Hinan escrita por Hakiny


Capítulo 29
Pesadelos




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― Erii... o que você faria se eu te soltasse agora?

Lily encarava o shikõ com um olhar receoso.

― te mataria e voltaria para o meu exercito.

Erii a respondia com um sorriso maldoso.

Lily desviou o olhar para a pequena fenda de luz no teto e permaneceu assim por alguns segundos.

― porque não desiste. É notável que as suas esperanças estão se esvaindo a cada dia.

Erii a encarava.

― pode ser...

Lily se virava na direção da porta e prosseguia seu caminho até a saída ―mas eu ainda tenho esperanças.

― já está me mantendo cativo há uma semana Lily.

Erii parecia indignado.

―sim, e não me lembro de você me chamando pelo nome no primeiro dia. As coisas evoluem Erii, e eu acredito que só tendem a melhorar!

A pequena maga piscou para o shikõ, Erii corou.

― então é aqui que ele está escondido.

Uma voz feminina familiar fez Lily tremer.

Da porta da sala, surgiu a imagem de uma bela mulher de cabelos negros na altura dos ombros e um olhar distante.

― M-Mary...

Lily gaguejava.

― nossa! Que lugarzinho sujo!

Mia entrava em seguida.

― ah! Finalmente! Pensei que nunca me encontrariam...

Erii dizia com uma voz aliviada.

Lily sabia que ambas as garotas haviam sido amigas de infância, mas assim como Erii, não estavam em seus juízos perfeitos.

― afastem-se!

Lily estava em posição de ataque. Seu corpo inteiro tremia, mesmo confiando em suas habilidades, sabia que lutar simultaneamente com duas shikõs de nível elevado estava além de sua capacidade.

― renda-se Lily, você não é párea para as minhas duas...

― viemos em paz.

Mary interrompeu Erii bruscamente.

― o que?

O shikõ exclamava assustado.

― como assim em paz?

Lily desconfiava.

― não queremos libertar o Erii, ou matar você.

Mia completava.

― como assim “não queremos libertar o Erii?” qual o problema de vocês?

Erii parecia desesperado. Lily também estava surpresa.

― podemos conversar em outro lugar?

Mary a convidava, mesmo ainda um pouco assustada, Lily concordou e seguiu as shikõs.

― EII! ALGUÉM PODE ME EXPLICAR O QUE ESTÁ ACONTECENDO AQUI?

Erii clamava por esclarecimentos, mas a única coisa que ouviu, foi o som do trinco da porta.

― malditas...

O shikõ sussurrava.

Um pouco distante dali, em um pequeno jardim nas redondezas do local aonde Lily escondia Erii, as três garotas se encaravam.

―sente-se.

Mary apontava para um banco de madeira.

― eu estou bem.

Lily respondia de forma desconfiada.

― você quem sabe.

Mary dizia enquanto se sentava, Mia fez o mesmo.

― o que querem comigo?

Lily dizia com uma voz firme.

― ajuda...

Mary observava o balançar dos galhos das arvores.

**

― huuu!

Lucy se espreguiçava ― meu estoque de cenouras já está no fim.

― que nojo.

Sayo resmungava enquanto a acompanhava pelas ruas de Hinan.

―calada devoradora de cadáveres!

Lucy provocava.

― cadáveres temperados!

Sayo justificava.

― uma floricultura!

Lucy exclamava animada.

― e dai?

―eu queria dar uma olhada em algumas flores e...

― flor pra mim só depois de morta!

Sayo levava a mão á cintura. Sem dar atenção à garota, Lucy seguiu até aquela bela floricultura.

Em passos vagarosos a jovem arqueira se aproximava da porta do estabelecimento, mas logo foi surpreendida pela imagem familiar da atendente.

― Va-Vallery?

Lucy gaguejava.

― olá, posso ajudar em alguma coisa?

A loira perguntava com um sorriso.

― Lucy sua quenga encubada, não me deixe falando sozinha!

Sayo entrava na loja irritada, mas logo parou ao ver Vallery no balcão.

― Val filhote de satã! Em casa você nunca tá, o velho anão nunca fala aonde você se meteu... o que que você ta caçando aqui?

Sayo não escondia sua raiva.

― trabalhando oras, como qualquer adulto respeitável.

Vallery não dava muita atenção para as garotas.

― VAI TOMAR NO TEU AZ DE COPA!

Sayo gritava, alto o suficiente para ser ouvido nos fundos da loja.

―Sayo por favor, sem palavras de baixo escalão aqui na loja!

Vallery repreendia a guerreira enquanto se certificava que seu chefe não havia ouvido.

― baixo escalão? Vou baixar a minha mão na sua cara!

Sayo tentava avançar para cima de Vallery, mas era impedida por Lucy.

― Sayo...

Algumas pequenas rugas surgiam no rosto de Vallery.

― ei Sayo chega! Ta deixando ela irritada... e nós duas sabemos que não legal a Vallery irritada.

Lucy dava alguns passos para trás, não escondendo o seu medo.

― eu não me importo!

