Conto De Fadas Moderno escrita por Letícia Matias


Capítulo 17
Capítulo 17




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De manhãzinha, acordei com o vento batendo na janela. Fui até o banheiro no corredor, ao lado do meu quarto e tranquei a porta.

Olhei meu reflexo no pequeno espelho redondo á minha frente. Eu não estava muito bonita.

Quando é que você está bonita¿ - pensei comigo mesma.

Espremi a pasta de dente encima das cerdas da minha escova de dente e levei até a boca.

Depois de escovar os dentes, soltei meu cabelo e penteei-os. Depois tornei a prendê-los num rabo de cavalo. Não me importei em trocar de roupa já que estava tão frio e aquele moletom parecia estar quentinho demais no meu corpo e confortável como uma luva.

Abri a porta do banheiro e fechei-a com cuidado para não fazer barulho. Eu não sabia se o pessoal ainda estava dormindo. Minha dúvida foi tirada quando ouvi vozes vindas da sala e da cozinha.

Desci as escadas silenciosamente e paralisei quando olhei para a cozinha.

– Mas o que... Noah¿ - falei.

Todos se viraram para olhar para mim. Minha mãe, meu pai e Mike estavam na cozinha. Meu pai e meu irmão sentados na mesa e minha mãe em pé ao lado de Noah.

Era ele mesmo! Estava lá, olhando para mim com a sombra de um sorriso nos lábios. Estava vestindo sua blusa de couro, uma calça jeans azul escura e um all-star preto.

– Oi, Gen.

Olhei para minha mãe que me olhava atenta.

– O que está fazendo aqui¿ - perguntei.

Ele franziu o cenho levemente e disse:

– Eu... Vim visitar a sua família. Vim visitar você.

Arfei e comecei a rir.

– Como é que é¿

– Genevieve. – Mike disse.

Olhei para ele e ele fez uma expressão do tipo “o que você está fazendo¿”

Noah não disse nada e ficou me olhando.

– Eu... Pensei que você ia ficar em Nova York. Você... Não gosta de feriados. Principalmente o de Ação de Graças.

Ele engoliu em seco.

– Se você quiser eu posso ir embora. Eu sempre irei voar quilômetros para te encontrar para você me receber tão bem do jeito que está me recebendo.

Abri a boca para falar quando minha mãe interrompeu dizendo:

– Por que você não sobe, Noah¿ Vá tirar essa roupa, tomar um banho, se acomodar, sim¿

Noah sorriu para minha mãe.

– Ah eu irei. Obrigada sra. Jay.

Minha mãe forçou um sorriso e Noah pegou sua mala e veio andando até as escadas.

Eu não conseguia tirar os olhos dele. Eu estava com tanta raiva dele.

Ele parou do meu lado na escada e sussurrou:

– Sentiu minha falta, Gen¿

E antes que eu pudesse responder ele me deu um selinho e subiu ás escadas me deixando pasma sem nenhum movimento.

Depois de um tempo, olhei para meus pais e para Mike que me olhavam curiosos.

– Eu... Já volto. – eu disse.

Minha mãe abriu a boca para falar algo mas, subi antes que ela pudesse começar a falar.

Entrei no meu quarto onde Noah estava sentado na cama, olhando para a porta.

Fechei a porta, trancando-a e virei-me para olhá-lo.

– O que está fazendo aqui¿

– Por que está me tratando desse jeito¿

Arfei e comecei a rir.

– Você quer que eu te lembre do que aconteceu no telefone ontem, Noah¿

– Ah sim, eu me lembro de que você me mandou pra aquele lugar.

Forcei um sorriso.

– E você se lembra do por que¿

– Não.

Ri.

– Claro, como sempre você é o santo, não é Noah¿ O que aquela vagabunda estava fazendo na sua casa ontem, Noah¿

– Ela estava com o namorado dela. Você nem sequer me deu tempo de falar isso para você, deu¿

– Não me interessa se ela estava com o corno do namorado dela. O coitado é um corno porque ela deve... – parei e respirei fundo. – Não me importa. Eu não quero essa mulher dentro da sua casa. Não quero ela perto de você, Noah. Eu sei muito bem o que ela está querendo com você.

– Você está louca¿ Não falo com dela desde... Não sei quando!

– Ela te mandou uma mensagem no dia do meu aniversário.

Ele franziu o cenho.

– Como você sabe disso¿

Parei mordi o lábio inferior. Tudo bem, eu estava ferrada agora.

– Você... Mexeu no meu celular¿

Não respondi e fui até a janela de braços cruzados.

– Eu vou perguntar mais uma vez: - ele disse cuidadosamente se levantando e vindo até mim – Você mexeu no meu celular, Genevieve¿.

– Eu... Estava comendo e seu celular vibrou no sofá e eu peguei para ver o que era. E era uma mensagem dela.

Ele pegou meu queixo e segurou com força.

– Quem você pensa que é pra pegar o meu celular e ficar bisbilhotando¿ Eu não faço essas coisas com você.

