Leitura Indiscreta escrita por Metal_Will


Capítulo 28
Capítulo 28 - Inversão de Valor




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/57389/chapter/28

a279;a279;a279;Capítulo 28 - Inversão de Valor

    No dia seguinte, domingo, Desirée vê em vários sites da Internet e jornais o ocorrido da noite anterior. Várias pessoas tiraram foto do evento, mas ela sabia que as de ângulo melhor eram de Dionísio (afinal, ele mesmo se auto-intitulava o melhor fotógrafo da atualidade). Era mesmo um cara estranho, além de muto inteligente. Para se ter uma ideia, Desirée teve uma ideia inicial de usar simplesmente água ao invés de bolo, mas Dionísio achou que bolo seria mais atrativo e ainda arrumou um comparsa para ajudá-lo nessa aventura. Conseguindo os ingressos por contato, ele entra na festa, se disfarça na multidão e age friamente esperando tudo acontecer como o combinado. Era um péssimo exemplo de adulto, e, porque não dizer, um maluco total. Porém, de alguma forma Desirée se sentia mais próxima dele. Que tipo de pessoa em sã consciência ajudaria em um plano tão maluco?
    Durante a semana, demorou cerca de dois dias até Bruna voltar para a escola. Ela ainda estava bem bolada com tudo que aconteceu, principalmente pelo fato do assunto ter uma repercussão grande na mídia, afinal, era um cantor famoso que estava envolvido. Por sorte, Breno não quis prolongar muito o assunto deixando tudo por encerrado. O problema era mais com a Bruna mesmo que, por ter planejado tanto uma festa sem problemas, acabou sendo vítima de uma brincadeira de muito mau gosto.
    - Puxa, amiga, sinto muito pelo que aconteceu - dizia uma das colegas puxa-saco de Bruna
    - Tudo bem, não precisa sentir nada! - ela responde, ríspida - Foi tudo culpa daquele palhaço retardado! O que diabos ele tinha na cabeça?
    - Foi algo totalmente sem noção, né?
    - Sem noção demais pro meu gosto! Tenho até a impressão de que foi de propósito!
    - Mas quem iria estragar a sua festa só por estragar, Bruna?
    - Eu não sei..Ah, sei lá! Só quero esquecer esse assunto! Esquecer!
    - E aí, Bruna? Comeu bastante bolo desde sábado? - diz um dos moleques gozadores que passava por ali
    - Grrr!!! Sempre tem alguém que ri da desgraça dos outros, né? Tá, tá bom, pode rir! Também nunca mais faço festa nenhuma!
    - Ah, Bru. Não fica assim
    Desirée observava tudo de longe, mas apenas como observadora. Era muito divertido poder ver tudo incendiando de longe. Então era assim a sensação de vingança? Bem, se por um lado ela estava curtindo seu pequeno ato de maldade...por outro, ainda tinha alguma coisa vazia. Algo que ela não conseguia explicar o porque.
    No fim da aula, Desirée vai para a casa sozinha, pensando e refletindo sobre sua vida atual. Ela continuava usando seu livro para atualizar seu site para encontro de pessoas e não teve mais nenhum problema com outro maluco além de Dionísio. Mesmo assim, ela ainda não se sentia completa com o poder que tinha. Era como se usar o Livro dos Segredos para encontro de pessoas fosse algo totalmente obrigatório, um fardo imposto por sua própria consciência para justificar o uso de seu poder. Ela estava mesmo querendo ajudar as pessoas? Ou era só uma desculpa para usar seus poderes? Pensando nisso, ela começa a perceber que sente muito mais prazer em usar o livro para seu próprio benefício do que para ajudar o próximo. A sensação de poder era indescritível. Em certo momento, o toque do celular desperta Desirée de seus devaneios. Quem era? Ah, Dionísio...é verdade, ela tinha passado o número de seu celular para ele em caso de emergência. O que ele queria?
    - Alô? - atende a garota, dessa vez bem mais tranquila em conversar com o fotógrafo.
    - E aí, moça? Há quanto tempo!
    - Desde o sábado passado, né?E aí, aconteceu alguma coisa?
    - Aconteceu, claro que aconteceu! Algo muito bom por sinal!
    - Bom, é?
