Spirit Bound - o Recomeço escrita por Bia Kishi


Capítulo 32
Capítulo 32 - Sentimentos Mudam


Notas iniciais do capítulo

Dimitri soltou aquela gargalhada que não se encaixava em nada com o homem que eu amava.
— Ele mereceu cada detalhe do que fiz com ele!
Nesse momento, Stan levantou o braço e num único golpe tentou acertar Dimitri bem no coração. Falhou. A estaca escorregou pelo braço de Dimitri, deixando uma linha escarlate por onde passou. A sacola de papel se espatifou no chão, revelando seu conteúdo.



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Antes que eu pudesse fazer qualquer coisa, Dimitri virou-se para eles – um sorriso malvado nublou se rosto.

-           Ora, ora, ora. Sangue moroi – ele caminhou até meus amigos e aspirou o ar ao redor deles – e da realeza. Muito melhor.

            Eu mal conseguia me concentrar de tanto pânico.

            Dimitri caminhou até mim á passos curtos e certeiros.

-                  Com quem acha que eu devo começar, querida Roza?

Eu engoli em seco.

-                  Acha que eu devo começar com ela? – ele disse apontando para Lissa.

Enquanto eu tentava me concentrar para não cair dura e ter uma síncope,  Dimitri sorriu. Apenas depois de seu sorriso, eu pude perceber a mão de Adrian apertando carinhosamente a de Lissa – os sentimentos estranhos passaram por mim novamente. Dimitri sorriu mais.

-                  Apaixonado pela princesinha.

Adrian não negou. Apenas deixou a cabeça tombar em direção ao chão, como se Dimitri tivesse descoberto um grande segredo seu.

-                  Vê Roza, eu lhe disse para não confiar nesse     Moroi. Eu sabia. Sabia que ele nunca a Maria como... – Dimitri interrompeu a própria voz.

-                  Como você? – Lissa o provocou.

Eu quis mata-la por desafia-lo – será que aquela garota não tinha noção do perigo que corria?  Eu não sabia se corria para protege-la ou se pensava melhor em um plano.

Dimitri voltou-se para ela e caminhou, suavemente em sua direção. Ele estendeu a mão e segurou o queixo de Lissa. Adrian tentou impedir, mas a mão certeira de Dimitri o imobilizou em um único golpe.

Os olhos do Strigoi estava inteiramente nos de Lissa. Ela não demonstrava medo algum.

-                  Tem razão princesa. Como eu. Ele nunca a amaria como eu. Ninguém amaria.

Eu engoli em seco.

            Lissa não disse mais nada. Dimitri também não.

-           Deixe-os ir – eu implorei – deixe que levem Anita. Ela é só uma criança. Não é importante para você.

Dimitri voltou seus olhos para os meus e caminhou até o meio do cômodo.

-           Porque eu faria isso, se posso ter todos vocês? – ele caminhava em volta do espaço, sorrindo – sabe, arranjar sangue de tão boa qualidade não é fácil. Aqui eu tenho três lanches e um delicioso brinquedinho.

-                  Não pode fazer isso – eu esbravejei.

-         É claro que posso – ele me disse, encarando meus olhos com seus arcos carmesin – quem ousaria me impedir.

          Como se lesse meus pensamentos, a única pessoa que ousaria desafiar Dimitri apareceu – Stan.

-                  Talvez eu. O que acha?

Dimitri virou-se para a porta, onde Stan havia empurrado Adrian e Lissa para longe e bloqueava a saída.

-                  Não fique no meu caminho, Stan – Disse Dimitri, cerrando as mãos em punho.

-                  Não. Se não ameaçar as pessoas que amo.

-           Ama? Desde quando você conhece este sentimento Stan? Desde quando luta pelos que ama?

Stan fitou o chão com os olhos. Eu podia sentir os sentimentos dele. Podia entender seus arrependimentos, e hoje, eu os compreendia muito melhor. Embora entendesse. Eu não podia me meter naquela briga. Dimitri e Stan se entenderiam de um jeito ou de outro. Eles eram amigos.

