Harukaze escrita por With


Capítulo 36
Capítulo 36


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/585683/chapter/36

Harukaze

Capítulo 36

A esperança no amanhã

Está brilhando em seus olhos

Ou isso é a lembrança

De tristes memórias?

Um ano depois...

A vida de Kakashi e Haru havia se resumido em parceria. Kakashi cuidava da casa e do almoço, enquanto Haru frequentava a academia em horário integral. A verdade era que ambos sentiam falta de Tsuhime, das comidas gostosas que ela preparava, da voz dela ecoando ora brava e cansada ora feliz e entediada. Coisas simples, mas que faziam parte da rotina de cada um e agora sentiam que estavam perdendo a mulher de suas vidas para um coma.

A notícia foi dada de forma cautelosa, entretanto não menos dolorosa. Saber que Tsuhime entrara em coma fora como um forte tapa em ambos. Haru frustrado pela mãe ter perdido seu aniversário de seis anos e Kakashi por saber que agora tudo dependia de tempo. Caminhando lado a lado com filho, conduzia Haru até o hospital para visitar a mãe. O menino tinha um buquê de rosas nos braços e a expressão ia contra todas que um dia Kakashi já vira. Constantemente o filho lhe questionava sobre quando Tsuhime voltaria, se o culpado havia sido ele e as palavras de consolo escapavam espontâneas. Além de acalentar o coração machucado do filho, se autoajudava com o mesmo mecanismo.

Tsunade estendera o tempo de visita deles de meia hora. A Hokage sabia que os dois sentiam saudades e que desejavam passar mais tempo com Tsuhime, embora a jovem não respondesse. Aderiu ao dispositivo que um dos cientistas criara, um protótipo ligado ao cérebro para poder monitorar os estímulos. Então, se Tsuhime estivesse escutando ou sentindo os toques o dispositivo avisaria e poderiam formular alguma terapia para que ela despertasse.

Como ela sempre dizia a Kakashi “A ciência está cada vez mais avançada, a cada dia chegamos mais perto de Tsuhime.” Entretanto, confiando ou não na ciência, Kakashi decidira não criar muitas expectativas. Preparara o psicológico para diversas situações, mesmo que parecesse um pouco negativo. Ele havia perdido muitas pessoas no passado, a dor e vazio que elas deixaram ainda residiam dentro dele, todavia a expressão mascarada que assumira não passava de um disfarce.

Quando se anunciaram na recepção, Kakashi preferiu que Haru visitasse Tsuhime primeiro e sozinho. Sabia que o menino tinha coisas a contar, algo para confiar somente à mãe e devia esse momento a ele. Enquanto isso se sentou na sala de espera, tendo como companhia Haruno Sakura. Sua aluna estava sendo uma ótima companhia, sempre levantando o astral dele com otimismo e perseverança. No fundo ele agradecia o esforço, tendo ciência de que deveria começar olhando a situação pelo mesmo ângulo.

Cauteloso, Haru adentrou ao quarto de Tsuhime. Seus olhos não se demoraram na imagem pálida e esguia da mulher; deveria ter se acostumado, todavia ele não conseguiria tendo a imagem de outrora tão nítida em sua mente. Colocou as flores na água e sentou-se ao lado da mãe, segurando-lhe a mão carinhosamente. Tinha tantas coisas a contar, então por onde começaria?

— Oi, mamãe. — Ele iniciou o monólogo tímido, era muito estranho conversar sem obter resposta. — Não precisa se preocupar, certo? O papai e eu estamos conseguindo nos virar. Claro que a comida do papai não se compara com a sua, a sua é bem mais gostosa.

“Você é tão gentil, meu amor.”

— Ah, é mesmo, os preparativos para os exames de Genin começarão logo. Papai tem me treinado bastante para que eu possa me formar, não é legal? Hideki, Souma e eu esperamos formar um time. Acho que não tem jeito da gente se separar.

“É verdade, vocês três são como um. Eu me lembro que tive de levar todo mundo a churrascaria porque vocês não queriam se separar. Ou será que sonhei?”

