Sociopathy escrita por Ille Autem


Capítulo 7
Parte II - O Filho Pródigo - VII




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/582261/chapter/7

Seis anos depois.

Chovia forte naquela noite quando Harold convocou uma reunião de última hora com todos os De Lune envolvidos na morte dos dois Caleb, tinha recebido uma correspondência nada conveniente.

Mas o que é isso?–perguntou Madeline se pondo de pé.

Ele tinha a entregue um envelope de papel pardo que tinham deixado na porta. Ela não estava acreditando no que estava vendo, mas Harold, quando ficava sério como estava naquele momento, sem comentar nada, apenas observando, significava que era algo preocupante. No envelope havia uma foto de Hugo Caleb em preto e branco sorrindo e escrito em vermelho: “Você acredita em fantasmas?

–Isso só pode ser uma brincadeira de mau gosto. -comentou Roger.- Ninguém sabe nada além de nós, isso é impossível!

–Você não mandou que o matassem, Harold? -perguntou Claire ao esposo.- Não acredito nisso, você disse que eram homens de confiança!

–E são! -ele falou firme.- Tem alguma coisa errada, Hugo estava morto e se decompondo no cemitério como indigente nesse momento.

–Talvez alguém querendo que o evento de amanhã não aconteça. -arriscou George e Harold o fuzilou, achava aquilo improvável.

–É claro que não. Ninguém sabe de nada, não seja tolo!

–Não podemos cancelar o chá de amanhã, é um evento social importante para minha reputação em Trevo. -disse Madeline.

O chá da ala de Direitos Humanos do governo era um evento anual e muito importante. Cada ano escolhiam uma fundação ou organização beneficente de grande porte para ser homenageada pela causa que abraça. Aquele ano os De Lune tinham sido escolhidos para sediar o evento. Seria na mansão deles e já estava tudo praticamente pronto. Convites vendidos, o qual o dinheiro seria doado para a fundação homenageada, ornamentação pronta e todos os convidados já chegando na cidade.

–Não cancelaremos o chá de amanhã. -disse Harold ríspido.- Tudo acontecerá normalmente, isso tudo não passa de uma brincadeira de mau gosto de alguém que provavelmente não gosta de nós, ou sabe de alguma coisa, descobrirei quem é.

–George? -perguntou uma voz doce batendo na porta, era Trina, a esposa do assessor de imprensa da família.- Vamos querido, esta tarde, Joe já dormiu no meu colo.

–Pode ir, George.- liberou Madeline.- Esteja aqui amanhã bem cedo.



–Ken! -disse Rita empolgada quando o elegante carro prateado estacionou na sua garagem. Ela estava com uma elegante roupa casual para receber o amigo.- Que bom que veio, fico feliz por ter aceitado o convite!

–Nossa, da próxima vez em venho de submarino. -Ken riu descontraído enquanto ajeitava o elegante broche na gravata, sempre o vestia, ele dizia que o deixava mais elegante, e de fato o deixava.- Eu não podia recusar um pedido seu. -sorriu.

Rita Goldberg era uma influente mulher no ramo editorial e de publicidade, era dona da respeitada editora GoldPress que completaria seu centenário no sábado seguinte. Ela era como uma mãe para o célebre escritor Ken Isao que apareceu para ela como um anjo quando passava por um momento de penumbra em sua vida.

Era filha única e amava livros, assim como seu pai que era o então segundo presidente da empresa, o primeiro era seu avô, que era também fundador. Naquela época também estava tendo um romance proibido, havia se apaixonado por um seminarista, seu nome era Thiago, e havia engravidado dele que prometera deixar tudo no fim do ano seguinte para viverem juntos e assim foi feito, mas logo todo esse sonho se desfez.

Seu pai faleceu quando ela estava grávida de gêmeos e quando ela fora contar o marido da gravidez, Thiago contara antes que queria o divórcio e sua vocação era realmente a vida consagrada, ela ficara arrasada, contara a ele sobre a gravidez, mas o amava muito para o ver preso a ela por filhos e prometeu não contar nada a ninguém, apenas o apoiou e continuaram amigos por um tempo, mas depois ele sumiu e nunca mais o procurou, o que a deixou muito abalada também.

Foi então que assumiu a presidência da editora e a manteve bem por muito tempo junto com o apoio de todos os funcionários. Criara muito bem os gêmeos, Enzo e Enrico que não se interessavam por livros e publicações, o que a preocupava muito sobre o futuro da editora, até que surgira Ken Isao com seu elegante broche, um escritor maravilhoso e muito surpreendedor, era discreto, mas sabia chamar atenção quando queria, além do mais, era muito bonito e charmoso, o filho que ela também queria ter, além dos gêmeos, é claro.

Ken tinha se tornado um grande amigo e conselheiro na direção da editora, e com seus inúmeros romances, todos best sellers e que levaram a editora nas alturas, tornado todos os editores, funcionários e escritores pessoas prestigiadas e influentes em todo o país e no mundo, por isso, Rita era muito grata a Ken que finalmente, depois de muito tempo, aceitara a proposta de editor-chefe da editora.

