Spirit Bound - o Recomeço escrita por Bia Kishi


Capítulo 35
Capítulo 35 - Despedidas


Notas iniciais do capítulo

Soltei os botões da calça dele e Dimitri gemeu, aguçando meu desejo. Eu o toquei. Mais fundo, mais forte, mais urgente. Dimitri gemeu novamente, desta vez, era quase um sussurro. Um grunhido gutural se formava em sua garganta. Seus olhos eram brilhantes. Tão brilhantes que pareciam se derreter nos meus.



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Eu não tinha idéia do que dizer á Dimitri simplesmente porque não sabia o que eu deveria dizer. Quer dizer, eu me sentia algo como “companheira eterna” mas na verdade não era nem mesmo “namorada” dele, então, eu me calei. Para minha sorte, Stan entrou no quarto segurando Ivan pelo braço. Ele parecia um pouco mais fraco e pálido que na ultima vez em que eu o havia visto, mas ainda assim, parecia tranqüilo.

-           Meu filho – Ivan disse, esboçando o que deveria ser um sorriso, se ele ainda tivesse forças para mover o rosto.

            Dimitri não respondeu. Ele apenas caminhou em passos tão largos quanto suas pernas compridas permitiam.

-           Pai! – foi tudo que ele disse.

Eu podia perceber o esforço nos olhos de Ivan. Esforço por parecer forte. Esforço por se manter sobre as próprias pernas. O tratamento não surtia mais efeito em sua doença e ter curado Dimitri apenas acelerou o processo – Ivan estava morrendo. Ainda assim, seu sorriso dizia a qualquer um que ele estava satisfeito. Havia cumprido seu papel.

Ivan abraçou Dimitri e demorou os olhos sobre ele por um instante. Dimitri sorriu; e mais uma vez aquele sorriso não parecia dele. Dhampir não têm presas. Não precisamos de presas – engoli o comentário para mim mesma.

-           Como se sente?

Os olhos de Ivan em Dimitri eram totalmente concentrados. Eu sabia – por experiência própria – que era impossível mentir para aqueles olhos.

Dimitri olhou para mim e seus olhos eram tristes. Nesse momento um bolo se formou em minha garganta. Algo amargo e pegajoso que por mais que eu quisesse engolir, tornava em voltar. Eu tinha medo das respostas de Dimitri e por mais que eu quisesse ignorar, se ele estava enrolando tanto para responder, boa coisa não poderia ser.

            Então, veio á pior parte.

-           Rose – Dimitri me disse – será que você poderia pegar um café para mim?

Eu engoli em seco novamente por que sabia que não era café o que Dimitri queria – ele queria ficar sozinho com Ivan.

-           Claro – eu respondi contra á vontade.

Assim que deixei o quarto, parei no corredor – Okay, eu sei que é feio escutar atrás da porta, mas “em se tratando de Dimtri” nada mais era “feio”.

      Fiquei lá – para feito uma idiota – escondida no canto da porta.

Eles falavam baixinho e andavam. Ou melhor, Dimitri andava. Eu ouvia os passos pelo cômodo todo. Ouvia o som das botas dele batendo no assoalho como se ele estivesse preocupado, tentando falar algo e não soubesse como.

-           Pai – Dimitri começou.

E eu me erqueei um pouco mais para ouvir melhor. Quando uma mão roçou levemente em meus ombros. Eu dei um pulo para trás e quase esbarrei na estatua de mármore que ficava no canto da sala.

-           Pelo amor de Deus Lissa, faça mais barulho! – eu grunhi tão baixo que mais parecia um sussurro.

-           Impressão minha, ou você está tentando ouvir atrás da porta? – disse tão baixo que eu praticamente precisei ler seus lábios.

-           Estou – eu confessei.

      Lissa sorriu.

-           Ótimo!

Olhei minha melhor amiga por alguns instantes. Ela parecia tão feliz e realizada e tão madura. Lissa sem duvida era a mulher perfeita para Adrian. Ninguém o compreenderia melhor e ninguém o apoiaria tanto. Alem disso, Lissa era um princesa, um membro da alta cúpula da realeza. Ela era mesmo perfeita para ele.

