A Ordem de Drugstrein escrita por Kamui Black


Capítulo 47
Batalha de Gynoloock - Parte 2


Notas iniciais do capítulo

Finalmente a batalha e possivelmente um novo rumo para a guerra.



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Capítulo 046

Batalha de Gynoloock (Parte 2)

Apesar do susto que Kayan e Sarah receberam ao serem atacados por um aliado, ambos conseguiram bloquear o ataque com uma barreira em conjunto. A imponente rajada elétrica chocou-se contra o escudo de energia em um estrondo seco, forçando ambos a utilizarem todos os seus esforços para se protegerem.

Passado o susto, um outro de mesma magnitude os atingiu. Anikin, ainda de olhos fechados, levantou-se de maneira lenta e silenciosa. A seguir, sua face voltou-se na direção dos dois jovens ali presentes. Kayan prestou muita atenção em seus movimentos, para ele, parecia que o granmestre estava em uma espécie de transe incomum.

Ele, então, estendeu o braço e, consequentemente, a mão direita em direção ao casal. Um poderoso turbilhão de chamas surgiu da palma estendida e se dirigiu a eles. Num ato de puro reflexo, eles se encaram e cada qual saltou para seu lado. Um enorme explosão se seguiu, destruindo grande parte do solo e alguma vegetação presente. Aquilo alertou muitos anões e alguns magos das intermediações.

Kayan pensou rápido e decidiu que a melhor escolha seria chamar a atenção de seu agressor para si mesmo, e desviá-la de Sarah. Assim o fez e disparou uma rajada de fogo com toda a força que conseguiu reunir. As chamas, porém, chocaram-se contra uma parede invisível e espalharam-se em várias direções deixando o alvo intacto. Ao menos o plano do mago deu certo e Anikin – ainda de olhos fechados – voltou-se contra ele, praticamente ignorando a garota.

O mago de cabelos negros preparava-se para se defender ou esquivar de qualquer ataque que fosse dirigido contra ele. A maga de cabelos castanhos, por sua vez, preparava-se para atacar o agressor na tentativa de poupar o amigo e companheiro de equipe de tal agressão. Nenhuma dessas coisas aconteceu.

— Hargyou.

De repente Anikin parou seus movimentos e, lentamente, abriu seus olhos de maneira desconcertada. O casal de magos desviou a atenção para a pessoa que havia dito a palavra que havia acalmado o granmestre. Era um homem de meia idade. Os cabelos lisos e divididos ao meio continham algumas mechas esbranquiçadas, mas eram de um tom castanho escuro. Sua pele era muito clara e a capa branca com detalhes prateados impunha respeito. Ao lado esquerdo de seu peito estava um brasão da ordem de Kaz Elenak.

— Vocês dois estão bem? – perguntou, por fim.

— Sim – respondeu Kayan em nome dos dois.

— Eu... sinto muito pelo ocorrido. Pensei que ninguém entraria dentro do meu perímetro – o granmestre falou pela primeira vez. Sua voz era calma e melodiosa.

— Como assim? – perguntou Sarah.

— Sinto-me desonrado em ter atacado companheiros, mesmo que essa não fosse minha intenção.

O semblante do granmestre era de uma profunda amargura. Naquele exato instante, os dois magos de Drugstrein, assim como os anões que haviam se aproximado, perceberam que ele realmente não fez o que fez por sua própria vontade. Porém, antes que qualquer um pudesse dizer algo mais, Anikin saltou, impulsionado por sua aura, em direção da construção mais próxima. Em seguida, impulsionou-se novamente e pousou apenas na montanha que a cercava para, então, sumir da vista de todos os presentes.

— O que aconteceu aqui? – perguntou Kayan, ainda muito confuso.

— O granmestre Anikin desenvolveu um encantamento sobre si mesmo que faz com que ele seja capaz de se defender mesmo estando inconsciente – o mestre de Kaz Elenak começou a explicar. – Quando ele está meditando, é como se estivesse inconsciente, então o encantamento se ativa se alguma coisa ou alguém entrar em sua área de alcance.

— O granmestre é uma pessoa honrada, mas não deveria arriscar-se no meio de tantas pessoas – disse um anão que se aproximava.

— Realmente foi um erro, mas ele nunca iria esperar que alguém se aproximasse dele aqui. Era um local bem isolado.

— De qualquer maneira, obrigada por nos ajudar – Sarah agradeceu ao mestre.

