19 Atos Para Seguir em Frente escrita por Ly Anne Black


Capítulo 3
Compromisso




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III.

Precisou se certificar de que Severo Snape teria o seu lugar no memorial de Hogwarts. Era difícil para Harry modificar dentro de si os maus sentimentos que nutria pelo professor por todos aqueles anos – ainda o considerava uma pessoa desagradável e amargurada, mas entender o seu sacrifício e o seu amor por sua mãe, e sua lealdade a ela, mesmo depois da sua morte, o rapaz não podia simplesmente ignorar aquilo.

Teve uma longa conversa com McGonnagal, que foi noite adentro, onde ele se preocupou em contar tudo que podia sobre aquele último ano, a missão que Dumbledore lhe confiara, o papel de Snape e tudo mais. Agora, com a queda de Voldemort, nada daquilo precisava ser um segredo, embora ambos concordassem que algumas partes poderiam ficar longe do conhecimento das pessoas em geral, a fim de proteger a privacidade dos mais próximos, como os Weasleys, Hermione e o próprio Harry. Ele, no entanto precisou deixar a história das Relíquias de fora – falando apenas da Varinha das Varinhas, e isso deixou sua narrativa inconsistente em alguns pontos. Se a velha bruxa percebeu, nada comentou. Quando tudo pareceu esclarecido o bastante, ela avisou que escreveria uma carta à Quim.

– O que pretende fazer a partir de agora, Harry? - ela lhe perguntou quando viu que o olhar do rapaz tinha se perdido para além dos jardins destruídos do lado de fora, através da janela.

– Ahn? - ele foi pego de surpresa – Eu não- eu realmente ainda não pensei...

– Imagino o quanto as coisas ainda podem estar confusas, meu querido, mas preciso lembrá-lo de que agora que o peso de salvar o mundo já não está mais sobre os seus ombros, você tem uma vida a trilhar pela frente.

– Sim, eu...

– Enquanto você estiver pensando sobre isso, esteja certo de que sempre será bem vindo em Hogwarts e pelo tempo que desejar.

Ele lhe deu um sorriso agradecido e se retirou do escritório da bruxa, e vagou pelos corredores tranquilamente com aquela leveza com a qual pensou que poderia se acostumar. Já não se lembrava qual a ultima vez que pudera andar despreocupado por um corredor, sem um tempo para cumprir, sem a vida de muitas pessoas nas suas mãos, livre da ameaça de não ter um futuro. Ele tinha um futuro. As milhares de perspectivas o assaltaram, assustadoras e fantásticas. Alcançou o Salão Comunal da Grifinória e teve um pequeno choque ao ver todos ali, reunidos à luz aconchegante da lareira, como nos velhos tempos: Rony, Hermione, Gina, Neville e Luna e um Bichento ronronando entre eles com aquele ar bem alimentado de sempre. Harry envergonhou-se ao ter os olhos cheios de lágrimas, não vinha contendo bem sua emotividade aquele dia.

O sol brilhou alto e forte no céu para eles, e o vento fresco conduzia facilmente as palavras do sacerdote – o mesmo que fizera o enterro de Dumbledore e o casamento de Gui e Fleur – até as muitas dezenas de pessoas sentadas no jardim, absorvidas e buscando alguma tranqüilidade na perda de seus familiares e amigos. Todos estavam ali, desde Hagrid com Grope ao seu lado, até Xenófilo Lovegood e sua filha e a Sra. Longbotton e Neville, passando pelos Weasleys, o pouco que restara da Ordem da Fênix, todos os professores, os pais chorosos de Colin Creevey, e de outros alunos que tinham sucumbido, todos eles tinham retornado ao castelo de manhã bem cedo para prestar as ultimas homenagens.

A Armada de Dumbledore também estava lá; Dino Thomas e Simas Finningan com seus pais e Cho Chang, que não parava de verter lágrimas pelo rosto redondo. Até mesmo Quim Shacklebolt arranjara algum tempo e largara o caos terrível que tentava organizar no ministério, e aparecera, e viera cumprimentar Harry muito respeitosamente antes de partir mais uma vez.