— Tem uma coisa que eu quero te contar, mamãe. — Haru passou a mão livre pelo cabelo, as bochechas adquirindo um rubor instantâneo. — Tem uma menina na minha classe, o nome dela é Sayuri. Ela é bem bonita e se parece com você. Hideki diz que eu apaixonado, mas isso é mentira. Eu tenho só seis anos! Gostaria que você conhecesse ela.

“Talvez o seu amigo tenha razão. Eu nunca tive um namorado de infância... O primeiro menino que gostei eu tinha dezesseis anos! Eu nem acredito que você está crescendo tão rápido e que estou perdendo isso.”

— Sinto sua falta, mamãe. — Haru inclinou-se, beijando-a na testa. — Volte logo pra gente. Agora eu tenho que ir, o papai ainda quer falar com você. Eu te amo.

“Eu também te amo, meu amor. Darei um jeito de voltar para vocês logo.”

Assim que Haru alcançou a sala de espera, viu o pai conversando com Sakura e aquilo o desagradou profundamente. Depois que a notícia de que sua mãe entrara em coma se espalhou pela vila, notou que várias mulheres se aproximaram de Kakashi rapidamente. Não duvidava que o pai realmente amasse Tsuhime, entretanto educado como era ele se contentava em lançar olhares feios e dar respostas vagas quando se dirigiam a ele. Preferiu não comentar nada com a mãe, ele iria resolver esse problema.

— Olá, Haru-chan. — Sakura o cumprimentou, sorrindo para o menino que apenas a olhou sem nada dizer. — Como está Tsuhime-san?

— Melhor. — Haru foi rápido, dirigindo-se ao pai. — Falei pra mamãe que você ia entrar, ela está te esperando. Pode ir, eu faço companhia a Sakura-san, papai.

Era impressão sua ou realmente havia um teor irritado na voz de Haru quando pronunciou o nome de sua aluna? Em todo caso, preferiu deixar o assunto para mais tarde e encaminhou-se para o quarto da esposa. Ela estava do mesmo jeito que a vira da última vez, entretanto podia sentir algo diferente emanando dela. As pálpebras de Tsuhime tremiam, como se ela tentasse abrir os olhos.

— Tsuhime? — Ele chamou-a, esperançoso. Todavia, ele visualizou apenas finas lágrimas escorrendo pelo rosto dela. — Por que está chorando? Está sentindo alguma dor?

“Sim, estou! Bem aqui!”

— Eu estou aqui, sempre vou estar. Haru contou para você sobre os exames para gennin? Ele está animado. — Kakashi finalmente se sentou. — Tsunade-sama te conectou a um dispositivo, saberemos através dele se você pode nos escutar. Mas eu queria tentar uma coisa... — Ele tomou a mão da esposa entre a sua e a apertou, pedinte. — Dê-me algum sinal de que consegue me ouvir, querida, qualquer sinal.

Mas, como sempre acontecia, o pedido não foi atendido.

“Eu estou tentando, Kakashi! Mas é como se eu estivesse presa dentro do meu próprio corpo. Você me entende? Isso é horrível, causa-me tanta dor! Eu queria tanto olhar para você agora. Saber que você não me abandonou é meu incentivo.”

— Sabe, querida, pensei em levá-la para casa. O que você acha da ideia? Ainda não conversei com Tsunade-sama sobre isso, talvez ela concorde. Será bom para você voltar para casa. — De súbito, Kakashi retirou a mecha de cabelo do rosto de Tsuhime. — Seus cabelos estão bastante compridos... Você está linda.

“Ora, o que é isso, Kakashi? Sei muito bem que pareço uma caveira. Não me venha com elogios agora. Mas obrigada por tentar me animar, eu gostaria sim de ir para casa.”

Kakashi soltou um longo suspiro, resignando despejar todos os sentimentos contra Tsuhime. Ele não estava irritado com ela, e sim com o rumo que suas vidas tomaram em pouco tempo. Há cinco anos eles eram felizes, tendo todas as discussões de uma família feliz, e agora aquela imagem de normalidade tinha se dispersado com o vento triste que sempre os regava. Depois de tudo que Tsuhime passou, achava mais do que justo que ela fosse inteiramente livre dos problemas, contudo a esposa parecia um imã.

