Harukaze escrita por With


Capítulo 35
Capítulo 35


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/585683/chapter/35

Harukaze

Capítulo 35

Enquanto olho o meu reflexo de fora para dentro
Em que direção segue a minha vida?
Enquanto olho de fora para dentro
Para onde eu estive

O som da porta se abrindo fez com que Haru largasse o jogo e fosse correndo ao encontro daqueles que chegavam. A felicidade em estar de volta se destacava em seu sorriso, e este se alargou mais ao ver que Tsuhime fixava os olhos nele, incrédula. Foi preciso que ele se atirasse contra ela para ter certeza de que a imagem do filho não fosse uma ilusão. Ajoelhou-se, recebendo o corpo de Haru contra o seu e as lágrimas escaparam livres. Kakashi apenas sorriu, percebendo que eles não eram os únicos a estarem em casa. Havia mais uma presença, a ressonância agressiva daquele chakra alertando todos os seus sentidos.

— Mamãe, eu senti tanta saudade! — Haru exclamou, recebendo beijos da mãe por todo o rosto. — O tio me trouxe.

— Que tio?

Dispersando qualquer felicidade da casa, Kabuto anunciou-se na sala com um sorriso simples nos lábios. Havia mostrado a Kakashi que estava ali em missão de paz, porém o ninja copiador encarava-o com dúvidas e faltava pouco para expulsá-lo da casa. Haru caminhou até Kabuto, segurando-o pela mão e trazendo-o para o meio deles. Todo o comportamento do menino era natural perto do ninja médico e aquilo acentuou as desconfianças. Na mente de Tsuhime e Kakashi passavam muita coisa, entretanto de uma coisa ambos tinham certeza: Kabuto exigiria algo em troca e sabiam o quê.

— Eu deveria saber, Kabuto, que você não perderia tempo. — Tsuhime iniciou a conversa, aproximando-se de Kakashi. — Haru, venha aqui com mamãe.

— Mas... — Haru tentou relutar, não compreendendo os motivos dos pais olharam tão feio para o seu amigo. Mencionou dizer algo, contudo Kakashi o interrompeu.

— Escute sua mãe, filho, venha. — Assim que o garoto o obedeceu à contra gosto, passou os braços pelos ombros infantis e manteve-se alerto. Aquele homem era astuto o bastante para começar qualquer coisa. Recebeu perguntas através do olhar de Haru, no entanto apenas balançou a cabeça em negação.

— Não acredito que se aproximou tanto do meu filho por motivos tão covardes. Mas fique sabendo que não terá nada de mim.

— Você me julga tão mal, Hime. — Kabuto deu um passo à frente, vendo que Tsuhime não se moveu. — Apesar de tudo, eu me importo com você. Trouxe seu filho em segurança, nada mais justo do que cumprir com o acordo que fizemos.

— Não fizemos nenhum acordo! — A Yatsuki negou, irritada. — Você apenas impôs condições e agora está bancando o herói na frente do meu filho. Não te devo nada.

Kabuto caminhou pensativo pelo cômodo, a mão no queixo ponderando o que diria a seguir. Mesmo tendo prometido a Orochimaru que manteria as condições de Tsuhime em segredo, esta poderia ser uma ótima oportunidade para fazê-la ceder.

— Você se lembra das experiências, Hime? — Ele começou, pisando com cuidado no território frágil. — Eu induzi seu pai a testar genes em você. Por quê? Porque você seria uma fonte confiável de expectativas para o que eu queria. Podemos dizer que você criou os meus genes muito bem e agora eu os quero de volta. Há um limite para tudo nessa vida, Hime, e o que colocamos em você também tem. Era só uma questão de tempo até que eu pudesse retirar os efeitos do experimento.

— Então, você é o culpado por todo o meu sofrimento. — Tsuhime deduziu distraída, repensando em cada fase de sua vida anteriormente. E deu-se conta de que aquilo não lhe importava mais. Mesmo que Kabuto houvesse tentado repeli-la de todas as coisas boas que ela poderia ter, encontrou alguém que a aceitasse. Isso era o suficiente. Sorriu. — Agora esses genes são meus e não pretendo dá-los a você. Siga os passos do meu pai e comece o reproduzindo novamente em outra cobaia, não foi fácil?

— Infelizmente eu gastei a dose do gene mais precioso em você e realmente terei que insistir. Foi muito difícil consegui-lo. — A expressão de Kabuto mudou quando encarou Haru, inspecionando-o confuso. — Desculpe, garoto, mas eu não sou tão bom quanto pensa. Eu vou machucar a sua mãe.

Assim que escutou aquelas palavras, Kakashi deixou-se guiar por seus instintos. Mais rápido do que os olhos pudessem acompanhar, ele havia atingindo Kabuto com o Raikiri bem no meio do peito. Transpassou-o com jutsu e braço, destruindo também a parede que dava para o corredor. O Sharingan sempre ativo ornamentando o som de vários pássaros, observando-o com extrema raiva.

