Acordei cedo, mas foi à toa, porque hoje era domingo. Sim, domingo. Pelo que sei, nem que fosse “o dia do apocalipse” Hogwarts deixaria de começar o ano letivo no dia 1º Setembro. Me vesti e desci para a sala comunal da Grifinória, onde alguns poucos alunos se reuniam em volta do quadro de avisos. Os horários já haviam sido definidos.

Me aproximei e quase pulei de alegria ao ver os horários do primeiro dia. Logo pela manhã teria: Transfiguração, um horário livre, Poções, Trato das Criaturas Mágicas e Adivinhação.

Já pela tarde teria: Defesa Contra as Artes das Trevas(DCAT)- 2 períodos e em seguida, o que mais me empolgou: Voo- 2 períodos.

Para explicar a minha alegria em saber da aula voo: quando eu era bebê e estava mal ou irritada o meu pai me colocava na vassoura e voava comigo, apesar dos gritos histéricos da minha mãe, que acabou acostumando com o tempo. Quando tinha sete anos manifestei magia pela primeira vez, enfeiticei a vassoura da casa e quase destruí a cozinha. Como perceberam que não tinha jeito, eu amava voar, meus pais resolveram que deveriam pelo menos, me ensinar. No meu aniversário de oito anos ganhei do tio Harry uma vassoura, de verdade, porém enfeitiçada para voar a apenas dois metros do chão, onde meu pai conseguiria me alcançar (porque ele era da altura de uma porta!). Aprendi a voar muito bem e tio Harry retirou o feitiço da vassoura quando fiz dez anos, ultimamente os adultos haviam permitido que jogasse um pouco de quadribol com eles, o que me deixou muito feliz, mas não agradou minha mãe. A consolação dela é que eu herdei o seu desenfreado gosto pelos estudos, que com certeza, meu pai não apresenta, nem Hugo, meu irmão, que é fanático por xadrez de bruxo.

Subi novamente ao dormitório e acordei Lisa, que já estava no oitavo sono e foi para o banheiro reclamando com a voz embriagada, entendi apenas palavras aleatórias como “cedo”, “domingo”, “dormir” e “tarde”. Para ela as palavras pareciam fazer sentido, mas pra mim, eram inteligíveis. Ela vestiu uma roupa (não Rose, imagina! Ela vestiu um caderno! – ri de mim mesma) e descemos para tomar café.

Depois de algum tempo os garotos desceram para o café, Tiago e Alvo sentaram de frente para nós e Scorpius ao meu lado. Surpreendentemente a conversa fluiu muito bem, não que eu esperasse o contrário, mas estranhei o modo como Scorpius se comportou sendo um grifinório, como se soubesse disso desde o início. Imediatamente eu percebi que também me sentia assim, como se tivesse sido da Grifinória desde sempre, soube que eu jamais poderia pertencer a qualquer outra casa, porque ali era meu lugar. E eles se sentiam assim também. Esse era o lugar deles também.

– Que foi? – perguntou Scorpius vendo que eu os observava com um sorriso bobo nos lábios.

– É só que... Eu me sinto tão bem. Como se tudo isso tivesse sido planejado e não pudesse ter sido de outra maneira – todos haviam parado para me escutar.

– Você queria que fosse de outra maneira? – Alvo perguntou

– Não. – respondi olhando para cada um deles e estranhamente parando em Alvo e Scorpius, que antes conversavam animadamente sobre figurinhas, como amigos. – Nunca. – continuei breve, mas exata.

Todos riram e Tiago brincou.

– O que colocaram no seu suco Rose?

– Não sei... Abóbora? – provoquei, fazendo-me de desentendida.

– Ou uma poção do tio Jorge! – disse Alvo e nós três caímos na gargalhada. Lisa e Scorpius nos olhavam rindo, sem entender nada.

– Tio Jorge?- perguntou Lisa.

– Gemialidades Weasley. – respondeu Tiago, ainda rindo.

– Ahhh – ela disse, agora rindo tanto quanto nós.

– Desculpe, mas eu ainda não entendi. – disse Scorpius, tímido.