Tsunade havia lhe explicado que, como o Selo Amaldiçoado a dominou rapidamente, a pressão que a técnica de transformação causou foram demais para os órgãos aguentarem, além de todo o chakra dela ter se esvaído. Como Tsuhime reagiria quando soubesse que o pior acontecera? Agora ela era uma simples civil, sem as táticas ninjas regendo sobre ela. Lembrava-se de que a esposa havia comentado algo do gênero quando se conheceram e pôde visualizar o medo expresso nos olhos dela. Causar-lhe-ia mais uma frustração.

“Por que ficou calado de repente?”

— Desculpe-me, eu estava pensando... Não precisa se preocupar, é algo sem importância. Eu tenho que ir agora, Tsuhime. Prometi a Haru que cuidaria do treino dele. — A verdade era que a imagem de Tsuhime naquela cama o aterrorizava. — Eu volto mais tarde.

“Claro, não precisa ficar ligado ao hospital para sempre. Fico feliz por saber que vocês estão bem, amor, isso é muito bom. Vá para casa e descanse.”

— Eu amo você. — Beijou-a levemente nos lábios, notando-os um pouco ressecados.

“Eu também amo você, Kakashi.”

Após a conversa muda com Tsuhime, o ninja copiador encontrou Haru e Sakura discutindo algo. Haru sempre inalterado, porém mantendo o olhar irritadiço para a jovem médica enquanto Sakura sorria amigável. Ainda teria que interrogá-lo sobre tal comportamento, entretanto no momento ele não conseguiria sustentar qualquer debate. Apenas acenou para o filho o chamando e despediu-se da Haruno.

Os passos arrastados e tristonhos levaram pai e filho para fora do hospital, Haru sempre de mão dada com Kakashi. Ele precisava senti-lo por perto para saber que as coisas iriam melhorar, necessitava ainda mais que ele o dissesse, e foi quando uma ideia dominou seus pensamentos. Permaneceu um longo tempo cogitando se deveria se abrir com Kakashi ou ignorar a proposta, todavia as palavras agitavam-se em sua garganta.

— Papai... — Haru verbalizou, tímido e cauteloso. — Eu queria te falar uma coisa.

— Estou ouvindo. — Kakashi rebateu simplesmente.

— Você se lembra daquele tio que me trouxe para casa? — Ao mencionar silenciosamente Kabuto, percebeu que o aperto em sua mãe intensificara. — Estive pensando se ele não pode curar a mamãe. Ele também é médico, não custava pedir a ajuda dele se isso fizesse a mamãe acordar.

— Não vamos pedir a ajuda dele, Haru, é exatamente por culpa dele que sua mãe está assim. Eu sinto muito, filho, isso vai ser impossível.

— Mas papai é da mamãe que estamos falando! — Haru se soltara do contato com o pai, parando a frente dele e abrindo os braços. — A gente não devia ter esse orgulho todo, não. E se a vovó Tsunade não conseguir acordar a mamãe?

— Haru, entenda uma coisa... — Kakashi segurou o filho pelos ombros, olhando-o firmemente. — Esqueça essa ideia porque não vamos confiar em Kabuto, tudo bem? Ele pode ser nossa única chance, mas eu não quero que ele se aproxime de vocês de novo. Aceitá-lo seria o mesmo que perdoar tudo o que ele fez.

— Eu não me importo! — Haru se rebelou, afastando-se do pai com raiva. Por que ele não conseguia ver a situação do seu ponto de vista? — Se você não quer ir atrás do tio, eu vou! Eu vou salvar a minha mãe você gostando ou não, papai. Minha mãe é a pessoa mais importante para mim e eu não vou deixar que você me faça perder ela por puro orgulho!

Kakashi não teve tempo para responder, pois Haru distanciou-se dele com euforia. A silhueta do filho corria dele, contudo antes que Haru pudesse perceber o Hatake enxergou finas lágrimas escorrendo pelo rosto infantil. Embora a ideia do filho fosse válida, Kakashi jamais se permitiria entregar Tsuhime aos cuidados de Kabuto, não depois do que ele fez para com sua família. Kabuto brincara com os sentimentos de todos, provocando discórdia em todos os momentos... Não, era inaceitável! Apesar de sua aparência indiferente, Kakashi possuía o seu orgulho e nada o faria ceder, mesmo que sua negação condenasse Tsuhime.

(...)

