Harukaze escrita por With


Capítulo 58
Capítulo 58




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 Harukaze

Capítulo 58

Eu só quero gritar:
 “Eu só estou vivendo para cumprir meu desejo”
Você pode me escutar?
Eu não posso seguir
A forma mais segura para tudo


  Haru seguia Tobi por um caminho desconhecido por ele. A grama roçava em suas canelas e pedras salientes apareciam de súbito, como invocadas por passe de mágica, o vento da manhã agitava seus cabelos agora um pouco mais compridos e os olhos adiam devido ao brilho do sol. Contudo ele parecia o único incomodado, já que Tobi flutuava pelo local familiarizado com cada silencia daquele lugar. Não sabiam para onde iam, tampouco quis perguntar, apenas esperava que não demorasse muito.

  Havia saído do esconderijo do falecido Uchiha Madara às sete da manhã e ainda tinha neblina tocando o chão e condensando a respiração, e agora sentia o suor escorrer por sua têmpora e costas. Recordara das palavras da mãe em uma manhã semelhante àquela enquanto observavam o nascer do dia: “A neblina é um sinal de que o dia será quente. Irá se arrepender de vestir um casaco e tirá-lo depois”, logo em seguida ela libertou uma risada divertida e afagou seus cabelos.

  Não pôde evitar sorrir, tragado de volta àquelas memórias. Queria montar mais milhares com ela, queria ser capaz de se lembrar da primeira vez que a viu, que ouviu a voz dela... Claro que não seria possível, afinal quem possuía tamanha memória?

  Tobi olhou por sobre o ombro, vendo os lábios do menino se curvar. Deveria ser uma lembrança feliz e perguntou-se se tinha alguma escondida nos recantos de seu cérebro. As que um dia o perseguiram em sonhos foram destruídas pela imagem da garota que amava sendo morta por seu melhor amigo. Depois desse dia, Rin não passava de uma sombra negra sem forma específica, contudo sentia que era ela. Quanta falta fazia não poder contemplar mais o rosto que ele tanto admirava...

  Então, para livrá-lo do martírio, conheceu Yatsuki Tsuhime. A princípio ela não passava de uma hipótese, uma porcentagem ínfima de obter resultados práticos de sua teoria e arriscara mesmo assim. Seis anos após sua teoria se concretizara do jeito que ele supôs. Talvez devesse agradecer Yakushi Kabuto por cedê-la, por permitir que Tsuhime fosse dele e lhe servisse por alguns minutos. Minutos esses que se transformaram em anos e, provavelmente, vidas.

  Todavia não podia deixar de perceber o quão desconfortável fora iniciar aquela etapa. O plano surgira perante uma conversa com Madara enquanto o Uchiha mais velho explicava o material que usara para reconstruir o lado direito de seu corpo (células de Senju Hashirama, assim como aplicava em si próprio), e logo as ideias iniciais foram tomando forma e adquirindo ambição maior. Fora escolhido para executar aquela parte bônus do Projeto Olho da Lua, incorporando Tsuhime naquele meio e a fazendo uma peça insubstituível. Sem ela e suas habilidades ainda estariam traçando meios complicados para unir um poder que outrora caminhou junto. Mesmo que naquela época ainda não o compreendesse, agora não restava dúvida do quanto era essencial.

  Dispersando as divagações, Tobi ao longe avistou a característica que tanto esperou. A alguns quilômetros, após elevações de pedras e grama verde, pontas cinzentas desprendiam do solo como árvores secas, saudando-os com aquela aura peculiar. Um crânio de animal grande jazia rodeado por ervas daninhas e fissuras adquiridas pelo castigo do tempo, contudo se era possível distinguir mandíbula e dentes, todos colados no lugar.

  Na extensão do local, mais ossos surgiam e pararam naquele meio. Haru estremeceu à medida que foi tendo ciência de que tipo de lugar era: Um cemitério. E o menino não se sentia confortável perante as tantas almas que ali se perderam. Ao menos não havia lápides que marcassem a quem ali fora enterrado e não se recriminou por soltar um resmungo contrário.

  — Viemos visitar alguém? — Ele indagou, olhando em volta e sentindo-se minúsculo, esmagado pela imponência do cemitério. — Não vamos desenterrar ninguém, certo?

  — É claro que não. — Tobi rebateu com indiferença, como se a imagem de violador de túmulos em nada lhe dissesse. — Vê aquela cabeça? É a entrada para um esconderijo, lar de algo poderoso.

