P.O.V. Guinevere.

Ainda me lembro de quando o conheci.

Eu era só uma serva, até hoje não sei o que ele e Lance viram em mim. Desde criança as outras garotas tinham inveja de mim porque os meninos me cortejavam, diziam que eu era de todas a mais bela.

Muitas me chamavam de bruxa, de sereia, de feiticeira. Mas eu sou só uma garota comum.

Conheci Arthur antes de ser coroado, na praia. Eu sai do mar e ele ficou me encarando.

—Ninguém fica me encarando!

Derrubei-o e coloquei uma faca em seu pescoço.

Ele me disse que sonhara comigo, sabia que eu estaria aqui.

Alguns dias depois me foi oferecido um trabalho, para ser a criada pessoal da protegida do Rei Uther. Lady Morgana.

Eu não tinha como recusar, o salário era ótimo e as condições de trabalho também.

Me lembro de quando entrei no salão e o vi sentado ao lado do rei com uma coroa na cabeça. Senti tanta vergonha, afinal sem saber havia ameaçado a vida do príncipe de Camelot.

E o medo foi maior ainda, o Rei não hesitaria em cortar-me a cabeça se soubesse.

Lá estava eu saindo dos aposentos de Lady Morgana com duas enormes bacias de roupas. Uma na cabeça e uma no braço direito eu cantava e não percebi que estava sendo observada por um par de olhos verdes.

P.O.V. Arthur.

Eu a vi saindo dos aposentos de minha irmã com duas enormes bacias de roupas. Pude ouvi-la cantar:

—Oh, canta rouxinol, canta rouxinol aaaa aaaa.

Seus quadris moviam-se de um lado para o outro num gesto suave.

—Tendes uma bela voz.

Ela assustou-se dando um grito e deixando tudo cair no chão.

—Obrigado, milorde.

Pelo tom de sua voz, eu soube que estava com raiva.

—Que droga! Agora vou ter que lavar tudo outra vez!

—Como te chamas?

—Guinevere.

Ela continuou socando as roupas dentro das bacias. Com raiva.

—Quantos anos tem?

—Vinte.

—De onde veio?

—Do mar! Agora, por favor deixe-me em paz! Tenho mais o que fazer.

Saiu andando e soltando fogo pelas ventas. Segundos depois maiou a porta e pude ouvir um urro de raiva.

Decidi segui-la e acabei ouvindo ela me chamar de nomes escabrosos.

—De onde você veio? Eu não faço nada da vida e acho que o resto do mundo faz o mesmo.

—Ai, como eu odeio esses nobres metidos!

Três horas, ela levou três horas pra lavar e estender toda aquela roupa.

—Finalmente.

Ela lentamente escorregou pela parede caindo sentada. Então respirou fundo umas três vezes.

—Pronto, agora a raiva passou. Estou pronta pra trabalhar de novo.

Pegou uma vassoura e subiu as escadas. Varreu o quarto de Morgana, trocou as velas dos candelabros, arrumou a cama e desceu outra vez. Ficou de joelhos e passou pano no quarto todinho.

Em determinado momento sentou-se no banco em frente ao espelho da penteadeira.

—O que será que eles veem em mim? Não sou tudo isso, não tenho dinheiro, nem sangue nobre, prestígio eu sou uma ninguém.

—Os meus vestidos são velhos e surrados, estou sempre suja de fuligem ou de qualquer outra coisa. Minhas unhas são quebradas, meu cabelo é rebelde e está sempre meio despenteado. Não tenho peitos ou nádegas grandes.

—Bom, acho que nunca vou saber.

—Gwen? Sente-se bem?

—Só um pouco cansada Milady, nada mais.

—Bom, tire o dia de folga e sabe aqueles vestidos que eu te pedi pra lavar?

—Sim, milady.

—Eles são seus. Feliz aniversário Guinevere.

—Obrigado Milady. Não era necessário.

—Claro que era. Você é minha melhor amiga, sempre cuidou de mim, me amparou e quando eu tenho pesadelos você é quem está lá pra me acalmar.

Ela sorriu e abraçou minha irmã.

—É uma honra ser tão querida por alguém tão importante.