Aprendendo a Amar escrita por Agridoce


Capítulo 16
O que está acontecendo em seu coração?


Notas iniciais do capítulo

Ainda hoje outro capítulo vai sair ( dessa vez é verdade!).
Ia fazer tudo um capitulo, mas achei melhor dividir.
Caso alguém seja da madrugada como eu, um saindo agora!



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Era sexta-feira pela manhã, ainda daquela semana. Rodrigo acordou após o despertador chamar na primeira vez. Abrindo os olhos, ficou ainda um tempo deitado, pensando nos últimos acontecimentos. Lucas havia estado em sua casa na noite passada, indo embora apenas na madrugada. Mesmo sabendo que seria mais prático se ele ficasse ali, e sentindo que queria isto, ainda não se sentia pronto para dar esse passo importante em uma relação. Por mais que estivesse, a cada hora passada com Lucas, mais envolvido com ele, ainda tinha medo de avançar demais e depois não conseguir voltar. Agia com cautela. E na verdade, sempre foi assim. Desde que terminou com Mariana, não havia engatado um relacionamento sério com ninguém. Justamente por pensar que as coisas amadurecem apenas quando respeitamos o tempo. Tirando os dias que passou com Maiara, que agora lhe parecem uma eternidade, sempre pensou bastante ao tomar uma decisão. Ambos se falavam durante o dia inteiro, haviam se visto todos os dias, mas nem Lucas, muito menos ele, havia tocado em assuntos mais sérios, como o fato de estarem ou não em um relacionamento.

Após balançar a cabeça pra espantar estes pensamentos tão densos pela manhã, levantou e colocou a cafeteira pra funcionar enquanto se arrumava. O sul do Rio Grande do Sul era bem frio, e no inverno isto ficava visível. O dia amanheceu por conta do horário, porque o sol não havia nascido por ali. Um nublado poético era visível pela janela da sala, assim como, o frio que aparentemente fazia lá fora. Durante a noite, ele confessa, seria bom ter tido Lucas consigo. Na verdade, ansiava por estar mais próximo do outro. Descobrir o que há por trás de todos os seus medos. E poder enxergar mais sorrisos em seu rosto. Depois que se agasalhou bastante, ligou a televisão e começou a tomar café, olhando as notícias do inicio do dia. A maioria das pessoas evita isso logo ao acordar, mas cursando jornalismo, entendia que era importante estar por dentro dos assuntos. Ao mesmo tempo em que deu seu primeiro gole no café, enviou seu costumeiro “olá” para Lucas, como havia fazendo nos últimos dias, mais precisamente após terem conversado sobre sua falta de notícias aquele dia, e o quanto o outro havia ficado preocupado. O mais velho já estava habituado ao celular, apesar de manter o antigo ativo, para “eventuais complicações de aprendizados”. Enquanto pensava nisto sorrindo, recebeu a resposta dele, quase instantaneamente. Na maioria das vezes, ele não demorava muito para responder, mas a resposta chegava quando já estava no trabalho. Não tão cedo como hoje. E isto o fez voltar àqueles pensamentos sérios logo pela manhã.

Por mais que conversassem, e compartilhassem algumas coisas (Rodrigo bem mais), Lucas não se abria em relação a sua vida. Evitava perguntar coisas pontuais, pois, percebeu que quando fazia isto, ele parecia se afastar quilômetros, “voltando” apenas após algum tempo. Por exemplo, o fato dele parecer não dormir à noite. Entre linhas, conseguiu pescar que a madrugada de Lucas era sempre muito agitada. Mesmo ele dando boa noite, parecia não dormir em seguida. Pelo menos não uma madrugada inteira. Ao contrário das tardes, que quando estava com ele, assistindo algum filme, ou apenas sentado no sofá, enquanto estudava algo, ele dormia encostado em seu ombro. Ao questioná-lo, em tom de brincadeira pra dar leveza máxima para a questão, sempre conseguiu apenas uma resposta evasiva. Tentava não ficar bravo, e chateado, mas era difícil quando o moreno não parecia querer explicar algumas coisas. Retornando ao presente, enviou uma nova msg.

“Se eu fosse você, voltaria a dormir.

Está muito frio! E acho que vai começar a chover...”