Sayo dizia agora com uma voz um pouco falha ― sabe o que não é legal de verdade? Abandonar os seus amigos! Isso sim não é legal.

Os olhos de Sayo estavam marejados ― você não entende Val? Precisamos de você! Nós somos uma família, sempre fomos! E não é fácil ver alguém abandonar a família...

Uma lágrima escorria do rosto da guerreira.

― se não vai comprar nada, aconselho que se retire do estabelecimento.

Vallery dizia enquanto arrumava a estante de flores, ficando dessa forma, de costas para suas ex-companheiras.

― o que aconteceu com você Val?

Sayo não escondia seu espanto ― você é uma I.O.S!

― não Sayo, eu fui uma I.O.S... agora eu não tenho mais nada haver com vocês.

Aquelas palavras duras, foram como adagas perfurando o peito da guerreira.

― vamos Sayo, deixe a trabalhar... por algum motivo, também perdi o interesse pelas flores.

Lucy dizia enquanto se retirava da floricultura, Sayo a seguiu.

O vidro da pequena estufa que guardava as belas tulipas, refletia as lágrimas de uma guerreira de coração partido.

―VALLERY! REGUE AS MARGARIDAS, ESTÃO TODAS MURCHAS!

Uma voz idosa, com um tom arrogante, vinha dos fundos da loja.

― sim senhor!

Vallery dizia, enquanto enxugava o rosto.

**

O vento forte vindo do norte fazia voar os belos cabelos ruivos de Mia.

― eu não acredito nisso. Então vocês se lembram de tudo?

Lily dizia com um olha de felicidade.

― não é bem assim Lily...

Mary desviava o olhar ― seu rosto é familiar, por algum motivo eu não consigo te odiar... é como se fossemos amigas.

― e somos!

Lily dizia com entusiasmo ― amigas de infância,

Lily tocava o rosto de Mary.

― mas eu não tenho lembranças Lily, só sentimentos e eu os tenho desde que... desde que eu me lembre.

Mary parecia confusa.

― quando acordamos em uma sala de experimentos, não nos lembrávamos de nada além das dolorosas sessões.

Mia contava ―então fomos levados até a presença de Taiko, que nos deu as “boas vindas”. Disse que éramos soldados e deveríamos obedecer às ordens dele. Nós não nos sentíamos obrigados a fazer isso, mas ficamos em silêncio. Concluímos que as experiências tiraram grande parte de nossas memórias, mas não nosso livre arbítrio. Então resolvemos dançar conforme a musica, pelo menos esse era o plano, a não ser pelo fato do Erii ser um completo idiota!

Mia parecia irritada.

― o que a Mia quis dizer, é que o Erii era orgulhoso demais para se submeter a Taiko.

Mary completava ― durante a apresentação ele o insultou e chegou a atacar alguns dos soldados shikõs, logo foi detido e levado de volta à sala de experiências... quando ele voltou fez a mesma coisa e isso se repetiu mais vezes do que eu seja capaz de contar.

Mary parecia sentir a dor daquelas lembranças.

― o que aconteceu foi que um dia, o Erii apareceu novamente. Mas não era o Erii, era um ser nojento e sem coração que eu desconhecia, ele não tinha sentimentos e só seguia ordens. A única coisa que foi mantida e aumentada foi sua arrogância.

Mia explicava.

― que horror.

Lily levava a mão aos lábios.

― por isso Erii é tão cruel Lily. Tenho esperanças de que ainda haja bondade nele, e creio que você seja capaz de trazê-lo de volta.

Mary sorria.

― eu vou fazer tudo que estiver ao meu alcance Mary.

Lily também sorria.

― bom, espero manter contato Lily. Mas precisamos ir, se o Taiko descobrir que tivemos essa conversa, isso custará nossas cabeças.

Mary se levantava.

― e não se esqueça de guardar bem aquela espada.

Mia a encarava.

― por quê?

Lily também a encarava.

― não temos ideia de quem seja Céverus, mas de acordo com as informações do Taiko, ele é um ser de poderes inimagináveis e essa espada é a única coisa no universo capaz de matá-lo.

― eu vou cuidar bem dela Mia.

Lily piscava.

― já vamos indo.

**

Um ar pesado tomava conta do ambiente, o céu estava negro e apenas uma fenda de luz refletia o rosto de Raque.

― te achei.

Uma voz demoníaca fez a menina tremer.

Com os olhos arregalados, Raque encarava aquela luz. Seu coração batia forte, de forma desesperada a menina corria para longe dela.

― Raque...

Uma outra voz muito familiar fez Raque parar, virando-se com brutalidade a garota então avistou seu irmão.

― Ally... ALLY!

A menina corria desesperada ao encontro de seu irmão, que naquele momento estava de joelhos, coberto de ferimentos.

― ai meu Deus Ally...

Raque o abraçava, enquanto chorava desesperada.

― m-me... me ajuda...

O corpo de Ally foi reduzido a cinzas e desapareceu.

― ALLY!!!

A jovem maga gritava com todo ar que havia em seus pulmões.

