– Oi, Kid?

O garoto de orbes douradas virou-se, encarando o dono da voz que o chamara. Black*Star não o encarava de volta, preocupado demais em terminar suas 2000 flexões diárias – aquele garoto ainda iria se matar algum dia.

– O que foi, Black*Star?

– Você os viu hoje de manhã, certo?

Kid olhou rapidamente para o lado, certificando-se que Soul não os escutava; soube no mesmo instante sobre o que o amigo estava falando. Obviamente que ele os tinha visto – praticamente a escola inteira os viu chegando abraçados. Era impressionante como aquela cena teve uma repercussão imensa – as pobres fãs de Soul quase mataram Maka com olhares mortíferos.

– Claro que eu vi; Todo mundo viu, idiota.

Black*Star sorriu para o chão, ainda nas flexões. ‘1363...1364...1365’

– Soul com certeza vai implorar para que eu maneire meu brilho divino, ou Maka o largará para ficar com O GRANDE BLACK*STAR!

Kid não sabia se ria ou batia no amigo.

– Cale a boca, seu imbecil! – Kid sussurrava nervoso, relanceando olhares para Soul. – Ele vai te ouvir, idiota!

– Deixe-o ouvir! Minha voz é uma divina melodia para todos os ouvidos!

– Ah, claro, como não percebi isso antes? – Kid passava a mão no cabelo, nervoso. – Escute, Star, nós precisamos achar Blair. Talvez nós nos envolvemos demais.

Black*Star parou suas flexões, estático. Ele havia mesmo dito aquilo? Depois de todos esses anos tentando juntar aqueles dois, ele quer desistir na primeira chance real de juntá-los? O plano nem havia começado direito e Kid já queria parar?

Black*Star levantou-se e puxou Kid pelo colarinho, arrastando-o para fora da quadra, em um lugar fora do campo de visão de Soul.

– Escute aqui, Kid – começou, encarando intensamente o amigo. – Estamos tentando acabar com aquela maldita tensão sexual há, pelo menos, dois anos. E quando finalmente conseguimos planejar algo que realmente pode dar certo – graças à Blair e suas artimanhas – você quer FUGIR? Desculpe aí, garoto-simetria, mas eu NÃO aceito isso. O plano está dando certo e você não vai ferrar com tudo. Mal começamos essa bagaça e os dois já estavam agindo como se fossem namorados. Temos tudo para vencer e eu não aceito nada menos do que a vitória. Você vai continuar participando do plano, e não quero saber de desculpas.

Kid engoliu em seco, observando as estrelas furiosas de Star brilhando em seus olhos. Ele queria que o plano desse certo, ah como ele queria. Haviam planejado tudo com Blair: os “afazeres”, as abordagens, o horário... mas ele começou a perceber de que talvez esse plano afete o relacionamento de Maka e Soul no pior sentido. Aquelas garotas estavam com um olhar assustador, quase como se realmente quisessem matar Maka por estar próxima de seu ó-grande-deathscythe-Soul.

– Star, eu quero continuar com esse plano maluco ( ainda que eu ache que iremos ficar com vários galos de Maka-Chops se Maka descobrir algum dia ) só que você tem que entender que eu acho que as coisas não estão indo como o planejado. Soul tem um fã-clube, como você bem sabe – Black*Star revirou os olhos, irritado. Não entendia por que Soul tinha um fã-clube e ele, que iria ultrapassar Deus, não tinha. – Tire essa expressão do rosto, idiota. Você não tem um fã-clube, então aceite. Mas então, eu peguei alguns olhares ameaçadores que as garotas lançavam para Maka, e eu realmente não quero que algo aconteça a ela por causa desse nosso planinho. Não quero arriscar.

Black*Star soltou o colarinho de Kid, compreendendo. Embora Maka fosse meio agressiva às vezes, ela era muito doce e raramente desconfiava de seus colegas. Seria muito fácil para alguém pregar alguma peça de mau gosto nela, se fosse aluno de Shibusen. Maka nunca iria desconfiar de alguém de Shibusen, mesmo que ela nunca tenha visto esse alguém.

– Eh, okay Kid, saquei. Mas relaxa aí, a gente dá um murro na cara de qualquer um que ouse tentar ferrar com Maka. Não vou deixar nenhum babaca mortal machucar minha amiga de infância, porque EU SOU BLACK*STAR, O GAROTO QUE IRÁ ULTRAPASSAR DEUS!

