Holes in your coffin escrita por iamlosingtouch


Capítulo 3
Parte II - Capítulo 1 de ?


Notas iniciais do capítulo

Baykok, citado nesse capítulo, é de fato uma lenda americana. No caso adaptei para atender a necessidade da história.



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Erwin sabia que não devia ficar tão à vontade, mas ali estava ele; na casa de Levi, no sofá de Levi, com Levi sentado ao seu lado do jeito mais relaxado que tinha visto desde o começo. Ainda ficava surpreso com o fato de estar na casa dele e em como tinha chego ali, no entanto se pensasse em como Levi tinha mudado perto de si o termo “surpresa” não era suficiente para descrever a situação.

O menor não havia se tornado carinhoso, mas de repente ele era... Acessível. Se Erwin esperasse que partisse de Levi um toque diferente ele morreria antes, mas então Levi deixava com que ele chegasse mais perto e o envolvesse sem protestar e sem parecer chocado de fato com algo tão simples.

Ainda lembrava a primeira vez que tinha envolvido Levi num abraço: Os dois estavam na cama, ali na casa de Levi, e Erwin só conseguia pensar em como seria o acariciar sem qualquer outra intenção. Ele sabia que as chances de uma reação ruim eram enormes, ainda assim queria saber como aquilo seria. Conscientemente ele passou um braço em volta de Levi e o trouxe para perto de si, deixando os lábios repousarem em sua nuca de forma inocente, sentindo o cheiro delicado de lavanda que desprendia do corpo do homem em seus braços.

Por um momento ele teve a impressão de que Levi ia lutar para se soltar. Sentiu o corpo do menor se tornar rígido, o sentiu estremecer de uma maneira que não era nada boa, porém no lugar de soltá-lo o segurou com mais força e da forma mais protetora que conseguia.

“Está tudo bem”, foi tudo o que conseguiu dizer, a voz num tom baixo e tranquilo.

E de repente o alivio que Levi sentia parecia passar para si conforme reparava em suas reações. Levi deixou o ar escapar entre os lábios, o corpo relaxando aos poucos e por um momento ele só pareceu alguém que precisava ser protegido, mesmo Erwin sabendo que ele nunca tinha demonstrado um momento de fraqueza.

As coisas mudaram a partir daquele ponto. Nas primeiras vezes o corpo de Levi ainda se enrijecia toda vez que Erwin o tocava como daquela vez, mas isso começou a modificar cada vez mais até eles chegarem onde estavam no momento; com Levi aceitando toques de bom grado, mesmo que ainda não demonstrasse uma resposta de volta.

No entanto era visível como ele estava mais relaxado, como ele sentava mais próximo de Erwin e como ele não parecia mais se chocar com beijos ou um afago simples em seus cabelos. Às vezes, mesmo que raramente, ele passava a impressão de gostar de pequenos atos assim.

E tinha então outros milhares de pequenos detalhes que tinha notado em Levi e que o próprio tinha contado para si em momentos de distração, quase como se ele não percebesse que estava se abrindo para Erwin. Ainda assim era o observando que notava a maioria das coisas sobre o outro.

Levi nunca comia, mas bebia vinho e chá preto, e apesar de ele parecer apreciar o aroma de café Erwin nunca tinha o visto bebendo um gole que fosse. Ele gostava de banhos de banheira e sempre demorava mais quando parecia alimentado – nesses dias ele parecia mais vivo e sua pele era um pouco menos fria. Logo Erwin descobriu que o piano na sala não era apenas um enfeite e o menor realmente tocava, apesar de nunca ter tocado para si. Também descobriu que ele falava outras línguas – inicialmente pelos livros em variados idiomas que ocupavam as estantes – e tinha nascido na França.

O próprio Erwin de repente percebia que tinha contado mais do que pretendia para Levi, inicialmente porque tinha ficado interessado pelo fato de ele ter nascido na França e então ambos podiam conversar em Francês. Em pouco tempo Erwin notou que era incapaz de acompanhar Levi depois de anos sem treinar outro idioma, no entanto o outro parecia ter completo controle sobre o conhecimento que tinha de outras línguas.

Erwin também tinha notado como sempre tinha comida e coisas que eram necessárias para vida humana na casa de Levi e como o outro parecia ter notado coisas que ele gostava, pois essas eram as coisas que encontrava sempre que estava ali.