    - A grana que recebi por aquelas fotos foi maior do que eu pensei! Muita gente tirou foto naquela noite, mas, modéstia à parte, ninguém tira fotos melhor do que eu
    - Entendo. As revistas devem ter recebido muitas versões..
    - Sua brincadeirinha teve bastante repercussão, viu? De certa forma, até ajudou a aumentar a popularidade do Breno, apesar de não ser exatamente o que ele tava querendo, né? Mas...enfim, deixando isso de lado, preciso dar a parte do dinheiro que te pertence. Quer se encontrar comigo em algum lugar?
    - Pode ser hoje, naquela mesma sorveteria? Por volta das três e meia da tarde
    - Perfeito!
    Pouco tempo depois, Desirée estava novamente no mesmo lugar em que conheceu Dionísio pessoalmente. Ele a cumprimenta sorrindo e pede mais um sorvete.
    - Pode escolher o sorvete que quiser. Hoje você merece!
    - Sorvete de limão...faz tempo que não tomo
    - Bem, sendo direto. Tome - diz Dionísio, entregando um envelope para a garota.
    - Então foi isso..hmm...wow!
    O espanto era justificado. A quantia no envelope era bem maior do que Desirée estava imaginando. Não eram apenas trocados. Ela ganhou uma quantia consideravelmente alta.
    - T-Tudo isso?
    - Você achou muito? Pensei até que iria me cobrar mais. Sim. Ganhei uma grana boa com aquelas fotos. Como eu disse, minhas fotos são as melhores. Tenho o direito de cobrar caro por elas. E é claro que as revistas não querem perder essa oportunidade.
    - Caraca...difícil de imaginar
    - O que também me salvou foi o fato da festa ter sido escondida. Poucas pessoas tiraram fotos e poucas divulgaram de forma profissional. Isso, praticamente só eu fiz
    - Não imaginava que fosse ser algo tão grande. Eu só queria molhar ela...mas a ideia do bolo foi bem melhor
    - Eu já fiz algo parecido quando era mais novo. Já sabia mais ou menos o que fazer. Contando com a ajuda daquele meu amigo ator, também conseguimos sair ilesos dessa! Foi só trocar o bolo na hora H, colocar a culpa no palhaço e pronto! Temos uma festa estragada! Hahuaua!
    - Você é muito louco mesmo...
    - Louco? É...quem sabe
    - Mas dizem que as melhores pessoas são assim - diz a garota, desviando o olhar para cima, como se procurasse no teto alguma coisa que estava dentro dela.
    - O que foi? Você parece meio aérea hoje
    - Não sei...estou meio estranha mesmo
    - Se quiser contar...quem sabe eu não possa te ajudar? Afinal, sou mais velho que você, não é?
    - Mas com uma mentalidade não muito adulta, não é?
    - Gosto de manter minha criança interior
    - Tsc. Não é nada demais. Sei lá. Esse livro consegue fazer muita coisa, mas parece que é um fardo tê-lo comigo
    - Usá-lo ou não é uma escolha sua, não é?
    - Acontece que eu me sentiria mal de não usá-lo para ajudar outras pessoas! Já encontrei tantas no meu site e..
    - E?
    - ...e pretendo continuar ajudando, mas...não sei...eu simplesmente acho muito mais empolgante quando tenho que usar o livro para mim mesma
    - Como assim?
    - Por exemplo, quando eu usei os poderes dele para saber quem você é ou para saber o que a Bruna iria fazer...aquilo me dava uma sensação maravilhosa! É muito atraente o fato de poder observar uma pessoa sem que ela saiba...é como
    - É como ter um poder sobre ela, não é?
    - É! Estou me sentindo suja ao dizer isso, mas...eu confesso...espiar as pessoas é uma ótima sensação
    - Eu te entendo
    - Hmm?
    - Como fotógrafo paparazzo, preciso sempre estar atento às pessoas a minha volta. Um único descuido de alguém famoso ou popular, ou mesmo pessoas anônimas que fazem coisas bizarras...observar as pessoas é fundamental para mim. Mas, quer saber? Eu adoro isso...no meu caso, tenho uma sensação de perigo e risco, o que aumenta minha adrenalina. Você simplesmente tem a possibilidade de ver qualquer pessoa como se assistisse um programa de TV. Imagino como deve ser ter esse poder em mãos
    - Mas eu não queria sentir isso! Quer dizer...eu nunca me importei com a vida alheia! Por que me importaria agora?
