Smother escrita por stardust


Capítulo 11
I missed you




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/577183/chapter/11

“O amor é. Ele apenas é, e nada que você possa dizer pode fazê-lo ir embora, porque é o motivo de estarmos aqui. Ele tem seus altos e baixos, e uma vez que você está no ponto mais alto, tem que tomar cuidado para não cair... Porque se você cair, vai se machucar.”
“Eu... nunca tinha sentido isso”, eu disse, um pouco desconfortável.
“Não se preocupe. O que tiver que ser, vai ser.” Ela me abraçou voltou para a sala.
Passei o resto do dia estudando e, claro, pensando nela. Eu considerava a opção de contá-la o que eu sentia, mas talvez apenas fosse um pouco tímido demais pra isso. E eu não queria estragar tudo.
Fui até a janela, apenas pra observar o dia, mas lá estava ela no jardim do fundo de sua casa. Ela estava... Radiante. Como eu nunca tinha visto.
Soltara o cabelo, e havia uma flor nele. Sorria delicadamente enquanto cuidava das outras flores. Usava um shorts e uma blusinha branca com alguma frase no centro.
Sorri suavemente enquanto a observava ao longe. Ela parecia feliz naquele jardim, fazendo uma das coisas que gostava. Desejei estar ali com ela.
Sua mãe apareceu, fumando. Elas pareciam estar discutindo de novo, mas dessa vez eu não conseguia ouvir, e na verdade era melhor que não ouvisse. Emma se levantou, irritada, e saindo andando. Desci as escadas, saí de casa e fui atrás dela.
Corri um pouco até chegar a ela, e segurei seu braço. Ela se virou, com uma expressão irritada.
“Mãe, não me... ah, que susto, Charlie!”, ela exclamou.
“Ãh, desculpe... Oi.”
“Oi”, ela respondeu, diminuindo a velocidade dos seus passos. “Você tava me seguindo?”
“Não, eu tava indo pro... aquele mercadinho. E você, vai pra onde?”, perguntei. Ela colocou as mãos nos bolsos e cerrou os olhos por causa do sol.
“Você vai ver”, ela respondeu, então continuamos andando até chegarmos ao Cemitério Municipal.
Ela andou no meio dos túmulos, como se sempre o fizesse. Eu já estivera ali algumas vezes também.
Emma se ajoelhou em um dos túmulos, que havia como epitáfio “James Adams. O melhor pai e marido.”
Ela tirou a flor do cabelo e a deixou ali, solitária na rocha fria.
“É injusto que as pessoas que mais merecem a vida tenham perdido o direito de tê-la.”
Assenti lentamente e andei até o túmulo do meu pai, que era bem distante do dela. Só tinha seu nome e a data em que havia nascido e morrido. Não era o melhor pai, o melhor marido, mas ele se esforçava e eu o admirava. Senti um aperto no peito e me arrependi de não ter dado o valor certo para ele enquanto ele ainda estava aqui.
“É sempre assim... sempre damos valor só depois que perdemos, até porque não sabemos que vamos perder”, eu disse. Ela suspirou e olhou pra mim.
“Quantos anos você tinha quando...” ela deixou a frase morrer no ar.
“13, foi só um ano depois de você ir embora”, respondi, encarando os poucos prédios ao longe. “Duas pessoas se foram. Não foi uma época boa pra mim... Mas não vou ser egoísta e ignorante, sei que foi pior pra você.”
“Tudo bem. Charlie, você sempre deixou o... foco da amizade para mim. Você ficava mais quieto, ouvindo eu tagarelar... E eu nem te dava espaço. Desculpa por isso, agora é diferente. Continue a falar”, ela disse, olhando pra baixo.
“Sempre que eu tentava fazer amizades, não dava certo porque eu falava pouco. Então não participava muito das conversas, ficava de fora... e no fim estava sozinho de novo”, comecei. Ela me encarava com a testa levemente franzida, prestando atenção. “Bem, na verdade eu gostava mais de ficar sozinho mesmo. Ãh, você era a única que realmente gostava de mim.”
“Duvido”, ela respondeu. Coloquei as mãos nos bolsos e dei de ombros.
“Minha mãe não conta”, brinquei. Emma revirou os olhos, sorrindo, e bagunçou o meu cabelo.
“Tá, continue”, pediu.
“Eu sentia sua falta”, confessei. “Esperava que você voltasse. Esperei por um bom tempo. Depois... simplesmente aceitei que você não ia voltar, mas aqui está você”, eu disse. “Diferente, mas ainda é a Emma.”
“Eu disse que você não mudou nada, mas acho que estou enganada”, alegou ela. “Todos mudam, na verdade.” Ela se levantou, limpou a terra do corpo e suspirou. “Podemos ir embora? Não gosto daqui”, ela pediu.
“Nem eu”, respondi, me levantando também.
“E agora vamos pra onde? Não quero voltar pra casa, na verdade”, ela perguntou, franzindo a testa levemente. Parecia incomodada com alguma coisa.
“Está a fim de andar?”, sugeri. Ela me encarou sugestivamente e deu de ombros.
“Parece ótimo.”

Enquanto andávamos, ficamos conversando sobre coisas aleatórias. Eu tentava esconder ao máximo qualquer suspeita de interesse, e me controlava para não segurar sua mão. Na verdade, talvez ela já suspeitasse. Nunca fui bom mentindo e nem escondendo coisas, então ela provavelmente desconfiava. Ou não.
Escureceu rápido. O vento começou a esfriar, e o céu a se encher de estrelas. Logo a lua também saiu de seu esconderijo, como que nos cumprimentando.
“Noite ou dia?”, ela perguntou de repente, enquanto andávamos na calçada. Havia poucos carros na rua e quase ninguém na cidade. Estabelecimentos abertos, porém vazios. Nós dois ali, eu tentando não pisar nas linhas da calçada e ela tentando não sair do meio fio.
“Noite”, respondi. Ela me olhou de lado enquanto eu tomava cuidado pra não pisar em algum risco ou rachadura. “E você?”
“É, noite. Me dá a mão, eu vou cair daqui”, ela pediu, meio que escorregando no meio fio.
Segurei sua mão, e senti um suave frio na barriga, mas não demonstrei nada. Cuidadosamente ela colocava pé ante pé e seguia o caminho.
“Chega de equilibrismo”, ela disse, rindo.
Passamos em uma ponte, onde havia alguns banquinhos distribuídos por ela. Sentamos em um para descansar. A cidade estava agora iluminada, e conseguíamos ver os prédios ao longe. O lago abaixo de nós fazia um suave e agradável barulho de água.
Passar a noite do lado dela estava sendo ótimo. Estava frio, mas eu não me importava. Minhas pernas doíam da longa caminhada, mas eu também não me importava. Emma estava aconchegada do meu lado, com os joelhos dobrados no banco e tentando se aquecer em mim.
“Você é tipo uma lareira”, ela brincou, e entrelaçou seu braço no meu.
“Quer minha jaqueta?”, ofereci. Ela sacudiu a cabeça negativamente.
“Aqui está bom.”


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Smother" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.