Puxei Lissa em um abraço bem apertado. Ela sorriu, como se pudesse entender o que se passava em minha cabeça.

-           Hey, assim vamos perder toda a conversa! – ela brincou.

Voltei para minha posição anterior, curvada sobre o batente da porta, no momento exato em que Dimitri terminava uma pergunta.

-           A sede pai, eu ainda sinto. Penso que nada mudou.

      Um bolo ainda maior se formou em minha garganta. Ivan continuou.

-           Não seja bobo Dimitri, olhe para você. Está corado novamente, suas mãos estão quentes. Sinta. Sinta seu coração batendo.

            Dimitri ficou em silencio por um tempo.

-           Minha garganta ainda coça Ivan, você não entende. Ainda tenho necessidade de sangue! – seu tom de voz subiu um pouco mais – e essas presas? Vê? Você as vê Ivan? Dhampir não têm presas! Nós não tomamos sangue!

            Eu olhei para Lissa como se esperasse que ela pudesse tirar um milagre da cartola. Ela sorriu, como se não pudesse me ajudar.

            Meu desespero foi interrompido pela gargalhada de Ivan.

-           Já que não acredita em mim, meu filho, eu vou lhe provar!

Eu ouvi o som do tecido da cortina se movendo nos trilhos e enlouqueci – Strigoi ou não eu não permitiria que ninguém machucasse meu Dimitri!

-           Não! – eu gritei puxando a cortina novamente e impedindo que a luz do dia lá fora, incidisse bem em cima de Dimitri.

      Ivan sorriu ainda mais alto e Lissa se aproximou, apoiando seu braço.

-           Você o ama muito, não é Rose?

Eu não respondi. Não com Dimitri ali, olhando para mim. Eu não podia. Rosemary Hathaway não conseguia admitir que amava tanto que daria a própria vida. Então eu me calei. Apenas fiquei em silencio e deixei que meus olhos vagassem pelas tabuas do assoalho.

-           Foi por isso que eu o trouxe de volta para você minha querida – a voz de Ivan era suave novamente.

            Ivan caminhou até a janela e segurou a cortina novamente, lentamente, a luz dourada e fraca do sol de inverno começou a banhar o quarto. Dimitri não se moveu, embora eu pudesse ver o pesar em seus olhos. Eu também não. Se Ivan tinha tanta certeza, eu devia confiar nele.

            A luz quente passou por mim e chegou até a manga do casaco de Dimitri. Nada. Nenhuma chama ou estalo. Nem mesmo um retesar de músculos ante á dor – Dimitri apenas relaxou.

            A luz brilhante e clara o cobriu inteiro, deixando sua pele pálida ainda mais rosada. Ele fechou os olhos e sorriu. E foi nesse ponto que uma idéia absurdamente louca passou em minha mente. Ivan sorriu, como se pudesse ler meus pensamentos – ás vezes eu achava que podia mesmo.

-           Vê meu filho? Entende?

      Dimitri abriu um pouco os olhos, como se a luz o incomodasse muito, e sacudiu a cabeça.

-           Não pode ser! Não... Não... Não pode ser assim que funciona!

Pela expressão no rosto dele, eu percebi que Dimitri pensava o mesmo que eu, por mais absurdo que pudesse parecer.

Ivan caminhou como se seus pés pesassem toneladas. Lissa o conduziu. Quando chegou bem próximo á Dimitri, ele sorriu, tocando a mão que Dimitri mantinha levantada sobre a luz do sol.

-           Strigoi é um vampiro morto, meu filho. Um morto vivo, como nós todos sabemos – Dimitri tinha os olhos focados e curiosos em Ivan, assim como eu e Lissa – você recuperou sua alma, portanto – nesse momento, meu coração parecia que iria sair pela boca – não pode voltar a ser um Dhampir, Dimitri. Você ainda é um vampiro. Eu não posso reverter á transformação.

-           Então quer dizer que... quer dizer que... – Dimitri não conseguia completar a frase.