Mais uma vez tentava pescar alguma coisa, mas Lucas era muito perspicaz ao tentar fugir do assunto.

“Se quiser, eu posso passar aí e te levar pro trabalho.

Não estou com sono, e preciso mesmo sair pra fotografar umas coisas.”

Rodrigo achou mais estranha ainda esta resposta. Normalmente ele dizia que voltaria a dormir, mesmo sabendo que o mais novo sabia que ele não fazia isto. Além do mais, era difícil ele propor alguma coisa, parecia que sempre esperava por ele sugerir algo. Sorrindo mais uma vez, pensando o quanto ele era um bobo, pensou que o fato dele oferecer para levá-lo ao trabalho não era novidade. Todos os dias, se pudesse, Lucas faria o papel de motorista dele. Seus cuidados em demasia, por vezes, o deixava incomodado, pois, sua mãe o mimava, mas era estranho receber esse tratamento de outra pessoa. Mas ele sabia que isto também vinha do ciúme que o outro tinha em relação a ele. Ainda implicava com a Maiara e, às vezes, com qualquer outra menina que ele visse Rodrigo falar, sempre fazia uma piadinha. O loiro relevava, pois, sentia que tinha algum fundamento neste comportamento. E com certeza, eram os motivos do mais velho não dormir, ou não conseguir dormir, estando sempre alerta.

“Pois eu prefiro que tu volte a dormir. Está muito cedo, e tu saiu tarde ontem daqui.”

Dez minutos passaram após esta mensagem, e Lucas não respondeu. Sabendo que não era porque ele havia voltado a dormir, resolveu ligar pra ele. Ao terceiro toque, o mais velho atendeu.

– Alô.

– Posso saber o que aconteceu?

– Nada. – Como imaginou, com a ligação conseguiu identificar em sua voz algo além daquilo que ele estava falando. Ele não estava bem.

– Lucas, tu precisas falar comigo o que tem te atingido. – ele se sentia incomodado em colocar ele na parede, mas era necessário.

– Por que? Eu apenas acordei de um sonho ruim, não tem nada demais...

– Sonho que tu nunca me conta do que se trata.

– E não será agora, quase 7h da manhã, que eu contaria.

– Bom, se isto te parece cedo, por que não estás dormindo?

Mais uma vez o silêncio foi a resposta. Rodrigo resolveu desistir. De cabeça quente apenas falaria coisas que não queria e que poderiam ferir ainda mais o outro. Por mais preocupado que ficasse não tinha este direito de pressioná-lo.

– Ok, não vou mais te incomodar com isto. Preciso desligar agora. Até mais. Se cuida– falou enquanto pensava que, às vezes, tinha o direito de perder a paciência também.

– Ei, Rodrigo... escuta! – Lucas disse, talvez na tentativa de não se despedirem assim – Olha, desculpa. Mas eu... – suspiro – ainda não estou preparado pra falar sobre isto.

Eu entendi, Lucas. Tudo bem. Eu preciso desligar mesmo. A gente se fala mais tarde, ok?

Após um período de hesitação, o outro concordou e desligaram. Rodrigo continuou preocupado com os motivos do mais velho relutar tanto em se abrir com ele emocionalmente. E por mais que quisesse respeitar seu espaço, tomou uma decisão que colocaria em prática mais tarde. Tomara que o outro concordasse.

***

Já era quase a hora do almoço e Lucas continuava em casa, com as janelas fechadas. Não havia voltado a dormir desde que falou com Rodrigo. Naquela noite, o pesadelo tinha feito ele acordar chorando, o que o deixou assustado. Fazia tempo que não se via em lágrimas, desde que seus avós o deixaram mais exatamente. As sensações que sentiu durante o sonho ruim tinham sido mais fortes que o habitual àquela madrugada. Estava com medo de dormir novamente, não queria passar por tudo de novo. Se sentiu com medo, sozinho e incapaz de fazer qualquer coisa. Acordou com uma necessidade sem tamanho de Rodrigo, porém, o pesadelo, mesmo que inconsciente, o fez erguer seu muro mais do que nunca. Até mesmo para Rodrigo. Quando o outro pediu explicações pela manhã, ele se fechou em seu mundo e resolveu responder rispidamente. Sua vontade de se abrir com ele desta forma era sempre atingida pelo medo de não ser compreendido. Ele pensava que, talvez, se já tivessem em um estágio mais avançado na relação, como ele sempre agiu em outras situações, estaria mais a vontade. Acreditava que transar com ele lhe daria a segurança que precisava sentir. Afinal, foi assim que sempre se comunicou com seus parceiros. Por mais que soubesse, o que tinha com o loiro era diferente de tudo que tinha passado, não conseguia agir de outra forma. E as relutâncias dele em relação a isto o faziam ficar mais preocupado ainda. E inseguro. Esperava toda a manhã, e a qualquer momento, receber uma mensagem do outro, dizendo que “não queria mais tentar”, desistindo do que tinham. E na verdade, o que eles tinham?