– Um tio nosso, que quando estudou aqui fez o zelador da época se arrepender de ter nascido. Ele tinha um irmão gêmeo, chamado Fred e eles eram inseparáveis, infelizmente tio Fred morreu na batalha... Mas eles eram brilhantes, e encrenqueiros! Terríveis, para ser prática. Tio Jorge continuou com a loja que eles tinham, de logros. Com a ajuda do meu pai no inicio e depois da esposa. – esclareci.

– Ahhh, entendi. – disse ele rindo um pouco.

– Rose, o Filch ainda está aqui, está velho, mas ainda é um chato, exatamente como o tio Jorge disse. – afirmou Tiago.

– Jura? – ele assentiu e Lisa apenas moveu a cabeça em concordância - Ele já era velho naquela época, deve estar um trapo!

– O zelador? – perguntou Scorpius

– Aham – confirmou Tiago – e sim Rose, ele está um trapo, depois que a gata dele morreu dizem que ficou pior do que estava. Continua chato e rabugento!

Continuamos conversando enquanto terminávamos o café e depois eu finalmente disse:

– Então Tiago... O campo de quadribol fica aberto nos domingos?

– Aham – ele respondeu e eu sorri. Mas infelizmente ele percebeu minha jogada e disse – Rose, você tem certeza? Nem fez sua primeira aula de voo.

– Ah! Por favor, Tiago! Você acha mesmo que eu preciso de aulas de voo? – respondi indignada – eu sei voar desde os oito anos! Só quero me divertir um pouco!

– Tá bom, mas você não trouxe sua vassoura e... – ele parou. Viu que eu sorria – Rose Weasley, você trouxe a vassoura? Rose! Sua mãe vai te matar!

– Mas é permitido agora! – retruquei.

– Mas sua mãe não queria que você a trouxesse! – ele disse – Foi por isso que a mamãe não deixou o Alvo trazer a dele e ele também sabe voar, mas não trouxe. Não é Alvo? – o irmão sorria – Alvo? Ah meu Merlin! Vocês não sabem obedecer?

– Papai disse que podia! – disse Alvo, na defensiva. E Tiago balançou a cabeça em negativa, mas estava rindo.

– Bem, já que todo mundo está falando... Eu também trouxe minha vassoura. Minha mãe também não sabe e meu pai me deu passe livre – disse Scorpius rindo abertamente.

Olhei pra Tiago e fiz a cara mais fofa que consegui, mas ele negou.

– Não, pode tirar seu hipogrifo da chuva! Tia Mione vai me matar se descobrir e minha mãe também não vai ficar feliz!

Foi então que a musa (passei a chama-la de musa sem que ela soubesse naquele momento) entrou em cena. Lisa olhou para Tiago e disse:

– Tiago, não seja tão rígido, eles só querem se divertir. – ele não se mexeu, então ela continuou – Vamos fazer assim: vamos voar com eles. – ele a olhou surpreso – Ah! Qual é Tiago? Você sabe que eu amo voar, você também adora! Vamos garantir que eles estejam seguros, mas eles vão poder se divertir.

Ele pensou um pouco, mas ela o encarou e todas as dúvidas sumiram do seu rosto.

– Esta bem! – ele disse e eu bati palminhas, radiante. Alvo e Scorpius sorriram. – Mas primeiro eu tenho que devolver uns livros na biblioteca. – Ele disse, com um pequeno sorriso no rosto.

– Obrigada Tiago! – disse Lisa, levantando. Deu a volta na mesa e lhe deu um beijo no rosto – Vou falar com a Professora Minerva e depois vou para o campo. – ela disse e saiu.

– E-eu vou pra... – Tiago estava corado.

– Biblioteca? – arrisquei, rindo.

– I-isso. – ele disse – Eu... Já vou indo. – levantou e saiu atordoado.

Eu e os meninos caímos na risada e eu não pude evitar um coraçãozinho com as mãos e um típico “owinnnn”. Tiago parecia um bobo, mas se ele soubesse disso, nos mataria.

– Vamos buscar as vassouras. – disse Alvo e nós três levantamos. Quando estávamos na porta do salão Scorpius olhou para nós e disse:

– Confusos.

– O que? – eu perguntei sem entender.

– Vocês são confusos. São capazes de enlouquecer alguém! – ele disse rindo.

Eu e Alvo nos olhamos, rindo e a única coisa que eu consegui dizer, foi a verdade:

– É de família!

Seguimos para a torre da Grifinória, rindo, outra vez.