Spirit Bound - o Recomeço escrita por Bia Kishi


Capítulo 34
Capítulo 34 - A Transformação


Notas iniciais do capítulo

Alguns segundos depois, uma onda de desespero me invadiu e as palavras saíram sem nexo.
— Pai.
Meu pai! Meu pai! Onde estava meu pai? O que havia acontecido? Se eu estava vivo, então isso significava que meu pão havia morrido? Eu precisava vê-lo.



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Eu não fazia idéia de onde estava, nem de porque estava ali. Tudo que eu sabia era que meu corpo parecia adormecido. Eu não conseguia me mover. Tentei concentrar meus pensamentos e me lembrar. Tudo que eu sabia era que meu pai estava ali. Eu não conseguia abrir os olhos, não estava olhando para ele, mas eu sentia. Sentia o mesmo tipo de mágica que eu havia sentido antes, tantas outras vezes em minha vida. Eu sentia suas mãos sobre minha pele, esquentando, queimando.

            Fechei meus olhos e tentei de me lembrar pelo menos a razão de estar ali. Eu não queria a ajuda dele, eu não precisava. Eu já havia precisado antes. Havia precisado do carinho e do apoio e ao invés disso ele havia me dado sua prepotência e seu sarcasmo. Ele me dizia que eu nunca seria um homem como ele. Dizia que eu havia nascido serviçal e que morreria assim.

            Aspirei o ar com cuidado – ele estava errado – eu havia me tornado o mais forte, o imbatível – aspirei o ar novamente, soltando lentamente através dos meus dentes – e isso não havia me tornado feliz.

Lembrei-me de outros tempos. Tempos felizes em que tudo que eu tinha que me preocupar era em voltar para casa antes de anoitecer. Minha mãe veio em minha mente e com ela o cheiro de pão recém-saído do forno. Suspirei fundo – eu estava com saudades de casa. De repente, respirar era tão difícil, era como se eu não pudesse mais. Era tão confortável não respirar. Luzes cintilavam ao meu redor, enquanto eu sentia as mãos quentes dele sobre a pele do meu peito – eu queria desistir. Queria apenas ficar ali e deixar a luz me envolver. Eu queria ir embora. Queria que todo o sofrimento ficasse para trás. Eu queria o silêncio. 

Bem ao longe, no fundo de minha consciência, uma voz não permitia que eu fosse. Era uma voz doce e conhecida que me dizia para ficar com ela. Eu não tinha certeza de querer.

-                  Dimitri. Dimitri. Não vá. Lute.

O sussurro vinha de algum lugar entre a consciência e o sonho, como se um anjo falasse comigo.

            Lute! Eu não queria mais lutar. Eu havia lutado a minha vida toda. Eu havia lutado pelo queria e havia lutado pelo que era certo. Eu havia deixado tanta coisa para trás apenas porque alguém não achava certo. Eu não queria mais lutar.

-                  Dimitri. Não vá.

A luz era cada vez mais quente e envolvente – eu queria ir. Deixei que meu corpo todo sentisse a força daquela luz. Eu me abandonei nela.

-                  Não! – a voz gritava para mim – não vá!

Eu não queria ouvir.

-                  Não me deixe. Eu te amo!

No momento em que meus ouvidos receberam o som, a luz se foi – ou parte dela. Eu estava respirando novamente. Lentamente, meus pulmões forçavam o ar para dentro, como se isso fosse necessário. Eu não conseguia entender porque. Quer dizer, eu sou um strigoi, strigoi não respiram.

Todo o meu corpo doía e eu não conseguia entender porque eu havia deixado que a luz se fosse.  Eu simplesmente não podia. Não podia deixa-la.

Com os olhos fechados eu refiz a imagem dela em minha mente. Roza. Minha Roza. Eu jamais poderia ignorar um pedido dela. Eu nunca a deixaria sozinha.

De dentro dos meus ossos eu retirei a força suficiente para abrir os olhos – o rosto dela estava lá, olhando para mim. Seus cabelos caídos em torno do meu rosto, seus olhos molhados de lagrimas, seu sorriso discreto.

Eu não conseguia falar, não conseguia nem ao menos me mover direito. Tudo que eu conseguia era olhar para ela. Cada detalhe de seu rosto, parecia ainda mais doce e absolutamente encantador. Eu a amava.

-                  Oi – ela me disse sorrindo.

Eu sorri em resposta.

Alguns segundos depois, uma onda de desespero me invadiu e as palavras saíram sem nexo.

-                  Pai.

Meu pai! Meu pai! Onde estava meu pai? O que havia acontecido? Se eu estava vivo, então isso significava que meu pão havia morrido? Eu precisava vê-lo.

-           Ele está no outro cômodo, descansado. Lissa está com ele – a voz forte e segura de meu amigo me fez relaxar um pouco – não se preocupe agora. Você está fraco demais. Precisa descansar.

Eu simplesmente obedeci – Stan sempre havia me dado bons conselhos e eu sabia que podia contar com ele, sempre.

Fechei meus olhos mais uma vez.

 

***

Eu estava lá, feito um dois de paus, á mais ou menos dois dias, olhando Dimitri dormir – não que eu estivesse reclamando, na verdade eu estava feliz. Ele estava vivo e era o que importava. Nenhum de nós sabia se todo o esforço havia dado certo ou não. Tudo que sabíamos era que ele ainda estava lá.

Depois de pensar e repensar eu havia decidido que não importava. Nada mais importava. Tudo que eu queria era que ele se levantasse daquela cama e, sendo ou não um Strigoi, eu estaria ao lado dele.

