Harukaze escrita por With


Capítulo 17
Capítulo 17


Notas iniciais do capítulo

Boa tarde!
Postando um pouquinho mais tarde, hoje foi um dia bem corrido.
Boa leitura!



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Harukaze

Capítulo 17

Teria sido melhor se eu tivesse crescido sem gostar de você

Mas em dias como hoje, tenho certeza

Que eu acabarei lembrando novamente

Estar encurralada por aquelas paredes gélidas e sem vida do quarto alugado, que vulgarmente Tsuhime passou a vê-la como casa, faziam-na se deprimir. Mantinha perto de si a caixa que Taki construíra especialmente para ela e olhá-la era como enxergar o garoto doce na sua frente. Era uma perda significativa, embora ela soubesse que nada mais tinha a fazer a não ser superar. Superar... Ela repetiu em pensamentos, analisando que em toda sua vida aquela palavra estivera sempre presente. Seja como fosse, apesar de não muito notável, ela havia superado todos os obstáculos que adentraram seu caminho.

Porém, Tsuhime de repente pegou-se pensando se realmente havia sido libertada. Questão importante, já que durante um ano viveu escondida e analisando seus dias com um leve toque de alerta. Entretanto, todas as pessoas que iam procurá-la não passavam de civis. O que em partes a aliviava, enquanto por outro lado deixavam-na ainda mais receosa. E se o papai estiver brincando comigo de novo? Martelar sobre esse assunto dava-lhe uma ânsia inevitável e cansada de sempre voltar ao passado, Tsuhime guardou a caixa em um local seguro e vestiu-se.

A noite soprava um vento fraco e fresco, e ela optou por uma roupa mais leve. Ao invés de suas costumeiras botas, Tsuhime preferiu um par de chinelos. Os cabelos presos em um coque frouxo. Iria sair, desintoxicar-se das memórias que sempre a assombrariam da maneira que passasse os anos. Ela merecia um descanso de si mesma, de tudo que havia se acumulado e se transformado em sólidas recordações dolorosas.

Já havia se acostumado com os moradores de Konoha; As crianças olhavam-na curiosas e sorriam como pedissem desculpas pela indiscrição. E ela não se incomodava. Brincou com um grupo misto de crianças e em seguida dirigiu-se ao Ichiraku Lámen. Aquele macarrão era viciante, provavelmente seria seu almoço e jantar por um longo tempo. E pensando nisso, talvez ela devesse ter sua própria cozinha. Não posso morar em um quarto alugado para sempre. Ela se repreendeu, sentando-se em um dos banquinhos do local. O simpático senhor não precisou perguntar o seu pedido, ele já sabia.

— Desculpe-me, senhor, mas sabe de alguma casa disponível? — Tsuhime perguntou de repente, tendo que repetir para que o Tio entendesse.

— Ah, sim! — Ele rebateu, animado. — Nessa rua de trás. Depois, dê uma olhada e converse com a dona.

— Obrigada.

E os minutos que se seguiram foram silenciosos e torturantes. Os únicos sons que se ouviam eram das panelas do Ichiraku Lámen e às vezes o discutir do Tio com sua filha Ayame. Tsuhime sorriu, percebendo que eles mal se lembravam que ela estava ali e presenciava tudo. Quando foi que ela se sentiu tão viva? Dedução que ela não sabia como responder e também não era necessários motivos. Bastava sentir-se assim, e já era suficiente.

Ficar sozinha tornou-se parte de sua rotina, salvo os momentos em que se encontrava no laboratório inspecionando todo o trabalho e concentrando ingredientes para remédios que a Hokage se mostrava urgentemente interessada. E era uma convivência gratificante, mesmo que não tivesse muito contato com as cinco pessoas que se disponibilizaram para adquirir seus ensinamentos, o que se mostrava um número considerável já que remédios tinham teologias definidas e rituais de preparo e, claro, exigiam uma boa coordenação motora. Se a mão tremesse, poderia depositar mais ingredientes do que o necessário.

E ela não se cansava de repetir cada processo àqueles que tinham dificuldades. Explicava com paciência e refaziam o procedimento com concentração e empenho. Um ambiente em que ela se sentia parte de algo, que precisavam dela. Em breve não será mais preciso. E havia aqueles que tinham um fácil entendimento do que lhe era responsável. E a estes Tsuhime destinava mais atenção.

