Ver o rosto de Lissa me traz uma repentina raiva que eu achei ter deixado para trás, Dimitri toma a frente enquanto me mantem atrás dele escondida usando seu corpo como um escudo a minha frente.

–Ela não fez nada. - Diz Dimitri

O homem mais velho que não conheço dá um passo a frente e fala:

–Ainda não, mas não sabemos o que o futuro reserva e ela é apenas uma iniciante e pode machucar muitas pessoas.

–Me responsabilizarei por ela. - Diz Dimitri

–Da mesma forma que ficou responsável pela Raquel? - Pergunta Lissa

–Não fale de minha irmã! - Digo saindo de trás de Dimitri o mesmo me detém colocando um braço a minha frente.

Lissa não sorri, continua a me encarar.

–Raquel virou uma ameaça assim que começou a mexer com coisas que iam além da compreensão dela. - Diz André o irmão mais velho de Lissa

Eu fecho minhas mãos em punhos tentando conter minha raiva.

–Nós temos um acordo Matias. - Diz Dimitri

O homem saca uma adaga de seu sinto e a aponta em nossa direção.

–Acordos podem ser quebrados. - Ele diz. - Assim como pescoços.

Dimitri não recua.

–Sua morte trará paz para o mundo. -Diz o tal homem chamado Matias. - Assim como a morte da jovem bruxa.

–Você não vai encostar nela. - Diz Dimitri derrepente muito raivoso

Dimitri o ataca, é tão rápido que eu tenho que realmente me concentrar em seus movimentos precisos para saber se ele está perdendo ou ganhando.

Felicity sai de trás do carro atacando André com um bastão grande que eu não fazia ideia de onde ela tinha tirado, eu observo tudo meio atatônica enquanto pisco tentando acompanhar os movimentos de Dimitri, que parece ser rápido demais para um humano.

–Rose corre! -Diz Dimitri

Eu tento, mas infelizmente Lissa me pega antes que eu consiga, ela me acerta um soco no estômago fazendo-me cambalear sem folêgo diretamente para o chão. Eu me levanto, Lissa não sorri e a face que ela usa para me encarar é semelhante a de um robô sendo comandado, eu arfo, não de pavor ao encara-la e sim de medo pelo o que a haviam transformado.

Eu levanto, Lissa tenta me acertar de novo dessa vez eu desvio e consigo com alguma sorte acertar-lhe um chute na canela fazendo-a cair.

–Lissa, me escuta essa não é você. - Digo

Lissa me dá uma rasteira fazendo eu cair de bunda no chão no entanto algo em seu rosto mudou.

A raiva dentro de mim parece evaporar simultaneamente e de repente um estalo em minha mente faz eu me lembrar de quem é o inimigo. Eu levanto acertando outro chute em Lissa que de alguma forma me pega pelos cabelos e me joga de encontro ao capô do carro.

Raquel aparece ao meu lado, seu semblante é indiferente enquanto ela encara Lissa.

"Mate-a" - Ela sussurra

Meus olhos se desviam do rosto de minha irmã para o de minha ex melhor amiga.

"Acabe com ela, mate-a. " - Diz Raquel

–Eu não posso. - Sussurro enquanto lágrimas se acumulam em meus olhos

Mas que grande Droga! - penso

Lissa se aproxima de mim lentamente, sei que não precisa ser assim, não precisa de mais mortes, a minha raiva volta e percebo que isso não tem nada a ver comigo e sim com Raquel, estive tão focada o tempo todo em descobrir seus segredos que a raiva dela penetrou em mim e de alguma forma parte de sua raiva estava me controlando.

Lissa acerta algo em minha cabeça, eu caio no chão, o asfalto está gelado debaixo da pele quente de meu rosto, eu arfo surpresa quando Lissa me chuta, eu me viro tentando proteger o meu corpo.

"Você é fraca." - Ouço a voz de Raquel

"Mate-a"

"Acabe com ela"

"Você não é forte o suficiente pra isso, é?"

–Me deixa em paz! - Grito

Um estrondo alto faz os barulhos cessarem, eu me desdobro a procura da fonte de barulho vendo nosso carro, eu que não o reconheço.

O carro está completamente amaçado como se tivesse se envolvido em uma batida realmente feia, os vidros do carro são inexistentes, poucos cacos de vidro estão ao meu redor, no entanto, nenhum minúsculo pedaço chegou a tocar minha pele.

Eu olho para o lado vendo o corpo ensanguentado de Lissa se debater minimamente, eu engatinho até ela, seus olhos esmeralda estão quase sem foco quando ela olha pra mim.

Um grande pedaço de vidro estáva enterrado em seu peito, e algo me dizia que no coração. Eu deito a cabeça de Lissa no meu colo observando todos os outros aranhões pelo seu corpo que provavelmente cacos de vidro foram responsáveis.

"Achei que não fosse capaz, mas parabéns. " Diz Raquel enquanto ri

Lissa fecha os olhos.

–Lissa? - Chamo

Ela não abre os olhos, no entanto ouço seus pequenos sussurros:

–Me perdoa.

Uma lágrima escorre por minha face,

–Eu te amo como irmã. - Diz Lissa

E então ela se cala, seu corpo paraliza e sinto sua respiração fraca cessar

Minha irmã havia morrido pelas mãos de minha melhor amiga, e agora minha melhor amiga morria pelas minhas mãos. O destino era uma droga.

–O que você fez? - Ouço o grito de Andre que se aproxima

Há sangue em minhas mãos, sangue de Lissa, sei que ela matou minha irmã e sei também que deveria odia-la com todas as forças e comemorar sua morte, no entanto não me senti feliz, sentia como se outra parte de mim tivesse morrido.

Eu não conhecia a outra face de Lissa, no entanto, eu conhecia a minha melhor amiga Lissa Dragomir a garota incapaz de matar nem sequer uma mosca, algo havia acontecido com ela, algo havia a transformado naquilo.

Dimitri me puxa para longe dali, ele praticamente me arrasta junto a Felicity enquanto Andre pega o corpo da irmã e o leva para o carro, Matias nem se quer nos encara, mas murmura algo como "Pagarão caro"

Eles vão embora, estou tão cansada que vejo a luz se apagar enquanto meu corpo desaba em direção ao chão.