Os livros eram, provavelmente, a parte mais intrigante. A variedade de temas era absurda e logo encontrou aqueles que eram extremamente úteis para um caçador. Muitos exemplares ali pareciam ser itens de colecionador e tudo era sempre muito organizado e limpo, de uma forma extremamente meticulosa e que combinava com o dono da casa.

Levi não colocou restrições para a vida de Erwin em sua casa. Ele podia basicamente entrar e sair quando quisesse, dormir na cama do menor, mexer em seus livros, comer o quanto desejasse e quando bem entendesse. Tudo ali era confortável e parecia repelir o mundo exterior, numa atmosfera única, em uma espécie de mundo particular.

O menor ainda sumia antes de amanhecer e voltava quando anoitecia, parecendo ter algum local seguro para dormir fora de casa – ele se perguntava se existia também um lugar seguro dentro daquele apartamento moderno e organizado.

Não houve convites para ficar ali quando Hanji disse que viajaria: Erwin simplesmente ficou e Levi aceitou sem parecer notar que o maior estaria ali um dia após o outro.

Não ocorreram estranhamentos porque Erwin trouxe trabalho, porque livros e anotações ficaram espalhados pela sala, porque um mapa era agora parte definitiva da decoração do local. Levi apenas chegava cada noite e olhava todo o progresso do outro, passando seus olhos cinzentos por tudo, fazendo perguntas quando achava necessário, ouvindo e opinando quando o loiro assim desejava.

Os dois descobriram com facilidade que trabalhavam bem juntos e muitas vezes passavam horas discutindo detalhes e pesquisando, organizando tudo que Erwin tinha conseguido durante a ausência do moreno. Levi tinha capacidade de direcionar o outro para o caminho certo e sempre havia avanços, mesmo que Erwin estivesse longe de chegar ao fundo do caso. Nunca tinha pegado algo tão complexo de se resolver e que se desviava de tudo que conhecia.

***

Se Levi fosse sincero teria que admitir que deixar sua casa para dormir em outro lugar não era algo que realmente gostava de fazer, mas mesmo sendo Erwin ali ele sabia ser mais seguro ficar em um esconderijo em seu momento mais vulnerável.

No entanto cada noite que ele voltava para casa conseguia se sentir renovado de alguma maneira. Era bom chegar e encontrar Erwin ali na sala com roupas simples, cabelo um pouco bagunçado, óculos e toda aquela bagunça em volta dele.

Nada daquilo devia acontecer, porém ele já deixara chegar àquele ponto. Não estava pensando que Erwin era um humano e caçador, que o mesmo tinha muitos amigos caçadores. Nem que os anos iam passar para o outro, mas nunca para si. Ele ia continuar o Levi que era agora para sempre e sabia que nunca conseguiria aceitar ver Erwin partindo.

Tinha perdido Adam. Não ia perder Erwin. E isso implicava várias coisas que nunca havia aceitado. Ele precisava tomar alguma atitude.

Alimentado e pensativo, Levi logo chegou ao apartamento, abrindo a porta e dando de cara com a sala escura e vazia. Franziu o cenho de leve, indo até a mesa de centro depois de olhar em volta. Havia apenas um livro ali e o mapa da cidade vizinha com uma área circulada em vermelho.

A mão pequena e pálida de Levi alcançou rapidamente o livro aberto, passando os olhos pela informação contida nele.

“Merda, Erwin!”, disse, deixando o livro cair no chão enquanto sai do apartamento, torcendo para ser mais rápido do que as coisas que caçavam Erwin.

***

Baykok. Um ser esquelético, de pele translucida e olhos vermelhos que vive em regiões de florestas. Era uma lenda de índios nativos americanos que descrevia o Baykok como um espirito maligno que usava uma clava ou um arco com flechas invisíveis embebidas em veneno para atacar seus alvos.

Erwin nunca tinha ouvido falar naquilo mesmo tendo nascido e vivido sempre nos Estados Unidos. Nunca ninguém tinha contado aquela história para si, nem mesmo um caçador.

A coisa parecia ser quase invencível e ele tinha isso em mente enquanto andava pela floresta, próxima a uma antiga fábrica abandonada. Carregava um taco de baseball com ambas às mãos e se sentia um completo idiota por isso. “Um objeto contundente”. “Quebrar e queimas os ossos”.

