Forgotten escrita por Lolis


Capítulo 3
II. silêncio




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No words

But tears won't make any room for more

And it don't hurt like anything I've ever felt before

This is no broken heart

No familiar scars

This territory goes uncharted

{ Uncharted – Sara Bareilles }

Silêncio,

Uma coisa que demorei a entender foi o silêncio. Quando eu era pequena – antes de Hogwarts – eu costumava pensar no silêncio como um bom amigo. Como uma solidão infindável em uma casa enorme onde ninguém nunca levantava a voz, nunca quebrava nada, nunca fazia nada que fosse imprevisível. Ele era entediante, mas eu aprendera a tolerá-lo. Com o passar dos anos, no entanto, aprendi que às vezes o silêncio diz mais que muitas palavras.

Quem me ensinou a lição foi Sirius. No começo, quando ainda éramos crianças, eu costumava vê-lo como uma incógnita – como eu, ele crescera em uma casa grande e silenciosa. Ao contrário de mim, no entanto, isso não lhe alimentou uma vontade imensurável de ser ouvido. Sirius estava perfeitamente confortável no silêncio, quando seus olhos diziam mais que qualquer outra conversa.

Os anos passaram como o vento – leve, fresco, rápido e violento. Ano a ano, a guerra contra Voldemort acirrava-se lá fora, com tantos e tantos pais de alunos envolvidos – para nós, uma realidade distante, que mais tarde ceifaria grande parte de nós. De qualquer forma, eu aprendi a amá-lo – Sirius – em nossas conversas silenciosas à noite. Ele contou-me, mais ou menos dois meses depois do começo das aulas do primeiro ano, que não gostava de dormir. Era perda de tempo, em que não podia absorver tudo que estava ao seu redor, e eu o entendia. Vivemos tanto tempo presos à conveniências que tudo parecia grande demais.

Ficávamos até tarde discutindo, brincando, ficando em silêncio. Durante o dia, nunca nos cumprimentávamos – era um segredo que guardávamos apenas entre nós. Sirius estaria com seus amigos – Marauders – enquanto eu estaria com os meus gêmeos. Quando todos dormiam, no entanto, estávamos sozinhos novamente.

Não faço ideia de quando, na passagem de criança para a adolescência, apaixonei-me por ele. Talvez tenha sido uma percepção que apenas surgiu no quarto ano – quando o menino Black mais velho era o garoto mais popular da nossa série, acompanhado de perto por Potter. Eu via meninas e meninas lançarem olhares e sorrisos a ele, e percebi o quanto aquilo era estúpido.

Acho que eu já sabia, então, que ele era meu.

De qualquer forma, crescemos compartilhando nossos medos – muito semelhantes – em segredo, como algo natural. Sirius apenas jogava-se na poltrona à minha frente, daquele jeito despojado e relaxado e decididamente charmoso que só ele tinha, e discutia displicentemente sobre o dia. Sobre como Pettigrew, um dos seus amigos e o que eu menos apreciava, era medroso demais, ou o que ele e Potter haviam aprontado, sempre acompanhado daquela risada canina rouca e baixa, para que não acordássemos ninguém.

Eu sorria para ele mais naturalmente do que para qualquer outro. Éramos amigos pela situação em que estávamos – vergonhas de nossas famílias tradicionais. Lembro-me da raiva nos olhos de Sirius quando as cartas de repúdio do meu pai chegavam, em como eu assumira todos os meus erros e os encarava como fantasmas.

Dê nome a eles ou a vencerão. Disse-me uma vez. Sirius encarava tudo de modo tão aberto e tão corajoso que fazia com que eu, a menina assusta e sedenta por liberdade, tivesse coragem também.

Em troca, acobertei muitas das suas relações com meninas bonitas de Hogwarts. No começo, eu achava que seria apenas uma brincadeira – e eu era uma boa amiga e deveria ajudá-lo. Depois, tudo se tornou mil vezes mais doloroso, como espinhos cravados em minhas memórias; Era difícil vê-lo sorrindo para outras, um sorriso que deveria pertencer a mim.

Não que durante os anos que demoraram até que assumíssemos nossa relação eu tenha me comportado com a pureza virginal e intocável que se espera de uma Malfoy, que deveria guardar seus beijos apenas ao futuro noivo. Tive tantos namorados quanto pude, vivi tudo que tive tempo. Quantas vezes chorei para Annie, e, à noite, em segredo, para Sirius?