Stan não havia me deixado sozinha nem um momento. Na verdade acho até que já éramos amigos de verdade. Ele estava tão feliz e mudado, depois de ter encontrado Anita que nem parecia mais o mesmo Stan – embora ainda continuasse mal-humorado.

Lissa e Adrian, embora não declarasse publicamente, estavam cada dia mais próximos – o que ainda era um pouco estranho para mim.

Nesses dias que se seguiam, desde a tentativa de salvar a alma de Dimitri, eu havia recebido a visita de muita gente importante. Christian, meu “não amigo” preferido havia ido lá, me contar que se mudaria para a Europa. Ele havia conseguido uma bolsa em uma faculdade famosa de Moroi. Jill, por alguma razão que eu fingia não entender, ia com ele. Tudo parecia tão certo. Tão bom.

Ivan se recuperava aos poucos, com a ajuda de Lissa ele havia conseguido se restabelecer um pouco, embora sua saúde não fosse muito mais que regular.

A porta se abriu e eu dei um pulo na poltrona do quarto do hotel.

-                  Algum problema se eu entrar um pouco?

A voz do meu pai atravessou o quarto. Eu não esperava vê-lo. Todo este tempo em que estive na Sibéria eu o havia visto tão pouco.

-                  Pode entrar – eu respondi mesmo assim.

Meu pai entrou. Zmey, o cobra. O temido cobra. Eu sorri dos meus próprios pensamentos – Quem diria que ele seria mesmo o meu pai?

-                  Como está Rosemary?

Pensei um pouco na pergunta – eu não sabia. Não sabia o que responder, nem como responder. Como alguém diz ao próprio pai uma coisa do tipo: “Não importa o que aconteça, eu não vou deixa-lo!” “Sabe papai, se ele ainda for um monstro sanguinário, eu vou me tornar um também!” Eu permaneci em silêncio.

Meu pai levantou a mão em direção ao meu rosto e eu me retraí só um pouquinho – á ultima coisa que eu precisava era que Dimitri me encontrasse com um olho roxo!

Hey, não culpe por pensar assim, afinal minha mãe já me deu um de presente!

Abbe não me bateu. Ao invés disso, sua mão correu solta na pele do meu rosto, acariciando. Eu quis chorar. Eu quis me jogar no colo dele e chorar. Quis que ele me abraçasse apertado e me dissesse que tudo daria certo. Eu quis abraça-lo. Mas eu não fiz. Ao invés disso, eu apenas fechei os olhos e deixei que uma única lágrima mostrasse á ele o que eu sentia – meu pai me conhecia melhor do que eu poderia imaginar. Ele também não me abraçou. Seus dedos secaram minha lagrima com precisão. E ele me encarou com seus olhos escuros.

-                  Faça o que tiver que fazer, Rosemary. Eu estarei sempre aqui.

As palavras foram o soco que as mãos dele não me deram. Não um soco ruim, mas um soco bom e doloroso ao mesmo tempo – meu pai me amava? Ops! Com isso eu não sabia lidar.

Meu pai não se domorou muito, o que era bem típico dele – visitas rápidas e eficientes! Assim era meu pai.

Eu continuei ali, olhando o rosto de Dimitri. Pensando em minha vida. De repente, minhas pálpebras ficaram pesadas demais para mantê-las abertas, e então, tudo se foi.

Provavelmente, eu estava sonhando.  Eu sentia um carinho conhecido e um roçar de barba por fazer que não deveriam vir junto com o calor da pele. Ops!

-                  Dimitri! – eu gritei.

Eu não sabia o que fazer, nem como reagir. Eu queria me jogar nos braços dele, mas não sabia se deveria. Ele estava lá novamente e sua pele era quente e confortável novamente. E seus olhos eram do mesmo marrom escuro de antes. Eu queria abraça-lo para sempre. Ao invés disso, eu apenas repeti.

-                  Dimitri.

Dimitri sorriu.

-                  Sim Roza, sou eu.

Eu quase não podia acreditar. Olhar mais uma vez nos olhos do homem que eu amava era maravilhoso. As lágrimas não demoraram á cair.

-                  Achei que ficaria feliz em me ver – Dimitri brincou.

-                  E estou – eu disse entre soluços – é por isso que estou chorando.

Dimitri secou minhas lágrimas com as costas das mãos.

-                  Anita me disse que eu precisava voltar, para que você não chorasse mais.

Eu sorri.

-                  Anita não tem jeito!

-                  Ela me lembra você.

Eu sorri novamente.

-                  É ela também me lembra á mim.

Dimitri me pegou os braços e apertou o mais forte que podia. Sentir novamente o calor do seu corpo forte contra o meu fez com que ondas elétricas se dissipassem em minhas veias.

-                  Dimitri – eu falei e em seguida parei um pouco.

-                  Diga Roza.

-           Não quero que vá. Quer dizer. Eu não quero que fique longe de mim. Eu não quero que seja guardião de algum Moroi e me deixe.

          Dimitri sorriu novamente, mostrando a ponta estranhamente afiada de seus dentes.

-                  Nem de Lissa? Não quer que eu seja mais o guardião dela?

-                  Não. – eu respondi, me fingindo de emburrada.

-                  Achei que Lissa fosse sua melhor amiga.

-                  E é, mas você é o meu melhor... – eu não sabia o que dizer – melhor...

Dimitri sorriu amplamente, espalhando o som de sua risada por todo o quarto.

-           Melhor o quê, Roza? – ele me perguntou, fazendo meu rosto parecer um pimentão de tão vermelho.


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