Alleine In Die Nacht escrita por Maty


Capítulo 20
Capítulo 20 - Almas Gêmeas




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Andamos sem rumo pelo enorme jardim por alguns minutos e acabamos por nos aconchegar na grama próxima á uma grande árvore. Arabella se esparramou inteira no chão enquanto eu preferi apenas me sentar e encostar minhas costas no tronco da árvore.

 

-Por que você estava chorando? – olhou para mim. Estávamos tão no fundo do jardim que a luz dos postes do lado de fora iluminavam o lugar. – Era o seu irmão? – se apoiou em seus cotovelos. Tinha tanta inocência na pergunta que eu fui incapaz de sentir raiva.

 

-Era... – baixei a cabeça. – Eu senti muita saudade dele.

 

-Ele estava falando coisas más na sua cabeça de novo?

 

-Estava... Disse que eu ficaria sozinho para sempre. – senti vontade de chorar, mas respirei fundo. – È a coisa que eu mais tenho medo no mundo... Ficar sozinho. Odeio a solidão, é uma coisa nova pra mim, e eu a odeio!

 

-Mas você vive num mundo cheio de gente... Nunca vai estar sozinho.

 

-Não adianta você estar cercado de um milhão de pessoas, ás vezes você se sente sozinho mesmo assim. – sorri para ela.

 

-Se eu estiver do seu lado você vai se sentir sozinho? – questionou-me tombando a cabeça para a esquerda. Ri.

 

-Não. Se você estiver ao meu lado eu vou estar bem... – respondi. Ela sorriu e voltou a deitar na grama, olhava para o céu negro e manchado de branco pela lua.

 

-Bill, me conte sobre o Tom.

 

-O que?

 

-Você não fala muito dele. Mas sempre que toca em seu nome seus olhos brilham, e depois ficam tristes. Ele era seu irmão, então você devia amá-lo muito... Eu quero conhecê-lo também.

 

    Fiquei em silêncio digerindo suas palavras. Senti meu rosto involuntariamente se contorcer em uma expressão chorosa. Respirei fundo algumas vezes, segurando as lágrimas.

 

-Tom era brincalhão, teimoso, organizado com suas coisas e muito impaciente. Tirava sarro de todo mundo, suas piadas podiam ser maldosas e por isso muitas vezes ele acabava machucando as pessoas. Mas quando ele machucava alguém de verdade, sempre pedia desculpa. E suas desculpas sempre eram sinceras.

 

“ Tom tinha uma forte tendência a conseguir tudo o que queria, se esforçava para isso. Perseguia seus sonhos sem nunca olhar para trás. Às vezes eu fraquejava, mas ele me mantinha em pé e seguindo em frente. Ele se gabava por isso e eu sempre neguei, mas a verdade é que a nossa banda só teve o sucesso que teve por causa dele.

 

   Tom era bom em tudo o que fazia, isso me irritava. Sempre foi o primeiro em tudo. Ganhava em tudo o que competia com facilidade, aprendia tudo com facilidade. Conseguia mulheres com muita facilidade também, por isso era muito mulherengo. Tudo sempre parecia fácil demais para ele, e quando era difícil ele não deixava transparecer.

 

    Éramos irmãos gêmeos idênticos, almas gêmeas. As pessoas costumam relacionar isso á um homem e uma mulher, mas para mim não é esse o significado. Eu e o Tom fomos criados juntos, dentro do ventre da minha mãe, onde tudo começa, a primeira célula, a primeira batida do coração, o primeiro sinal de vida, eu sempre acreditei que é lá onde nossa alma é criada também. E a minha foi criada junto da dele. Minha primeira batida de coração resoou em uníssono com o coração dele. Quando ele sentia dor eu também sentia, quando estava triste, quando estava feliz ou ansioso. Eu sentia tudo junto com ele. Por que nós éramos apenas uma pessoa que foi divida em dois corpos. Tom me entendia e nunca deixava o meu lado, eu sabia que podia contar com ele, podia colocar a minha vida em suas mãos sem fraquejar por um segundo sequer. Podia olhar em seus olhos e ter a certeza que ele estaria ao meu lado até o fim. Isso é ser uma alma gêmea para mim, e o Tom era a minha.

 

     Aquele dia quando ele morreu, eu senti o meu mundo inteiro desabar. Fiquei tão desesperado que no dia seguinte levantei da minha cama crente de que ele estava dormindo em seu quarto. Quando eu estava em casa, eu o via ás vezes, sentado em algum lugar, chamando pelos cachorros, comendo alguma coisa, sorrindo. Eram imagens que antes costumavam ser normais, mas depois que ele se foi se tornaram imensamente preciosas para mim.

 

    Eu tenho medo de esquecê-lo, de não lembrar de como era sua voz, suas manias, seus medos, seus sonhos. Tenho medo de com o tempo me esquecer da sensação de ter um irmão gêmeo. Da sensação de sentir o que ele sentia. Eu me sinto abandonado e sozinho, e também tenho medo dessa sensação não ir embora nunca. “

 

     Deixei meu corpo tombar ao lado de Arabella, me esparramei na grama assim como ela e chorei em silêncio. Ela esperou alguns minutos até que meu choro se tornasse mais calmo e constante, então sentou e olhou para mim. Estava sorrindo e aquilo me irritou um pouco.

 

-Eu tenho inveja de você. – disse por fim.

 

-Por que?

 

-Por que eu não tenho uma alma gêmea. Não conheço a sensação de ter certeza de que uma pessoa estará sempre ao meu lado. Não sei se tem alguém que me conhece tanto quanto seu irmão te conhecia. Não tem ninguém que me levanta quando eu caio e me faz seguir em frente. – sorriu, depois voltou a se deitar e ficou mais um tempo em silêncio observando o céu, que naquele lugar era repleto de estrelas. – E você não tem que se preocupar.

 

-Com o que? – virei o rosto e olhei para ela. Arabella fez o mesmo e sorriu novamente.

 

-Em esquecer o seu irmão. Você não vai esquecê-lo, nem de todas essas coisas que acabou de me contar.

 

-Como pode ter certeza?

 

-Por que ele é família. Família nasce com você, e fica com você até o fim. Não é uma coisa que se esquece, é algo inesquecível, sabe? – se apoiou em seus cotovelos. – E Bill, por mais que o tempo passe e as coisas mudem, você não pode esquecer o inesquecível.


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Notas finais do capítulo

postando outrooo pra compensar a falta de capítulos da última semana!!!
essa semana é semana de provas e eu provavelmente não vou estar atualizando muito...
desculpem por isso!
"/
 
espero que gostem!!

 
próximo capítulo:
 
"- Por que você está pelado? "
 
"-O que foi? Por que está me olhando assim?
 
—Você não tem uma namorada?"