– Eu sei que eu não deveria ter feito, mas foi bom eu tê-lo feito porque eu pude apagar a mensagem daquela vagabunda antes de você ver.

Ele olhou para o teto e fechou os olhos.

– Eu não aguento mais essas coisas que você faz. – ele disse.

– Não, Noah. Eu não aguento mais. Não aguento mais aquele imprestável daquele Austin na sua casa.

– Ele é meu amigo.

– Ele não é seu amigo. Ele só quer alguém para afundar com ele. Você perdeu seu emprego e só pensa em festa e em sair para beber e fumar. Ele mora na casa dos pais até hoje, não trabalha e não sei como ainda não engravidou nenhuma, bom, se ele engravidou a gente não sabe. Ele não é seu amigo, ele não se importa com você. Ele faltou com respeito comigo diversas vezes e você nunca fala nada, você não está nem aí. Quando você precisar dele, ele não vai estar lá para te ajudar. Escreva o que eu estou te falando, Noah. Ele não vai estar lá para te apoiar, para te ajudar. Ele não é seu amigo. Pelo amor de Deus, acorda! Eu não aguento mais falar as mesmas coisas e ter as mesmas brigas com você. Você perdeu seu emprego, não trabalha na área em que você se formou porque você simplesmente não procura emprego. Qualquer coisa para você está bom e isso é culpa do Austin. Depois que você conheceu esse imprestável você se afundou. Acorda!

– Eu viajo quilômetros para te fazer uma surpresa e você me recebe assim¿

– Não se faça de coitado, Noah. Você sabe que o que eu estou dizendo é verdade.

Suspirei e ele continuou me encarando.

Tornei a olhar para ele. Analisei seu rosto. Coloquei as mãos suavemente em sua face e disse:

– Se você não me prometer que vai mudar, se você não deixar ele de lado e ir viver sua vida do jeito que você deveria estar vivendo... Se você não mudar, Noah, eu vou te deixar.

Ele piscou duas vezes e disse:

– O quê¿

– Me fala agora que você vai mudar, que você vai arrumar um emprego de fotógrafo como você queria, que você vai voltar a falar com a sua família, que vai deixar esse cara de lado, Noah. Se você mudar, eu fico com você porque eu te amo e só aguentei essas coisas até agora porque eu te amo. Me fala que você vai mudar que eu fico com você, mas se você me disser que não vai mudar, eu...

– Você não vai me mudar, Genevieve. Eu não vou mudar nem por você nem por ninguém. Eu estou feliz do jeito que eu estou.

Aquelas palavras foram duras como um tapa na cara.

Olhei para os meus pés e pisquei várias vezes para impedir que as lágrimas caíssem. Tornei a olhar para ele.

– Eu sinto muito, não posso continuar com você desse jeito, Noah.

Ele ficou me olhando e piscou algumas vezes. Pegou a sua mala e colocou no ombro. Foi até a porta do quarto e olhou para mim novamente. Balançou a cabeça e abriu a porta.

Minha mãe estava parada ali. Ele olhou para a minha mãe e passou por ela descendo ás escadas.

Sentei-me na cama fechando os olhos. Minha mãe veio até mim e sentou-se do meu lado quando eu comecei a soluçar.

***

Depois de uma hora chorando no ombro da minha mãe, pedi para ficar sozinha. Ela fechou a porta do quarto saindo e me deixou sozinha.

Cobri-me até o pescoço e afundei minha cabeça no travesseiro macio.

Ele simplesmente não podia mudar e entender que ele estava errado¿ Por que ele tinha que ser tão cabeça dura¿

Aquilo estava doendo em mim, mais do que qualquer coisa, mas ao mesmo tempo em que eu sentia tristeza, sentia certo... alívio.

Eu sempre amei Noah, mesmo quando brigávamos. Eu ainda o amava. Só não estava mais aguentando mais.

Ouvi uma batida na porta.

– Gen¿ - Mike chamou.

Me afundei mais na cama e fiquei quieta. Eu não queria falar com ninguém. Pelo menos não por enquanto.

Comecei a me lembrar de quando fomos para a casa dos pais de Noah, no começo do nosso namoro. Nós estávamos sozinhos no salão de festas da casa de seus pais. Todos já tinham ido dormir e estávamos lá, bebendo cerveja e conversando. Lembro-me de ter subido encima da mesa de sinuca e ele ter pedido para eu sair de lá de cima antes que a mesa do seu pai quebrasse e ele tivesse que pagar. Ficamos conversando e rindo, nos beijando de vez em quando e depois, fomos dar uma volta de carro pelas ruas de Los Angeles antes do Sol começar a nascer. Quando voltamos para a casa de seus pais, tudo estava silencioso e ficamos mais alguns minutos dentro do carro, na garagem. Eu sentada no seu colo acariciando seu rosto e ele o meu, mexendo no meu cabelo... Acho que fora a melhor época do nosso relacionamento.

E agora, tinha acabado.


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