— Era minha obrigação como um mestre de Kaz Elenak. A propósito, me chamo Grim Shorlow. E vocês, são?

— Kayan Atreius.

— Sarah Harppon.

— O que foi que você fez para pará-lo? Algum tipo e feitiço? – perguntou o Atreius, curioso.

— Na verdade, apenas falei a palavra hargyou. Ela quer dizer que estava seguro e ele poderia desativar o encantamento. Mas apenas funciona se proferida por alguém que ele conheça bem a voz e confie.

— Mas... para onde ele foi? – perguntou um dos anões.

Grim deu de ombros.

— Quem sabe? O granmestre Anikin sempre foi um pouco excêntrico. Quando algo o aborrece, ele simplesmente desaparece e, depois, reaparece como se nada tivesse acontecido. O grande problema é que isso pode levar apenas algumas horas, alguns dias ou até mais de uma lua.

— Quando ele voltar, poderia dizer que não deve se incomodar com o que aconteceu e que eu gostaria muito de conversar com ele? – Kayan pediu ao mestre.

— Certo, direi à ele.

Após breves despedidas, o casal de magos deixou a região da casa dos Terinäs e retornou para a casa comunal dos Turulhin, onde os demais magos de Drugstrein estavam reunidos.

* * *

O restante do dia se passou da mesma maneira monótona de sempre. Os magos treinaram suas habilidades durante horas a fio, enquanto periodicamente os batedores dos anões traziam notícias do que viam fora da fortaleza de Gynoloock.

Nas últimas horas, muitos goblins foram avistados rondando a região. Algumas vezes os anões tentavam abatê-los, mas eles eram mais rápidos e sempre conseguiam escapar. O clima foi se tornando mais tenso e esperavam um ataque a qualquer momento.

No entanto, tal ataque não aconteceu naquela noite e todos puderam dormir com tranquilidade, apesar da tensão que pairava no ar. Com a vinda da nova manhã, porém, isso estava para mudar.

Logo após o desjejum, todos os magos reuniram-se no centro da grande cidade anã para um treino coletivo e simulação de batalha. O treinamento, no entanto, mal teve seu início quando foi interrompido pelo granmestre Anikin, que entrou em cena em grande estilo. Ele havia saltado com a ajuda de sua aura do alto de uma das construções e “pousou” diretamente no centro deles.

— Seremos atacados hoje à noite.

Ele disse serenamente. Sua voz mantinha-se completamente calma.

— Como assim? – perguntou um dos mestres da Ordem de Kaz Barak.

— Dois exércitos de gigantes têm rumado para cá. Um deles vem do norte, o que é comum. Outro, porém, segue da direção leste, o que quer dizer que a cidade anã de Bonvurr deve ter caído em combate.

Foi então que o dia que tinha tudo para ser parado e comum tornou-se um verdadeiro alvoroço. A notícia espalhou-se rapidamente e os anões foram tomados pela fúria e promessas de vingança pelo clã que foi perdido na guerra.

Foi necessário que os magos interferissem para que eles se acalmassem e começassem a colaborar com os planos de defesa. Batedores foram enviados para detectar com precisão quando seria o ataque e a quantidade de inimigos. Após isso, equipes de magos foram posicionadas de forma estratégica junto aos artesões dos anões. Arqueiros esperavam nas torres e ao alto de três das cinco fortalezas, enquanto centenas de guerreiros posicionavam-se junto aos usuários de magia para o combate.

A espera foi de extrema aflição, mas valia a pena a vantagem que seria adquirida contra os atacantes dessa maneira. Foi só com a chegada do crepúsculo que os primeiros inimigos foram avistados. As equipes de Drugstrein posicionavam-se no lado leste da cidade, defendendo a casa dos Terinäs. Muito dos magos assustaram-se ao ver os gigantes se aproximando. Eles eram robustos e alguns tinham quase seis metros de altura. Vestiam-se com armaduras de couro batido e carregavam enormes maças, clavas, martelos de combate ou machados em suas mãos.

As flechas pareciam não causar dano maior que pequenas ferroadas na pele dos imponentes gigantes, mas os anões eram peritos em combater essa raça, que tinham como seus inimigos mortais. Sendo assim, as flechas começaram a ser miradas sempre em um mesmo alvo, até que, por insistência, eles caiam. Mas, apesar dos esforços dos arqueiros, apenas três deles tiveram o fim dessa forma e algumas centenas entraram em combate contra os defensores da fortaleza.

