Cups are about brotherhood escrita por Wonderlust Queen


Capítulo 4
No final do dia WW2!AU


Notas iniciais do capítulo

Ok pessoal, essa oneshot é um AU. Na verdade, ela é de um projeto que eu estou fazendo faz alguns dias, eu tenho inclusive feito alguns desenhos sobre. Essa oneshot seria o prólogo de uma longfic ASL com universo alternativo histórico (Período entre guerras - início da segunda guerra mundial). E teria alguns ships e claro, momentos de irmandade fofa entre os três irmãos, que seriam os protagonistas da histórica, cada um seguindo caminhos diferentes diante de uma guerra que mudaria suas vidas.

Para esse projeto, eu fiz MUITAS pesquisas. Eu faço História na universidade, então peguei alguns livros sobre a Alemanha nos anos 20/30, também estou usando um dicionário de Alemão e (o motivo disso só seria revelado mais tarde) Hebraico. Para essa oneshot, eu usei basicamente um artigo acadêmico chamado "Excluídos e Delinquentes", falando sobre as periferias de Berlim, incluindo Scheunenviertel (que pode ser traduzido como "bairro dos celeiros"). Bem, como podem ver, o tema imigração vai ser um ponto importante desse projeto, e para deixar o cenário realista os personagens falam idiomas diferentes e/ou são poliglotas. Sendo assim, frases e palavras em itálico serão para indicar quando estas são faladas em uma língua diferente do alemão (que é a língua principal dessa fic)

Essa oneshot então é um teste. Dependendo do feedback, eu vou decidir se vou ou não tornar esse projeto uma longfic aqui no Nyah! Então, se puderem, por favor DEIXEM COMENTÁRIOS DIZENDO O QUE ACHAM DO PROJETO. Será muito importante para eu saber se vou ou não continuar esse treco, já que pra fazê-lo eu vou precisar de um longo trabalho de pesquisa. XD

Enfim, aproveitem a quarta história da coleção! E claro, reportem os erros 8D



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Berlim, 10 de Janeiro de 1931.

Era o auge do inverno em Scheunenviertel. Por todo bairro, o cheiro fétido de corpos que sucumbiram ao frio se espalhava de forma tão natural que os residentes daquele antro mal o sentiam, mesclado com o cheiro da carne de terceira, das ervas e das cinzas de fogueiras improvisadas por moradores de rua. O sol se punha, e aqueles que tinham onde morar – casas imundas e minúsculas, de fato, mas ainda assim providas de parede e teto – cobriam as janelas com suas cortinas roídas. Os não abençoados com um lugar para descansar os ossos apenas amontoavam-se em vielas, corredores que cheiravam a crime e morte. Era o final de mais um dia.

Leves sons de passos podiam ser ouvidos contra o chão coberto de neve, próximo a entrada de um beco coberto. Ace e Sabo, pequenos ladrões conhecidos por toda Scheunenviertel, estavam retornando de mais um dia produtivo, contando despreocupadamente quantos reichsmarks seriam necessários para a compra de lenha... ou comida.

– Eu estou dizendo, acho melhor focarmos na lenha por hoje, Ace! – Afirmou o loiro de forma afobada, sacudindo as notas de papel diante do amigo, – O inverno esse ano não vai ser quentinho como no ano passado. Você não tem dado uma olhada nas ruas? Aqueles que subestimam o frio e a neve estão morrendo, Ace.

– E eu estou dizendo que estou com fome! – Ace bufou, apressando o passo para dentro do beco onde viviam, – Roubamos somente duas refeições o dia inteiro!

– Eu te garanto que você não vai morrer hoje a noite de inanição, – Disse Sabo, olhando ao redor daquele lugar escuro em que chamavam de lar. Corpos de crianças congeladas estavam jogados nos cantos desde o dia anterior. - Já de hipotermia...

– Oh, está tão preocupado assim com a minha saúde, Outlook? – Provocou o moreno, fazendo com que Sabo lhe retribuísse com um ameaçador olhar de aviso.