Durante o meio da manhã, o mais novo havia retornado a manter contato, mas não tinha respondido. Queria e precisava estar em silêncio depois da noite passada e do telefonema de hoje mais cedo. Em outras situações, já havia passado por isto. Precisava de um tempo pra voltar a falar com qualquer outra pessoa. Marcus nestes anos passados já havia aprendido. E admirava isto no amigo, que sempre respeitou seu jeito de ser. Mas com Rodrigo ele não sabia como falar isto, por isto, precisou ignora-lo. Ainda mais depois dele ter questionado seus motivos. Não conseguiria escapar de mais perguntas como essa se voltassem a se falar, sabia disto. E também sentia, não estava pronto pra escrever nada para ele, nem que fosse uma resposta evasiva. Esperava que no outro dia estivesse melhor e conseguisse agir naturalmente com o loiro, como havia conseguido até então, mascarando seus medos. Mas por hoje, ficaria ali, junto com tudo que estava sentindo e querendo explodir dentro de si. Como não tinha aula naquele dia, ficaria ali mesmo pelo quarto. Esperava apenas que Rodrigo entendesse e não fugisse dele, mesmo sabendo que, se ele o fizesse, não ficaria surpreso. Ser sozinho parecia ser seu destino, e cedo ou tarde isto iria acontecer.

***

– Então loiro, almoça comigo? – Clarissa guardava suas coisas, no clima de fim de semana.

– Então, acho que não vai dar... – Rodrigo parecia preocupado.

Durante toda a manhã, ela percebeu que o outro estava calado, olhava a todo momento o celular, mas resolveu não se meter. Mas agora estava claro que alguma coisa estava acontecendo. E até já desconfiava onde estes problemas começavam.

– Aconteceu alguma coisa? Como vai o professor ciumentinho? – Clarissa vivia mexendo com o loiro sobre isto, desde que ele lhe contou. Mas no fundo achava fofo o mais velho ter este cuidado com ele.

– Deve estar bem, não me atendeu durante toda a manhã. – e não conseguindo se conter mais, decidiu colocar pra fora. – Olha, Clá, acho que eu não consigo continuar com isto. Estou pensando em terminar tudo. Se é que há algo para terminar...

Dizendo isto, jogou o celular na mesa e voltou a sentar em sua mesa, com as mãos na cabeça. Passou a manhã inteira tentando falar com Lucas, mas ele parecia estar ignorando, visivelmente. Conseguia visualizar pelo aplicativo que as msgs chegavam, e ele não respondia. E isto nunca tinha acontecido, ainda mais com Lucas, que sempre tentava saber como estava, e o que estava fazendo.

– Hein, calma! Me fala, o que aconteceu?

– Se eu soubesse...

– Rodrigo, vamos. Me fala, ele fez alguma coisa?

– Não... ai, este é justamente o problema. Ele não me permite saber do que se passa com ele. Isto está me deixando nervoso, saber que ele não está bem e não poder fazer nada! Eu não consigo conviver com isto eu acho.

Clarissa quase teve um ataque de fofura ao ouvir. Estava na cara que o loiro estava era muito preocupado com o que estava acontecendo com o moreno. Ele já tinha comentado sobre a relutância de Lucas em se abrir com ele, e o quanto isto o incomodava. Pelo jeito a situação permanecia, mesmo ele estando esperando e dando espaço ao outro, isto não tinha sido resolvido.

– Olha Rodrigo... eu imagino que isto deve ser difícil mesmo. Mas você já sabe que ele é assim, não?