— Nunca vi tantos gigantes reunidos em um único lugar. Como eles conseguiram tal organização?

Grinllin Turulhin gritou em meio ao início do combate enquanto brandia um imponente escudo prateado na mão esquerda e um martelo de guerra na mão direita.

— É o general dos taurinos, Turenhead, ele tem organizado as forças bárbaras nessa guerra.

Jonathan respondeu-lhe com um outro grito em meio ao início do combate, ao mesmo tempo invocava três grandes golens. A seguir, fez com que os monólitos ardessem em chamas antes de dirigi-los contra três gigantes que se aproximavam na dianteira.

Ao lado deles, Kayan encarava o enorme contingente vindo em sua direção. Ele podia ouvir o grande estrondo devido a marcha forçada dos inimigos. O vento agitava seus cabelos enquanto ele, sutilmente, estendia a mão direita em direção a eles.

O Atreius teve um bom tempo para reunir sua aura e conjurou o crisis katris mais poderosos que foi capaz. Sete dos gigantes foram atingidos por sua explosão de grandes proporções. Provavelmente nenhum deles havia sido derrubado em definitivo, mas essa foi a chance para que dezenas de anões avançassem com seus machados e martelos de guerra.

A batalha que se desenvolveu a seguir foi violenta e brutal. Os anões atacavam as pernas dos gigantes até que eles caíssem, então lhes golpeavam na cabeça ou pescoço para dar um fim a luta. Alguns dos mais atrevidos arriscavam-se a escalar seu oponente e desferir um golpe fatal logo de início.

Os gigantes, por sua vez, brandiam suas armas de tamanho colossal, porém tinham dificuldades para atingir seus adversários, que eram alvos pequenos e ágeis. No entanto, quando um golpe tinha êxito, geralmente era fatal.

Os magos de Drugstrein lutavam com grande ferocidade. As cinco equipes, agora com alguns desfalques, lutavam sempre unidas. Cada integrante cobria o mestre, que liderava o ataque de maneira coordenada. Kayan substituía o mestre de sua equipe na ausência do mesmo.

* * *

Embora todos os magos humanos, anões guerreiros e artesões estivessem lutando bravamente, alguém se destacava na multidão. Não fazia nem meia hora que o combate havia se iniciado e Anikin já tinha derrubado mais de dez gigantes. Mesmo a resistência incrivelmente grande da raça não impedia que elas caíssem com os poderosos feitiços lançados sobre eles.

O granmestre lutava de maneira isolada. Sozinho ele combatia todo o flanco direito da região norte de Gynoloock. Isso se devia ao fato de que, se algum aliado tentasse ajudá-lo, poderia sair ferido mesmo sem que ele o quisesse. Anikin era detentor de um poder impar, ele podia invocar e controlar com perfeição qualquer uma das esferas, embora fosse quase impossível para ele qualquer feitiço branco ou negro.

Lampejos intensos de chamas destruidoras, um gelo capaz de atingir temperaturas incrivelmente baixas, golens de quase dez metros de altura e raios de potência inimagináveis assolavam a região e, consequentemente, os gigantes.

A batalha daquele lado da fortaleza dos anões estava visivelmente mais fácil. Além de ser o único com um granmestre, os magos de duas ordens encontravam-se naquele franco do combate. Também havia dois dos clãs dos anões e seus diversos golens e artesões poderosos.

Os arqueiros não temiam praticamente nada, a não ser algumas pedras arremessadas de longe pelos atacantes de tamanho colossal. Eles disparavam suas flechas contra os inimigos de maneira rápida e letal, ferindo vários ou até matando alguns antes mesmo que eles se aproximassem o suficiente para causar algum dano.

Nesse meio tempo, os guerreiros reuniam-se em grupos de três e formavam uma força de combate potente, conseguindo facilmente rivalizar com um dos gigantes.

No final, depois de quase três horas de confronto ele teve seu fim. Um dos magos humanos havia perdido sua vida. Alguns dos artesões também tiveram as suas levadas pelos gigantes, assim como muitos guerreiros.

No entanto, a maior perca foi dos gigantes, que, dos quase quinhentos combatentes, nenhum restou em pé, ou, tampouco, com vida.

Depois de tudo finalizado, pelo menos metade dos sobreviventes e saudáveis rumaram para o outro lado da batalha, na intenção de ajudar quem ainda estivesse por lá combatendo o inimigo. O restante ficou para resgatar os corpos de seus mortos e limpar o campo do que ficou de seus inimigos.

