Cheguei no bunker de noite, Dean e Sam ainda não haviam retornado e provavelmente só iriam chegar pela tarde do dia seguinte. Eu iria ficar sozinha naquele lugar enorme, mas pelo menos ali sempre tinha o que fazer. Pensei em ler alguns livros quando me lembrei que Castiel disse que estava resolvendo umas coisas com outros anjos e eu fiquei realmente curiosa com aquilo. Claro que ele não iria me falar, mas sei de outra pessoa que poderia. Saí do bunker e fui de carro até o meio da estrada, pois eu poderia chamar quem quer que fosse, não me acharia nunca estando dentro daquele lugar.

– Oh meu querido Arcanjo Gabriel, quando vossa divindade escutar essa prece e puder comparecer, eu agradeço... E traga umas trufas de cereja para mim. - Eu fiz a minha pequena oração para aquele idiota e depois liguei o rádio do carro para passar o tempo

Deitei o banco e aproveitei a música, era Uptown Funk do Bruno Mars, bem animadinha do jeito que eu gosto, estilo música antiga. Apesar de gostar de ficar sozinha com meus próprios pensamentos eu sentia falta de ter alguém para conversar e me fazer rir, como aqueles dois idiotas. Eu sempre cacei sozinha, raramente eu chamava outra pessoa para ir comigo. No começo, Dean tentou me impedir dizendo que era estupidez e que eu logo acabaria morta. Não foi o que aconteceu, eu podia ser a mais teimosa e impulsiva mas não era nem um pouco idiota e logo todos notaram isso e me deixaram em paz para caçar sozinha.

– Cheguei, my sweet pumpkin! - Gabriel apareceu sentado ao meu lado - E trouxe suas trufas de cereja. Que musiquinha legal!

– Ah! - Eu peguei as trufas da mão dele - Obrigada, Gabes!

– Então, o que está rolando na sua divertidíssima vida?

– Acabei de voltar de uma caçada à um lobisomem e tive um lobisomem como parceiro, Castiel esteve lá sendo... o Castiel e eu estou esperando os Winchester para dar bons tapas na cara deles. - Dei de ombros - Mas te chamei aqui para perguntar o que você, o anjo de sobretudo e o resto dos querubins estão aprontando.

– Não estamos aprontando nada! - Ele torceu a boca e ergueu uma sobrancelha.

– Você não sabe mentir, Gabriel! E o Castiel me disse que estão resolvendo umas coisas.

– Ah! Cassie e sua boca enorme! Você consegue arrancar qualquer coisa do anjinho, não é? - Gabriel bufou visivelmente irritado.

– Você ainda não respondeu minha pergunta. - Cruzei os braços.

– Porque eu não posso... Ainda. - Gabriel me encarou - Meghan, nós estamos fazendo uma coisa grande aqui e infelizmente não podemos colocar os humanos no meio. Principalmente vocês! Imagina o tanto de atenção que chamaríamos se, do nada, envolvêssemos os grandiosos Winchester e a caçadora solitária, Meghan Harper, na história!

– Muita?

– Sim, muita atenção... Mas não se preocupe, em breve vocês irão saber o que está rolando. Principalmente se der certo. - Gabriel segurou meu ombro e me deu um sorriso tranquilizador.

– E se der certo, vai ser bom ou ruim pra mim? - Voltei o banco até a posição normal e me virei para ele.

– Depende, se acontecer por agora, vai ser bom e feliz para todos... Mas se demorar um pouco... Pode ser um pouco triste.

– O que quer dizer com isso?

– Já falei demais, tenho que ir! - Gabriel ergueu o braço, estalou o dedo e sumiu.

Saudades de quando os anjos estavam sem as asas e não podiam sumir na nossa frente.

–-

No dia seguinte durante o meu lanche no meio da tarde os irmãos chegaram, naquela manhã eu havia saído para comprar uma TV, estava assistindo e me deliciando com um grande pote de cookies.

– Chegamos! - Sam anunciou - Meghan?

Peguei o machado que havia deixado embaixo da cama desde aquele dia e fui em direção à sala. Dean tinha acabado de jogar a mala em cima da mesa quando eu apareci assustando os dois.

– Meg? O que está acontecendo? - O loiro perguntou apontando para o machado.