  — E por que me trouxe aqui? — Ali estava a pergunta que Haru não achava a explicação. Quando Tobi lhe falara que visitariam um lugar especial para começar o ritual ele permaneceu flutuando na notícia, como se tivesse sido despertado de repente.

  — A Quarta Grande Guerra Ninja se aproxima, Haru, e aqui está a nossa fonte de vitória. — Tobi recomeçou a andar em direção ao crânio.

  De perto Haru percebeu que era ainda maior. Atravessaram a garganta, agraciados pela escuridão que aos poucos deixava o dia iluminado para trás. Olhou para a entrada, tendo a sensação de que adentrava um novo mundo. E de fato o era. O caminho era elevado e disforme, de modo que procurava lugar para firmar os pés antes que escorregasse. Sua única guia era a parede ao seu lado, já que a figura de Tobi sumira e apenas se ouvia seus passos.

  O corredor se elevou levemente e inclinou-se, levando-os para o subterrâneo. O ar escasso e cheirando a antiguidade sussurrava em seu ouvindo lamentos passados, que Haru esforçou-se para não se deixar capturar. Não o interessava saber o que ocorrera ali antes de se tornar o lar de algo importante, embora pudesse ser interessante. Apenas o presente deveria vir em primeiro lugar, o futuro o buscaria se assim o tivesse.

  Os olhos piscaram quando Tobi acendeu uma tocha, consequentemente ativando todas as outras. Uma garganta larga e de teto alto se abriu, rindo de sua altura naquele ambiente vasto. Seguiu Tobi por mais alguns metros e logo chegaram a uma sala ampla e fria, suas sombras tremulando nas paredes. Se antes não estava confortável, agora com a imagem que tinha Haru sentia os pulmões esvaziarem com o que se mostrava a sua frente.

  Na parede do final, selando a sala, uma estátua de pedra gasta e estranha permanecia. Os braços erguidos de mãos abertas, onde dos pulsos pendiam correntes quebradas marcadas pelos grilhões e quatro argolas, as pernas dobradas sofridamente e a cabeça grande comportavam nove olhos, onde sete permaneciam abertos e fixos nos visitantes. A qualquer momento parecia que acordaria e assumiria vida, sairia andando como um gigante humanóide desajeitado. Mas a forma como Tobi a encarava lhe dava a certeza de ser algo de valor. Muito valor.

  — O que é isso? — Interrogou curioso.

  — Este é o Gedou Mazou. — Tobi apresentou a estátua com um tom de admiração. — Ele sela o poder das Nove Bijuus e quando todo o chakra é ligado como um se torna o Bijuu de Dez-Caudas: Juubi.

  — Juubi? — Haru inclinou a cabeça, olhando aquele objeto curioso. Para ele ainda não passava de um pedaço de pedra. A boca aberta de dentes pequenos e grotescamente esculpida lhe dava a sensação fria de um predador apenas a espera de uma guarda baixa. — É apenas isso?

  — Como assim? — Tobi questionou, lançando os olhos de aspecto diferentes para o filho. A expressão de Haru indicava que ele ainda não compreendia todo o sentido daquilo. Teria que explicar.

  — O que exatamente é isso?

  — Você gosta de ouvir histórias, certo? — O Uchiha suspirou, procurando um lugar onde pudesse se sentar. Os pés do Gedou Mazou pareciam um ótimo acento. — Há muito tempo existiu um homem chamado Rikudou Sannin, que separou o chakra do Juubi em nove partes. Seu poder era imenso e ele temia que tal poder caísse em mãos gananciosas. Assim ele criou as Nove Bestas e selou a casca oca do Juubi na lua. Depois que Uchiha Madara despertou o Rinnegan, ele conseguiu invocá-lo, trazendo-o para nós. Batizou-o de Gedou Mazou, e assim o chamamos.

  — Então isso... — Haru apontou para a estátua, agora se sentindo ainda mais intimidado pela presença adormecida do Juubi. — É algo vivo. Se o poder do Juubi é tão grande como disse, por que quer invocá-lo? O mundo vai sofrer, todas as pessoas que aqui vivem irão...

  — É justamente isso, Haru. — Por debaixo da máscara Tobi sorria, apreciando as dúvidas e conclusões do menino. — A Quarta Grande Guerra Ninja dará um fim a este mundo medíocre e criaremos um novo. Esse é o propósito do Projeto Olho da Lua.

  — Mas...! — Haru refreou as palavras, não ousando soltá-las. A sua missão era descobrir mais sobre os planos da Akatsuki e de Tobi, entretanto algo ainda lhe intrigava. — Por que você quis a mim?