Aquelas eram as últimas lembranças que tinha. Agora estava deitado no chão gelado, num lugar fétido e mal iluminado. Seus braços estavam amarrados, assim como suas pernas, sendo que uma delas ardia bastante. Olhou para baixo, conseguindo ver um rasgo na calça. Devia ter se machucado quando tinha sido atacado.

Sua cabeça doía no lugar na pancada, mas não parecia ser nada grave. Passou a analisar o local após se acostumar com a péssima iluminação do lugar. Estava na fábrica, tinha certeza disso. As janelas eram altas e não conseguia ver uma saída da posição que estava, nem seu taco de baseball, porém ainda sentia a arma e a faca de caça junto ao corpo, em locais fora de seu alcance.

Respirando fundo e fechando os olhos Erwin tentou virar no chão, gemendo baixo por causa corte e de como as cordas apertavam seu corpo. Antes que conseguisse olhar em volta e analisar melhor a situação deu de cara com o Baykok.

O corpo esquelético e pele translucida pareciam brilhar numa aura maligna e ele sorria de forma demoníaca, o que era reforçado por seus olhos vermelhos. A criatura segurava uma espécie de adaga que parecia ter uma lamina especial, algo que o homem no chão nunca tinha visto.

Erwin sentia que aquele era seu fim, sentia o suor frio escorrendo por suas costas, sentia o corpo arrepiar, o coração acelerar, ao mesmo tempo sua boca se tornava seca. Não havia como se defender e estava por conta própria. No entanto isso não significava que não ia resistir e lutar como possível.

Quando o Baykok se moveu, brandido a adaga em sua direção, a primeira reação de Erwin foi tentar se defender com as pernas, mesmo com elas amarradas. O resultado foi a lâmina em sua perna, a fazendo arder mais do que nunca, a pele parecendo queimar enquanto era cortada. A única coisa que conseguiu fazer foi gritar no mesmo momento em que a criatura retirava a adaga de sua perna, pronta para atacar de novo.

O homem fechou os olhos, pronto para um golpe fatal que nunca veio. Após alguns segundos ouviu a criatura urrar de maneira estridente, o fazendo abrir os olhos de novo.

“Levi”, as palavras não passaram de um sussurro, os olhos acompanhando os movimentos rápidos e seguros do menor, as tentativas de defesa do Baykok até o momento que o menor deslizou a lâmina da adaga do próprio espirito contra os ossos de seu tórax. Erwin soltou uma exclamação muda de surpresa.

A criatura de afastou, urrando no que parecia dor, enquanto Levi o atacava de novo e de novo, a lâmina parecendo cortar a pele e os ossos, fazendo o Baykok se desmanchar. Observou com mais surpresa ainda Levi tirar o isqueiro do bolso, o deixando cair sobre a pilha de ossos que pegou fogo instantaneamente.

Os dois trocaram um olhar, Erwin teve a impressão de ver os olhos de Levi se avermelharem por um momento, no entanto disse a si mesmo que era apenas o reflexo do fogo. O menor correu até si, cortando as cordas de maneira rápida e precisa.

“Precisamos ir”, Levi falou baixo e firme, o fazendo levantar, apoiando seu corpo.

“E se tiver mais dele?”, Erwin falou no meio de um gemido de dor por tentar apoiar-se na perna ferida.

“Não tem, mas não estamos sozinhos. Precisamos ir”.

Não houve espaço para discussões e Erwin decidiu aceitar o que Levi tivesse a lhe ofertar.

***

Se tinha algo que Levi amava eram florestas e bosques. Por um momento esquecia que existia todo um mundo em sua volta e podia se perder ali, como se fosse apenas ele e a natureza. Muitas vezes se sentia mais vivo em locais assim do que em qualquer outro momento, mesmo logo após de se alimentar.

No meio das árvores ele só podia escutar os sons da própria natureza e ser transportado de volta à sua vida humana ou, pelo menos, de volta para a parte que gostava dela.

No entanto a situação na qual se via agora era diferente; ele estava com um braço em volta de um Erwin ferido que não podia colocar muito peso em uma perna enquanto andavam pelo bosque escuro. O peso de Erwin estava basicamente todo em si, o que não era um problema, mas apoiar um homem quase 30 centímetros mais alto do que si mesmo era a parte desconfortável.

Ao contrário do que acontecera da primeira vez que Erwin tinha se machucado agora Levi mal sentia o cheiro do seu sangue ou vontade de se alimentar, seu foco estando todo em tirá-los dali e prestar atenção a sua volta.

