Alleine In Die Nacht escrita por Maty


Capítulo 6
Capítulo 6 - Nossa promessa. Sua promessa.




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   Abri os olhos e permaneci sem reação alguma encarando o teto branco e sem graça do meu quarto. Lentamente olhei ao redor e senti uma enorme onda de culpa me acertar em cheio. Minha mãe dormia em uma cadeira ao lado da minha cama. Parecia cansada e desconfortável.

 

-Mamãe... – chamei pegando em sua mão. Ela acordou com um susto.

 

-Bill! Você acordou! – abriu um grande sorriso, mas este era ofuscado por suas grandes olheiras.

 

-O que aconteceu comigo?

 

-Hipoglicemia... Está anêmico. O médico receitou uma dieta e te mandou para casa. – fez uma careta chorosa apertando forte minha mão entre as suas. – Ah Bill... O que eu faço com você?

 

-Desculpe. Não era minha intenção te magoar ou te deixar preocupada assim.

 

-Então pare de se arriscar dessa maneira! Você não estava disposto a sair, então por que o fez mesmo assim?!

 

-Eu fiz a vontade dele. – baixei minha voz, na esperança de que talvez ela não ouvisse.

 

-Dele? Dele quem? – parecia realmente preocupada agora arregalando os olhos e me encarando com atenção exagerada. Me perguntei se deveria ou não lhe contar a verdade.

 

-De Tom...Ele fica gritando na minha cabeça! Diz que sou fraco, que sou um covarde, que tinha que sair de casa. Eu estava farto! – sentei e a olhei de perto implorando por socorro. – Era a única maneira de fazê-lo se calar.

 

-Você... – não segurou as lágrimas e levou a mão á boca. – Você ouve a voz de seu irmão e não me disse nada?

 

-Eu não queria preocupá-la... Isso é coisa da minha imaginação! Um dia tem que parar.

 

-Bill! Isso é sério! Não devia ter escondido de mim dessa maneira!! – me calei. Desculpas não iam resolver nada de qualquer maneira. – Desde quando?

 

-Desde o enterro.

 

-Tanto tempo assim? Faz mais de duas semanas! – suas lágrimas aumentaram e ela escondeu seu rosto em suas duas mãos por alguns segundos. - Ok. – se levantou decidida. – Já chega! Você vai melhorar agora, nem que seja obrigado! Vai comer tudo o que eu fizer e vai ter sempre alguém para vigiá-lo! – gritou apontando seu dedo para mim. Sua tristeza parecia ter sido transformada em raiva de uma hora para outra.

 

-O que? Eu não sou uma criança!

 

-Bill, escuta. – se sentou na minha cama e me olhou fundo nos olhos. Sua voz era dura, exatamente igual á voz que ela usava para brigar comigo quando criança. – Eu já perdi um filho... È a pior coisa que pode acontecer para uma mãe. A dor... A dor é desumana! Você acha que é o único sofrendo, mas todos nós sentimos falta do Tom!

 

-Mãe... – chorei culpado com aquelas palavras. Eu realmente ainda não tinha pensado na dor que ela sentia. Tinha sido egoísta demais pensando somente na minha. Ela devia estar sofrendo horrores todo esse tempo, se fingindo de forte e chorando em segredo. Eu devo ter triplicado essa dor toda vez que me recusava a comer e não percebi. Ela cozinhava tudo que eu gostava e eu não dei valor alguma á isso.

 

-Eu não vou suportar perdê-lo também. Não vou deixar isso acontecer! Não me importo com o que tenha que fazer! – saiu do quarto apressada batendo a porta atrás de si.

 

-Você está machucando a mamãe. Bom trabalho, idiota!

 

-Isso é tudo sua culpa! – bati em minha própria cabeça. – Pare com isso, Tom... Eu sinto sua falta! Não me torture mais dessa maneira.

 

    Levantei, andei pelo corredor em direção ao quarto que me recusara a entrar desde o dia seguinte de sua morte. Abri a porta e tudo aquilo me atingiu como um soco no estômago. Suas coisas espalhadas pelo chão, seus bonés e lenços pendurados atrás da porta, seus tênis desordenados próximos ao pé da cama... Desabei em um choro de saudade e me deitei em sua cama. Agarrei ao seu travesseiro, tinha seu cheiro.

 

-Eu sinto tanto a sua falta... Sinto falta de suas brincadeiras idiotas, sinto falta de beber com você até cairmos bêbados no chão. Eu quero tudo como era antes. – solucei. – Eu quero você ao meu lado!! Não na minha cabeça!! Eu quero ouvir você falar que me ama, e não me chamar de fraco!! Quero subir no palco e ouvir o som de sua guitarra em sintonia com minha voz de novo... – observei sua Gibson preferida que descansava em um canto do quarto. Levantei e toquei nas cordas delicadamente. – O que posso fazer para te ver de novo? – a pergunta oscilou pelo quarto por um breve momento, somente os segundo necessários para eu me dar conta que tinha a resposta bem á minha frente todo esse tempo. Quase que imediatamente a voz de Tom reagiu a tal descoberta.

 

-Nem pense nisso.

