Tris

Eu atendi o telefone imediatamente. Eu não aguentava mais nenhum minuto sem ouvir a voz dele, sem falar com ele. Eu não aguentava mais essa sensação de vazio, de saudade.

_Tobias - eu disse assim que atendi a chamada, e acabei suspirando ao dizer o nome dele.

_Tris - ele disse, e eu sorri ao ouvir a voz dele. Meu coração deu uma formigada.

_Eu... eu não consegui dormir - minha voz saiu meio fraca, mesmo que internamente, eu estivesse gritando, eu estivesse transbordando. Minha mente completou minha frase: eu não consegui dormir porque estou com saudades de você.

_Eu também não - ele disse, e eu pude até vê-lo sorrindo levemente e mordendo o canto da boca, como ele sempre fazia.

Nós ficamos alguns segundos em silêncio. Eu escutava a respiração dele. Meu coração batia forte. Ao mesmo tempo que eu estava com muita vontade de falar tudo o que eu estava sentindo, eu tinha um medo enorme de acabar afastando ele de mim. Essa coisa de amor era confusa. O medo de perder é a pior sensação que existe. É horrível saber que talvez, seu amor nunca vai ser correspondido, e que um dia, tudo pode acabar, e que ele pode sair pela porta da frente da sua vida, para nunca mais voltar. Ainda mais quando se tratava de nós dois, e de tudo que existia por trás do nosso relacionamento.

_Eu estou com saudade - eu disse, com as mãos meio tremendo. Mas minha voz não foi a única a dizer isso. Eu não fui a única. Ele disse as mesmas palavras, ao mesmo tempo. Eu mal acreditava no que eu tinha escutado. Ele também estava com saudades. Com saudades de mim.

_Não consegui dormir... sinto falta de você - ele disse, enquanto uma lágrima escorria dos meus olhos. - Sinto falta do seu cheiro, da sua risada, da sua presença. Sinto falta de conversar com você, de olhar pra você.

Mais lágrimas. Minha visão estava meio embaçada, minha cabeça estava rodando, meu coração batia forte.

_Eu... eu também sinto sua falta. Longe de você, parece que tem um abismo dentro de mim. Eu... eu sinto falta de tudo sobre você. Sobre nós.

Meu coração batia tão forte que fazia um barulho imenso dentro de mim. Olhei pela janela do meu quarto. Vi pequenos flocos de neve se prenderem ao chão. Estava começando a nevar.

_Eu queria que vocês estivesse aqui - ele disse, baixinho. Eu sorri.

_Eu queria estar com você - eu respondi, me embrulhando no edredom e imaginando que era nos braços dele que eu estava me aninhando.

Mais um pouco de silêncio. Eu tinha a sensação que ambos estávamos tentando encontrar palavras que conseguissem expressar tudo o que estávamos sentindo. E não era fácil. Eu mal conseguia pensar em uma frase, onde coubesse tudo o que eu queria falar. Nenhuma palavra conseguiria descrever.

_Tris? - ele chamou.

_Eu estou aqui - eu disse, dando um meio sorriso, apenas por escutar ele dizer meu nome. O jeito que ele dizia era todo especial.

_Esse é o problema. Você está aí, e eu estou aqui. Eu preferia um nós em qualquer lugar. - ele disse, seguido de um suspiro baixo.

_Eu também. - eu disse, ainda tentando conter as lágrimas que escorriam dos meus olhos.

_Eu não quero mais levar essa farsa adiante - ele disse, mas continuou antes que eu pudesse responder - Eu não quero que nosso namoro seja só por um contrato. Eu não quero mais me casar com você por causa de um acordo. Eu quero ter você como namorada, como amor da minha vida. Eu quero casar com você de verdade. Eu quero que você seja minha esposa não só no papel, mas na vida. Eu quero a gente junto. Pra sempre, e não só por um ano e alguns meses.

_Tobias - eu disse, sorrindo um pouco - Eu quero ser a sua namorada, e dessa vez, de verdade. Eu quero que a gente esqueça esse acordo. Eu quero que a gente se case por conta do amor. Eu quero passar o resto da minha vida ao seu lado. Eu quero você pra mim. Pra sempre. Simples assim.

Eu queria dizer muito mais. Eu queria muito abraça-lo. Eu queria que ele entendesse tudo o que eu queria dizer e não conseguia encontrar palavras.

_Você me acharia louco, se eu dirigisse até a sua casa agora, só porque eu quero te ver? - ele perguntou, com um fundo de riso na voz. - Eu preciso de te ver, eu preciso te ter nos meus braços.

_Não. Não acharia - eu disse, sorrindo - É o que eu estou com vontade de fazer. Eu preciso te ver. Eu preciso insanamente de você. Agora. Eu realmente preciso de sentir seus braços, sentir seu cheiro. Eu preciso ouvir seu coração batendo próximo ao meu.

_Me espera. Daqui a pouco eu chego aí. Aí nós vamos para qualquer lugar, para passar o tempo juntos, e se esse tempo maluco permitir, quero assistir ao por do sol. Ao seu lado. - ele disse, e em seguida desligou o telefone.

Eu sorri mais ainda. Ele estava vindo. Eram quase três horas da manhã e eu me sentia mais acordada do que nunca. Eu não conseguia parar de sorrir. Eu mal acreditava que ele estava vindo.

O meu coração estava voltando a ficar aquecido, eu estava me sentindo mais aquecida, embora lá fora devesse estar frio. Troquei de roupa rapidamente, sem me importar muito com o que vestir. Tobias estava vindo, e tudo o que me importava era isso.

Dez minutos depois, meu celular tocou. Era ele. Sinal de que ele havia chegado. Sai correndo pela porta, só para pular nos braços dele e me sentir completa novamente. Ele me abraçou carinhosamente e eu afundei meu rosto em seu peito.

_Eu não via a hora de te sentir de novo - ele sussurrou no meu ouvido.

_Eu não via a hora de te ter de novo - eu respondi.

Nós selamos nossos lábios. Foi como se fosse nosso primeiro beijo. Pela primeira vez, era de verdade, era sincero. Não tinha nenhum pingo de fingimento, nenhum pingo de safadeza e nenhum sinal do antigo nós. O casal do acordo não existia mais. Agora, nós éramos um casal de verdade. Duas pessoas que tinham assumido que se gostavam, e que não viviam mais uma sem a outra. Duas pessoas que sabiam o quanto a distancia doía, mesmo que ela não fosse grande.

Tudo o que existia era nós dois de verdade, na íntegra. Tudo o que eu sabia era que ele era o homem da minha vida, e que era com ele que eu queria ficar. Era ao lado dele que eu queria estar daqui a cinquenta anos.

Pela primeira vez, eu sabia o que era o amor.