– Sim, eu sei. E por saber que estou cansado de relevar. Não é possível conviver com uma pessoa que não se deixa conhecer assim.

Ai, que drama esse menino!

– É sim, Rô! Claro que é. Eu mesmo conheço várias pessoas que são assim, não gostam de se expor. Mas eu entendo que a situação é diferente, porque você... – ia dizer ama, mas escolheu outra palavra, o loiro ainda não havia admitido isto – gosta e se preocupa com ele, de verdade. Por isso quer saber o que está acontecendo.

Rodrigo levantou a cabeça depois de um tempo, e voltou a pegar o celular. Nada ainda. Como estava irritado com Lucas. Muito. E preocupado ao cubo.

– O que eu faço então? Juro, não estou sabendo lidar com ele...

– Oiwwww... como você é fofo! – disse tentando abraçar o loiro que tentava se esquivar – Eu acho que você precisa, primeiramente, não desistir dele.

– Confesso que isto está difícil... – lembrava-se da ligação de hoje pela manhã.

– Duvido! Ele é um gato. – ela havia feito ele lhe mostrar fotos do outro, tecendo elogios sem o menor pudor. Como era descarada!

– Sério Clá, o que eu faço?

Clarissa ficou mais séria. Percebia o olhar confuso do amigo, e sabia o quanto ele estava tentando lidar com o sentimento que estava sentindo pelo moreno. Ter este “ônus”, de ter que fazer com que o outro se abra com ele, faz isto pesar mais ainda, mas ele estava encarando bravamente, até agora.

– O ame, Rodrigo. Ele precisa de você. A gente não sabe os motivos dele ser reservado assim, mas parece que ele duvida dos teus sentimento, precisa se sentir confiante.

– Mas poxa, eu tenho tentado... disse, evitando pensar que a amiga havia usado a palavra amor. Será que já estava... amando mesmo? Na verdade tendo feito o máximo que eu consigo, pra passar essa segurança pra ele. O que mais eu preciso fazer? – se sentia frustrado.

– Hein, eu sei! E acho isto lindo! – percebia o outro o tempo todo mandando sinal de existência ao mais velho, pois, sabia o quanto ele se preocupava com ele. – Mas quem sabe você precisa mostrar que confia nele também, hã?

– Como assim?

– Olha, Rodrigo. Eu sei, é muito cedo ainda pra vocês... – hesitou um pouco em falar – atingirem um grau mais sério nessa relação. Mas nada impede que fiquem mais próximos, entende? Acho que talvez Lucas perceba teus medos ainda e pense ser ele o causador de tudo isto.

– Mas eu já expliquei pra ele...

– Sim, eu sei. Mas como não sabemos o que ele anda passando, talvez isto se some e faça tudo parecer maior. Pelo que percebi, ele não está te respondendo, não é?

– Sim, toda a manhã e nada! Odeio ficar assim, preocupado. Ele disse que sairia pra fotografar, mas eu tenho certeza que não foi. E ele estava tão estranho hoje pela manhã...

– Então, quem sabe você não vai até ele? O fim de semana está começando sei lá, vocês poderiam ir pra alguma dessas pousadas que tem aqui perto, hã?

– Clarissa, não sei... – Rodrigo não estava preparado, mas estava entendendo o raciocínio da amiga.

– Rodrigo, você precisa mostrar pra ele que vocês podem compartilhar momentos mais íntimos juntos. Não estou dizendo pra vocês transarem – ela acabou colocando em palavras aquilo que os dois ainda não tinha deixado claro – Apenas que compartilhem de bons momentos, longe deste ambiente, onde vocês são professor e aluno. Quem sabe?

Rodrigo ficou pensando nisto enquanto ia pra casa. Pela manhã, havia pensando em propor dormir no sofá do mais velho. A ideia era ridícula e infantil, mas seria um meio de saber o que acontecia com ele durante a madrugada. Mas ir para uma pousada... não tinha certeza. Ainda mais com Lucas o ignorando durante a manhã inteira. Decidiu que daria um tempo pro outro procurar por ele. Aproveitaria pra descansar também, já que os últimos dias haviam sido cheios.


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Notas finais do capítulo

Caso tu sinta vontade, comente! Ficarei feliz!
beijo,
Agridoce.