    - Nunca? Nunca quis nem saber o que aquele menino que você gosta está fazendo?
    - Bem, já...mas era só um curiosidade boba! Agora eu tenho poder para isso, mas não acho certo fazer isso
    - Por que não?
    - Como porque? É totalmente anti-ético observar alguém sem consentimento dela...seria...invasão de privacidade
    - Privacidade, heim? Mas você não acaba invadindo a privacidade das pessoas que encontra para o seu site
    - Isso é diferente
    - Claro. Nesse caso você diz que é por uma boa causa, não é?
    - É lógico
    - Mas será que é isso mesmo?
    - Como assim?
    - Você disse que sente prazer quando usa o livro para você mesma, mas não quando ajuda os outros. No fundo, você é uma pessoa que sente curiosidade e vontade de conhecer os segredos alheios. Cada pessoa é um universo diferente, uma história diferente. Será que as pessoas realmente são o que são quando ninguém está olhando? Quais segredos elas guardam? E porque guardam? Não é empolgante!
    - De certa forma...mas eu não gostaria que vissem meus segredos..
    - Depende...no seu caso, ver o segredo dos outros já é seu segredo, não é?
    Aquilo era a mais pura verdade. "Conhecer os segredos era o seu segredo". Chegava a ter um tom paradoxal, mas era verdade.
    - Bem...não acho que minhas amigas de escola iriam gostar se soubesse que eu posso invadir a vida delas quando quiser
    - É estranho, não é? Eu não me senti tão constrangido quando você disse que me espionou pelo seu livro
    - Provavelmente porque você já tinha quase certeza que eu ficaria te espionando e agiu de forma defensiva
    - É. No fundo foi isso. Com você existindo nesse mundo, a velha frase de que as paredes tem ouvidos nunca foram tão verdadeiras
    - Respeitar a privacidade dos outros era um princípio que eu considerava muito, mas...
    - Mas?
    - Mas pensando melhor agora...o que uma outra pessoa faria se tivesse o mesmo poder que o meu?
    - Eu pessoalmente usaria o livro para muuuitas coisas. Inclusive para facilitar meu trabalho
    - Exato. Acho que a maioria das pessoas diria isso. Será que é ingenuidade minha achar que invadir a privacidade de alguém é tão imoral?
    - Não exatamente. É uma forma de pensamento bem nobre. No que exatamente você está pensando?
    - Você disse que divide comigo o dinheiro que ganha com a venda das suas fotos, não é?
    - Sim. Disse sim
    - Acho que..
    - Acha que?
    - Eu decidi. Sim. Eu vou te ajudar no seu trabalho
    - O que? Sério? Mudou de ideia mesmo?
    - Foi exatamente o que fiz nesse sábado, não?
    - É que...você parecia tão segura de não querer nada com esse tipo de coisa
    - Bem, no fundo ainda acho isso mesquinho e sujo demais
    - Ei, assim você me ofende
    - Mas, mesmo assim, algo me diz que eu tenho que te ajudar!
    - Sério?
    - Bem, um motivo eu já tenho. Acontece que preciso de mais dinheiro se quisesse melhorar a qualidade do meu site. Conseguir mais divulgação ou assinar um domínio próprio na rede. Como ainda sou muito nova para trabalhar, acho que o único jeito é te ajudando
    - Seria ótimo se você me ajudasse! A sua mágica é uma mina de ouro para mim!
    - Mágica, é?
    Desirée se lembra das palavras dos bibliotecários que lhe deram as informações básicas sobre o Livro dos Segredos, principalmente sobre o pacto que ela tinha com o livro. A atitude que tomou realmente era dela ou era influência do livro? Estaria Desirée sendo dominada por uma força misteriosa? De fato, a garota estava muito mais interessada em usar o livro para conseguir informações de pessoas famosas, que tinha um sabor mais proibido, mais empolgante. Saber que aquele flagra ou aquela situação foram registradas por influência dela era algo que lhe dava uma sensação muito prazerosa. E, no fundo, ela estaria mostrando a verdade. A verdade tinha que ser dita. Desirée, ainda enfraquecida pelos momentos de ódio, vingança e curiosidade maliciosa, acaba se deixando levar pela sedução do poder do livro. Ajudando Dionísio, ela teria ainda mais motivação para usá-lo. No fundo, era isso que ela queria. Naquele momento, a vontade de usar o poder era maior que os seus princípios morais.
