- Alice, tenha calma! Se fosse humana, estaria à beira de um ataque cardíaco. – Esme sorriu para mim.

Como ficar calma? Tanta coisa para preparar em tão pouco tempo. Bella estava completando dezoito anos. Era seu primeiro aniversário conosco. Como eu iria ficar calma quando tinha tanto a se fazer?

- Estou calma, Esme, não se preocupe. Vamos conferir. Bolo, ok! Rosas, ok! Presentes, ok! Comida, ok! Namorado da aniversariante?

- Ele ainda está na casa dela, pra variar um pouco. O que será que eles fazem lá. Não é possível que ele só fique vendo Bella dormir a noite inteira. – Emmett disse, enquanto ajudava a pendurar algumas luzes.

- Emmett, por favor, o que cada um de nós faz na nossa intimidade não diz respeito a ninguém. – Esme disse, passando a mão carinhosamente em seus ombros.

- Mas, Esme, não é possível. Edward passa a noite inteira lá só olhando Bella dormir... – ele insistiu.

- Emmett, sua mãe não disse que a intimidade do seu irmão não te diz respeito? – Carlisle disse, adentrando a sala e encerrando o assunto. Deu um beijinho em Esme, sorriu para o resto da família e se dirigiu a mim. – Então, querida, como estão os preparativos?

- Fabulosamente bem, pai! – eu sorri, retribuindo. A família, com exceção de Rose e Edward, estava empenhada no aniversário de Bella. Edward, pois sabia que Bella odeia atenção. Rose, bem, Rose, pois gosta de ter a atenção. Ela ainda não tolerava muito a presença de Bella em nossa casa, mas eu tinha certeza que aos poucos ela iria se acostumar.

Já estava quase amanhecendo quando Edward chegou à nossa casa.

- Como está a aniversariante? – eu perguntei, enquanto subia atrás dele, em direção a seu quarto. – Já separei sua roupa de hoje, tanto a da escola quanto a do aniversário. Estará fabuloso para o aniversário de Bella... É claro que eu queria dar a ela aquele vestido azul lindo que eu vi no desfile da Versace, mas sabia que ela não iria permitir jamais que eu fizesse uma coisa dessas, então...

- Alice, pelo amor de Deus! Se você não fosse uma vampira, já havia morrido com falta de ar! – ele sorriu. Então, sua fisionomia mudou, recebendo um tom mais sério e sombrio. – Bella está bem, só um pouco angustiada com a idéia de envelhecer.

- Que tolinha. Bella ficaria uma senhora muito bonita. Sei disso, pois já vi Renée. – eu disse e Edward concordou. Renée, mãe de Bella, era muito bonita com aqueles grandes olhos azuis. Conheci Renée no último incidente em Phoenix, quando aquele vampiro rastreador resolveu caçar Bella. Lembrei da cicatriz causada pela mordida e Edward pareceu se incomodar. - Sabe que essa é apenas uma opção que ela tem... envelhecer, não é mesmo? Minhas visões oscilam muito sobre o futuro dela...

- Alice, hoje não, por favor. Quero me manter calmo. Nem os pensamentos do garoto Newton vão me incomodar.

- Isso é porque ninguém sabe que hoje é aniversário dela. – eu sorri para ele. Bella era tão boba, não queria que ninguém soubesse e não contou a ninguém... - Não se preocupe, vejo que hoje ele estará comportadíssimo. – eu pisquei. – Vamos ver, os presentes de Bella já foram empilhados. Não quer colocar o seu lá?

- Vemos isso depois, está bem? – ele disse, encerrando nossa conversa com um longo suspiro. Ele estava angustiado. Quis dar um novo carro à Bella, mas ela não quis nenhum presente que ele pudesse comprar.

Ao chegarmos à escola, Edward se pôs a esperar por ela. Eu, é claro, estava ao seu lado, impaciente, com um embrulho na mão.

- Alice... – ele suspirou, sem tirar os olhos da estrada onde surgiria em poucos instantes uma grande Chevy 53 vermelha, velha e barulhenta.

- O quê? É só uma lembrancinha... Prometo ser bem pequenininha. Além do mais, VOCÊ é o namorado que não pode comprar o presente. Eu sou a melhor amiga teimosa que não escuta nada o que ela diz. – sorri, avistando minha melhor amiga chegando.

Melhor amiga... Isso soava como música aos meus ouvidos. Eu repetia isso sempre que possível. Bella disse que eu era a irmã que ela nunca teve. Apesar de ter a Rose e recém descoberto que eu tive uma irmã (Cynthia, antes de eu virar vampira), a figura de uma amiga, de uma irmã era bem acolhedora. Sim, Bella e eu seríamos irmãs pra sempre.

Assim que ela saiu do carro, fui ao seu encontro.

- Feliz aniversário, Bella! – eu gritei.

- Shhh! – ela murmurou, mas eu a ignorei.

- Quer abrir seu presente agora ou depois?

- Nada de presentes. – ela me respondeu. Nossa, ela era teimosa. Mas entendi, ela não estava feliz em ficar mais velha que Edward.

- Tudo bem... Mais tarde, então. – Eu murmurei. – Gostou do álbum que sua mãe mandou para você? E a câmera de Charlie?

- É. São ótimos. – ela respondeu sem humor algum.