— Desculpe pela demora. — O Tio colocou a tigela de lámen a sua frente e Tsuhime agradeceu com um sorriso.

Sorrir tornou-se um hábito espontâneo desde que se mudara para Konoha. A vila possuía uma aura harmoniosa, companheira e que lhe fazia se sentir parte da família. Eles não queriam conhecer suas dores, seus medos, suas angústias e muito menos sua origem, apenas haviam a aceitado de braços abertos.

Yo, Tio! — Naruto apareceu de repente, assustando-lhe por tamanha euforia. — Um miso de porco bem grande!

— Você é um esfomeado, Naruto. — Sakura Haruno sentou-se ao lado de Tsuhime, direcionando a ela um olhar curioso. — Você é a garota que está ajudando Tsunade-sama no hospital. Eu a vi duas vezes perambulando pelos corredores.

— Sim, sou eu. — Tsuhime deu-lhe atenção, esquecendo-se do lámen. Era tão fácil a maneira como as pessoas lhe direcionando a palavra. — Eu também a vi por lá. É médica?

— Sim, apesar de não ficar muito no hospital. — Sakura respondeu amistosa, ignorando completamente os chamados do Uzumaki. Pediu um lámen não tão pesado como de Naruto. — Pelo que Tsunade-sama me disse, você é nova na vila, então não deve ter amigas. Que tal irmos às termias amanhã?

E, sem dúvida, era um convite deveras interessante. As termias eram os lugares que Tsuhime ainda não tivera a oportunidade de frequentar devido seu pouco conhecimento sobre a vila e seu tempo escasso.

— Seria ótimo, mas amanhã eu estarei ocupada no laboratório. — Tsuhime sabia que era uma falta de educação recusar um convite, ainda mais um daqueles. — Quem sabe podemos marcar outro dia.

— Claro!

Sakura remexeu-se no banquinho, ansiosa. Há muito, desde que vira Tsuhime com seu sensei, uma extrema curiosidade apossou-se dela. Queria perguntar, saber do que se tratava — pois raras vezes via seu sensei com alguma mulher —, que quase não se agüentava. Ora, ela era uma mulher e, como todas, possuía uma tendência a ter crises como qualquer outra. Ainda mais quando o assunto se tratava de Hatake Kakashi. Contudo, não poderia simplesmente despejar suas perguntas em Tsuhime sem ao menos ter afinidade com ela.

— Pergunte o que você quer saber. — Tsuhime quebrou a confusão de Sakura, olhando-a com um brilho divertido nos olhos. Talvez não devesse demonstrar suas percepções, todavia Sakura não lhe deixou escolha.

— É que... Bem... — A Haruno gaguejou, nervosa. — Eu vi você conversando com Kakashi-sensei esses dias e... Bom, pensei que talvez... Não, tudo bem. Eu estou sendo intrometida.

— Você se preocupa com Kakashi, isso é bom. Mas todas às vezes que conversamos, foram meras coincidências. Eu mal o conheço, e também... — Tsuhime pausou sua fala, abaixando os olhos para o macarrão que começava a grudar-se no outro. Remexeu-os, distraída em seus próprios pensamentos. Como sempre, você é um livro aberto. Precisa se policiar, Tsuhime. — Eu não sou alguém por quem Kakashi se interessaria.

— Por quê? — Sakura arqueou uma sobrancelha. — Particularmente, você é bem bonita.

— Obrigada, mas eu não estava me referindo a isso. A beleza exterior não é o bastante para conquistar alguém, Sakura. — E, naquele momento, Tsuhime soltou um suspiro cansado. — Ela acaba. E mais cedo ou mais tarde você se verá sozinha com as lembranças de tempos que não eram reais.

Sakura calou-se, assimilando a forma como ela desferia as palavras: Sempre melancólica, como se estivesse se referindo a si mesma. Como se se castigasse com conselhos internos e arrependidos. Entristeceu o semblante, voltando os olhos verdes para frente, em um ponto invisível.

— Desculpe-me, eu chateei você.

— Não, é que... — E de repente, Sakura não sabia mais o que iria dizer. — Fala de uma forma pessoal.

— Eu tenho o defeito de me afeiçoar fácil às pessoas e sempre acabo me revelando mais do que deveria. — Tsuhime empurrou a tigela de lámen, agora fria e pela metade. — Não leve nada em consideração, por favor. São apenas pensamentos arrependidos de uma mulher de vinte anos, o que haveria de importante?