* * *

Do lado leste de Gynoloock as coisas estavam um pouco mais tensas. O número de gigantes era maior, apesar do número de defensores também ser. Justamente por isso a batalha tomou proporções maiores do que a do lado norte.

O clã dos Turulhin continha os melhores guerreiros de toda Gynoloock. Grinllin era um deles e, com seu escudo prateado, conseguia defender a si próprio e a seus companheiros dos ataques mais terríveis dos inimigos. Isso era possível graças a um encantamento que sua defesa possuía para aguentar impactos de grande força. Ele também contra atacava com ferocidade e velocidade, não deixando chances para o inimigo se defender.

Jonathan era aclamado pelos anões graças aos seus golens em chamas. Era uma técnica que o mestre havia desenvolvido para aumentar exponencialmente os danos causados contra gigantes.

Os artesões em combate também tinham um conhecimento muito grande sobre a magia, ou arte arcana como os anões a chamam, e conseguiam grandes feitos ao derrubar muitos inimigos.

Kayan e Sarah, além da equipe de Aghata, procuravam os líderes entre os atacantes, na tentativa de derrubá-los e desestabilizar o exército inimigo.

Anita e Sarah conjuraram um ryado em conjunto, formando uma poderosa tempestade de gelo. O feitiço não feria os inimigos, mas não era esse seu objetivo. Nathie controlou um crisis com o objetivo de derreter todo o gelo que se formou em volta do corpo robusto de cada um dos atacantes, que ainda investiam contra todos os cinco. Logo a seguir, Aghata invocou um poderoso raio elétrico e este formou um arco de gigante em gigante, atingindo cinco deles ao mesmo tempo.

Assim que viram os corpos adversários caídos, os anões avançaram para cima deles como formigas avançam sobre o açúcar. Mas eles não eram formigas e sim formidáveis guerreiros, que acabaram com seus adversários já caídos.

Kayan avançou juntos aos anões e, sem nem hesitar, derrubou um último gigante com uma sequência de rajadas de fogo contendo grande poder.

A estratégia aplicada pelos cinco era muito eficiente. As três garotas mais jovens preparavam o campo, Aghata derrubava, e Kayan exterminava qualquer um que ainda restasse em pé.

O grande problema é que, sem nem perceberem, eles acabaram adentrando demais em meio aos inimigos, sendo cercado por eles. Aghata logo percebeu que teriam um problema quando alguns anões caíram na batalha. Com um grupo reduzido, não levaria muito tempo para que mais deles caíssem, mesmo com Sarah os curando sempre que possível.

— Kayan, melhor recuarmos um pouco. A situação parece não estar muito boa por aqui.

— Espere um pouco, Aghata, Jonathan está se aproximando para nos ajudar.

Assim como o mago negro havia dito, Jonathan e Nicolas juntaram-se ao grupo e junto à eles, vários anões artesões vieram com seus golens. Muitos outros guerreiros os acompanharam.

O calor da batalha se intensificou ainda mais. Mais de duas horas de luta intensa havia se passado. E as baixas permaneciam equilibradas em ambos os lados. Felizmente nenhum mago havia perecido desta vez, mas muitos dos anões sim.

Aghata, de repente viu-se cercada de inimigos. Por uma imprudência, a mestra havia se isolado do restante do grupo e cinco gigantes brandiam suas armas a sua volta. Mesmo assim, ela não se sentiu acuada, pois os inimigos eram muito inferiores aos trolls que ela havia enfrentado na última batalha.

Conjurou seus raios enquanto liberava um meio sorriso. Um dos adversários caiu de imediato, com o corpo todo queimado graças ao duro golpe. Os inimigos a atacaram sem piedade, mas a mestra criou uma barreira e protegeu-se com grande êxito. Não esperou para correr entre os machados e clavas, tomando, assim, grande distância.

Atacou novamente com uma lâmina de vento, provocando cortes em toda a extensão do corpo inimigo, que tombou para o lado logo após o ataque. Com isso, a mestra já estava próxima aos amigos novamente e não tinha mais com o que se preocupar.