 

-Era o que eu devia ter feito há tempos!! Cumprir nossa promessa...

 

-Esqueça essa promessa!

 

- “ Doch wenn wir gehen, dann gehen wir nur zu zweit... ” ( “ Mas quando nós vamos, nós só vamos juntos... “ ) – o espelho do outro lado do quarto refletia meu corpo magro, meu rosto me lembrando do dele me fazia sentir ainda mais sua falta.

 

-Para com isso, Bill! Não seja um idiota!!

 

-Não... – corri até meu banheiro e abri o armário. – Onde está..? – procurava pelo pequeno frasco de tranqüilizantes.

 

-Espero que bem longe de você!!

 

-Pare com isso!! – gritei. Olhei no espelho e parei minha busca, perplexo. Ele estava lá. Bem atrás de mim. Uma batida de coração ressoou alta e forte pelo banheiro. – Tom!! – me virei e procurei por ele.

 

-Não faça isso... – tinha o maxilar trincado e o rosto levemente abaixado, me encarando com olhos mirados para cima, fazendo-os parecer ainda mais ameaçadores. Apesar disso tudo meu coração batia com vontade e meu cérebro parecia ordenar que os cantos de meus lábios se direcionassem para cima em um sorriso. Ele estava tão perto de mim...

 

-Você está aqui. – chorava. Estendi minha mão para tocá-lo, mas a imagem sua imagem se desintegrou sob meus dedos como se fosse areia. – Não! Volte!! – olhei o espelho novamente. Ele havia sumido. – Anda! Fala alguma coisa!! Apareça de novo! Eu quero te ver! – pedi. Nada. Somente o silêncio e o som de meu coração batendo como um louco. Voltei a procurar pelos tranqüilizantes, com mais pressa dessa vez, jogando tudo o que estava dentro dele no chão. Os encontrei escondidos atrás do frasco de shampoo. – Ok... Eu vou tomar. – enchi minha mão de comprimidos, esvaziando completamente o pequeno pote.

 

-Você acha mesmo que era isso que eu queria?! – sua imagem voltou a se formar no espelho. E eu apenas arregalei meus olhos suspirando aliviado por ele ter voltado. – Minhas últimas palavras foram “ Live on “ ( “Continue vivendo” ) ! Não quero que acabe com sua vida... Quero que continue vivendo!

 

-Mas eu quero te encontrar de novo!! È uma tortura andar pela casa e ver sua imagem em todos os lugares!! Reviver todas as malditas lembranças que enchem esse lugar e saber que nunca poderei vê-lo de novo! – me virei, ele estava lá. Tinha a expressão magoada. Me perguntei se era uma criação da minha mente ou se Tom realmente se encontrava a dois passos de distancia de mim. – Eu não consigo mais ouvir sua voz e não poder te tocar. – estendi minha mão em sua direção, mas me recusei a tocá-lo com medo dele sumir novamente.

 

-Não faça isso... – assentiu negativamente com a cabeça, baixou a cabeça e tive a impressão de que ia chorar. Tom sempre abaixava a cabeça quando sentia vontade de chorar.

 

-Não vai doer. Será rápido! Nós vamos estar juntos novamente em pouco tempo... – sorri com esse simples pensamento. – Seremos inseparáveis novamente.

 

-Bill, não. – voltou a me olhar sério. Tinha os lábios cerrados. Estava tão bonito... Não estava pálido como da última vez que o vi. Tinha cores em seu rosto novamente, o vermelho dos lábios, o castanho dos olhos, o moreno claro da pele.

 

-Nos vemos daqui a pouco, irmãozinho. – sussurrei, olhei todos aqueles comprimidos em minha mão e relutei por alguns segundos. Mas somente alguns segundos. Um por um eu fui engolindo as pequenas pedrinhas brancas em formato de bala. O gosto era amargo e eu fechei os olhos enquanto os engolia.

 

    Nos instantes seguintes me senti como em um daqueles brinquedos de parque de diversão, em que você senta e gira... Gira até o mundo ao seu redor se desfigurar e se transformar em um borrão, e a única pessoa que você consegue ver com clareza é aquela que está sentada do seu lado. Tom.

 

-Bill? – era meu pai. – Sua mãe mandou eu checar se está tudo bem e... Bill?! – podia ouvir os passos apressados no piso de madeira, mas por algum motivo não conseguia mover minha cabeça para olhar para ele. 2 comprimidos sobravam em minha mão, mas eu já não conseguia me mover para engoli-los. Tom continuava ao meu lado, era sua promessa. Ele nunca me deixaria. – Filho?! O que você fez?! – senti suas mãos me agarrarem pouco antes de meu corpo cair no vazio, tentei sussurrar alguma coisa, mas aparentemente eu já não tinha controle sobre minha voz também. – Simone!!! Rápido!! Chame uma ambulância! – “me desculpe papai, eu te amo.” me limitei a pensar. “ Ficará tudo bem, eu estarei com Tom... ”


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Notas finais do capítulo

Obrigada por todos os comentários!!

amei todoos eles!


prometo responder todos também!



Espero que gostem!
o_O
(preocupada)