–Foi bem de viagem? -ela perguntou enquanto entravam na mansão.

–Eu teria chegado mais cedo se não fosse essa chuva toda. -ele riu e reparou em dois rapazes um pouco diferentes um do outro, mas sabia que eram gêmeos.- Então esses são os famosos Enzo e Enrico?

Os gêmeos sorriram, Ken, além de ser um grande amigo da família, mesmo sem o conhecerem muito bem, sabiam o quanto tinha feito por eles e pela editora, isso os tornaram curiosos para os livros do famoso autor e logo em seguida, depois de terem lido apenas os livros dele, se tornaram fãs também e agora, naquelas férias estavam mais do que curiosos para conhecê-lo pessoalmente.

–Famosos por não gostarmos de publicações e não lermos, só se for. -brincou Enzo.- O que mais mamãe fala de nós? -Rita riu.

–Que são filhos ótimos, apesar de tudo. -riu o escritor e apertou a mão dos gêmeos.- Não sei como podem não gostar de livros, são os únicos que podem inventar tudo aquilo que você sempre quis da maneira que quiser.

Os gêmeos riram girando os olhos.- Já ouvimos isso.

–E já ouviram que existem livros de esporte também? -eles pareceram surpreso.- É impossível que nunca tenham ouvido falar disso!

–Que tal nos contar então? -perguntou Enrico.

–Só se nos acompanharem no chá beneficente de amanhã. -chantageou Rita e os gêmeos riram.- É um preço justo, -Ken concordou e os irmãos se entreolharam.

–Nós aceitamos.



–Bom dia, querida! -disse George na manhã seguinte para a esposa que sorriu, ela estava dando o café da manhã para o pequeno Joe.- Passou bem a noite?

–Sim, Joe também .Aliás, ele tem alguns exames para fazer na cidade, você pode nos levar? Depois ainda tenho que passar na casa de mamãe deixar o Joe com ela.

–Sinto muito querida. -respondeu o marido tomando uma rápida xícara de café.- Hoje o dia está cheio na mansão, Madeline pediu que eu chegasse cedo, você sabe tanto quanto eu que é um evento importante, pegue um táxi. Nos vemos mais tarde. -ele sorriu e a beijou rapidamente deixando a casa antes que ela pudesse dizer alguma coisa.

Trina sorriu conformada. Ficara muito feliz quando meses antes de se casarem, há seis anos, George chegara com a notícia de que os De Lune tinham ficado admirados com seu porte e profissionalismo jornalístico com a cobertura da morte do Padre Maycol, que era como um pai pra ela, confessor e conselheiro, ficara arrasada com a morte dele, mas de certa forma, ele a recompensara com a chance de crescer na vida que ela e George haviam ganhado.

Depois de alguns meses trabalhando para a família, George comprou uma casa maior, um carro melhor e não demorou para que se casassem com toda a pompa. Se tornaram amigos íntimos dos De Lune, e Madeline havia nomeado Trina mais nova diretora da Fundação Padre Maycol, já que eram como pai e filha, ela saberia como administrar de maneira que o falecido sacerdote mais gostasse e é claro que ela aceitara e desde então ocupava o cargo

Agora, seis anos depois de todos esses acontecimentos, ela era respeitada entre todos na cidade, a Sra. Curious, uma socialite conhecida no país todo por suas obras que vinha criando através da fundação, das ótimas negociações que fazia e também pelas posses que havia conseguido junto ao marido, assessor de imprensa daquela família tão respeitada.

Mas junto com todo esse glamour e status, vinha também a saudade. Saudade de ter o marido ali, presente ao lado dela e do tão sonhado filho, que George não dava tanta atenção como deveria, pois estava ocupado com o trabalho e os muitos eventos da família De Lune, ele as vezes chegava tarde em casa e ainda levava trabalho para terminar nas madrugadas. Sentia falta dele, mas sabia que o George que ela tinha se apaixonado, ainda estava ali dentro, em algum lugar.

Mas ela não tinha muita opção a não ser aceitar aquela mudança em sua vida e tentar viver o mais em paz que conseguisse. Trina vestiu Joe rapidamente e chamou o táxi, pegou a bolsa e foi esperar na calçada, ainda tinha que comparecer ao tal chá de Direitos Humanos, afinal, a diretora da fundação não podia faltar.

A bela moça então sentiu um empurrão forte e foi obrigada andar alguns passos meio desorientada, como se tivesse tropeçado, mas não caiu, ela então se virou como uma fera, afinal, quem esbarrou nela podia ter machucado o seu filho que ia fazer um ano, fora por pouco que não tinham caído os dois.

–Me desculpe! -disse um dos dois rapazes que estavam juntos, eram gêmeos.- Você está bem? Ah meu Deus! Eu sou um desastrado mesmo.