Iria atacar novamente, mas, subitamente, seu alvo foi consumido por chamas muito intensas. Ela se virou lentamente para ver o que havia acontecido e, para seu espanto, Spaak vinha em sua direção com o braço direito estendido. A capa e as vestes do mestre estavam um pouco danificadas, mas ele estava limpo e sem qualquer ferimento. Além disso, deixava transparecer um ar triunfante enquanto caminhava e, ao mesmo tempo, disparava feitiços contra os inimigos adjacentes.

Kayan e Sarah também viram o mestre no instante seguinte. Outros magos e anões também puderam presenciar a sua entrada no campo de batalha. Todos ficaram felizes com isso, mas era óbvio que o casal estava mais, assim como Aghata.

A presença de um mestre tão poderoso animou ainda mais os combatentes, que conseguiram dominar o campo de batalha na meia hora seguinte. Quando os reforços chegaram, eles foram quase que obsoletos, pois a batalha estava praticamente terminada.

Após o fim do combate, quase todos os magos de Drugstrein reuniram-se em torno de Spaak, curiosos para saberem por onde o mestre andava que demorara tanto a aparecer.

— Como vocês devem imaginar, tive muito trabalho para escapar do general Turenhead dos taurinos. Para esse fim, tive de formar uma cortina de fumaça e aproveitar que ele não pode sentir a aura do inimigo. Mesmo assim ele quase me pegou. Nos dias seguintes, comecei a ser perseguido por ele, que, apesar de não poder sentir a aura do oponente, é um ótimo rastreador.

— Não foi nada fácil despistá-lo. Eu tive que dormir muito pouco nos últimos dias e fazer caminhos cada vez mais sinuosos a fim de escapar de sua perseguição. Só hoje de manhã que me vi livre dele e segui para cá. Parece que dei a sorte de chegar justamente durante uma batalha.

Dúvidas e curiosidades permearam a mente dos presentes. No entanto, o mestre recusou-se a respondê-las e disse que tinha informações importantes para compartilhar com todos, mas só o faria perante a uma reunião oficial do conselho dos cinco anciões.

* * *

Uma total algazarra se instaurava na enorme fortaleza órquica de Naubusec na grande península de Darthan, que outrora foi dominada pelos anões em tempos há muito esquecidos.

Um grande banquete estava sendo servido em homenagem a Turenhead. Todos comemoravam as grandes vitórias que o general dos taurinos os havia proporcionado.

Sem qualquer tipo de aviso, um orc de tamanho avantajado entrou no recinto. Ele era muito alto mesmo para sua raça, chegando a quase três metros de altura. Sua pele era de um tom verde extremamente forte, e os cabelos negros e encrespados. Seus músculos também eram de uma grande desenvoltura e pelos permeavam por todo o seu corpo. Vestia-se com uma armadura de couro batido que cobria grande parte do tronco e pernas, deixando os pés descalços e os braços nus.

— Comandante Kiliker Broch, eu presumo. Veio para participar da comemoração em minha honra? – o general dos taurinos se adiantou.

— Que honra você pode ter se não se atreve a desafiar meros anõezinhos? – proferiu o recém chegado em sua voz grossa dotada de arrogância.

O salão ficou silencioso. Ninguém ousava desafiar o general Turenhead e saía vivo. Porém, o mesmo se aplicava a Kiliker Broch, um poderoso mestre da guerra dos orcs, que era considerado mais forte até mesmo que um troll.

— Pensa em desqualificar meus feitos, Kiliker? Então o que você tem feito de valor nessa guerra?

— Derrubei duas casas dos anões com meus exércitos, além de forçar a retirada de magos que avançavam para nosso território.

— Isso nem se compara aos meus feitos. Já destruí três vilarejos humanos e conquistei duas grandes cidades, ignorando os magos que a reforçavam.

Rosnados e sons guturais podiam ser ouvido de ambos os lados. Quando ninguém poderia esperar, o orc avançou contra o taurino numa investida selvagem. Este tentou amparar ambos os punhos do adversário com suas mãos, mas o força era tão grande que foi repelido para trás no ato.

Um sorriso debochado surgiu na face de Kiliker ao ver o adversário saltando para trás após sua investida.

— Parece que ficou claro quem é o mais forte.

— Raz Rashon.

Uma intensa chama surgiu das mãos do taurino, que eram mantidas com as palmas abertas e estendidas ao lado do corpo. O fogo circulou o orc e, quando ele tentou atravessá-la, sofreu uma queimadura considerável no braço esquerdo.

— Nunca desafie quem possui uma magia maior que a sua.