  A pergunta atraiu o senso de Tobi, ele já esperava por aquela indagação. E, ao contrário do que Haru pudesse estar pensando, ele tinha uma explicação. Muito boa, por sinal. Ergueu-se, andando calmamente até o menino e depositou uma das mãos sobre a cabeça de Haru, que apenas contentou-se em permanecer naquele contato. Tanto físico e visual. Aquele garoto possuía muito mais do que os olhos captavam e deixá-lo com Tsuhime, sem ao menos aproveitar uma parte dos lucros, não o apetecia.

  — Depois de ouvir sobre os Uchiha e Senju ainda não foi capaz de perceber? — O brilho nos olhos de Tobi instigava Haru a voltar naqueles dias, escutando a voz de Madara cheia de ressentimento tanto com o seu passado como com o descaso que fazia com os Uchiha. — Já te contei sobre o DNA que corre pelas veias da sua mãe.

  — O DNA de Senju Tobirama. — Haru exclamou, o coração acelerado com a comprovação de suas suspeitas forçadas. Antes o querer de Tobi em si não lhe preenchia totalmente os pensamentos, mas agora, diante das provas, o chão parecia se liquefazer embaixo de seus pés. — Então...

  — Você é o único que não precisou injetar a genética Senju, Haru, porque já nasceu com ela. Assim como sua mãe, você herdou essa característica do clã que você tanto se orgulha. — Tobi desfez o contato com o filho, apreciando os olhos infantis arregalados. — Nós gastamos tempo cultivando as células dos Senju quando na verdade era apenas unir as genéticas rivais com os métodos naturais. E foi o que sua mãe e eu fizemos.

  — A mamãe não sabe disso! — Haru exclamou, os punhos fechados e trêmulos. — Ela não sabia quando aceitou você na vida dela.

  — Mas eu acredito que agora, neste exato momento, ela já deva estar ligando alguns pontos. Agradeça, Haru, você tem mais poder do que imagina e eu me encarregarei de despertá-lo. Mesmo que a força.

  A ameaça velada fez a respiração de Haru estagnar, levando-o a dar três passos para longe daquele homem. Quando estava nutrindo certa empatia por ele, Tobi surgia como um trator e esmagava os cultivos bons, deixando apenas destroços. Talvez agora compreendesse o porquê da mãe sempre fugir dos assuntos do passado, ele era doloroso e apenas destruiria tudo de bom que havia construído. E como se arrependia de saber a verdade.

  “Não tenha medo, Haru-chan, a mamãe sempre estará lá para proteger você”, as palavras dela surgiram em sua mente como um letreiro, recordando-o da noite em que tivera um pesadelo. O calor dos braços dela ainda parecia quente ao redor de seu corpo e os sussurros de uma canção calma e gentil ainda repercutiam no íntimo de seu ser. “Mamãe...”, rogou consigo, esperando que ela surgisse diante dele, que lhe sorrisse e dissesse que era apenas mais um pesadelo.

  Entretanto ele sabia que não poderia ser. A figura de Tobi era real, assim como as pegadas erradas que se sujeitou a pisar. Tudo o que estava ao seu alcance era agarrar aquela chance e tentar convertê-la, contudo as opiniões contrárias de Tobi o acertaram em cheio. Imagens surgiam em seu cérebro e ele levou as mãos à cabeça, segurando-as no lugar. Aquilo estava apenas começando.

  Cansá-lo fazia plano do porque apresentara o Cemitério das Montanhas a Haru: Em um laboratório do lado oposto estava o maior armazenamento massivo de olhos, cujo também transplantara os olhos de Uchiha Itachi em Sasuke, dando a ele mais poder. Acelerando o transmutar do Sharingan. E era exatamente isso que ele tinha em mente para Yatsuki Haru. Além de mantê-lo por alguns dias em repouso, teria tempo para se locomover e fazer uma pequena visita a reunião dos Kages no País do Ferro.

  Assim que Haru cedeu, ofegante pelo excesso de fatos, Tobi o levou ao laboratório e o deitou em uma cama de concreto sem colchão. O material frio arrepiou o corpo de Haru, porém se encontrava tão sedado que não obteve reação a não ser permanecer imóvel. A parede a esquerda comportava os olhos, todos muito bem conservados e prontos para um novo portador. Escolheu um em que a evolução do Sharingan para o Rinnegan dependia de apenas uma tentativa para proceder e iniciou o processo.

  Os gritos do filho não estagnaram seus movimentos e, ao final de quatro horas, Haru havia desmaiado. Enrolou uma faixa sob os olhos recém-transplantados e não mais o incomodou. Ele não queria se atrasar para a reunião.


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