Kid suspirou e sorriu de lado. O grande Black*Star estava de volta.

– É isso aí, cabeção. Vamos ficar de olho em todos daqui para frente, ok? Só tente não quebrar o nariz de todo mundo, já que ninguém tem a sua habilidade mais-que-divina de se recuperar rapidamente.

O sorriso de Black*Star poderia ter iluminado toda a DeathCity se não fosse de dia. Ele socou Kid no braço de brincadeira, para depois pular animadamente de volta à quadra agora vazia, já que o horário de aula já havia acabado.

– É ASSIM QUE SE FALA, DEATH BOY! AGORA SINTA O MEU BRILHO OFUSCAR VOCÊ!

Kid meneou a cabeça, gargalhando.

– Antes que eu me esqueça, Black*Star, eu ouvi algo muito interessante hoje. Quer dizer então que você e Tsubaki estão “resolvidos”, uh? Mentiras têm pernas curtas, você sabe.

Black*Star parou de andar, um rubor subindo em seu rosto.

– Quem te contou isso?

– Você devia prestar mais atenção nas pessoas que sentam do seu lado na classe, sabe? Eu vi sua troca de frases com Soul. – Kid piscou para Black*Star, que estava vermelho. – mas então, você não me respondeu. Desde quando vocês estão “resolvidos”?

Star simplesmente deu de ombros, dando as costas para o moreno.

– Nunca disse que estávamos juntos. Só disse que estávamos resolvidos – felizes, sem brigas.

– Até onde eu sei, vocês nunca tiveram uma briga muito séria. – Kid levantou uma sobrancelha. – mas acho que já está na hora de você chamá-la para sair. Vocês estão quase piores que Soul e Maka.

– E eu acho que você devia calar a boca. Tsubaki é somente minha fiel, bonita, fofa parcei – OI BLAIR!

Kid virou-se, avistando a gata passando pela quadra a alguns metros na frente. Blair virou-se para eles e sorriu misteriosamente, fazendo um “2” com uma das patas. Kid notou o post-it em sua boca e sorriu, olhando para Black*Star.

– Parte II da Operação Soma acabou de começar.

Black*Star sorriu e saiu em disparada, deixando um Kid assustado para trás.

– Vamos lá, Kid! Temos que avisar as garotas!

Kid gargalhou diante da infantilidade do amigo e pegou Belzebub, seguindo-o.

x-x

Soul estava completamente irritado.

Por que Maka tinha que demorar tanto? O horário das aulas já havia acabado e ela ainda estava dentro da sala de aula, anotando sabe-se lá o que naquele Maka Note dela. Até Stein já havia saído da sala e ela ainda estava lá! Que merda ela estava fazendo?

Sentado no pé da porta da sala de aula, Soul enfiou a cabeça entre as mãos, derrotado. Parecia que haviam passado horas desde que seu treinamento físico acabou e ele teve que ficar esperando-a sair daquela sala. Ah, a vontade de voltar para casa estava o consumindo e ele estava quase cedendo ao desejo de deixá-la para trás, mas ele era um cara maneiro e caras maneiros não deixam suas parceiras sozinhas assim.

Ainda que ele saiba que a parceira em questão fosse totalmente capaz de se virar sozinha.

E então seus pensamentos foram interrompidos pela sensação de algo fofinho em torno de seu pescoço. Sensação essa que seria boa, caso ele não soubesse quem era o ser fofinho em seu pescoço.

– Yo Blair. Sai daqui, não estou com saco pra suas brincadeiras hoje.

– Aaaaaawn, Soul, mas Blair só veio te dar um recado.

Blair lambeu sua bochecha, colando mais um post-it com saliva em excesso. Ele gemeu em frustração, sua irritação aumentando ainda mais.

– Nya, vejo vocês mais tarde!

No momento em que Soul abriu a boca para retrucar, a gata já havia ido. Maldita Blair. Como se já não bastasse ter que esperar milhões de anos pra ir pra casa, ele ainda tinha que aturar aquela droga de acordo. Por que ele havia concordado mesmo? Morrer parecia uma opção tão tentadora naquele momento.