O velho sacerdote de cabelo em tufos dizia suas ultimas palavras – heróis corajosos... jamais vamos esquecer o seu sacrifício, pelo bem maior daqueles que amavam em vida... para sempre serão lembrados como símbolo dessa vitória e como parte de Hogwarts... Levaremos as nossas vidas adiante em agradecimento e em honra aqueles que ficaram para trás, mas nunca deixarão nossos orações...

O túmulo de Dumbledore foi restituído, voltando a sua integridade quando desapareceu a horrível rachadura que Voldemort deixara. Ao redor dele, no gramado fofo e verde, agora várias lápides estavam plantadas no chão, sob a sombra de uma ou outra árvore, e as pessoas andavam ao redor, dando um adeus aos seus. A família Weasley dava as mãos em torno da lápide de Fred Weasley e Harry teve que se afastar, o coração totalmente partido. Ele parou numa lápide próxima ao tronco de uma árvore, era a mesma árvore em que os marotos tinham estado acumulados na velha lembrança de Snape onde ele tinha as cuecas expostas por Tiago.

O moreno sabia que ali debaixo não havia nenhum corpo – aquela ela só simbólica, mas ainda assim se abaixou ali e conjurou um ramo de flores para deixar sob as palavras talhadas, que ele mesmo escolhera: "Honrado seja Sirius Black, muito amado e o mais leal de todos os Marotos, sentimos sua falta." Seu padrinho merecia ter o nome ali gravado, ele também fora parte de Hogwarts, e era um daqueles que tinha dado a sua vida sem hesitar a favor de uma causa maior, e por acreditar em Harry sem reservas.

Bem próximo dali estavam os túmulos de Remus e Tonks. Ao levantar o olhar Harry viu que uma única pessoa, uma mulher esguia, olhava melancolicamente para uma das lápides. Ele se aproximou e só então percebeu que Andrômeda Black não estava sozinha, carregava em seus braços um embrulhinho que se movia. Ela detectou o jovem e lhe olhou por detrás do cabelo que voava em seu rosto, e sua expressão tinha uma dor que ia muito além do que ele achou que poderia compreender. Mas ela pareceu mais serena assim que o reconheceu.

– Harry Potter – ela suspirou suave – eu esperava lhe encontrar aqui.

– Senhora Tonks. – ele também sorriu. Já não a via tão parecida com Bellatrix agora, a mulher tinha uma aura de bondade e sensatez que a louca comensal jamais poderia ter tido. – Eu sinto muito... sinto muito por eles.

– Ah, não, não, querido – ela negou – assim é como eles gostariam que tivesse sido. Para quem está de fora um pouco difícil compreender, esse ardor por uma causa, essa força de se levar até o fim – ela se interrompeu – ah, mas eu acho que você melhor que ninguém compreende, não é? - disse ainda sorrindo, então fungou e sacudiu a cabeça de leve como quem afasta pensamentos – Mas não venha para cá com essa de "senhora Tonks". Se eu estou certa você foi designado para apadrinhar esse pequenino, então nós seremos no mínimo da mesma família!

Harry quase tinha se esquecido, mas era verdade, ele era o padrinho de Ted Lupin. Com um pouco de emoção, se aproximou mais para ver a carinha em formato de coração do bebê, que tinha uns cachos claramente turquesa em volta do rostinho bem humorado, tão alheio ao que ocorria a sua volta. O pequeno já não tinha os pais, e agora Andrômeda e Harry era tudo que lhe havia restado, então o rapaz se viu prometendo dar o seu melhor como padrinho, coisas que Sirius nunca tivera a oportunidade de fazer com ele...

– Vamos, pegue ele um pouco, Harry.

– Eu n-não –

Mas ela já estava passando o embrulho para ele, que aceitou completamente sem jeito. Ted abriu um sorriso banguela e tirou suas mãozinhas pequenas da manta, alcançando uma mexa de cabelo de Harry com seus movimentos desordenados. Ele puxou sem piedade fazendo um barulhinho de satisfação, e o menino-que-sobreviveu se viu mais uma vez incapaz de controlar a sua emotividade, face aquele momento inesperadamente tão familiar.

(Continua...)


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