-           Você é um Moroi agora.

Eu sorri. Nem sei bem porquê, ou como. Sõ sei que sorri. Sorri como se meus lábios estivessem sendo puxados por duas correntes – eu simplesmente não conseguia mantê-los unidos.

            Um Moroi! Um Moroi! Um Moroi! – minha mente gritava para mim e eu nem sabia o que isso significava.

            Uma lagrima solitária rolou pelo rosto de Dimitri e seus olhos encontraram os meus. Nesse momento, foi como se tudo ao nosso redor se dissolvesse instantaneamente. Não existia mais Lissa, ou Ivan. Não existia sol, ou chuva; ou mundo. No fundo daqueles olhos castanhos tão profundos eu soube que nada importava – Dimitri era meu. Pertencia á mim tanto quanto eu á ele. Eu corri. Corri como se á distância – de alguns passos – entre nós fosse invencível, e me atirei em seus braços, cruzando as pernas em sua cintura.

            Dimitri não me conteve. Ele apenas me segurou. Segurou firme e conciso meu corpo contra o dele; e me beijou. Um beijo quente e profundo; e apaixonado.

            Não tenho idéia de quanto tempo Dimitri e eu ficamos ali, nos beijando e tocando, porque o tempo simplesmente parou. Quando meus pés tocaram o chão novamente, estávamos sozinhos.

-           Acho que demoramos um pouco nos cumprimentos – eu brinquei.

            Dimitri passou o braço em volta da minha cintura e me puxou mais forte.

-           Nós merecemos Roza. Depois de tudo – ele fez uma pausa e correu os olhos sobre mim, enrolando os dedos em uma mecha do meu cabelo – nós merecemos – Dimitri repetiu.

            Não sei em que parte a coisa toda se deu, mas alguns minutos depois Dimitri havia fechado a porta e encostado uma cadeira nela – já que não havia chave.

            Embora o dia ainda fosse claro lá fora, aqui, em nosso mundo, estávamos protegidos pela noite. As cortinas de veludo fecharam todo o rastro de luz amarelada que o dia dos humanos nos mandava. Nada mais importava além de nós dois.

            Dimitri não sorriu. Seus olhos eram sérios e urgentes, como se algo o consumisse.

            Seus dedos escorregaram pelo decote da camiseta que eu usava e ele segurou os dedos sobre os botões da minha calça jeans.

-           Tira – ele me disse.

      Não era um pedido; e ainda que fosse, eu teria obedecido.

Soltei botão por botão. Enquanto ele observava minha pele ficando á mostra com os olhos estreitos.

A calça se foi e Dimitri me puxou para si, enquanto se livrava da camiseta branca que usava.

-           Eu quero sentir a sua pele, Roza. Quero sentir seu calor.

Minha pele tocou a dele. Quente, vibrante. Muito diferente da pele fria e sem vida do Strigoi se havia ido.

Soltei os botões da calça dele e Dimitri gemeu, aguçando meu desejo. Eu o toquei. Mais fundo, mais forte, mais urgente. Dimitri gemeu novamente, desta vez, era quase um sussurro. Um grunhido gutural se formava em sua garganta. Seus olhos eram brilhantes. Tão brilhantes que pareciam se derreter nos meus.

Ele me segurou pela nuca e moldou seus lábios nos meus. Mais forte, mais forte, até que sua língua explorava toda a minha boca e seu corpo parecia querer fundir-se ao meu.

Ele se deitou na cama e me puxou sobre si.

-           Hummm.

Foi tudo que saiu da minha boca. Dimitri estava encaixado em meu corpo. Perto. Dentro. Éramos um. Como nunca antes havíamos sido.

-           Minha Roza. Minha Roza – ele repetia em meu ouvido.

Eu fiquei ali, deitada sobre Dimitri, sentindo cada centímetro de sua pele quente e macia colada á mim. Por mim, o mundo poderia ter desmoronado, eu nem perceberia.

            Infelizmente, no meu mundo, as coisas não são tão legais assim. Dimitri e eu nem tivemos tempo para um “tira-teima”, Stan bateu na porta.