– Estou me esforçando ao máximo para não usar isso em vocês e talvez eu não use, mas é claro que para isso vocês dois terão que me dar uma boa explicação... - Coloquei o machado apoiado no chão, como se fosse uma bengala.

– Eu disse que ela ia descobrir que o Garth era um lobisomem! - Sam riu.

– Ah nossa! Queria ter visto a sua cara! - Dean riu junto.

– Qual o problema de vocês? - Puxei o machado de novo e eles ficaram sérios - Já pararam pra pensar que na melhor das hipóteses eu poderia ter matado ele? Ou pior, eu ter atacado ele despreparada e ser morta?

– Isso não ia acontecer...

– Poderia ter acontecido se eu tivesse descoberto de um modo diferente do que realmente foi. Para sorte minha e do Garth, Castiel me contou! No meio da caçada ele se transformou para pegar o outro... E se naquela hora eu não soubesse? Tinha atirado nos dois! - Comecei a me aproximar dos dois que davam passos para trás assustados com o machado que eu apontava na direção deles.

– Meghan, se tivéssemos falado, você não iria! - Sam falou rapidamente - Ou teria ido sem nem nos escutar, você nunca nos escuta!

– É óbvio que eu teria escutado! Seus loucos! Da próxima vez, me avisem quando eu for caçar com uma criatura! - Joguei o machado em cima da mesa. - Agora venham aqui que eu já estava com saudades.

Dean sorriu e me abraçou, dando um selinho em seguida. Olhei para ele confusa pois nunca nos beijamos na frente de outras pessoas, apesar de todos saberem sobre nosso "caso", sempre fomos muito discretos. Olhei para o Sam e ele rolou os olhos, ainda estava confusa e fui abraçar o mais novo que me deu um abraço demorado, mais do que o suficiente. Ok, o que estava acontecendo aqui?

– Entendo que estavam sentindo minha falta... Mas esse carinho não foi excessivo demais? - Perguntei me virando de costas para eles e dando de cara com o Cas. - Minha Nossa! Castiel! Que susto!

– Desculpe atrapalhar... - Ele estava sério e evitava olhar nos meus olhos - Gabriel disse que você estava sozinha e então eu vim aqui para... Te fazer companhia. Mas estou vendo que já está bem acompanhada.

– Castiel, sabe que eu e a Meghan temos essa amizade colorida, mas é amizade! - Dean se aproximou dele - Pelo menos comigo é amizade. - Ele piscou um olho para o anjo e foi para o corredor em direção ao seu quarto.

Não sei bem se esse plano estava dando certo ou se isso só estava fazendo o Cass ter mais raiva. De qualquer forma eu precisava de algo definitivo para saber se esse anjo se importava ou não, se sentia algo e se era por mim que ele sentia. Sam se levantou indo em direção a cozinha e eu o puxei pelo braço em minha direção e me estiquei alcançando seus lábios. Puta merda! Isso era muito estranho... Mas... Que beijo bom! Passei uma das mãos pelos cabelos macios dele ficando na ponta dos pés para me aproximar mais, adorava ter que fazer isso. Era muito estranho, aquele era o Sam! Mas ele beijava incrivelmente bem e nem parecia estar ligando muito para o fato de que aquilo ainda era ESTRANHO PRA CARALHO! Já comentei que era estranho?

Finalmente o larguei, nós ficamos nos encarando e apenas pensando o que nós tínhamos acabado de fazer. Olhei ao redor e Castiel não estava mais lá. Ótimo! O anjo se mandou e eu nem sei qual foi a reação dele à tudo isso.

– Me desculpe. - Eu falei com uma certa vergonha - Isso foi super estranho.

– Muito! O que... - Sam estava na mesma situação que eu - Pelo menos não foi em vão, Castiel saiu daqui. Deve ter ficado bem enciumado.

– Ou talvez quisesse nos dar mais privacidade! Vai ver ele nem liga! - Dei de ombros.

– Com certeza ele liga... Você não viu a cara dele quando o Dean te deu aquele beijo. - Sam riu.

– Seu irmão não é normal! - Eu ri também - Ai... Espero que isso tenha valido a pena, mas não me leve à mal, Sam. À propósito... Você beija muito bem!

