A Peregrina escrita por Bleumer


Capítulo 35
Conto Dois - Céu de Pandora


Notas iniciais do capítulo

Olá, amigo leitor, venha, se aproxime e deixe-me contar uma história diferente hoje...

(Esse conto acontece exatamente um dia antes da viajem de Peregrina para a Terra-Média. Vamos descobrir como foram os últimos momentos dela em Pandora antes de inciar a jornada que mudaria toda sua vida.


Como eu prometi aqui está um conto extra como agradecimento pelas quinze recomendações. Espero que vocês gostem!)



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*Narrativa em Primeira Pessoa*

Cinza. Essa era a cor do céu de Pandora no momento. Suspirei, pela décima vez, ao olhar para aquele céu de aparência doente. Ergui meu tronco e me sentei olhando para os lados, tudo estava da mesma forma. Sempre era tudo igual ali fora. Quer dizer, eu não estava realmente fora do Centro, isso seria uma grave violação das regras, mas estava no N1, o nível um do Centro. Ali havia uma espécie de terraço fechado, como uma cúpula de vidro, que permitia que o observador, nesse caso eu, pudesse ver do lado de fora do Centro. Pudesse ver Pandora, a terra estéril e seca que se estendia até onde a vista alcançava, além de algumas ruínas da Era Dourada que meu mundo já viveu, o ar venenoso que era impossível de respirar e o céu... Aquela vastidão cinza sem vida.

Até hoje eu não sei direito por que esse terraço existe, quase ninguém vem até aqui. Bom, talvez seja para lembrar como nosso mundo já foi belo e agora é um monte de cinzas, basicamente, ou para lembrar que o Centro é o único lugar seguro de Pandora.

Eu prefiro pensar que esse terraço é uma fonte muito sutil de esperança, ao vir aqui e olhar para o céu... Talvez, muito talvez, você tenha a sorte de ver um feixe do céu azul que deveria existir. É por esse motivo que eu sempre venho para cá. Se eu tiver paciência e esperar muito, às vezes consigo ver um pouco do céu azul entre as nuvens sempre cinzas. É só um pouco, alguns instantes e depois o azul é coberto novamente, mas isso me basta. É como um gole de água para quem está sedento, um pouco já é o suficiente. A cor daquele azul fica na minha mente por dias, meses, anos, pela minha vida toda. Não é uma cor que possa ser fabricada ou criada por mãos de humanos ou Guerreiros do Viajante, é simplesmente um azul único.

Eu amo aquele azul, amo a esperança que ele me traz.

_Ah! - Arfei de susto quando meu Bracelete Guia apitou, me lembrando das minhas tarefas diárias.

Certo, hora de voltar à rotina. Levantei do chão, limpei minhas roupas brancas e comecei a descer para o andar onde acontecia os treinamentos. A minha volta vários Anjos e Alquimistas passavam, sempre andando rápido, sempre com alguma missão ou treinamento para fazer.

_Peregrina! - Uma voz atrás de mim gritou em alerta e eu tive tempo suficiente de me virar e bloquear o soco que iria levar na cabeça.

_Mistry! Qual seu problema?!– Para meu desagrado minha voz não soou tão irritada assim, na verdade, eu estava sorrindo.

_Vi você andando com uma cara distraída e pensei em testar seus reflexos. Parabéns! Você passou no teste! - Mistry riu, uma risada alta que nada combinava com o clima do Centro.

_Nossa, muito obrigada pelo seu teste, mas da próxima vez tente não me dar um soco! - Respondi enquanto voltava a andar.

_Pode deixar, da próxima vez eu ataco com um chute. - A Entonadora sorriu, seu típico sorriso onde mostrava todos os dentes. - Para onde você está indo?

_Treinar com os Elementares.

_Porque não treina comigo? Vamos lá, faz tempo que não temos uma luta! Um pouco de violência e sangue antes do almoço é sempre agradável. - Olhei pelo canto do olho para Mistry depois que ela disse isso. Foi impossível não sorrir levemente com aquele seu jeito. Muitas pessoas não gostavam de Mistry, a achavam uma louca, uma viciada em adrenalina, mas eu a adorava. Ela era simplesmente verdadeira em suas ações e palavras, Mistry não escondia a fera que havia dentro dela, pelo contrário, a deixava exposta para quem quisesse ver.

_Claro, claro, é sempre bom levar alguns golpes antes do almoço, mas desculpe, eu não posso. Tenho que treinar com os Elementares.

_Tudo bem. - A Anja respondeu enquanto revirava os olhos para mim. Andamos alguns instantes em um silêncio agradável até Mistry falar de novo. - Ontem eu sonhei com ele. Sonhei que ele estava vivo. Não é estranho isso?

