Spirit Bound - o Recomeço escrita por Bia Kishi
Notas iniciais do capítulo
Ivan não se moveu, embora eu o tenha chamado muitas vezes. Meus pés pareciam cravados na pedra. Eu não conseguia entrar na cela e não conseguia sair dali. Os sussurros haviam cessado – Ivan estava morto.
Assim que abertura se tornou grande o suficiente para que eu pudesse passar e ajudar Anita á fazer o mesmo, eu me sentei novamente no chão da cela – segundo Mason estávamos no meio do dia e eu não precisaria me preocupar com Dimitri por enquanto. Algo em minha ligação com Lissa estava chamando. Era como se eu precisasse saber dela. Como se eu precisasse senti-la.
Fechei os olhos e viajei pela mente da minha melhor amiga – Lissa estava confusa. Confusa e amedrontada e seu fôlego estava se esgotando. Eu não conseguia ver claramente porque tudo que ela pensava era um borrão em minha mente. Eu senti uma mão quente apertar a dela. A minha. Um sentimento estranho brotou no coração de Lissa e eu já não sabia mais se era meu ou dela. Conforto. Alguém a estava confortando e cuidando. Um nó em meu coração – não era eu.
Os sentimentos em Lissa eram tão confusos que eu precisei me concentrar muito para que pudesse ver algo através de seus olhos – Ela estava correndo, correndo por um corredor. Adrian. Adrian estava com ela. Parei por um momento, pensando nos sentimentos estranhos que se moldavam no coração de Lissa. Adrian. Ele a estava confortando. Nesse momento, á confusão era toda minha. Minha cabeça parecia que iria explodir.
Não! - eu gritei em minha mente – concentração! Eu precisava de concentração.
Respirei controladamente, ajudando minha mente a se concentrar.
Lissa estava correndo pelo corredor do hotel. Adrian á estava ajudando. Apesar de imaginar o que eles pretendiam, eu não queria acreditar. Não podia acreditar que os dois sairiam correndo sozinhos e tentariam vir até aqui. Era loucura. Loucura completa e absoluta. Abri meus olhos desesperada e apavorada, sem ter a mínima idéia do que fazer para impedir a besteira dos dois.
- Acalme-se Rose! Acalme-se! – a voz suave de Mason me tirou do transe – ou se acalma ou não poderá ajudar nenhum deles!
Pensei nas palavras do fantasma por algum tempo e entendi que ele tinha razão – eu havia sido impulsiva tantas vezes em minha vida que nem me lembrava mais de ser normal.
Controlando novamente minha respiração. Eu abri meus olhos.
- Você tem razão Mase. Eu preciso me organizar. Preciso tirar Anita daqui antes que anoiteça, aí então eu posso procurar por Lissa e Adrian.
- Isso! – o fantasma concordou.
Ajudei Anita a se levantar e ajeitei á mesinha de cabeceira para que ela pudesse passar pela abertura. Algum tempo depois, Anita estava na sala da cabana, e eu também.
- Rose, eu estou com medo – á garota choramingou.
- Hey! Não precisa ter medo. Eu estou aqui, lembra? – eu brinquei com ela.
Anita não sorriu. Ela apenas apertou os dedos na barra do meu casaco e enterrou a cabeça em meus cabelos.
- Eu sinto a presença dele Rose, eu sinto.
Dele? – eu não tinha certeza de querer saber de quem ela falava, embora eu imaginasse. Chacoalhei os pensamentos de minha mente, Afinal, quem não tinha medo dele?
- Hey, é sério! Não se preocupe. Eu vou cuidar de você.
Obviamente, a porta estava trancada – Dimitri me conheci bem, sabia que eu tentaria fugir. Por mais que eu a forçasse, nem mesmo um naco de madeira caia – ele havia feito um bom serviço.
Enquanto eu tentava desesperadamente abrir a porta, um gemido baixo me fez parar – alguém sentia dor.
- Ivan! – eu gritei mais para mim mesma do que para qualquer outra pessoa.
Se Ivan ainda estava lá, eu precisava ajuda-lo.
Segui o gemido pelo cômodo até encontrar uma outra porta, escondida por um armário. Quando a forcei, a porta se abriu.
Lá fora a neve caia violentamente por todos os lados, arremessando mechas do meu cabelo contra meu rosto. Anita tremia e tateava tudo ao seu redor sem conseguir enxergar nada. Ela nunca havia saído da cabana, mesmo a luz fraca do inverno da Sibéria, machucava seus olhos. Tirei o casaco e joguei sobre seus ombros, protegendo seu rosto contra o vento e a luz. O gemido se fez mais alto.
Arrastando a garota através da tempestade de neve eu corri o mais rápido que pude, em direção ao som. Não estava muito longe, o que garantiu que meu corpo não congelasse.