    - Então, você quer mesmo me ajudar?
    - S-Sim. Eu ajudo - ela responde - Mas já aviso que a única coisa que vou te fornecer é a informação. Correr atrás da pessoa, tirar foto ou o que for é trabalho seu!
    - Claro, claro. Tendo a informação já me basta
    - E-Então...eu prometo te mandar informações o quanto antes...tem alguém especial em mente?
    - Na verdade - ele tira uma lista do bolso e entrega para a moça - Essas celebridades andam sumidas ultimamente...se puder me dizer onde estão
    - Claro - diz a mocinha, pegando a lista - Te mando as informações mais relevantes ainda essa semana. Localização, planos futuros, vida pessoal...o que você preferir
    - Olha, nem parece você desde o nosso último encontro
    - Na verdade... - ela balbucia, olhando para o chão e um pouco envergonhada - ...depois do que eu passei com a Bruna...confesso que mudei bastante.
    - Mudou, é?
    - Acho que deixei um pouco minha ingenuidade de lado. A Bruna me fez perceber um outro lado que não conhecia.
    - Outro lado? Sério mesmo?
    Desirée diz que sim com a cabeça
    - Eu demorei para perceber, mas eu sinto raiva, eu sinto ódio e eu sou vingativa
    - É...foi o que eu percebi essa semana
    - Ela me magoou, eu a magoei. Foi olho por olho. Descobri que não consigo perdoar as pessoas. Mesmo agora que me vinguei dela, ainda não consigo esquecer o que aquela Bruna me fez. E, de alguma forma, essa raiva parece mostrar quem eu realmente sou
    - Você acha? Agora é você que está me assustando
    - Um outro motivo para te ajudar é...saber quem realmente sou. Vou continuar trabalhando no site da Truth...e, ao mesmo tempo, me sujando na espionagem de celebridades. Acho que só assim eu consigo descobrir o que realmente estou sentindo
    - Não sei se já te perguntei isso, mas...você tem mesmo 12 anos?
    - Acho que estou ficando louca, não é?
    - Mas, como você mesmo disse, dizem que as melhores pessoas são assim
    - Quem sabe...quando decidi ficar com esse livro eu realmente acreditava que poderia usá-lo para o bem, sem problemas, e que nunca o usaria para outros fins. Mas agora, refletindo melhor, acho que só o fato de ter esse livro já é um problema
    - Essa eu não entendi..como assim?
    - Como aqueles irmãos bibliotecários me disseram...ter o livro é uma maldição
    - Você se acha amaldiçoada?
    - De alguma forma, sim. De alguma forma, eu odeio o meu poder e gostaria de nunca ter aberto esse livro.
    Dionísio continuava a ouvir, agora com uma rara expressão séria
    - Mas, por outro lado...ao mesmo tempo eu me apaixonei por esse livro. Amo-o a tal ponto que não consigo mais me imaginar sem ele. Você entende?
    - Mais ou menos...bem...vamos andando, não é? - diz Dionísio, achando que a última expressão de Desirée estava séria e sinistra demais. Ele começa a se arrepender de ter pedido informações para Desirée. Afinal, era só uma criança. E, naquele instante, ele percebia que a garota já não estava tão equilibrada como antes. Ele paga os sorvetes e se despede da mocinha que, por sua vez, promete mandar informações de celebridades o quanto antes. "Bem", pensa Dionísio, enquanto ia embora para casa, "Vamos ver no que isso vai dar"


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

* O clima da história tá ficando mais pesado (psicologicamente falando). Achei melhor mudar a classificação indicativa de livre para 13+

* Só para deixar claro: Desirée e Dionísio não sentem nada de extraordinário um pelo outro, sendo apenas "parceiros de crime". Se tiver alguém esperando Lolicom pode tirar o cavalinho da chuva...¬¬



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Leitura Indiscreta" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.