-           Acha que eu quis matar Diana? – Stan encarou Dimitri – acha que eu me senti feliz com isso?

Anita apertou mais forte o rosto contra meu corpo e eu acariciei seus cabelos – não seria uma conversa fácil para nenhum de nós.

            Dimitri não respondeu. Sua posição de defesa estava intacta.

-           Acha Dimitri? Acha que foi fácil? Você me conhece desde moleque. Acha que eu queria isso?

Os olhos do Strigoi se perderam no chão de pedras.

-           Não – ele deixou escapar entre presas – mas acho que poderia ter lutado mais. Acho que poderia ter lutado como... – stan o interrompeu.

-           Como Rose? Acha que eu deveria ter lutado como Rose? Que deveria ter tido esperanças? Esperanças que você matou agora?

Os olhos de Stan foram do chão ao rosto de Dimitri e para dentro da cela.

-           Eu não posso crer no que fez Dimitri. Não achei que tivesse coragem. Não achei que pudesse mata-lo. Não á ele. Não achei que desceria tão baixo.

Um silvo gutural saiu da boca do Strigoi.

-           Descer baixo Stan? Acha que eu desci baixo? Não seja idiota! Eu não matei a mulher que amava!

-                  Mas a magoou tanto que seria mais fácil ter enfiado uma estaca no coração dela!

-                  Como você fez?

Stan engoliu em seco, pensando um pouco antes de responder. Por mais que os dois estivessem prontos para a luta, tudo que eu via eram dois grandes amigos magoados um com o outro.

-         Eu tive meus motivos, e você sabe bem quais foram. Você o matou sem razão alguma. Você traiu á você mesmo. Você disse que seria diferente dele – Stan suspirou profundamente, soltando o ar como se seus pulmões doessem – você jurou que seria diferente, e não foi.

          Dimitri soltou aquela gargalhada que não se encaixava em nada com o homem que eu amava.

-                  Ele mereceu cada detalhe do que fiz com ele!

Nesse momento, Stan levantou o braço e num único golpe tentou acertar Dimitri bem no coração. Falhou. A estaca escorregou pelo braço de Dimitri, deixando uma linha escarlate por onde passou. A sacola de papel se espatifou no chão, revelando seu conteúdo – caixas de remédio.

No mesmo instante algo se moveu dentro da cela – Ivan. Suas mãos se fecharam só um pouco e ele resmungou, como se a confusão o tivesse arrancado de um sono profundo.

O espanto passou pelo rosto de cada um de nós, exceto Dimitri. Ele sorriu. Não aquele sorriso sombrio e sem emoção, mas algo bem parecido com o sorriso quente e iluminador que aquecia tudo ao seu redor.

-                  Ele... Ele... Não está morto! – constatou Stan.

-         Não, ele não está. Mas morrerá em breve, caso você continue me impedindo de lhe dar os malditos remédios.

          Meu coração era um misto de sentimentos ainda maior. Eu queria gritar que o amava. Que ele não havia matado um inocente. Que ele merecia ser salvo. Mas ao mesmo tempo, eu não entendia se isso era o certo.

          Dimitri se abaixou para pegar o remédio, e Stan não o impediu. A estaca permaneceu brilhando, no chão de pedras.

          Anita permaneceu colada ao meu corpo, embora estivesse um pouco menos tensa. Lissa estava na porta, e Adrian a abraçava, recostando sua cabeça em seu peito. Stan estava lá, em posição de ataque, com seu semblante mais assustador e perigoso, mas eu via mais que isso. Eu via o alivio nos olhos dele – Stan gostava de Dimitri como um irmão. Ele estava tão magoado com o fato de Dimitri ter matado Ivan como eu. Ou talvez um pouco mais. O que eu não entendia era a razão de tanto pesar. Quer dizer, tudo bem, Ivan era um inocente. Um Moroi da realeza que não merecia morrer á toa. Ele era um homem bom. Mas o que envolvia Dimitri e Ivan daquela maneira? Porque Stan estava tão chateado por Dimitri tê-lo matado?         

