Capítulo 16

Dizem que o primeiro beijo é sempre ruim e eu tenho que concordar com isso, mas esqueceram de me dizer que o segundo também é desconfortável. O som das nossas línguas estralando ecoavam nos azulejos, porém a sua se movia com calma para que eu acompanhasse seu ritmo e eu rezava para que ninguém entrasse lá, ou eu estaria ferrado ao extremo.

Aquelas garotas de pernas arreganhadas – Sócrates chama as meninas que gostavam de Enzo assim, eu acho engraçado – já nutriram um ódio por mim só porque eu abracei ele na cantina, se soubessem do ocorrido eu seria empalado vivo na quadra e meu cadáver comido pelos corvos e urubus. Exagero? NÃO!

Mas não só garotas que olham para ele. Garotos também e não estou falando de uma quantidade pequena. E eu não os culpo. Enzo é absolutamente lindo, parece um anjo. Na verdade, eu sempre o assemelhei com aqueles garotos de filmes americanos no colegial onde um cara, provavelmente o filho do diretor, é o mais popular do colégio capitão do time de futebol. Namora a chefe das líderes que é muito gostosa, porém só namoram pela popularidade e traem o tempo todo. Mas onde estava sua namorada líder de torcida com peitões que só liga para a popularidade? Essa é a questão, ela não existe! Ele foi direto para a garota nova tímida e insegura. Jesus Cristo, não acredito que estou me comparando com uma garota.

– Eu queria fazer isso desde o primeiro dia que eu te vi, pequeno – Ele murmurou me tirando dos meus pensamentos. O beijo havia acabado há algum tempo, porém eu ainda ofegava um pouco. Ele beijava muito bem, essa é a verdade.

– Pensei que gostasse da Nina.

O sorriso, que antes quase rasgava seu rosto, foi posto de lado e sua expressão ficou um pouco séria.

– Essa sua “amiga”– Ele fez aspas com os dedos – Nunca tinha sido significante pra mim até o momento que você apareceu. Não que ela seja significante agora, pelo contrário. É só mais uma garota que gosta de mim entre quase todas do colégio.

– Não sabia que você é convencido – Disse e ele riu também.

– O que tô querendo dizer é que eu sou uma espécie de modinha aqui, amor. Aquela... VADIA estuprou a boca do garoto que eu amo. Juro que se ela não tivesse vagina teria espancado ela ali mesmo.

E eu não sei o que me chocava mais. O jeito possessivo que eu nunca tinha visto, ele ter me chamado de amor ou ter falado que me ama. Será que ele me amava? Será que eu estava correspondendo seu sentimento?

– Espera você me ama? E você acha que eu também não fiquei puto? Aquele foi meu primeiro beijo.

– Você nunca tinha beijado antes? – Ele perguntou com um sorriso sacana nos lábios. Parecia o sorriso do Will.

Antes que eu dissesse mais alguma coisa ele me deu dois selinhos rápidos nos lábios e correu para fora do banheiro com um “a gente se vê amanhã” e nem me importei com os garotos que entravam e me encaravam como se eu fosse louco. Dane-se, eu nem estava raciocinando direito as coisas mesmo.

Enzo gosta de mim. Enzo me ama. O garoto prodígio me ama. E acho que eu também gosto dele.

–-

Will veio andando com a gente hoje. Tentei puxar assunto inúmeras vezes com ele, mas ele sempre respondia com respostas curtas tipo “ah” “hm” e nunca olhava nos meus olhos. Mas eu já havia notado que o problema não era comigo. Ele não queria conversar com ninguém, nem mesmo com Bel que era tão ligada com ele. Não é como nas outras vezes, que ele está emputecido. Ele parece...cabisbaixo.

– Posso falar com você rapidinho Will? – Perguntei quando chegamos à porta de casa. Ele apenas acenou com a cabeça positivamente e Bernardo entrou depois de dizer um até amanhã.

– Você não é assim Will.

Ele finalmente ergueu a cabeça para me olhar e aquilo doeu. Doeu bem lá no fundo.

– Assim como? – Ele perguntou. Sua voz estava cansada, posso dizer até suave e isso é uma coisa que a voz do moreno normalmente não é.

– Você tá triste com alguma coisa, da pra ver de longe. O que tá te perturbando tanto?

– Não é nada, eu juro. Tenho que ir agora, ok? Até amanhã.

E antes que eu questionasse, ele se foi, sem nem me chamar de tapinha ou qualquer apelido relacionado á minha altura. Quando ele olhou em meus olhos eu simplesmente não vi nada. Geralmente eu via naquele castanho mesclado com verde um brilho vivo de sarcasmo. Mas ele não estava ali hoje. O que será que aconteceu? De repente, calafrios tomaram conta do meu corpo. Será que ele tinha visto a cena do banheiro? Não, não pode ser. Eu estou ficando paranoico.