O corpo infantil tremia de raiva e frustração, enquanto Haru rendia-se ao choro embaixo do carvalho majestoso. Ali era seu porto seguro, onde ele conseguia organizar os pensamentos preguiçosamente. Naquele momento, interagindo com o pai minutos atrás, começou a se sentir sozinho. Parecia que ele era o único que lutava para salvar Tsuhime enquanto os outros esperavam milagres do céu. Sentia que tinha que fazer algo pela mãe, aliás, ele deveria fazer algo pela mulher que o amava tanto, incondicionalmente. Se o pai não queria embarcar com ele, que seja! Ele o faria sozinho, afinal já crescera o bastante para decidir seus atos.

— Haru-chan? — A voz meiga de Saiyuri ecoou pelos ouvidos do menino e Haru sentiu-se um pouco melhor por vê-la ali. Os cabelos esverdeados balançavam com a brisa de primavera e os olhos rosáceos o analisavam preocupados. Ela sentou-se perto dele. — O que foi?

Desde o começo, quando começara a frequentar a academia ela estava sempre lá, olhando para ele e soando simpática. Por alguns meses pensou ser por causa de Kakashi e sua fama, porém a garota era simplesmente simpática e se aproximou dele por amizade. Unicamente por isso. E ela era muito bonita. Com a mesma idade que Haru, Saiyuri era um pouco mais alta que ele e notava que a maioria dos meninos tentava impressioná-la. E lhe trazia satisfação perceber que, dentre todos, ela escolhia sempre ficar com ele.

— É algo com sua mãe?

— Não, a mamãe bem, é só...

— Você pode me dizer. — Ela segurou a mão dele e sorriu, e vê-la tão perto apenas o fazia perder as palavras.

— Não é nada, Saiyuri, de verdade. — Haru sabia que poderia confiar na menina, mas expor o pai não lhe deu ideias boas. — É só saudade.

— Eu entendo você. — Os olhos rosáceos se fixaram no céu, acompanhando o ritmo das nuvens. — Perdi minha mãe há pouco tempo, as coisas em casa não estão muito boas. Mas eu sei que meu pai me ama e está sofrendo, talvez Kakashi-sensei não saiba como demonstrar o mesmo.

Voltou para casa, pensando no que Saiyuri tinha dito e admitia que talvez ela estivesse certa, porém não era o bastante para livrá-lo da irritação. De todas as pessoas ele queria que Kakashi o apoiasse e isso não estava acontecendo. Adentrou diretamente o quarto. Buscou a mochila e encheu-a de armas ninjas, roupas e comida. Haru tomou um rápido banho, confirmando ser o único na casa, embora logo soubesse que o pai viria atrás dele. Ele nunca foi bom em se esconder, pois Kakashi conseguia senti-lo a distâncias incríveis. Às vezes gostaria que o pai fosse um pouco mais comum, contudo tratava-se de Hatake Kakashi, o homem que copiou mais de mil jutsus.

O menino bufou, retornando ao quarto e deparando-se com Kakashi encostado ao batente da porta, de braços cruzados. Não se dirigiu a ele, apenas colocou a mochila nos ombros e tentou passar pelo homem, todavia Kakashi prostrou-se a frente do filho. Interrogativo e inexpressivo, Haru odiava aquele olhar do pai. Era como se o condenasse, mesmo sabendo que ele tinha razão.

— Eu quero passar. — O garoto retorquiu, batendo os pés com impaciência. — E você está atrapalhando.

— Não posso permitir que vá sozinho. — Há essa hora Kakashi já havia informado a ideia do filho a Hokage e por mais que doesse em si aceitar, percebeu que a melhor opção seria trazer Kabuto. Não conhecia a extensão dos poderes médicos dele, no entanto Tsunade lhe garantira que possuíam valores preciosos e uma habilidade super-desenvolvida. — Eu vou com você.

Imediatamente Haru sorriu e jogou-se contra o pai, abraçando-o bem forte. Sussurrou-lhe com voz embargada um: “Obrigado, papai, você é o melhor!”

“Não, está enganado. O herói aqui é você.”


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Obrigada por ter lido, espero que tenha gostado.
Críticas construtivas, sugestões, dúvidas... Receberei com muito carinho.
Boa semana!
Beijos!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Harukaze" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.