-           Belikov?

Os olhos de Dimitri encontraram os meus como se me dissessem que também não queriam responder. Não queríamos sair dali. Não queríamos voltar á vida.

      Stan insistiu.

-           Dimitri, seu pai... – antes que Stan terminasse a frase, Dimitri estava abotoando a calça.

      Ele abriu a porta e Stan entrou. Eu me enrolei no lençol e sentei na cama.

-           Eu não queria interromper. Imagino o quanto não gostariam de sair daqui, mas Ivan... Ivan...

-           Diga de uma vez! – Dimitri esbravejou – ele morreu?

-           Não. Ainda não.

      A parte do “ainda” me deu nó na garganta.

Dimitri colocou a camiseta e saiu correndo pelo corredor, escoltado por Stan. Eu me vesti o mais rápido que deu e ajeitei o cabelo com os dedos. Fui andando um pouco mais atrás deles.

Enquanto o corredor chegava ao fim, eu não pude mais conter. As lágrimas caiam e caiam e caiam mais e eu não conseguia me controlar. Era estranho, como se Ivan realmente fizesse parte da minha vida. Por mais que ele fosse pai de Dimitri e por mais que ele o tivesse trazido de volta á vida, não era só isso. Eu tinha um carinho por Ivan que era muito, muito especial. Ele era como um anjo na minha vida.

Abri a porta do quarto e vi Dimitri ajoelhado á beira da cama. Ivan estava deitado, os olhos fechados, as mãos inertes.

Lissa chorava baixinho com o rosto enterrado na blusa de Adrian. Meu pai estava lá. Parado perto da parede, como se fosse um guarda. Quando me viu, ele apenas estendeu a mão. Por um instante, eu não soube o que fazer e então deixei que apenas os sentimentos me conduzissem. Corri até o meu pai e segurei sua mão. Sua mão grande e forte. Ele tocou meu rosto com a ponta dos dedos, tirando uma mecha de cabelo dos meus olhos. Fiquei pensando se fosse ele. O que eu sentiria se fosse ele ou minha mãe. As lágrimas desciam mais rápido e eu sacudi a cabeça, para afastar os pensamentos.

-           Rose? – a voz quase inaudível de Ivan ecoou no silencio.

      Eu caminhei até ele e me ajeitei ao lado de Dimitri. Ivan segurou minha mão.

-           Sua missão é protege-lo. Cuide dele Guardiã Hathaway, e seja feliz.

      Ele olhou de mim para Dimitri e então continuou.

-           Meu filho. Sua missão é ama-la. Proteja-a de tudo que possa magoa-la. Rose o ama tanto que daria a própria vida por você. Ela quase deu. Muitas vezes.

      Uma lágrima escorreu dos olhos de Dimitri.

-           Você herdou mais que meu nome e meu legado, meu filho. Quando te trouxe de volta á vida, você herdou minha essência. Use-a melhor do que eu usei.

      Dimitri assentiu, ainda em silêncio.

-           Quero que procure sua mãe. Quero que peça perdão por mim – Ivan fechou os olhos por um instante – eu não poderei fazer isso.

      Dimitri assentiu novamente e uma lágrima brilhou em seus olhos.

-           Eu te amo meu filho.

Dimitri não respondeu. Mas seus olhos mostravam o que Ivan mais poderia querer ouvir – Dimitri o amava também, e por isso tudo era tão difícil entre eles.

Lentamente, as mãos de Ivan foram ficando mais e mais suaves. O aperto já não segurava mais. Ivan fechou os olhos e descansou.

Eu não sabia se doía mais em mim, ou se a dor de Dimitri é que estava sendo refletida no meu coração, mas de qualquer maneira. Eu chorei. Dimitri não. Ele soltou um suspiro profundo e beijou a testa do pai. Levantou-se e saiu.

Eu quis acompanha-lo, mas Zmey não me permitiu. Meu pai segurou meu braço e me conteve dentro do quarto.

-           Ele precisa de um tempo Rosemary. Deixe-o por alguns minutos.

      Eu o deixei.


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