- Eu acho que é uma ótima idéia. Só se chega ao último ano da escola uma vez. Pode muito bem documentar a experiência.

- Quantas vezes você fez o último ano? – ela me perguntou, melhorando um pouco seu humor.

- Isso é diferente. – eu rebati. E era. Eu nunca cheguei ao último ano como humana. Bem, não que eu me lembre. Mas isso é uma pesquisa futura, quem sabe.

Ao chegar perto de Edward, o coração de Bella começou a bater mais rápido. Achei uma graça, me divertia bastante quando essas coisas aconteciam: efeitos humanos sobre Bella.

- E então, como discutimos, não tenho permissão para lhe desejar um feliz aniversário, é isso mesmo? – Edward perguntou.

- É. É isso mesmo. – ela respondeu.

- Só estou verificando. – ele disse. – Você bem que poderia ter mudado de idéia. A maioria das pessoas parece gostar de aniversários e presentes.

Eu ri. A maioria das pessoas, sim, mas desde quando Bella se aplicava a essa maioria? Pelo menos não conheço outra humana que namore um vampiro.

- É claro que você vai gostar. Todo mundo deve ser gentil com você hoje e fazer suas vontades, Bella. Qual é a pior coisa que pode acontecer? – eu perguntei, mas não precisava ser vidente para saber a resposta.

- Ficar mais velha. – ela simplesmente respondeu. Não simplesmente ficar mais velha, e eu sabia disso.

Tentei animá-la:

- Dezoito anos não é muito velha. Em geral as mulheres não esperam até ter 29 anos para se aborrecer com os aniversários?

Então ela soltou, murmurando:

- É mais do que Edward.

- Tecnicamente. Mas só um ano. – Lembrando que meu irmão era um senhor centenário. Bella ficou pensativa, então resolvi afastar qualquer pensamento que fizesse mal a ela. – A que horas você estará em casa?

- Não sei se vou para casa. – ela rebateu. Nossa, como ela estava rabugenta.

- Ah, por favor, Bella! Não vai estragar toda a nossa diversão desse jeito, vai?

- Pensei que no meu aniversário eu pudesse fazer o que eu quisesse.

- Eu vou apanhá-la em casa depois da escola. – Edward disse.

- Eu tenho que trabalhar. – ela tentou se manifestar.

- Na verdade, não tem não. Já falei com a Sra. Newton sobre isso. Ela vai trocar seus turnos. E me pediu para lhe dizer “Feliz Aniversário”. – eu disse, colocando ênfase no desejo de felicidades.

- E-eu ainda não posso ir. Eu, bom, ainda não vi Romeu e Julieta para a aula de inglês.

Choquei. Bella já leu todos esses livros antigos milhares de vezes.

- Você conhece Romeu e Julieta de cor. – eu disse, meio cabisbaixa.

- Mas o Sr. Berty disse que precisávamos ver uma representação para apreciá-lo plenamente... Era o que Shakespeare pretendia. – ela argumentou.

Edward revirou os olhos e eu não precisava ser vidente para ver o óbvio: Bella era teimosa e tentaria qualquer coisa para se livrar do compromisso.

- Você já viu o filme – rebati.

- Mas não a versão dos anos 60. O Sr. Berty disse que era a melhor. – ela falou.

Bella podia ser bem teimosa e absurda, mas uma coisa ela não era: boa em resistir chantagens. Além do mais, eu a vi rodeada de rosas e abrindo presentes em nossa casa, então ela estaria lá.

- Isso pode ser fácil ou pode ser difícil, Bella, mas se uma forma ou de outra...

Edward interrompeu e por um momento achei que ele iria acabar com minha alegria.

- Relaxe, Alice. Se Bella quer ver o filme, então pode ver. É o aniversário dela.

- Viu? – ela sorriu, triunfante.

- Vou levá-la por volta das sete – continuou ele. – Isso lhe dará bastante tempo para preparar tudo.

Senti meu sorriso crescer mais ainda. Bella certa vez disse que eu ficava assustadora quando fazia isso.

- Parece ótimo. Nos vemos à noite, Bella! Vai ser divertido, você verá. – eu disse, dando um leve beliscão em suas recém rosadas bochechas devido a vergonha de ter perdido uma batalha, e caminhando até a sala de espanhol.

Que aula abominável. Eu pensei. Los dias de La semana. A Sra. Goff não poderia simplesmente passar um comercial de cotonetes? Seria mais emocionante.

Resolvi, então, me absorver do futuro. Tentar ver como seria a festa de Bella. Sim, ela iria adorar, ela estava tão linda, estava adorando os presentes. Mas de repente, a imagem mudou. Tudo ficou desfocado, como se uma grande neblina cobrisse os pensamentos e envolvesse a figura de Bella. Não entendi, mas logo em seguida pude ver a mesma imagem que vi no dia do baile. Bella perdida no meio da floresta, gritando por Edward. Depois disso, alguns flashes rápidos até finalmente chegar em uma Bella que brilhava à luz do sol.

- Señorita Cullen, por favor. – Sra. Goff me chamou a atenção.

- Perdón. – eu disse, ignorando os risinhos abafados de Jéssica Stanley.

Algo estava para acontecer. Tinha que esconder meus pensamentos de Edward, é claro. Pois o que quer que fosse acontecer naquela noite, levaria Bella para o futuro que todos nós esperávamos: ser uma de nós.