Esse era mais um dos fatos sobre Mistry, ela não era sútil. Tive que respirar fundo para controlar a onda de emoções que cruzaram meu peito. Não. Eu não ia pensar sobre ele. Sobre Erick. Ele tinha desaparecido há cem anos, estava morto. Eu já tinha aceitado isso. Não valia a pena remexer nessas lembranças de novo. Então apenas virei o rosto e olhei dentro os olhos violetas de Mistry.

_Sim, é estranho. - Fim, aquela era tudo o que eu diria.

Mistry olhou para mim, com seus olhos brilhando de forma quase selvagem, mas eu desviei o olhar. Por sorte Artos estava passando pelo corredor e eu tive como fugir daquele assunto.

_Artos! Porque você não treina com Mistry agora? Ela está ansiosa para uma luta. - Falei rapidamente, deixando Artos, um Guerreiro do Viajante e Metamorfo, confuso ao praticamente empurrar Mistry para cima dele. - Agora eu tenho que ir! - Quase corri até a minha sala de treinamento, mas ao fundo ainda podia ouvir a voz de Artos e Mistry.

_O que aconteceu? - A voz grossa e firme de Artos se fez presente.

_Apenas Peregrina fugindo do passado. - A Entonadora disse e suspirou. - Mas agora você realmente vai lutar comigo. Vamos.

Entrei na sala de treinamento e bati a porta, abafando qualquer som exterior. Não posso sempre me abalar dessa forma apenas porque Erick está envolvido. Eu já superei isso.

Me virei para os meus companheiros e fui me aquecer para treinar, pelas próximas três horas eu não pensei em mais nada.

O que foi algo bom. Muito bom.

~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~***~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~

Eu já estava no meu quarto, saindo do banho depois de um longo treinamento, quando uma luz verde piscou no meu Bracelete. Eu sabia o que aquilo significava, devia ir para a sala de controle. Uma missão me esperava.

Rapidamente vesti minha roupa sem graça e branca, já que dentro do Centro eu tinha autorização de Nabeel para vestir roupas comuns, mas fora eu devia sempre usar minha ExoArmadura, afinal, como meu próprio comandante sempre me lembrava, eu sou desagradável aos olhos e ouvidos, não devo permitir que outras pessoa vejam minha forma deformada.

Desci mais níveis do Centro até chegar à Sala de Controle. Era ali onde a maioria dos Alquimistas ficava, inclusive minha amiga Molly. A encontrei na sua mesa, em frente a uma série de máquinas e aparelhos de aparência misteriosa para mim.

_Molly, me chamou?

_Pelo Viajante! Não se mova sem fazer nenhum barulho! - Molly reclamou enquanto colocava a mão sobre o coração, como se tivesse assustada.

_Desculpe. - Ri de leve e puxei uma cadeira para sentar ao seu lado. - O que tem para mim hoje?

_Bom, originalmente essa missão não seria dada a você, era uma missão que Darcos e Ferina iriam juntos. - As palavras de Molly foram uma surpresa para mim. Aquela missão era dos meus pais. Era uma missão para Anjos da Elite. - Mas Nabeel precisava dos dois aqui para algo que não me contou, então ele mandou você no lugar. - A Alquimista disse.

_O próprio Nabeel me mandou? Para onde vou? - Minha voz subiu algumas notas pela minha supressa.

_O nome do mundo é Terra-Média, está muito longe daqui, um dos mais longe que já conseguimos chegar. Estamos observando esse planeta há muito tempo, ele tem várias características e propriedades iguais a Pandora... Quero dizer, a Pandora de antes, antes dos Dias Escuros, enfim. A questão é que nossos planetas tem o ecossistema muito parecido, mas recentemente As Trevas começaram a crescer cada vez mais lá, algo maligno está tomando a Terra-Média e temos que impedir isso. - Molly falava tudo com sua voz doce enquanto passava a mão pelo seu longo cabelo loiro, não parecia que estava falando de uma missão tão importante assim. Já eu sentia a empolgação brotando dentro de mim. Aquela seria uma missão grande, realmente grande! Eu poderia até impressionar meus pais se fosse bem.

_Então tenho que destruir As Trevas de lá?

_Não é tão simples assim. Nós, Alquimistas, previmos que um Conselho será formado em uma cidade élfica, vários viajantes de diferentes espécies vão responder o chamado e vão todos para esse lugar, lá será decidido a melhor forma de destruir um objeto que carrega o Mal dentro de si e sua destruição é a garantia da vitória. Sua missão é proteger esse objeto até ele ser destruído e proteger aqueles que vão partir nessa jornada.

_Basicamente tenho que ser a babá de algumas criaturas idiotas enquanto garanto que ninguém morra. - Revirei os olhos. Virar uma babá era uma ótima definição para o que eu seria.

_Não seja assim, Peregrina! E nem faça essa cara de irritação! É uma missão importante. Você vai ajudar um mundo inteiro. - Molly reclamou comigo e nem tinha notado que fazia alguma cara estranha.

_Certo, certo! Quando eu parto? - Perguntei, já levantando.