Erwin observava Levi, deixando que ele o guiasse e tomasse controle de tudo, sabendo que esse poderia ser um erro fatal, mas tendo certeza de que não era. Nunca tinha visto Levi da forma o via agora. Ele estava alerta, os olhos cinzas lembravam uma tempestade se aproximando e sua postura era de um felino acuado, se preparando para atacar.

Percebia suas pupilas se reduzindo a uma espécie de fenda, as mãos, de certa forma, lembravam garras, apesar de aquela em volta de si parecer acolhedora, e quando viu o menor passando a língua pelos lábios teve um deslumbre rápido de suas presas afiadas.

Esperava ficar tenso aquilo, porém Levi lhe passava segurança e não parecia com um monstro mesmo enquanto tomava sua forma vampiresca aos poucos. Sua pele parecia etérea, ele virava a cabeça de um lado para outro, parecendo tentar ouvir e ver ao mesmo tempo.

Sentia os músculos de Levi retesados e mesmo com o menor quase sumindo sobre si ele parecia projetar sua presença, formando uma barreira em volta deles, como se apenas isso já fosse o suficiente para afastar o que (ou quem) tentasse ataca-los. Ainda assim podia perceber que ele estava tentando tirar ambos dali o mais rápido que conseguia, querendo evitar um possível confronto.

Foi com alivio que ambos chegaram ao carro, Levi sendo rápido em abrir a porta de trás e ajudar Erwin a entrar, mas não baixar a guarda no processo, assumindo a posição de motorista sem hesitar.

Durante os primeiros minutos de viagem eles ficaram em silêncio. Erwin cuidando da própria perna com o que tinha no carro, a arma acessível caso fosse preciso. Levi dirigia rápido e focado, a respiração voltando ao normal, assim com suas feições. Quando viu Erwin o olhando já parecia o humano de sempre.

“Você me salvou...”, Erwin falou baixo, no fundo ainda estava impressionada. Levi não parecia o tipo altruísta ou bondoso.

“Você tem que parar de permitir que eu faça isso”, sua voz era calma e ele observou Erwin um momento através do retrovisor, “Nunca mais faça isso. Nunca mais vá atrás de algo que você não conhece alguém vivo que já tenha enfrentado. Livro nenhum conta que aquilo caça o que você é”.

“Livro nenhum conta como mata-los propriamente também, pelo jeito”.

“Não, não conta”.

“Eu nunca ouvi falar em um Baykok. De onde ele veio?”.

“Não sei dizer, mas sei que eles sumiram há muito tempo. Pra trazer um de volta deve ter sido um pacto. Ele estava servindo um proposito”.

“Qual?”.

“Não faço ideia”.

“Por isso você estava tão preocupado? Você sabe quem está fazendo isso? Você parecia certo de que algo ou alguém estava nos observando. Desde a fabrica até o carro”.

Levi tomou alguns segundos a mais para responder, focando no transito que estavam entrando uma vez que tinha chego à cidade e precisavam passar por ela a caminho de casa. Erwin reparou que estava surpreso com o fato do outro saber dirigir e fazer isso muito bem, mas o que Levi não sabia, afinal?

“Eles foram mandados para cá. E era esperado que você fosse sozinho e eu fosse atrás. Era um truque. Não iam te matar, mas queriam ter certeza de que eu ia aparecer...”.

“Quem?”.

“Isso não importa. Isso é problema meu”.

Não houve rispidez no tom de voz de Levi e por isso Erwin não se incomodou, sua mente vagando de volta para os episódios daquela noite.

“Você parecia especialmente preocupado...”.

Levi olhou para Erwin demoradamente, aproveitando o fato de que estavam parados em semáforo.

“Eu sei que é habilidoso, mas você está ferido. E eu... Bem, eu tenho minhas habilidades, no entanto nós dois sabemos que uma coisa é lutar contra o que você conhece ou algo que você espera encontrar. Outra coisa é lutar com algo desconhecido. Eu não tinha ideia do que podia nos atacar, consequentemente eu não tinha ideia se teríamos como nos defender”.

“Você tinha a opção de me deixar para trás”.

Uma risada gélida escapou dos lábios de Levi e Erwin sentiu um arrepio – um nada bom – percorrer sua espinha. Havia crueldade e frieza ali, apesar de a resposta que recebeu apontar para o outro lado.

“Não vim até aqui para te deixar para trás, Erwin Smith”.


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