Harukaze escrita por With


Capítulo 5
Capítulo 5


Notas iniciais do capítulo

Bom dia meu povo!
Mais um capítulo de "Harukaze", espero que gostem.
Boa leitura!



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Harukaze

Capítulo 5

As pétalas que caem dançam, dançam, dançam

Mas as feridas do meu coração

Continuam vazando tudo o que eu sinto.

Como previsto, Tsuhime não dormiu. A noite toda sua mente era invadida pelo beijo que trocara com Shino. Podia sentir a pressão dos lábios dele sobre os seus, as mãos a acariciando da forma mais doce e gentil que alguém já havia feito. Levou os dedos aos próprios lábios, em um gesto inútil de guardar por um pouco mais de tempo o sabor que os preenchia. Talvez fosse errado, porém ela gostara e muito de todo aquele carinho.

Olhando o jardim da casa pela janela, ela viu uma mulher tão misteriosa quanto Shino e uma nuvem de insetos ao redor dela. O clã Aburame recebera a atenção de seu pai, e agora ela entendia os motivos. Controlar e abrigar os insetos dentro do próprio corpo soava como habilidades excepcionais, embora Tsuhime temesse uma traição por parte dos insetos. Sabia que eles se alimentavam do chakra do hospedeiro, e em troca acatariam a qualquer ordem do dominador. Algumas pessoas achavam nojentas tais condições, enquanto que para Tsuhime o clã Aburame a fascinava.

A mulher sentiu que alguém a observava e elevou o olhar, encontrando os olhos amarelados de Tsuhime fixos no que fazia. E pela surpresa que causara na garota, deduziu que não era de agora que se tornara alvo da curiosidade dela.

Logo outra pessoa juntou-se a mulher, e Tsuhime incomodou-se pelo súbito ritmo que seu coração adquiriu. Shino ainda não notara que a garota invadia a privacidade deles, e ela achou melhor se afastar da janela antes que isso acontecesse. De uma forma ou de outra não poderia se esconder para sempre naquele quarto, então fez uma rápida higiene matinal e caminhou atenta pelo corredor. Seu estômago reclamou ao ser atingida covardemente nas narinas pelo delicioso aroma de hakumai, misshouri, tamagoyaki, tsukemono e chá verde. Parou ao batente da porta, tímida em se aproximar. À mesa estava o pai de Shino, um homem tão misterioso quanto todos daquela família. Não era capaz de visualizar o rosto dele como queria.

— Bom dia, Yatsuki-san. — Aburame Shibi cumprimentou-a com voz firme e educada. — Por favor, sirva-se. Minha esposa e meu filho já tomaram café.

— Obrigada, Aburame-sama. — A garota ocupou um lugar na pequena mesa retangular. Deslumbrou-se com a quantidade de refeições dispostas, o que ela não poderia comparar com as suas tradicionais.

— Fique à vontade, escolha o que mais gostar. — Shibi tentou fazê-la se sentir mais confortável, e sorveu um pouco de chá verde.

E não tivera outra escolha. O hakumai e o misshouri chamaram completamente sua atenção, e logo o sabor delicioso dominou todo o seu paladar.

Lembrou-se do café da manhã que Kabuto preparava para ela, e não havia nada parecido com o da família Aburame. Os alimentos eram servidos em pequenas quantidades, apenas para mantê-la. Vivia constantemente obedecendo a dietas rigorosas, feitas para que seu corpo aceitasse as modificações, e mesmo assim ela não suportava a pressão dos genes. Entrara em coma várias vezes, entre a vida e a morte, contudo, seu pai jamais deixaria que algo acontecesse, afinal, Tsuhime era algo que o Sannin realmente zelava.

— Com-licença, Yatsuki-san. — O Aburame interrompeu seus devaneios, levantando-se. — Vou chamar Shino para lhe fazer companhia.