Kiliker, então, saltou em direção ao teto do enorme salão e, impulsionando-se neste, avançou contra Turenhead, que direcionou as chamas em encontro ao seu agressor.

Antes do impacto, porém, uma imponente barreira surgiu e, com muito custo, conseguiu separar os dois agressores. Assim que o orc caiu no chão, pode ver que mais de vinte gnolls erguiam seus cajados mantendo, assim, a barreira.

— Por favor, não devemos brigar entre nós, somos aliados e assim devemos permanecer – um dos gnolls de aparência mais anciã se pronunciou.

— Depois que essa guerra terminar, Kiliker, encerraremos esse nosso confronto.

— Eu digo o mesmo.

Passado o clima de tensão, ambos os imponentes seres sentaram-se à mesa e voltaram suas atenções para a comida. Boquiabertos, os gnolls e goblins observavam estupefatos enquanto os dois alimentavam-se como se nada tivesse acontecido.

Muitas coisas ainda precisavam ser resolvidas entre os povos bárbaros, mas a maioria dos presentes estava embriagada demais. Sendo assim, a reunião foi adiada para o dia posterior aquele.

Nessa nova reunião, o general Turenhead e o orc Kiliker Broch trocaram mais algumas hostilidades verbais, mas aquietaram-se para discutir as questões mais relevantes.

— General, acabamos de receber uma notícia de que, ontem a noite, enquanto comemorávamos, dois exércitos com quinhentos gigantes cada foram derrotados na cidadela anã de Gynoloock.

— Ao menos causaram uma baixa relevante nas forças aliadas?

— Segundo nossos batedores goblins, os danos que eles sofreram foram mínimos, e aparentemente aquele mago das chamas uniu-se a eles durante a batalha.

— Oh, sim, Spaak Firyn. Ainda pretendo acertar minhas contas com ele no futuro.

 – General, gostaria de botar em pauta uma questão muito importante: A postura neutra que os taurinos mantêm para com os anões – um dos gnolls se pronunciou.

— O que tem ela?  – respondeu Turenhead.

— Todos os orcs concordam que os taurinos deveriam atacar e retalhar os anões assim como têm feito com os humanos. Já basta vocês deixarem os elfos apenas para que nós combatamos, também querem deixar os anões?  – disse Kiliker em tom de desafio.

— A guerra ao oeste não diz conta aos taurinos, todos sabemos disso. Aquela parte das montanhas só é habitada por orcs, e aqueles sim realmente são bárbaros – retrucou o general retrucou.

Um alvoroço se instalou no enorme salão. Muitos concordavam com os comentários do taurino devido ao fato de que, realmente, os povos órquicos do oeste eram mais selvagens e desorganizados. Justamente por isso os conflitos eram constantes e rápidos. Além disso, não podiam esperar qualquer auxílio vindo daquelas partes.

— Mas a questão é a seguinte, Turenhead – Kiliker voltou a falar com seu tom de desdém – uma vez que você se propôs a limpar toda a parte nordeste para os povos bárbaros, acho que seus seguidores taurinos deveriam ajudar-nos a dominar também os anões.

— Entendo a sua posição, Kiliker. Antigamente comprávamos nossas armaduras e armas dos anões, mas, atualmente, aprendemos a forjar nossos próprios armamentos. Talvez eles não sejam tão bons quanto os dos ferreiros por natureza, mas será um sacrifício necessário. Atenderei ao pedido de vocês e convencerei aos reis dos taurinos a marchar sobre a cidade anã de Gynoloock. Até lá, vocês terão de se virar sem mim.

Um sorriso prepotente brotou no rosto do orc. A seguir, ele disse com uma extrema arrogância.

— Sendo assim, eu pegarei meu exército e partirei imediatamente contra os aliados. Talvez não reste pedra sobre pedra de Gynoloock quando você voltar, Turenhead.

Assim que o general dos taurinos partiu, Kiliker começou a tomar seu lugar como general vigente na guerra. Ele planejava e discutia junto aos gnolls e goblins como seria o próximo ataque. Era óbvio que o respeito e o reconhecimento para com ele não eram tão grandes quanto era para com seu antecessor, mas, mesmo assim, receberia todo o apoio que desejasse.


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Notas finais do capítulo

Essa não foi muito difícil para os a Aliança vencer. O que acharam do retorno triunfante de Spaak?

E um novo inimigo apareceu. Será o orc Killiker Broch assim tão forte? Digam-me suas impressões a respeito dele.



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