Nos fundos da antiga construção, havia uma outra cabana, um pouco menos e construída de pedras. O som vinha de lá.
Com um golpe certeiro, eu quebrei a porta de madeira e entrei, protegendo Anita do frio e da luz do dia – a garota tremia. Eu a abracei.
- Está com frio, querida?
- Na verdade não Rose – ela choramingou – eu estou com medo. Esse lugar. Esse lugar tem o cheiro dele.
Aspirei o ar com cuidado – Anita tinha razão. O lugar todo cheirava á Dimitri. Dimitri. Aspirei o ar uma vez mais – eu deveria estar com medo. Deveria ter aprendido a temer Dimitri. Deveria ter aprendido a temer um Strigoi. Mas eu não temia. Eu não temia Dimitri por uma única razão – eu ainda o amava.
Anita me abraçou, dispersando meus pensamentos. Eu a abracei também.
Ivan estava em uma cela de pedra, com grades de ferro que, por sorte, estava tão velha e enferrujada que não foi difícil quebrar. Assim que eu entrei, a cena me desolou – ele estava caído no chão, de bruços e uma poça de sangue vermelho manchava seus cabelos.
- Ivan! – eu gritei, tapando a boca com a mão.
Anita chorava e sacudia a barra do casaco em volta de mim.
- Eu disse, disse que o moço bonito mata as pessoas. Eu disse!
As palavras de Anita entravam em meus ouvidos como se viessem de uma outra dimensão – Dimitri havia matado Ivan. Meu Dimitri havia mesmo matado um inocente. E havia feito isso depois de jurar para mim que não. Meu coração era um misto de sentimentos que nem mesmo eu conseguia compreender. Pensei em Stan e em como havia sido difícil para ele. Pensei em como eu queria Stan ao meu lado.
Ivan não se moveu, embora eu o tenha chamado muitas vezes. Meus pés pareciam cravados na pedra. Eu não conseguia entrar na cela e não conseguia sair dali. Os sussurros haviam cessado – Ivan estava morto.
Um puxão forte e insistente em minha blusa me vez voltar á realidade.
- Vamos Rose! Vamos sair daqui antes que... – Anita não terminou a frase.
A porta se abriu, trazendo flocos de neve com ela. Era ele. Embora o dia ainda tivesse pequenos raios de luz, ele estava lá. Eu não conseguia encara-lo. Anita me apertou com força, escondendo o rosto em meu peito, enquanto eu contemplava Dimitri pela ultima vez. Tudo que eu conseguia pensar era que ele havia me traído. Ele havia matado Ivan e me mataria com certeza. Não restava mais nada do homem que eu havia amado. Não restava mais nada do cowboy que havia me ensinado a ser o que eu era. Meu Dimitri – uma pequena lágrima rolou em meus olhos – ele não existia mais.
- Vai á algum lugar, Roza?
Eu não conseguia responder. Só pensava em como havia sido idiota e em como havia perdido as oportunidades perfeitas de cravar uma estaca no coração dele. Afina, Stan estava certo. Stan sempre esteve certo – não havia salvação para um Strigoi.
Dimitri caminhou para dentro da cabana com um saco de papel na mão.
- Eu fiz uma pergunta – ele repetiu – vai á algum lugar?
As lágrimas rolavam cada vez mais rápidas e eu qual conseguia vê-lo.
- Deixe-a ir – eu choraminguei apontando para a menina agarrada em meu corpo – só deixei-a ir e pode fazer o que quiser comigo.
Dimitri riu.
- O que acha que eu quero com você, Roza? – Dimitri estava agora á alguns passos de mim.
- Na... Não sei... Vo... Você matou Ivan – eu choraminguei – e mentiu pa... para mim.
Dimitri parou, como se não entendesse o que eu dizia. Em seguida soltou uma gargalhada que fez todos os pelos da minha nuca se eriçarem.
- Acha que eu matei Ivan? – ele me perguntou.
Antes que eu pudesse responder, Dimitri refez a pergunta.
- Porque eu devo lhe dar algum tipo de satisfação? – ele me disse, apertando o saco de papel entre os dedos.
Eu não sabia o que dizer. Não sabia o que pensar e no fundo, ele tinha razão. Eu era uma boba e deslumbrada de achar que alguém como ele se importaria com algo. Dimitri era um Strigoi e Strgoi não pensam em ninguém além deles mesmos – engoli o bolo que se formava em minha garganta e apertei Anita contra mim – eu precisava salva-la, não importa o que acontecesse.
Nesse exato momento, tudo que eu mais temia aconteceu. Saindo da neve que chicoteava lá fora, Lissa e Adrian apareceram na porta, gelando meu sangue até os ossos.
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