— Não precisa, eu estou bem. — Ao negar-se, recebeu um olhar confuso de Shibi. — Ele deve estar ocupado. — Explicou-se melhor, ocultando o quanto se sentiria constrangida por tê-lo à mesa.

Atendendo ao pedido, Shibi aceitou sem dizer mais nenhuma palavra. Exatamente como Shino, Tsuhime pensou ao encontrar-se sozinha no cômodo. Não lhe soava de todo ruim que permanecesse sem companhia, pelo contrário, a maior parte de seus dias ela ocupava-se assim. E a solidão lhe parecia confortável, seus pensamentos vagavam livremente, entretanto muitas das vezes ela mal conseguia organizá-los. De todo não precisava.

Um inseto pousou na mesa e Tsuhime pairou o dedo para que ele subisse. Analisou-o de perto, notando no pequeno bichinho uma coloração rosada. Para ela era difícil identificar, afinal, as fotos dos arquivos do Clã Aburame não lhe permitiam o entendimento necessário. Conhecia poucos atributos sobre os insetos, porém, mesmo assim, deixou que ele passeasse por seu dedo e subisse caminho para seu antebraço. Sorriu, realmente a fascinava.

— É um Kiikai fêmea. — A voz tão conhecia adentrou seus ouvidos, e instantaneamente o coração foi o primeiro a traí-la. — Nós a utilizamos para rastrear inimigos. — Shino sentou-se ao lado dela, curioso pelo modo como ela tratava o inseto.

— E eu sou um inimigo? — Ela interrogou sem pensar, apoiando a caminhada do Kiikai.

— Ainda não sei. — Shino não escondeu suas dúvidas, agora mais do que nunca gostaria de saber a verdade. Percebera que Tsuhime não estava sendo de todo sincera com ele. — Que tal você me contar?

— Contar o quê? — Tsuhime desviou os olhos amarelados para o rapaz ao seu lado, as sobrancelhas finas quase formando uma única linha em seu rosto.

Shino suspirou cansado, atraindo o Kiikai para seu corpo. Não queria distrações, apenas que ela confiasse nele e dividisse o que quer que a incomodasse. Estranhamente, Tsuhime havia começado a ocupar um lugar importante dentro dele e desagradava-lhe pensar que no dia seguinte poderia não vê-la mais. Talvez essa fosse a primeira vez que uma garota realmente conseguia fazê-lo insistir, e como ele havia afirmado: Os sentimentos de Tsuhime não tinham segredos.

— Tsuhime...

— Eu sinto muito, mas não posso. — A garota foi categórica, sua voz apesar de tranquila possuía um teor indiscutível. — É melhor deixarmos assim, por favor. Você não precisa se envolver, já está se arriscando demais me deixando ficar aqui.

A verdade era que Tsuhime não queria correr o risco de perder a pessoa que a tratara com cuidado, que fazia novas sensações a dominarem em questão de segundos, e ela sabia que se contasse Shino não mais permaneceria ao seu lado como agora. Era sempre assim e preferia dividir a suas histórias apenas consigo mesma.

— Poderia me acompanhar em mais um passeio? — Ela fugiu completamente do rumo da conversa, guardando um sorriso. Algo dentro dela alertava que esse poderia ser o último.

— Não tenho escolha, eu sou o seu guia.

Era impressão sua, ou havia mesmo um sorriso adornando os lábios de Shino?

(...)

A forma como as coisas acontecem em Konoha eram lentas, assim pensava Kabuto ao observar a vila pela janela de seu quarto alugado com o dispositivo em mãos, indicando a pequena bola vermelha caminhando no visor. Então, finalmente ela estava se movimentando e em breve a encontraria. E, claro, não poderia aparecer na frente dela daquela forma. Teria que formular algo que a pegasse desprevenida e, de preferência, sozinha. Tinha a ligeira ideia de que a pessoa que a acompanhava jamais lhe daria uma abertura significativa. Não teria dificuldades, ele sabia como lidar com Tsuhime.

