Camila... Carla... Nem sei mais o nome da primeira garota que eu beijei. Nós tínhamos apenas cinco anos e eram só selinhos que para nós era uma troca de carinho entre amigos. Ela morava no meu prédio e minha mãe sempre me deixava no apartamento dela na hora de trabalhar. Vimos os pais dela fazendo aquilo e quando seu pai explicou um pouco envergonhado que era uma troca de carinho, nós encaramos isso de modo inocente e trocávamos selinhos como uma forma de expressar nossa amizade.

Mas quando fiz sete anos eu e minha mãe nos mudamos para a outra parte da cidade. Mantivemos contato por carta no máximo dois ou quatro meses as cartas pararam sem nenhuma explicação. Nunca mais tive notícias sobre ela ou sequer algum sinal de vida.

O primeiro beijo é inevitável, mesmo que alguns percam cedo demais e outros demorem muitos anos para ter coragem. Mas sempre prometi a mim mesmo que meu primeiro beijo de verdade seria com alguém especial que eu gostasse muito e acima de tudo paciente para lidar com minha falta de experiência, em um encontro agradável de preferência sem muitas pessoas. Porém agora eu havia perdido essa chance, quando Mariana enfiou sua língua dentro da minha boca sem ao menos pedir permissão, bem na frente de todas as classes do ensino médio.

Quando ela finalmente desgrudou sua boca da minha eu nem estava me importando com as piadinhas idiotas ou com os alunos que tiravam sarro. Eu apenas queria sair dali e fingir que aquilo não estava acontecendo. Mariana com certeza não sente atração por mim, então por que me fazer passar vergonha desse jeito? Para mim, que sou tão tímido e preso discrição, isso pode ser considerado uma humilhação.

Depois disso fiz questão de ignorar Mariana e até deletei seu número do celular. Ela nem fez questão de perguntar por que eu estava agindo assim, apenas revirou os olhos e deu meia volta.

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Já estamos em cima das provas e eu só tenho visto Will na escola. Ele simplesmente sumiu, não apareceu mais em casa e eu tive que me virar com os gêmeos para aprender o resto. Fiquei magoado com ele por causa disso, ainda mais quando eu não havia feito nada para isso, mas com Will não adianta conversar quando está com raiva. Ele simplesmente para de falar com você e somente quando passa fala o motivo por ter ficado.

Outra pessoa que parecia estar puta comigo era Michelangelo, também sem motivo aparente. Ele dava respostas curtas e nem olhava nos meus olhos, mas não era como seu irmão. O gêmeo sorridente estava cabisbaixo, mas era só comigo. Mesmo com seu irmão o xingando o tempo todo ele não ficava assim, então por que comigo?

No momento estou na aula de inglês, mas nem presto atenção no que Marcela está falando. Ela era lerda demais, não sabia explicar direito e para piorar essa é a matéria que eu tenho mais dificuldade depois de Química e Física. Ela está perguntando aleatoriamente para respondermos em inglês e para minha sorte eu sou quase invisível para a professora que nem ao menos decorou meu nome inteiro ainda.

Estava rabiscando no caderno quando uma bolinha de papel caiu na minha mesa. O abri curioso e logo entendi quem havia mandado.

–Dsclp!! Vc sabe que não fiz por mal

Me virei um pouco na cadeira para ver Nina com um sorriso forçado no rosto. Era óbvio que dias depois ela estava tentando se justificar. Escrevi minha resposta na parte limpa da folha amassada, amassei e joguei novamente em sua mesa sem que ninguém visse. Nós estávamos no fundo e a professora estava ocupada demais explicando qualquer coisa que eu teria que revisar depois para a prova.

– Por que vc fez aquilo? – Alguns segundos depois a bolinha aterrissou em minha carteira novamente.

–Vc viu como ele olhou? Haa ele gosta de mim!! :D

A tristeza bateu quase que imediatamente e nem fiz questão de continuar a conversa, apenas amassei novamente o papel e o guardei no estojo. Meu primeiro beijo foi desperdiçado com um plano idiota para fazer ciúmes? Meu deus, Mariana me usou sem nem pedir minha permissão antes! E desde quando Enzo gosta dela? Se gosta mesmo por que nunca falou com ela antes? Será que ele só saiu comigo para saber coisas sobre ela e quando não falei nada ele ficou frustrado e decidiu não falar mais comigo? Pensar nisso estava me deixando realmente deprimido e nem deveria por que eu só havia saído com ele uma vez na vida. Nós não podíamos ser considerados nem amigos.

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Era hora de ir embora. As aulas foram tortuosamente lentas já que eu não estava prestando atenção em nada ao meu redor. Apenas Enzo, Enzo e Enzo. Por que ele vem me ignorando, assim como a maioria dos meus amigos? Como se eu tivesse feito alguma coisa de errado sendo que nos últimos dias tudo o que venho fazendo é estudar, fazer lição e ler. Talvez eu seja mesmo o garoto que é amigo de todos da turma. Que não faz parte de nenhum grupo, que fala com todo mundo, mas somente quando os outros não tem com quem conversar.

Assim que comecei a pensar nisso senti as malditas lágrimas escorrerem por meu rosto. Eu não podia chorar no corredor do colégio, com todo mundo passando para lá e para cá. Corri procurando por um banheiro e entrei no primeiro que apareceu em minha frente e por sorte ele era masculino. Não queria nem saber o que aconteceria se eu entrasse e tivesse uma menina se trocando.

Liguei a torneira e molhei meu rosto com água para deixar o vermelho dos olhos menos evidente. Fiquei nesse processo por um tempo já que as lágrimas estavam teimosas demais e queriam cair de qualquer modo. Foi quando comecei a ouvir passos dentro do banheiro, mas eu não estava me importando com isso. Pelo menos não até a pessoa desconhecida abrir a boca.

– Cadu, eu sei que é você. Levanta a cabeça – Meus pelos da nuca se arrepiaram. Eu nunca ouvi sua voz tão raivosa.

– Anda logo porra! – Praticamente gritou quando não obedeci. Também nunca o vi falar palavrão. Mas eu nem o conheço direito, então era possível que ele falasse.

Esfreguei novamente meus olhos antes de erguer a cabeça e Jesus cristo! Sua expressão está tão emputecida que me encolhi um pouco. Parece que ele vai quebrar o banheiro todo.

– Enzo por que você está tã...

E tudo aconteceu em meio segundo. Minha fala foi cortada quando Enzo me puxou sem aviso prévio e de repente me prensou na parede de azulejos com força. Espremi meus olhos e comecei a tremer sem parar por que jurava que ele iria me espancar até meus órgãos saírem bem ali naquele banheiro, pouco se importando se o pegariam.

Mas para minha surpresa não foi um soco que senti e sim uma mão acariciando meu rosto de forma delicada.

– Olha pra mim pequeno.

Me surpreendi com seu tom de voz que agora estava tão calmo. Meus olhos se abriram lentamente e sua face agora estavam tão atenciosa que o ataque de minutos atrás parecia fruto da minha imaginação. E antes da minha próxima piscada meus olhos se arregalaram de surpresa. Aquilo foi tão bom, mas eu ainda erámos garotos e o mundo inteiro sempre disse que aquilo era extremamente proibido.

Não era falso como o de Mariana e mesmo que fosse em um banheiro com odor não muito agradável eu estava nas nuvens. Enzo me beijou. Ele gosta de mim e não de Mariana. Foi um beijo calmo, apenas depois de algum tempo ele introduziu sua língua bem devagar. Exatamente como eu sempre sonhei. Naquele momento eu dei um dane-se para tudo e para os estereótipos do mundo.