— O que estão conversando? — Naruto intrometeu-se, cansaço de ter sido deixado de lado. — Bem, não importa. Isso era para ser um encontro e você me deixou falando sozinho, como sempre.

— Perdão, acabei desconcentrando Sakura. — Tsuhime pediu, levantando-se. — Obrigada pela refeição, Tio. Vemo-nos mais tarde, boa noite. — Acenou para Sakura e Naruto e saiu do campo de visão de ambos.

(...)

Ainda não havia o desejo de voltar para o quarto, muito menos de se manter sozinha aquela noite. O coque de seu cabelo já se desfizera por causa do vento e Tsuhime preferiu fazer a vontade dos fios e deixou-os livres. Não queria ter saído do Ichiraku Lámen tão rápido, tinha a necessidade de conversar e Sakura aparecera em ótima hora, porém não seria justo despejar suas falhas e mostrá-las a alguém. A dor que sempre preencheria seu coração tornara-se inquebrável, e conviver com ela seria de praxe. Havia variedades de dores — tantas as físicas como emocionais — e preferia guardá-las para si. Eram assuntos pessoais, que agora teria que trancafiá-los em seu coração.

Seus passos a levaram para caminhos desconhecidos, porém não o bastante para fazê-la se distanciar da realidade. A verdade era que Tsuhime não conseguira se desprender de seu passado, de seus sonhos, de Shino. Ela ainda pensava nele, reprimia-se por ainda querê-lo quando a oportunidade para ser dele já não lhe favorecia, quando nutria o mesmo amor limpo de quatro anos atrás. E como esses anos pesavam sobre seus ombros nesse momento.

O que ela havia feito se transformara em um pecado imperdoável? Será que Shino rejeitara o que sentiram pelo outro naquela época? Eu tenho uma noiva. Vou me casar no próximo verão. A voz sonora do Aburame ecoou em seus ouvidos, como se estivesse ouvindo-o falar consigo fisicamente. Como se ele estivesse ao seu lado, dizendo novamente que não existia mais nós.

Eu já sei disso! Não precisa me lembrar a cada minuto! Tsuhime bradou em mente; As lágrimas chegaram silenciosas o bastante para que ela não as notasse. Droga, e eu prometi que ficaria bem.

— Como sempre, você não consegue cumprir nada que diz. — A Yatsuki repreendeu-se, limpando o rosto furiosamente. — Aceite a realidade, Tsuhime, ele não ama mais você! Na verdade, será que você me amou algum dia, Shino?

Ela não tivera a chance de questioná-lo, de ao menos saber que seus sentimentos foram retribuídos. A única coisa que a acalentava era saber que ele a esperou por dois anos. Dois anos... E, mesmo agora tendo se transformado em uma mulher, continuava a mesma instável e fraca de toda a sua vida. E Tsuhime odiava-se por isso. Alegara tantas vezes — e determinada — que mudaria, que seria o que estava destinada a ser, que conquistaria seus sonhos como tantas vezes imaginou.

— Olhe para você agora! — Ela riu de si mesma, enojada da própria imagem. — Continua lamentando, sem forças para ser a pessoa forte que desejou. Um completo fracasso.

Rendeu-se ao cansaço, sentando-se embaixo do carvalho majestoso. A grama gelada não a incomodou nem mesmo os passos que pareciam vir em sua direção a despertaram interesse. O que poderia oferecer a pessoa que se dedicara a abaixar-se a sua frente, nesse instante? Um rosto marcado por tristeza, olhos com pena de si mesma e coração completamente em pedaços. O calor que a aconchegara era confortável, sentia-se bem envolvida por aqueles braços do desconhecido e o perfume natural a fez fechar os olhos acastanhados, em um claro sinal de fragilidade.

— É normal nos decepcionarmos. — A voz disse em um teor gentil, regado de cuidados. — Não há mal nenhum em se arrepender das escolhas que fez. Se algo não deu certo, basta tentar de novo. Se o “tentar de novo” também não der certo, é só encontrar forças em outro lugar.

Tsuhime conhecia aquela voz. Escutara-a várias vezes desde que se mudara para Konoha e o teor entediado quase fizera falta durante as diferentes estações de seu dia a dia. Então, ela ergueu o rosto. A figura masculina a encarava com intensidade, como se exigisse alguma coisa. Aos poucos, a visão embaçada tornava-se nítida e foi impossível não se surpreender.