O primeiro dia de sua estadia em Konoha apenas acabara de começar, ele teria tempo suficiente para anotar cada detalhe da rotina da filha de Orochimaru e, no momento certo, saberia o que abordar. Afinal, se ela havia se interessado por alguém nesse meio tempo de fuga faria qualquer coisa para quem quer que fosse não se envolvesse. Kabuto sorriu, Tsuhime era tão previsível que quase lhe soava covardia o que estava preste a cumprir.

— Por que você tem sempre que facilitar as coisas? — O espião perguntou consigo. — Assim não tem graça alguma.

Por hoje ele observaria a vila de onde estava, e consequentemente, uma hora ou outra, veria Tsuhime sem precisar sair para procurá-la. Porque em breve, ela entraria em seu campo de visão.

(...)

As folhas da árvore se soltaram com o vento, enquanto Tsuhime sentou-se embaixo da sombra que ela lhe proporcionava. A caminhada foi silenciosa, porém a garota sabia por quê. Estaria perdendo a confiança de Shino? Entristecia-a notar o quanto ele ficara aborrecido por ter se desvencilhado do assunto, que até certo ponto era importante. A sensação de ainda se ver despida diante dos olhos de Shino a fazia tremer, portanto Tsuhime evitou contato visual por um longo tempo.

— Tsunade-hime te disse algo sobre mim? — Ela inquiriu curiosa e ao mesmo tempo temerosa, desconfiava de que seu segredo já não era tão mais seu.

— Apenas o necessário. — Shino rebateu, abaixando a toca de seu casaco. — Mas eu sei que ela está escondendo alguma coisa. E você sabe a que me refiro.

— Não vamos começar com isso de novo. — Tsuhime bufou irritada, encolhendo os joelhos e abraçando-os. — Por que quer tanto saber?

— Porque isso parece te fazer mal e eu quero ajudar. — O teor sincero na voz do rapaz calou-a. Recebeu os olhos de Tsuhime sobre os seus cobertos pelos óculos escuros. Mesmo com a barreira, Shino se viu refletido no tom amarelado.

E a frase repercutiu por alguns minutos dentro dos pensamentos da garota, evitando que ela pensasse com clareza. Os habitantes de Konoha eram diferentes e fazia nome diante aos boatos que escutara. A preocupação, a proteção que tinham para com o outro, o companheirismo... Quando foi que viu essas qualidades reunidas? Nunca fora protegida, nunca sentira qualquer tipo de preocupação vinda das pessoas com que convivia, nunca teve alguém em que pudesse confiar. Ela não se amargurava por isso, pelo contrário. Talvez, esse fosse o seu lugar.

— Você tem me ajudado mais do que deveria, Shino. Está tudo bem e...? — O que pensava em dizer foi cortado por uma risada, pegando o Aburame de surpresa.

— O que há de engraçado? — Shino reclamou, franzindo as sobrancelhas em mau humor.

— Tem uma folha no seu cabelo. — Tsuhime se encarregou de retirar, ainda com o sorriso divertido nos lábios. E ao invés de deixar que o vento a levasse, brincou com a folha nos dedos como se tivesse algo interessante no monótono verde.

E, de repente, atraído como um imã, Shino segurou a mão dela. Era pequena comparada com a sua, entretanto encaixavam-se perfeitamente. Entrelaçou os dedos e puxou-a contra si, deixando explícitas suas intenções: Queria que Tsuhime se aproximasse. E foi o que ela fez.

Imediatamente a respiração alterou-se, fazendo com que um rubor se instalasse no rosto da garota. E aquilo era um evidente sinal para que Shino confirmasse o que via. Os olhos se encontraram carinhosos, sem qualquer resquício de conflito. Forçando um pouco a visão, Tsuhime finalmente percebeu a cor dos olhos do rapaz: Castanhos. Elevou a mão livre para retirar os óculos de Shino, porém ele a deteve antes que conseguisse.