Aos poucos uma espécie de camada negra que cobria o chão, cercava a garota. Um líquido quente pingou em seu rosto, ao tocá-lo pode notar algo incomum.

― sangue?

Raque arregalava aos olhos. Foi então que uma chuva de sangue começou, e como em um piscar de olhos Raque se viu cercada pelos cadáveres de seus amigos.

― AHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHH!

Raque gritava e chorava desesperadamente.

Levantando-se rapidamente da cama Raque havia despertado de seu sono, ao sentir suas roupas molhar viu seu mundo desabar, mas se aliviou ao notar que era apenas suor.

―RAQUE!

A porta havia sido aberta com brutalidade, de joelhos no chão a garota chorava.

― Jon... JON!

Raque chorava ainda mais. Jon rapidamente se abaixou até aonde a garota estava e certificou-se que ela não estava ferida.

―você tava morto Jon, você tava morto.

Raque não parava de chorar. Jon a abraçou. Andy e Jack chegaram em seguida.

― você tava morto Jon! Você e a Jack e o Andy e o Butcher e o Nael...

Raque estava em choque.

― foi só um sonho ruim Raque, já acabou!

Jon estava assustado com a reação da garota.

― tinha sangue e escuridão... ele ta vindo Jon... ele ta vindo.

Afastando-se Jon, Raque agora se se encostava à cama abraçando com força seus joelhos. Um olhar de desvario assustou todos no quarto.

― ela ta ficando maluca...

Jack dizia em voz baixa.

― qual providência devemos tomar?

Andy se dirigia para Jon.

― nenhuma! Nesse momento tudo que a Raque precisa é de apoio.

Jon mantinha uma posição autoritária.

― eu não to louca.

Raque agora parecia mais calma.

― seu humor ta estranho, variável e você ta fora de controle Raque!

Jack debatia.

― eu concordo com a Jack!

Andy assumia uma posição séria.

― eu não acredito nisso...

Raque limpava suas lágrimas.

―volte a dormir Raque.

Jon acariciava a cabeça da menina.

― amanhã teremos uma reunião.

Andy encarava Jon.

― reunião?

Raque parecia confusa.

― nada mais justo.

Jack dizia enquanto saía do quarto.

Sem dizer mais nenhuma palavra, Jon se levantou e se retirou do quarto, Andy fez o mesmo.

Sozinha em seu quarto escuro, Raque mantinha-se acordada, temendo voltar para seus terríveis pesadelos.

**

O sol brilhava forte naquela nova manhã na Hinan do norte. Com um semblante cansado, Vallery abria as portas da loja.

― e lá vamos nós em mais um dia...

A garota dizia seguindo com um suspiro.

― que cara é essa Vallery? Parece que não esta gostando do trabalho! Vamos garota, sorria! Sorria!

Um velho de estatura baixa, dizia de forma autoritária. Vallery forçou um sorriso e começou a varrer a calçada.

**

Cautelosamente, Lily mais uma vez se dirigia até o esconderijo de seu refém. Ao notar que não estava sendo seguida, entrou na sala.

―ahh! Graças a Deus!

Erii suspirava aliviado ― essa psicopata ta aqui me olhando a mais de uma hora!

― oi Raque!

Lily sorria sem graça ― ta vigiando o Erii por quê?

― não fui atrás de você porque fiquei com medo dos guardas me atacarem, e o Erii fica engraçado estirado na parede que nem um frango.

Lily gargalhou.

― a Sayo pensou a mesma coisa!

― malditas...

Erii sussurrava.

― mas fico feliz que tenha vindo me visitar!

Lily sorria.

― eu... queria conversar.

Raque dizia um pouco sem graça.

― tudo bem! Vamos pra outro lugar, o Erii é super chato com visitas.

Lily estendia o braço, Raque segurou a sua mão.

― é legal ver como você fala de mim como seu eu fosse um cachorro inconveniente, que late quando a visita chega.

Erii resmungava.

―dramático.

Lily dizia enquanto se retirava da sala, acompanhada da jovem maga.

― e ai, o que ta acontecendo?

Lily se sentava no banco do jardim.

― tive um pesadelo...

Lily arregalou os olhos ― Lily, eu sei que pare idiota, mas...

― não é.

Lily a interrompeu ― acredite, não é nem um pouco idiota!

Naquele momento, Lily se lembrou de seus pesadelos de infância, e os que vieram após o ataque a Hinan do sul. Eles nunca pararam, só pioraram quando ela começou a aprender magia.

―Lily?

A voz de Raque interrompeu os pensamentos de Lily.

― desculpa é que essas coisas me remetem o passado.

― entendo.

― mas como foi o seu...

Uma enorme explosão fez com que ambas as magas fossem lançadas longe.

O chão inteiro tremeu e a imagem de um minotauro gigante surgiu do meio da fumaça.

Com a visão embaçada, Raque tentava se por de pé.

― ai meu Deus...

Lily estava com os olhos arregalados.

― o muro...

Lily gaguejava ― TEM UM BURACO GIGANTE NO MURO.


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