–Para variar né, Enzo? -brincou o irmão e Trina foi obrigada a rir.- Ela ainda está com um bebê seu idiota!

O rapaz pareceu mais horrorizado ainda.- Tudo bem. -ela disse rindo.- Só tome cuidado da próxima vez.

Enzo sorriu, o sorriso daquela moça era lindo.



–Onde estão os meninos? -perguntou Ken enquanto tomava café naquela manhã na varanda da mansão.

–Foram correr. -Rita girou os olhos.- Todos os dias de manhã, faça sol ou faça chuva, eles correm, correm como correm de publicações e livros. -os dois amigos riram.- Mas eles irão ao chá conosco, não se preocupe.

–Não se preocupe, eu os farei mudar de ideia.

–Estou contando com isso, eles são muito difíceis de lidar as vezes.

–Espere até eles começarem a namorar, vai ser muito pior.

–Isso não ajudou muito. -ela riu.



A mansão De Lune estava movimentada naquela tarde, homens e mulheres importantes que abraçavam diferentes causas humanitárias chegavam a todo instante na casa totalmente ornamentada para o chá de Direitos Humanos. O jardim tomado por elegantes mesas com toalhas de renda, belos arranjos florais e perto da casa um elegante palanque onde um violinista tocava uma música suave que servia como trilha par a conversa animada entre todos os elegantes convidados que sorriam e se cumprimentavam felizes.

Madeline cumprimentava a todos sorrindo, mesa por mesa, agradecendo a indicação e as parabenizações dos convidados mais chegados. Estava radiante, mas receosa quando a correspondência do dia anterior, com medo de qualquer eventualidade fora dos planos para o evento, mas sabia que tudo daria certo.

–Madeline! -disse uma voz animada, era Rita, uma amiga e moradora da vizinhança que vinha sorrindo.- Parabéns querida, pelo prêmio, você merece.

–Obrigada, Rita, querida! -a anfitriã sorriu e se voltou admirada para o homem que a acompanhava.- Veja se não é Ken Isao, que prazer recebê-lo, Sr. Isao.

Ken sorriu e beijou-lhe a mão.– O prazer é todo meu, Sra. De Lune, que belíssima causa a senhora abraça, meus parabéns, merecido prêmio. -Todos os fotógrafos e jornalistas registraram o momento postando tudo em tempo real nas redes sociais e sites de notícias que bombaram com a presença do célebre escritor no chá.

–Creio então que as suspeitas de que você será o novo editor-chefe da GoldPress são verdade, certo? -perguntou Madeline enquanto os guiava para a mesa.

–As aparências enganam muito, Sra. De Lune. -eles riram.- Vocês estão convidados para o centenário da editora, no próximo sábado, quando será anunciado se eu realmente serei ou não o novo editor-chefe.

–Eu não vou perder, parabéns pelos livros também. Tenho todos, se puder autografá-los depois. -ela sorriu e piscou, Ken assentiu.- Boa festa. -e os deixou.

–Você tem muitos fãs, até Madeline tem seus livros! -surpreendeu-se Rita.

Nesse momento então uma elegante moça, morena dos cabelos lisos subiu ao palco, era Trina Curious que daria início a premiação. - Boa tarde a todos, meu nome é Trina Curious e sou a diretora da Fundação Padre Maycol e serei a mestra de cerimônias dessa tarde. -todos aplaudiram sorrindo.- Gostaria de ressaltar a presença de uma figura importante em nossa festa, o querido escritor e atual coordenador do comitê de direitos humanos, Ken Isao. -ela sorriu e o convidado ficou de pé enquanto todos aplaudiam.- E agora, gostaria de convidar a atual presidente do comitê, Stella Chevalier. -e mais aplausos enquanto a bela mulher loira de cabelos curtos e pomposos subia ao palanque, muito elegante com um vestido longo e grandes joias.

A presidente do comitê então fez um belíssimo discurso falando sobre o querido Padre Maycol que fez até Ken se emocionar, mas ele conteve as lágrimas, não fazia seu tipo chorar publicamente. Todos aplaudiram e para finalizar, Stella sorriu de maneira fraternal para Ken, que disfarçou o desgosto daquilo, e o chamou para juntos darem o prêmio do governo para o Sr. e a Sra. De Lune. Os dois membros do comitê então entregaram o prêmio e cumprimentaram o casal, tiraram muitas fotos sorrindo e todos aplaudiram de pé.

–Parabéns!. -disse Ken ao casal quando se despediam.- Foi um prazer.

–Nós agradecemos a sua presença, Sr. Isao. -disse Roger sorrindo.- Apareça quando quiser.

–Já convidei Madeline para o centenário da editora, vai ser um evento exclusivo, apenas para os mais bem posicionados da elite do país e somente as principais emissoras e jornais estarão presentes.

–Nós não perderemos, até sábado. -sorriu Madeline.

Depois disso, Ken e Rita deixaram a mansão.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!