_Amanhã de manhã. Esteja pronta. Vou mandar para seu Bracelete todas as informações sobre a missão. - Minha amiga disse e também levantou para então me abraçar. Fui pega de surpresa, mas consegui retribuir o gesto. - Eu tenho a sensação que depois dessa missão muita coisa vai mudar. Algo grande está acontecendo. Está se aproximando... Apenas não sei se isso é bom ou não. - Molly falou baixinho, provavelmente não queria que mais alguém ouvisse.

Por algum motivo as palavras dela me causaram um desconforto. E mesmo não querendo admitir, levei aquelas palavras a sério.

_Estarei pronta. Adeus. - Me separei dos braços de Molly e fiz o caminho de volta para meu quarto.

~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~***~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~

Eu já tinha organizado minhas coisas e estudado as informações que possuía, já tinha comida armazenada no meu Espaço Alternativo e armas também. Estava tudo pronto para a missão amanhã. Então apenas deitei na cama e dormi... Ou tentei.

Eu me sentia agitada e ansiosa demais para dormir, me revirei de um lado para o outro da cama e nada do sono. Horas se passaram assim até que de súbito acordei. Me ergui da cama em um pulo, assustada. Eu não tinha percebido que em algum momento no meio da minha agitação eu tinha conseguido dormir.

Mas um sonho me acordou. Minha respiração estava ofegante e quando toquei meu rosto senti lágrimas. Eu estava chorando durante o sonho.

Forcei minha mente a lembrar do que tinha acontecido, mas eu só via fragmentos de um sonho. Eu apenas lembrava de alguém... Uma pessoa de olhos azul, azul da cor do antigo céu de Pandora. Nada mais me importava apenas os olhos desse ser. Então gradativamente fui engolida por esse azul e... Entendi. Eu não estava chorando por medo ou tristeza, meu choro foi de alegria. Na hora que fui engolida pelo azul dos olhos daquele estranho, eu me senti em paz. Ali era um lugar seguro, simples e certo para eu estar.

_Você está ficando louca, Peregrina.– Murmurei para mim mesma e me joguei de volta na cama.

Surpreendente eu consegui dormir bem depois daquilo. Dormi e não sonhei com nada. Quando já era de manhã e acordei... Não conseguia lembrar de nada do sonho, apenas que de fato eu havia sonhado com algo.

Enfim, resolvi deixar isso para lá. Eu tinha assuntos mais importantes hoje, como minha missão. Rapidamente me arrumei e sai do meu quarto, andei até uma sala especial onde os Portais eram abertos.

Chegando lá fiquei um pouco triste ao ver que não era Molly que abriria o Portal para mim e sim outro Alquimista.

_Você é Bleumer, A Peregrina, certo? Está indo para a Terra-Média. Sozinha. Vai aterrissar perto de Valfenda, uma cidade élfica. - O Alquimista a minha frente conferiu minhas informações e eu apenas balancei a cabeça. Então ele começou a desenhar no ar e aos poucos um Portal surgiu. - Você já tem permissão de ir.

_Obrigada.

Dei um passo a frente, já estava usando minha ExoArmadura, respirei fundo e no instante que antecedeu meu pulo, pensei que algo realmente grande poderia acontecer nessa missão, como Molly sugeriu, então eu pulei e o Portal foi fechado atrás de mim.

Um turbilhão. Um turbilhão, e eu estava dentro dele. Não é o melhor lugar do mundo para se estar, disso eu tenho certeza. A sensação de ter o corpo jogado de um lado para o outro, de cima para baixo, de baixo para cima, sentir que seu estômago esta sendo comprimido e revirado, sentir que é puxada por um vácuo, que você não tem controle de nada. Sua mente fica confusa e nublada, tudo é rápido demais para seu cérebro assimilar. Perder a noção de espaço e tempo, um minuto torna-se uma hora, uma hora volta a ser um minuto, um segundo pode significar dias, anos ou apenas um segundo.

Eu odeio essa sensação. Odeio passar pelo Portal dos Saltadores. E odeio ainda mais o que acontece depois que o turbilhão passa, mas faz parte do meu trabalho, da minha missão, do que eu sou.

Enquanto sou jogada de um lado para o outro pelo turbilhão, vejo uma luz que vai crescendo gradativamente e sem nenhum aviso prévio sou arremessada de cara na terra fria e meu corpo sai rolando descontroladamente por uns bons cinco metros até parar no meio de alguma floresta.

Eu cheguei à Terra-Média.


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Notas finais do capítulo

Olá, tudo bem?

Hoje temos mais um conto! Vocês gostaram? Já pararam para pensar como tudo seria diferente se Darcos e Ferina fossem nessa missão? Bleumer jamais teria conhecido a Sociedade do Anel. Parece que o destino trabalhou para entrelaçar as linhas de Bleumer e da Terra-Média.

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*Imagem meramente ilustrativa, encontrada no Google e editada pela minha beta.

Até logo! Beijo de Luz do Viajante!