-Não, Bells!! Não faça isso que eu tenho cócegas!! – exclamei me contorcendo para que ela parasse e eu não a derrubasse de minhas costas. – Você vai cair! – exclamei quando ela insistiu em raspar as unhas na parte de trás do meu pescoço.

-Não!! – exclamou em um grito agudo, quando eu soltei suas pernas.

-Arabella, não!! – gritei quando senti seus braços agarrarem forte meu pescoço. – Sua boba. – ri quando nós dois atingimos o chão.

-Bobo é você! Me soltou e ainda caiu em cima de mim! – reclamou, parecia na dúvida entre fazer cara de brava e dar risada.

-O que nós vamos fazer hoje? – rolei para o lado, tirando o cabelo que cobria seu rosto.

-Eu e a Annie temos consulta com o Dr. Mayer.

-Eu sei... – rolei os olhos. – Estou falando depois disso. Eu vi que hoje vai ter cinema na sala de vídeo, o que acha?

-Eu acho que você tem que voltar para o seu quarto e dormir. Olha só para essas olheiras! – me analisou de perto tocando a parte de baixo dos meus olhos. – Tsc tsc... Até parece que não dormiu essa noite, Bill!

-Muito engraçado. – disse irônico. Eu e Arabella ficamos conversando no jardim até de madrugada, quando eu voltei para o quarto o despertador marcava 4 horas da manhã. Infelizmente aquele mesmo despertador me acordou com seu toque agudo e repetitivo ás 7:30 da manhã. – Para sua informação, sua cara também não está lá essas coisas.

-Aposto que estou mais bonita do que você! – sorriu e me deu as costas correndo de volta para a sala de estar. Observei-a correr e sumir de minha vista com um sorriso no rosto, sim, ela definitivamente estava mais bonita do que eu. Ela sempre estava mais bonita do que eu.

     Fiquei tocando violão com Carl por algumas horas, estava melhorando e, apesar de minhas mãos estarem deploráveis, eu me sentia satisfeito. Depois voltei para o meu quarto e deitei na cama decidido a ouvir um pouco de música e talvez escrever algumas letras também. Continuar na carreira de antes sem o Tom não era algo que eu desejava, mas escrever músicas é uma coisa que é parte de mim e da qual eu não consigo abrir mão.

    Apesar de todos os meus planos, acabei dormindo na primeira música que surgiu em meu Ipod.

-Nossa... Alguém está de mau humor e com uma cara de sono dos infernos. – Arabella riu quando eu me sentei ao seu lado na mesa da janta.

-Hoje você vai passar no meu quarto de novo? – mudei de assunto. Havia sido acordado pela enfermeira mais grossa de toda a clínica, jurei que ela ia engolir minha cabeça.  Arabella deu um pulo e tapou a minha boca com sua mão.

-Shhh! Alguém pode ouvir, seu burro! – devagar retirou sua mão de minha boca e olhou ao redor se certificando que ninguém nos olhava. Depois se voltou para mim de novo e sussurrou bem baixinho. – Você quer me ver essa noite de novo?

-Eu..?!  Não! Eu só queria saber para não levar outro susto!!

-Você quer sim... – estreitou os olhos me analisando com um sorriso contido nos lábios. Será que era assim tão óbvio em meu rosto ou ela já me conhecia melhor do que eu achava que conhecia?

-Tanto faz. – rolei os olhos. Aparentemente meu orgulho era grande demais para admitir a verdade. Eu mal podia esperar para pular a janela e ficar a noite inteira com ela de novo.

    Ao chegar no meu quarto tomei um banho e me recusei a colocar o pijama, optando por um jeans e uma camiseta. Deitei na cama e agarrei o Ipod, deixando a música bem baixa para que pudesse ouvir as batidas na janela. As músicas iam passando uma por uma e eu ia cada vez mais prestando menos atenção nelas.

-Eu não acredito que ela não vem. – sussurrei para mim mesmo, irritado com o fato de já serem quase 2 horas da manhã e ela ainda não ter aparecido. Abri a janela e olhei ao redor procurando-a. – Que se dane. – tirei a camiseta, desabotoei a calça e abri o armário procurando por uma roupa mais confortável para dormir.

-Bill! – dei um pulo e me apressei em abotoar a calça novamente. – Por que você está pelado?

-Não estou pelado! Estou com calças, não está vendo? – mexi as pernas apontando para minhas pernas mentalmente agradecido de estar escuro e ela provavelmente não conseguir ver minhas bochechas coradas. – Eu ia colocar uma roupa mais confortável para dormir por que achei que você não ia mais vir. – voltei a colocar a camiseta e pulei a janela. – Por que diabos demorou tanto?!

-Eu peguei no sono... – admitiu sorrindo sem graça. Ela ficava tão bonitinha quando sorria dessa maneira!

    Fomos andando pelo jardim escuro, as sombras das árvores e arbustos pareciam saídos de um filme de terror, mas eu não sentia medo, afinal de contas eu não estava sozinho, certo? Atravessamos o jardim calmamente e nos aconchegamos no mesmo lugar da noite passada. Arabella rolou na grama para mais perto de mim e estreitou os olhos me analisando.

-O que foi? Por que está me olhando assim?

-Você não tem uma namorada?

-O que?! – ri de sua pergunta

-Hoje eu fui naquela sessão de cinema, sabe? O Patrick me chamou para ir com ele e o filme...

-Pera aí... O Patrick? Aquele baixinho que fala com as formigas e besouros do jardim? – segurei a risada. Só a Arabella aceitaria um convite dele... Patrick conversa com insetos e por isso tem sempre terra nas roupas por que passa o dia inteiro deitado na grama interagindo com eles.

-Esse mesmo! Então... O filme era de um cara que era famoso que nem você! Um monte de meninas ficavam se jogando para cima dele, mas ele já tinha uma namorada... Pelo menos eu acho que era isso, acabei dormindo na metade do filme. – sorriu. -  E então? Você tem ou não uma namorada?

-Por que quer tanto saber? – levantei uma de minhas sobrancelhas – Você gostaria de ser minha namorada?