A seguir, sua expressão facial deu lugar a outra que representava a mais pura raiva.

Foi em meio a toda essa raiva e ira que ele avançou contra os dois magos. Preparado para o caso disso vir a acontecer, Kayan avançou contra ele imediatamente.


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Notas finais do capítulo

O que acharam deste duelo de espadas entre Kayan e Spaak?

E o que será que vai acontecer nesse combate entre Kiliker e Kayan?



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