— Você... — Tsuhime balbuciou incrédula. — Está me seguindo, Kakashi? — Ela tentou sorrir em meio ao caos que a tragava.

— Digamos que você me deixou preocupado. — Kakashi rebateu divertido, conseguindo que ela lhe olhasse sem receios. E a mínima distância que mantinham do outro parecia não desagradá-los. — É por causa de Taki?

— Na verdade, é um turbilhão de causas. — Ela comentou ressentida, soltando um longo suspiro. — Diga-me, Kakashi... Por que você sempre está quando preciso?

Kakashi não a respondeu, apenas deu de ombros. Afinal, os motivos para agir daquela forma impetuosa com Tsuhime, ele manteria em segredo. Podia-se dizer apenas que a garota lhe inspirava uma obrigação de proteção, como se tivesse medo por não estar com ela. Desde que vira o brilho melancólico naqueles olhos acastanhados passou a sentir-se assim. Mesmo que a imagem de Tsuhime lhe transmitisse a impressão de algo passageiro.

Apenas levantou-se, estendendo a mão à Tsuhime.

— Está ficando tarde e é bom que vá para casa. Vou acompanhá-la.

— Não precisa, obrigada. — Tsuhime aceitou a ajuda.

— Não perguntei se queria.

(...)

Os dias se passaram, e Kabuto não conseguia se livrar da ideia de procurar por Tsuhime. A garota ainda possuía muito que lhe oferecer e jamais abriria mão dela de forma tão leviana. Não, ela é minha. Depois de mandar espiões investigar possíveis lugares que a garota recorreria, descobrira o paradeiro dela. Perfeito!

Juntando os seus planos com o aparecimento de Tsuhime, o ninja médico poderia concluir o que tinha em mente o quanto antes e mais: Sem que Orochimaru percebesse suas intenções — embora soubesse o quanto era difícil manter-se natural ao lado dele com tantas ideias povoando seus mais profundos pensamentos. Ninguém ficará no meu caminho nem mesmo o senhor. Ele cogitou ao sair do quarto do Sannin e voltar a seus afazeres. Estava na hora de trazer Tsuhime de volta.

(...)

Depois de despedir-se de Kakashi, Tsuhime adentrou o quarto e a aura que sentiu emanando dele não lhe agradou. Era como se alguém tivesse entrado e remexido em tudo, até ver que ela não possuía o que procurava. A caixa que Taki lhe dera encontrava-se aberta e a kunai de três pontas de maneira não a ocupava. Suas roupas haviam sido tiradas do pequeno armário e várias receitas mesclavam-se com o chão.

Andando cuidadosamente pelo cômodo, Tsuhime esquadrilhou cada local do quarto. A cozinha estava intacta, assim como o banheiro. O único local em desordem era onde dormia. E aquilo lhe soou altamente estranho, fazendo com que lhe percorresse uma sensação gélida pelo corpo. A janela estava aberta, o que ela não se lembrava de ter deixado. O vento balançava as cortinas, causando-lhe aflição.

Abaixou os olhos, vendo no chão a marca exata de uma pegada. A pessoa que pretendia assustá-la soube ser cauteloso em seu trabalho. Tsuhime mediu-a, e não se lembrava dos pés de Kabuto serem daquele tamanho. Kabuto...? Será que...? Imediatamente o coração da jovem mulher acelerou, trazendo com ele aqueles pressentimentos que sempre a controlavam. A dor no pescoço, que há muito não sentia, começou a dar-lhe sinais de desconforto. Droga, aqui não!

Tsuhime esforçava-se para manter a respiração instável e controlar as formas assimétricas que ameaçavam se libertar. Eu tenho que selar isso, mas como? Talvez Tsunade-hime saiba... O resquício de esperança esvaiu ao desesperar-se com as formas vivas serpenteando-lhe o braço esquerdo. O Selo Amaldiçoado queimava-lhe por dentro, e aquela não era a primeira vez que isso acontecia longe de casa. Eu não posso sair assim, mas talvez ele esteja por perto. Ela determinou-se a sair à procura da pessoa mais próxima que tinha no momento: Kakashi.


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Notas finais do capítulo

Obrigada por ler, espero que tenha gostado.
Opiniões, críticas construtivas, sugestões, dúvidas... Tudo será bem vindo.
Até segunda!
Beijos!



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