Posso quebrar a cara dele, sempre dizia. E se eu pedisse, tinha certeza que ele faria. Sirius sempre parecia propenso a fazer aquilo que eu lhe pedisse, desde que isso me pusesse um sorriso no rosto. Eu não entendia como nossos laços de amizade se formaram – mas ele confiava em mim e eu confiava nele. Estávamos no mesmo barco – renegados incorrigíveis.

– Podemos fugir para as Ilhas Fiji – eu lhe disse uma vez – E viver em uma cabana.

É uma boa ideia. – Ele disse suavemente, jogado em sua cadeira. – Podemos ter uma chinchila.

– Porque uma chinchila?

– Porque elas são fofinhas e parecem com você. Você não gosta de chinchilas?

– Eu adoro chinchilas.

Decidi naquela noite que eu teria uma fazenda de chinchilas. De qualquer forma, falávamos de besteira habitualmente e depois ficávamos quietos. Algum tempo depois eu apenas dava-lhe um "boa noite, Black" rouco e subia para o meu dormitório – não fazia ideia de quando ele próprio ia dormir.

Foi no quinto ano quando eu o beijei pela primeira vez. Éramos terrivelmente imprudentes e, ali deitados sob o chão frio do Salão Comunal – especialmente frio, quando a neve caía gentilmente do lado de fora – e havia pouco fogo para nos aquecer. A lembrança é vívida e turva ao mesmo tempo – agridoce e dolorosa, se eu pensar em como éramos jovens e em como em alguns anos estaríamos quebrados.

Ele, louco e preso em Azkaban. Eu, louca e presa às minhas memórias, o mais longe possível com a minha filha.

De qualquer forma, eu ainda me lembro sobre como ele falava de uma garota louca da Ravenclaw.

– Você não deveria tratá-las como objetos. Isso é tão machista! – Dei-lhe uma bronca, como fazia sempre, mas parecia ser inútil. Sirius tinha o péssimo hábito de nunca ouvir ninguém, tão teimoso e tão cheio de razão.

– Não seja chata, Lara.

– Não estou sendo chata, mas, Sirius, eu sou uma garota! Se você me tratasse assim, eu iria odiá-lo pelo resto da vida.

– Eu nunca trataria você assim.

– Por quê?

Ele me olhou com aqueles olhos grandes e brilhantes. Como em um caleidoscópio, brilhavam em cores diferentes, ora cinzentos, azulados, negros. Incomuns até para um Black de pai e mãe, purificado por gerações. Como eu, ele carregava consigo características que cabiam apenas a si, únicas e incomparáveis, que não cabiam aos nossos sangues.

– Porque você é você, Malfoy. – Ele disse como se isso respondesse a questão, mas não o fazia. Éramos errados, mas juntos éramos certos.

Isso doía.

– O que você faria se eu o beijasse? – Perguntei de volta. Havia pouco pudor entre nós nos meses que antecederam aquela noite, como se estivéssemos prontos para qualquer coisa. E estávamos.

– Eu te beijaria de volta. – Ele continuou me olhando. – Caralho, Lara, você tem ideia do que eu já teria feito se soubesse que posso te beijar?

E, então, eu o beijei. Nenhuma outra menina criada como eu o faria – mas eu era eu – e foi, talvez, a sensação mais confusa e mais incrível do mundo. Éramos fogo e éramos gelo, e nossas línguas dançavam como se houvessem sido feitas para isso. Quanto tempo havíamos esperado?

Durou uma eternidade ou um segundo. Eu nunca saberia dizer – porque as coisas mais incríveis são essas, as atemporais. As que não demandam regras, nem títulos ou rótulos, nem vidas. Apenas existência, pura e intocável.

Você é meu. – Sussurrei em seu ouvido, sentindo-o apertar minha cintura com força e delicadeza, como se pretendesse deixar-me presa ali por toda a vida. E eu queria desesperadamente que ele o fizesse.


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Notas finais do capítulo

Menor do que eu esperava, mas tá aí, porque eu tô empolgada. Não esperem atualizações tão frequentes, mas... Enfim, eu to adorando escrever isso aqui. Btw, eu percebi que tem muito mais gente lendo que comentando (sério, tipo, quase o dobro), e isso me deixa meio chateada. Pô gente, que que custa?
Obrigada às musas do verão 2015 que comentaram. Amo vocês, minhas blackzinhas SZ

XOXO,