Entretanto, sua surpresa distraiu-o ao ver que Kabuto ria abertamente. Embora sangrasse, ele expressava todo o divertimento enquanto segurava o pulso de Kakashi e começava a expeli-lo de seu corpo. Uma pessoa normal teria morrido com tal ferimento, contudo Kabuto era um médico excelente em seus talentos e iniciou sua cura, multiplicando as células e acelerando sua recuperação.

— Podemos evitar constrangimentos, minha Hime, basta que... — E toda a voz cessou ao ver que Tsuhime já não era a mesma.

A segunda forma do Selo Amaldiçoado que Orochimaru tanto queria presenciar agora imperava com fervor diante do descontrole da jovem. Os olhos de esclerótica negra e íris amarelas, o corpo coberto por pelagem alaranjada e espessa, garras no lugar das unhas e o cabelo transformara-se em uma juba afiada e dançante. O sorriso que adornava os lábios dela exibia uma carreira de dentes felinos e compridos.

— Mam...? — Haru tentou chamá-la, no entanto apenas atraiu a atenção da fera. Seu corpo tremia da cabeça aos pés.

No ímpeto, Tsuhime empurrou Haru sem medir a força e arremessou o garoto contra a parede, fazendo com que ele atravessasse outro cômodo. O andar na ponta dos pés não foi o bastante para afastar Kakashi, que mantinha o corpo preso no lugar por uma cola invisível. Então, fora nisso que impedira a esposa de se transformar anos atrás? No final a situação foi demais para que seu selo aguentasse. Tentou buscar traços de Tsuhime no monstro a sua frente, entretanto encontrou apenas raiva e sede no sangue.

— Saia! — Em sua mente ela havia pedido nitidamente, porém no presente suas palavras não passaram de um rugido. Ergueu o braço, disposta a retirar Kakashi do caminho, contudo uma picada em seu pescoço fez com que descobrir o que era se tornasse sua preocupação. Estapeou o local, contribuindo para a que a seringa instalada se aprofundasse mais em sua pele. O líquido foi entrando em sua corrente sanguínea, embaçando a visão e controlando seu equilíbrio. Assim que o frasco esvaziou-se, imediatamente o sangue preencheu o vácuo.

Kabuto apenas observava enquanto terminava os processos médicos e ria de satisfação. No final ele sempre conseguia o que queria por bem ou por mal, embora por mal fosse mais interessante. Não cogitou que a situação poderia fugir do controle daquela maneira, porém vê-la rendida ao Selo Amaldiçoado foi um show e tanto. Levantou-se, a parte de cima das roupas completamente danificadas, e com linhas de chakra atraiu o objeto para suas mãos. Seu trabalho ali havia terminado.

Entretanto, só não contava que Tsuhime possuísse alguma fagulha de controle. Furiosa e destemida, a mulher segurou-lhe pelo pescoço, os dedos compridos e peludos comprimindo sua garganta enquanto agarrava o braço esquerdo do ninja e o puxava. Matá-lo-ia se tivesse mais tempo, se aquele remédio não estivesse agindo tão rapidamente em seu sistema. Interrompeu o ar de Kabuto pelo tempo que conseguia, os ossos estalando pela pressão que ela fazia para arrancá-lo, até se ver rendida pelo cansaço, deixando assim que o ninja médico escapasse.

Ainda confuso com tudo que acontecia, Kakashi chamou seus cachorros e pediu que ele avisasse a Hokage e livrassem Haru dos escombros, enquanto isso cuidaria das coisas em casa. Tsuhime permanecia de pé, encarando-o como se fosse o culpado por ter deixado Kabuto escapar, todavia o efeito do sedativo começava a fazer o seu trabalho.

Com um baque pesado Tsuhime caiu, o corpo se contorcendo por sentir a queimação interna. Havia mais compostos ali do que um simples sedativo, ela teve ciência quando recuperou parcialmente seu raciocínio. Seu chakra sendo facilmente perdido pelo desequilíbrio que causara em seu sistema e logo a fera refugiou-se dentro dela novamente, quieta e adormecida.

— Ka-Kakashi... — Ela murmurou cansada, as pálpebras se esforçando para se manter abertas. — Você não pode deixar que ele vá...

— A minha prioridade é Haru e você. — O Hatake colocou-a em seu colo, aliviado por rever a mulher novamente.

— Você não entende... — Ela piscou os olhos, espantando o sono que chegava devagar. — Kabuto... Ele tem algo perigoso nas mãos. Precisa recuperar a amostra que ele pegou e... — A onda de sangue que Tsuhime vomitou bloqueou qualquer tentativa de rebater, logo se tornando incontrolável. E mesmo inconsciente a hemorragia não cessara. Tinha alguma coisa muito errada com ela.