Eu não tive muito tempo para imaginar, a resposta veio rapidamente.

-                  Pai? – a voz de Dimitri chamou minha atenção.

Ele repetiu.

-                  Pai?

Eu me virei para a cela de pedras para ver uma cena inacreditável – Dimitri estava ali, segurando a cabeça de Ivan em seu colo, limpando o sangue com o próprio casaco. Ivan estava com os olhos fechados, como se não tivesse mais força alguma para se manter vivo.

Pai? Eu refiz a palavra em meus pensamentos. É claro! Pai! Ivan é o pai de Dimitri! Por isso tanta mágoa! Por isso tanto sentimento! Por isso Ivan nunca desistiu dele!

            Dimitri insistiu.

-                  Você precisa tomar o remédio.

Ivan abriu os olhos lentamente. Sua mão trêmula encontrou o rosto frio de Dimitri, e ele o acariciou. Para minha surpresa, o Strigoi não se negou ao toque.

-           Pode me perdoar, meu filho?

Dimitri não respondeu.

-           Você precisa. Precisa me perdoar, precisa ser melhor do que eu fui. Deixe-me te ajudar.

-           Shhhhhhhh – Dimitri o intrrompeu – fiquei quieto e tome logo essa porcaria. Não quero esses idiotas achando que sou covarde. Que mataria um moribundo como você.

          Naquele momento, tudo que eu conseguia pensar era que, enfim, eu não estava errada. Aquele homem dentro daquela cela ainda era meu Dimitri. Havia sobrado muito mais do velho guardião do que eu poderia imaginar.

          Stan se aproximou de mim e deslizou as mãos pelos cabelos de Anita. Eu encarei seus olhos e sorri, encorajando-o. Ele não sabia o que fazer. Meu amigo guardião não tinha idéia de como agir diante daquela garotinha.

          Anita se desgrudou lentamente do meu corpo e virou o rosto para o pai. Stan sorriu. Um lagrima discreta e pequena escorregou em sua pele quente.

-                  Oi pequena – ele falou – eu lhe procurei muito. Senti saudades suas.

Como se tivesse esperado por aquelas palavras a vida toda, Anita se jogou nos braços de Stan. Seus bracinhos finos se enrolaram no pescoço do guardião e ele a levantou.

Eu queria chorar, ou melhor, eu queria chorar mais. Pensei em como minha tia estaria se pudesse ver aquela cena. Stan embalava Anita em seus braços como se ela ainda fosse um bebê, e ela confiava nele como se realmente fosse. Eu pensei no meu pai. Em tudo que ele havia me contado, em como havia me protegido de longe. Pensei em minha mãe. Em como eu queria que as coisas fossem diferentes entre nós. Em como eu havia sido mimada e infantil com ela. Ali, olhando Dimitri cuidar do pai e Stan brincar com Anita, eu entendi que nem sempre as coisas são perfeitas. E que na imperfeição delas, ainda podemos ser felizes. Eu pensei em minha família. Pensei que não eram perfeitos mais que me amavam á sua maneira. Pensei em Lissa, em quanto ela havia arriscado para estar ali. Para tentar me salvar.

Quando olhei na direção da minha melhor amiga no mundo todo, eu percebi que o tempo passa. Lissa não era mais a menininha mimada da realeza. Ela era uma mulher. Uma mulher forte e decidida que arriscava a própria vida pelo que acreditava. Percebi que ela havia descoberto o amor de verdade. Olhando em como ela e Adrian se abraçavam eu entendi que os sentimentos mudam. Olhando para Dimitri naquela cela, cuidando do homem por quem ele tinha tantas mágoas, eu percebi que alguns sentimentos não mudam nunca. E os meus eram desse tipo.


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