– Ah... Você também, Meghan. Agora eu sei porque o Dean mantém esse longo "relacionamento" com você. - Sam ficou um pouco envergonhado e depois foi para a cozinha.

Fiquei na sala com meus pensamentos. Por que raios eu tinha esses pensamentos? Eu não deveria ligar para o que o Castiel pensaria se me visse beijando outro cara, não deveria nem beijar o Sam! Poxa vida, aquilo foi absurdamente esquisito! A culpa de tudo isso era de quem? Isso mesmo! Dean!

...

Não, a culpa era minha, eu aceitei esse plano ridículo porque achei que o anjo pudesse sentir algo por mim. Que idiota, anjos não sentem essas coisas.

–-

Semanas se passaram sem que Castiel desse as caras, eu saí sozinha para resolver uns casos na esperança que ele me desse um auxílio, mas isso não aconteceu. Para minha sorte eu sabia muito bem me virar sozinha. Dean disse que as vezes o encontravam na estrada e que ele dizia que estava muito ocupado com o que quer que estivesse tramando com os outros anjos. Ele podia até estar ocupado, mas com certeza também estava me evitando, pois, do mesmo jeito que ele tinha tempo para avisar aos Winchester que estava ocupado, ele poderia me avisar. Então ele estava claramente me evitando.

Dean dizia que isso era uma coisa boa, que ele realmente havia ficado incomodado com o que acontecera entre mim e o Sam. Ok, mas não contávamos com a possibilidade do anjo sumir!

Eu estava lendo um livro sobre demônios, sentada em uma poltrona na sala do bunker. Estava querendo testar as formas de tortura que tinha naquele livro, parecia bem divertido. Sam estava em seu quarto assistindo Game of Thrones e Dean tinha saído para comprar torta e cerveja, ele estava demorando mais do que o necessário. Continuei minha leitura e fui marcando as páginas que me pareciam mais importantes. Eu poderia ser uma serial killer, focada em torturar e matar demônios.

Quando Dean chegou, ele veio rapidamente até mim com um sorriso vitorioso no rosto.

– Que cara é essa? Achou uma torta premiada que dá direito à um ano de torta grátis? - Perguntei fechando o livro.

– Não, foi outra coisa... - Dean colocou as sacolas em cima da mesa e depois me encarou - Existe essa torta premiada?

– Não - Eu ri - Mas me conta aí o que rolou.

– Eu chamei o Castiel para conversar... E sabe o que ele me disse? - Dean puxou uma cadeira sentando na minha frente - Que está "confuso com sentimentos que ele sabe que não deveria ter".

– Por mim?

– Sim, ele disse dessa forma bem gay mesmo! Foi tão fofo que quase chorei. - Dean disse dando um sorriso irônico - Mas o que importa é que o anjo quer você.

– E por que ele não aparece aqui e me diz isso?

– Eu conversei bastante com ele e parece que ele vai aparecer logo logo. Só dê um tempo para ele se acostumar com tudo isso de "sentimentos" e todas essas coisas...

– O que você disse pra ele? - Perguntei ficando receosa.

– Nada demais, só dei umas dicas... Digamos que eu sei bastante sobre as coisas que você gosta. - Ele piscou para mim.

– Essa é a minha preocupação, talvez tivesse sido melhor mandar o Sam conversar com ele!

– Quando ele quiser opinião sobre como te agradar depois de uma briga ou te pedir em casamento... Essas coisinhas melosas. Aí sim ele vai falar com o Sam!

– Você está indo um pouco longe! - Eu ri - Não vou me casar com ele, Dean. Se não se lembra, em 10 anos o senhor Crowley vem me buscar.

– Então vocês se casam logo e comemoram Bodas de Zinco aos uivos dos Cães do Inferno. - Dean disse sarcástico - Nós vamos dar um jeito nisso!

– Ok, como você sabe que bodas de 10 anos são de Zinco? - Ergui uma sobrancelha.

– Coisas da vida, todo mundo sabe! - Ele se levantou e pegou uma das cervejas.

– Não, Dean! - Comecei a rir - Você por acaso agora é um cupido? Especialista em relacionamentos a ponto de saber esses detalhes?

– Deixe de ser idiota, Meghan! - Ele respondeu irritado.

Fiquei por ali irritando Dean pelo resto da noite, como nos velhos tempos.