(...)

O hospital encontrava-se em euforia, as macas que levavam Haru e Tsuhime pedindo passagem o mais rápido que conseguiam. Os enfermeiros tinham os braços erguidos, cuidando para que o soro e a máscara de oxigênio ainda continuassem conectados neles. Haru estava consciente, porém com muita dor nas pernas, braços e costas e chamava pela mãe incontáveis vezes. Até que foram separados e ele quis se levantar para acompanhá-la. Kakashi lhe disse que ficaria tudo bem, todavia no fundo ele não possuía tanta certeza.

Quando a Hokage chegou a sua residência encontrou a casa em completa bagunça, Haru já havia saído debaixo dos escombros e Tsuhime sustentada por Kakashi, prevenindo um engasgo por causa da quantidade de sangue que a esposa expelia. Imediatamente Tsunade declarou estado de emergência e apressaram-se com os dois para o hospital. O Hatake não pôde seguir os enfermeiros em uma determinada área, restando assim à sala de espera.

O que mais o irritava era se ver bem, sem um único ferimento, e o sentimento de incompetência que o destruía a cada segundo. Não fora capaz de proteger a sua família e agora não havia nada que pudesse fazer para reparar o erro. Pela primeira vez em anos sentiu lágrimas nublarem-lhe a visão, contudo a frustração que escapava entre elas era nítida.

Depois de uma hora um enfermeiro permitiu sua entrada no quarto do filho e assim ele o fez. Deparou-se com Haru com a perna esquerda e o braço direito engessados. Aquilo o machucou profundamente, porém disfarçou e sentou-se ao lado dele. O mais curioso era ver Haru animado com o gesso, dizendo que iria mostrar para Souma e Hideki quando pudesse. Kakashi sorriu diante a inocência dele, todavia minutos mais tarde ele perguntou pela mãe.

— Ainda não sei, filho. — Afagou os cabelos do menino, em um gesto de conforto. — Ela vai ficar bem, eu prometo. Quando Tsunade-sama permitir, eu te levo para visitá-la.

— Eu fiquei com medo. — Ele confessou, constrangido. — Aquela era mesmo a mamãe, papai? Estava tão diferente, como se não conhecesse a gente.

— Eu sei que tudo é confuso para você agora, mas não precisa ter medo. Sua mãe estava protegendo você e se te machucou foi sem querer. Ela ama você.

— Eu também amo ela. — Haru abraçou Kakashi, acomodando-se no calor dele. Nada o faria se sentir melhor do que estar com o pai, tê-lo por perto. Fechou os olhos, permitindo-se chorar.

Na sala de cirurgia, Tsunade fazia o que podia para estruturar novamente os órgãos internos de Tsuhime. Alguns foram completamente danificados precisando ser retirados, outros abrangiam edemas e fissuras, o que causava a hemorragia interna. Contudo, a Hokage não entendia porque o corpo dela rejeitava a própria genética. O corpo de Tsuhime recusava os genes que não eram dela por natureza, contribuindo para que a temperatura e pressão arterial caíssem exponencialmente. Se aquilo se demorasse mais, a jovem não duraria até o amanhecer.

Suturou e cauterizou os órgãos que necessitavam, enfim seu trabalho estava chegando ao fim. Enquanto os enfermeiros estabilizavam os batimentos cardíacos para que ela aguentasse novas cirurgias, Tsunade fechou fissuras e reconstruiu aquilo que estava a seu alcance. O que seria arriscado demais, Tsunade deixou para que o próprio sistema se organizasse. A cirurgia durou mais de dez horas e quando a noite caía pesada Tsuhime foi liberada para um quarto restrito, ou seja, sem visitas.

O coração de Kakashi acelerou quando viu a Hokage caminhando em sua direção, no entanto a expressão condoída da mulher de cabelos loiros matou todas as suas esperanças de algo bom. Ouviu a explicação de Tsunade com atenção e compreendeu que o melhor era não ter pessoas perambulando no quarto, a esposa precisava de total silêncio para se recuperar. Contudo, poderia vê-la pelo vidro e acompanhá-la de longe, o que já era um grande começo.

— Eu sinto tanto. — Kakashi desculpou-se com a esposa, observando a respiração imperceptível dela. Espalmou as mãos no vidro, como se assim pudesse alcançá-la. — Quando é que tudo voltará a ser como antes?

E como se a vida estivesse negando a oportunidade de ambos terem uma segunda chance, os olhos de Kakashi captaram o disparo das máquinas, alertando que Tsuhime havia piorado. E realmente os sinais nunca mentiam: O coração da Yatsuki parou de bater.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Obrigada por ter lido, espero que tenha gostado.
Deixe sua opinião, crítica construtiva, sugestões... Receberei com muito carinho.
Bom fim de semana!
Beijos.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Harukaze" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.