Se você me chamar desse nome outra vez...

– Ei calma, calma. Não precisa me ameaçar em inglês. Eu estava brincando, credo. – Ace levantou as mãos em sinal de rendição, fazendo com que o loiro suspirasse. – Olha, não faça essa cara. Vamos comprar lenha, ok? Deixa eu só dar uma olhada no..... nosso lugar....antes.....

– Ace...? – Sabo perguntou, ao ver que seu melhor amigo havia simplesmente parado de andar. – Ace, o que houve? – O moreno se limitou a apontar o indicador para o local do beco onde dormiam, e Sabo soltou um surpreso “oh!” antes de se aproximar para ver de perto.

No lugar de um canto vazio entre as latas de entulho, estava uma pequena forma deitada em posição fetal, tremendo dos pés a cabeça, lutando para se manter aquecido. O bater de dentes ecoava delicadamente pela estrutura estreita do beco, junto com um discreto fungar que dava a entender que o garoto intruso estava chorando.

– E-ei... quem é esse moleque? – Ace perguntou, sem sair do lugar enquanto o outro ladrãozinho se aproximava da criança.

– Eu não sei, mas ele parece estar com frio. – Sabo respondeu, o tom confuso. – Oi, moleque, está tudo bem...? – Ele perguntou àquela figura trêmula, descansando a mão no ombro da mesma, incerto

– Vamos tirar ele daqui. – sugeriu Ace, - Olha, eu não sei você, mas eu tive um dia cheio e eu não estou com saco para lidar com moleques que simplesmente invadem nosso beco e—

....Vovô? – O intruso murmurou sonolento, fazendo os dois pequenos ladrões se entreolharem, arqueando as sobrancelhas.

Não que um imigrante fosse uma coisa rara em Scheunenviertel, mas Sabo em especial estava temendo que a criança não soubesse falar alemão. Isso faria tudo muito mais difícil. O loiro sabia falar outros idiomas – como por exemplo o inglês que era sua língua nativa, o francês e um pouco de italiano – mas ele não fazia a menor ideia do que o menor estava falando.

Porém, ele precisava tentar. A comunicação seria essencial, mesmo que fosse somente para retirá-lo daquele pedaço de chão em que ele e Ace reclamaram para si.

– Errmm...moleque? O que você está fazendo aqui?

O pequeno intruso finalmente se levantou para olhar na direção das vozes e, depois de piscar alguns instantes, sua boca curvou-se em um enorme sorriso cheio de dentes que, apesar de sujos, não diminuíam em nada o brilho e a sinceridade contida naquele gesto.

– Olá! Vocês ermm... moram aqui? – ele pareceu pensar por alguns instantes até se voltar para os dois ladrões novamente, o mesmo sorriso adornando sua face. – Eu estou bem, só estou com um pouco de frio, Foi por isso que eu vim para cá, por sinal. Eu estou com fome, também. Vocês tem comida?

Sabo então pendeu a cabeça para o lado enquanto encarava o menor, ainda mais confuso. O garoto pareceu misturar o seu próprio idioma com o alemão, o que é bom. Talvez ele os entenda, afinal...?

– Garoto, você ao menos entende o que eu estou dizendo?

– É claro! – o intruso respondeu em um tom ofendido, fazendo bico. Sabo conteve o riso com a reação do moleque, mas em em seguida tornou a ficar confuso. – Vovô me ensinou um pouco de alemão antes de virmos para cá. Papai também começou a me ensinar mas...ele desapareceu... – ele disse baixinho, lágrimas voltando a se formar em seus olhos, o pequeno nariz tornando a escorrer suavemente.

Sabo pôs as mãos nas têmporas. Céus, ele não sabia o que diabos esse garoto estava falando! O loiro então tomou ar para tentar falar alguma coisa, mas foi interrompido pelo outro ladrão, que o empurrou de lado e olhou irritado para o menor, os braços cruzados.