— Deixe-me vê-los. — Tsuhime sussurrou o pedido, tendo a mão do rapaz segurando a sua, como se assegurando de que ela não iria desobedecê-lo.

— Não. — Shino afastou-se momentaneamente, até Tsuhime se encontrar em uma distância que pudesse visualizar o rosto dela nitidamente. — Eu quero que me responda uma coisa antes.

Tsuhime estranhou a mudança de comportamento do rapaz, não havia teor enganoso na voz dele e isso a deixou nervosa. E se fosse alguma descoberta sobre ela? Receosa, afirmou com um gesto de cabeça.

— O que sente por mim? — Diante de sua curiosidade, Shino obrigou que nesse momento ela estivesse olhando para ele.

— Por que está me perguntando isso de repente? — A garota mencionou se levantar, porém o Aburame a segurou onde estava. Queria saber, e não deixaria que Tsuhime se afastasse enquanto não obtivesse o desejado.

— Só me diga o que sente. — Shino proferiu gentil, atraindo a atenção da garota novamente. — Não desejo saber mais nada além disso.

— Mas... Como? — Tsuhime não compreendeu as palavras dele. Como alguém poderia querer ficar com alguém não sabendo mais nada do que os sentimentos? Isso era o bastante para ligar as pessoas? Abaixou o olhar, evitando o rapaz a sua frente. Ainda assim, devia a resposta a Shino. — Eu... Eu gosto de você, mesmo não entendendo muito bem tudo o que está acontecendo.

E a reação de Shino não poderia ter sido diferente. Embora Tsuhime não visse, ele estava sorrindo. Com carinho segurou o rosto dela entre as mãos e trouxe-a para perto, cobrindo-lhe os lábios. Iniciaram um beijo gentil e apaixonado, sem saber que selavam também o desafio para os diversos obstáculos que viria a partir de agora.

(...)

— Tsunade-sama! — Shizune adentrou a sala da Hokage eufórica, nos braços seu inseparável porquinho.

— O que foi? — A mulher loira exclamou irritada. Com a repentina presença de Shizune, Tsunade acabou por derrubar os relatórios que lia. — Por que está tão agitada? Aconteceu alguma coisa com Tsuhime-chan? — Pensar em tal possibilidade a deixou nervosa.

— Não, não é nada disso! Jirayia-sama está de volta à vila.

— Mande-o vir imediatamente para cá! — A Hokage ordenou agitada, os relatórios ficariam para depois.

— Não precisa ter tanta pressa, Tsunade. — A voz grave do homem de cabelos brancos se fez presente na sala, fazendo com que os olhares das duas mulheres se voltassem para ele. — Sei que sou gostoso, mas não me olhem desse jeito.

Tsunade caminhou até o homem, desferindo um forte tapa no rosto do Sannin. A marca de seus dedos surgiu instantaneamente, e tinha absolta certeza de que lá permaneceriam por alguns dias. Jiraya não entendeu aquela reação, porém tratou logo de acalmar o local machucado.

— Obrigado pela recepção calorosa, literalmente. Apesar de cinquentona, seus punhos parecem não ter sofrido com a idade. — Ao dizer isso recebeu um olha reprovador da Hokage. — Já entendi. — Jiraya saltou a janela em rendição, acomodando-se em um canto da sala. — O que há de tão grave?

— Sente-se, o que vamos conversar será longo.


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Notas finais do capítulo

Obrigada a você que leu, espero que tenha gostado.
Críticas construtivas, sugestões, dúvidas... Tudo é muito bem vindo.
Hakumai: Arroz branco.
Misshouri: Sopa de soja japonesa.
Tamagoyaki: Omelete japonesa.
Tsukemono: Conserva de vegetais, verduras e legumes.
Até sexta!
Beijos!



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