Ele sabia o que Blair estava querendo com aquele acordo. Ah, sabia, e nem queria pensar no que ele havia se metido quando concordou com aquela loucura. Ele devia saber que os “afazeres” de Blair não eram afazeres normais. Suspirando, Soul descolou o post-it da sua bochecha, e respirou fundo. Se ele saísse vivo desse acordo sem uma concussão provenientes de Maka-Chops já era lucro.

Ora, mas que surpresa. Eram dois post-it. Parece que Blair escreveu bastante.

Halo, Soul e Maka! Bu-tan veio para animar seu dia! Eu consegui uma reserva naquele restaurante francês para hoje às 21:00 e vocês vão – sem desculpas! Eu sei que vocês estão com caras feias agora, mas sinceramente, vocês deviam me agradecer, nyah? Aquele restaurante é quase tão bom quanto peixe! Quando voltarem para casa, meus gatinhos, não se esqueçam do beijo de boa noite, sim? Não se preocupem comigo, eu vou ficar na casa de uma das minhas amigas e dar totaaaaaal privacidade aos meus bebês ♥ Eu dou um alô para vocês de vez em quando, prometo.

P.S.: comprem leite para Blair. Eu vou passar em casa mais tarde para buscar.

Soul encarou os post-it intensamente, os olhos de rubi relendo o texto repetidas vezes. Ele piscou uma vez. Duas. Três.

Que merda essa gata fez agora?

– BLAAAAAAAAAIR!

– Hush, Soul, você devia parar de ser bipolar. Uma hora você está mais quieto que uma pedra, e na outra você sai gritando por aí? Nada maneiro.

Soul virou-se abruptamente, encontrando Maka em pé ao seu lado com a mão estendida.

– E aí, vamos pra casa?

Soul aceitou a mão estendida e levantou-se com um suspiro. Maka iria pirar, com certeza, mas ele não tinha como esconder aquilo dela, tinha? Ela iria ver de qualquer jeito.

– Olha, Maka, Blair acabou de me dar essa coisa aqui. Acho que você deveria ler também antes que você pegue seus livros assassinos.

Maka olhou para os papéis na mão de Soul e sentiu o sangue ferver. Ah. Aquilo. Ela definitivamente não queria saber o que aquela gata havia escrito, mas tinha que saber. Com sorte Blair não foi tão Blair assim e simplesmente falou para comprarem toneladas de peixe para ela.

Mas pelo olhar de Soul, eles não iriam comprar peixes hoje. Respirando fundo, Maka pegou os post-it.

Ah.

Ah, não.

Ela ia matar aquela gata.

– Maka? Maka? Maka, respira, você está vermelha! - Soul inclinou-se para frente para ver como ela estava, mas recuou quando viu um brilho assassino naquelas orbes de esmeralda. Mau sinal.

– Quem ela pensa que é, o Cupido? – Maka explodiu, encarando Soul agressivamente. O olhar que Soul lhe lançou não melhorou exatamente seu humor. – Era o que eu pensei. Quem sabe eu compre um arco e algumas flechas? Ah, ela iria ficar TÃO LINDA com uma flecha ultrapassando aquela cabeça de vento dela! Talvez eu até pendure a cabeça dela na parede, iria fica tão –

– MAKA! Parou com a loucura Maka, isso não é maneiro! Relaxa aí, nerd, é só um jantar, a gente sobrevive.

Maka o encarou com uma sobrancelha arqueada, cética. Ela sabia muito bem o que Blair estava tentando fazer e sabia muito bem o porquê. Não que isso deixasse a situação um pouco melhor - no máximo, ela sentia uma leve afeição pelas boas intenções da gata, mas essa afeição estava soterrada embaixo de toneladas de raiva e nervosismo. Blair nem havia conversado com ela, a gata supôs tudo sozinha e ainda por cima, supôs tudo errado!

Maka suspirou, acalmando-se, e estendeu a mão para Soul pela segunda vez.

– Vamos para casa, Soul. Essa vai ser uma longa semana.

Ele sorriu torto, aceitando a mão estendida, e juntos caminharam de volta ao seu apartamento. Ela sentiu o rosto esquentar ao ter a mente invadida pelas memórias da ida deles à escola mais cedo, e ele teve que se refrear para não puxá-la para si novamente. Eles eram parceiros, afinal, e nada mais.

Definitivamente, aquela iria ser uma longa semana.