Olha moleque, eu não quero saber do seu drama familiar ou de seus problemas com o idioma, mas a última coisa que eu quero é um bebê-chorão como você invadindo o meu beco, entendeu? – Ele rosnou, e então encostou o indicador na testa do menor, a irritação ainda evidente em seus olhos. – Vá embora.

Oh! Que legal! Você fala o meu idioma! – O garotinho riu, jogando os braços para o ar, a tristeza anterior temporariamente esquecida diante da excitação de encontrar alguém que de fato o entendia. - eu não encontrei ninguém que falava desde que cheguei aqui, fora o papai.

Sabo olhou para a interação entre os dois com os olhos arregalados. Mas o que diabos...

– Espera, espera, espera! – Sabo interveio, voltando-se para o seu companheiro sardento. – Ace, você entende a língua dele?

– Bem, duh. É português. – Ace afirmou, como se fosse a coisa mais óbvia da face da terra

– Português? E desde quando você sabe português? Você não é imigrante, pensei que a única língua que você sabia fora alemão era—

– Minha família era da Cidade do Porto. - Ace respondeu, – Mas isso não importa agora. O ponto é, esse moleque é irritante e eu quero ele fora daqui. Ele entende alemão perfeitamente, pode expulsá-lo você mesmo.

– Huh? – O loiro levantou a sobrancelha, confuso. E então se voltou para o intruso em questão. - ...Você entende alemão?

– Sim. – O pequeno acenou com a cabeça. – Mas é muito...ermm...difícil de falar.

– Dá para parar com esse papo de idioma?! – Ace bateu com o pé, praticamente fumaçando pelas narinas, e então agarrou a outra criança pela gola de sua camisa rasgada. – Você. Fora. Agora.

O garoto recuou, assustado com o tom de voz do maior, e logo lágrimas começarem a cair novamente pelos seus olhos, dessa vez de forma mais livre. O tremor em seu corpo também retornou, e Sabo poderia jurar que a pele morena do moleque havia empalidecido.

N-não me façam sair daqui! Deixem-me v-viver com vocês! Lá fora é escuro, está muito frio, o papai e o vovô sumiram e eu estou sozinho! Eu não quero viver s-sozinho... – O pequeno gaguejou em um tom agudo, fazendo com que o moreno maior rosnasse em resposta.

– ... O que ele está dizendo, Ace?

– Que quer ficar aqui, óbvio. – o sardento revirou os olhos.

– ...E o que mais?

– Argh, o que eu sou agora, um intérprete?! – Reclamou Ace mas, diante do olhar que o loiro lhe direcionou, acabou por se render, suspirando. – Uhhh... ele disse que se perdeu do avô e do pai e... que está com frio e que não quer ficar sozinho. Satisfeito?

Sabo pareceu contemplativo por alguns segundos, seu olhar direcionado ao rosto choroso do moleque. Ele era muito pequeno, parecia ter no máximo cinco anos de idade, e estava desnutrido. Suas roupas estavam rasgadas e sujas, e havia um corte feio e recente abaixo de seu olho esquerdo, bem como vários outros cortes e hematomas na parte exposta do seu corpo. Se o garoto estava mesmo perdido, devia estar sozinho já havia muito tempo, tendo vista a aparência de certos ferimentos e o estado das roupas. Muito provavelmente sua família havia morrido – a maioria das famílias imigrantes que chegam a Berlim não sobrevivem muito tempo, ainda mais em períodos de crise como estes – e certamente ele não sobreviveria caso fosse exposto de forma direta ao frio e a neve daquela noite. A questão era, Sabo estava disposto a viver com a culpa caso encontrasse o corpo daquele garoto na rua durante o dia seguinte?

A resposta veio quando o loiro afagou os cabelos negros do garoto suavemente, um sorriso suave e cheio de compaixão em seu rosto, fazendo com que o menor cessasse o choro e o olhasse, olhos enormes e expressivos de uma forma que Sabo – e Ace – nunca haviam antes visto.

– Fique conosco por um tempo, garoto. – Ele sussurrou, alto o suficiente para fazer o menor se iluminar em alegria, - Agora diga, qual é o seu nome?

– QUE?! Você não está pensando em deixar esse moleque—

– Eu me chamo Luffy. – O garoto respondeu, sorrindo. – Eu sabia que vocês não iriam me deixar sozinho! Estar sozinho dói mais do que se machucar.

Com tais palavras, Ace voltou-se totalmente para ele. Seus olhos se encontraram com os olhos intrusos, tão cheios de confiança e esperança que ele se encontrou desarmado. Sentia no momento um misto de dúvida e uma não admitida esperança, e depois de alguns instantes imerso naquele jogo de encarar, engoliu em seco, tentando ligeiramente lembrar-se de falar em português. Fazia quase uma eternidade desde sua última conversa naquele idioma, e o moleque em questão tinha um sotaque muito peculiar. Definitivamente, não era de Portugal.

Quer dizer que é melhor se estivermos com você?

Sim.

E seria ruim se não te aceitássemos aqui?

Sim.

O sardento olhou para Sabo por alguns segundos e, percebendo que ele não estava entendendo a conversa, respirou fundo e perguntou:

Você me quer vivo, então...?

É claro! – Luffy respondeu, a dúvida completamente ausente de sua voz.

Um nó formou-se na garganta de Ace. Como aquele garoto poderia dizer tal coisa sem sequer hesitar...?

– Ok, ok... – Sabo interrompeu, cansado de ser posto de lado. – Eu sou Sabo. E esse esse aqui... – Ele apontou para o moreno ao seu lado, que estava com um estranho sorriso no rosto. – É o Ace.

– Muito prazer, shishishishishishi! – Luffy sorriu de orelha a orelha, sendo novamente afagado pelo loiro, enquanto Ace observava a cena, uma expressão indefinida em sua face. Ele não sabia o que sentir pelo garoto intruso, mesmo com a certeza de que detestava crianças choronas e carentes como ele.

– Tá bom Sabo, pode ficar com o seu bebê-chorão de estimação durante essa noite! – O moreno rosnou, virando as costas para os outros dois garotos. Ele definitivamente não queria ser pego em seu conflito emocional naquele momento. – Não quero saber, eu vou pegar lenha!

Sabo e Luffy riram e, antes que o loiro percebesse, o menor se deitou, encostando a cabeça em seu colo. Sabo não pode evitar sentir um certo calor invadir o seu peito. Era a primeira vez que ele conhecia, desde que chegara em Scheunenviertel, alguém capaz de depositar tamanha confiança em uma pessoa que mal acabara de conhecer. Isso era preocupante, porém. Num bairro como aquele, confiar tão facilmente pode ser um ato fatal. Como aquele garoto foi capaz de sobreviver até hoje, afinal?

– Você está cansado, não é Luffy? – Sabo perguntou, passando os dedos gentilmente pelos cabelos negros, resolvendo ignorar a resposta em outro idioma. – Vá dormir. Ace chegará com a lenha em breve.

– Obrigado, Sabo... – O menor respondeu entre bocejos, e foi uma questão de tempo até que ele novamente caísse no sono, o loiro sem parar por um segundo de afagar aqueles fios bagunçados.

– ...Por que algo me diz que você vai querer ficar com ele? – Sabo ouviu a voz de seu amigo perguntar, e voltou-se para ele, um sorriso gentil esboçado em seu rosto.

– Qual é Ace, claro que não. Vão ser no máximo alguns dias.

– Hunf, Sei. Assim que esquentar um pouco, vamos nos livrar dele ok? A última coisa que precisamos é de mais uma boca para alimentar.

Sabo riu e acenou positivamente com a cabeça. Porém, por detrás de suas costas, seus dedos estavam cruzados. Mal sabia ele que seu melhor amigo escondia a mão direta por trás da lenha, imitando de forma exata seu ato.


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Notas finais do capítulo

PS: essa semana eu vou tomar vergonha na cara e escrever o novo capítulo de "Sometimes things get", eu juro. o_x



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