Tris

Quase uma semana havia se passado desde o jantar e o dia que eu havia dormido na casa de Tobias. Hoje era sexta feira. Durante a semana, nós havíamos sido destaques na mídia pela aparição surpresa no jantar beneficente, ninguém esperava que nós fossemos aparecer, já que Tobias claramente abominava esses eventos e nuca comparecia, e pela entrega do cheque, que todos nós sabíamos que nunca iria parar na mão de quem realmente precisava, se nós não tivéssemos nos metido.

Eu havia evitado sair de casa nessa semana. A imprensa estava louca por declarações desde quando nós assumimos o namoro, e essa semana, tinha ficado pior. Eu tinha visto alguns paparazzi de frente a minha casa algumas vezes. Todos queriam um pronunciamento sobre o nosso romance ou sobre qualquer outra coisa. Eu e Tobias tínhamos decido por manter a linha de relacionamento discreto, e manter silêncio.

Olhei meu celular para ver quantas horas eram. Nove, em ponto. Eu tinha marcado horário às dez, no salão, para fazer uma hidratação e cortar as pontas do cabelo. Essa semana tinha sido mais light pra mim, já que as fotos ainda estavam na gráfica, e os eventos de divulgação não tinham começado ainda.

Tomei um banho rápido e gelado, fiz minha higiene pessoal, troquei de roupa e peguei a chave do meu carro. Eu pararia no Starbucks para tomar café.

Quase cinquenta minutos depois, eu estacionava o carro. Era um dia bonito, e eu sabia que em breve, esse tempo passaria e começaria minha época do ano favorita, o Inverno. Era início de outubro, e o frio, a neve e o Natal não demorariam muito para chegar.

Me surpreendi ao descer do carro e ser cercada por alguns fotógrafos e repórteres. Eles falavam todos ao mesmo tempo, e eu não estava entendendo nada. Geralmente, esse tipo de contato não existia.

_Beatrice, um momento, por favor - um deles se colocou na minha frente, interceptando a minha passagem - Em qual pé anda a sua relação com Tobias?

_Eu prefiro não comentar - eu disse, dando um sorriso e tentando seguir meu caminho.

_É verdade que vocês estão de casamento marcado? - outro dele perguntou.

Escutei mais um monte de perguntas, sobre nosso relacionamento, sobre Tobias, se nós pensávamos em filhos, se era verdade que estávamos noivos, sobre alguma relação entre as empresas e coisas assim. Mantive a linha de quem não queria falar, pedi licença e tentei seguir meu caminho.

_Beatrice, minha querida - John, meu cabeleireiro de muitos anos, me saldou, assim que consegui passar pela porta - Que bom que sobreviveu a esse tumulto. Eles descobriram, não sei como, que você tinha horário marcado assim - ele fez cara de inocente, mas eu ainda desconfiava que ele era o responsável por isso.

_Não tem problemas - eu disse sorrindo, sem querer brigar. Ele me guiou até a cadeira e então começou a tratar dos meus cabelos. Peguei uma revista e comecei a folhear. Ela era de quase duas semanas atrás, e uma foto minha e de Tobias estampava a capa.

"A modelo Beatrice Prior e o empresário Tobias Eaton, assumiram, na última sexta-feira, o namoro. Tobias, para a surpresa de todos, apareceu no jantar para convidados especiais da família Prior, e os dois assumiram o namoro de mais ou menos dois meses.

Especula-se que privacidade foi o motivo para o namoro secreto, e segundo um amigo do casal, eles se gostam muito, e estão muito felizes. O amigo também diz que eles já pensam em casamento e em filhos.

Nenhum dos dois se pronunciou a respeito do relacionamento, e o casal não não aparece muito em público juntos, optando por uma relação discreta e que deixa todos curiosos."

Coloquei um sorriso no rosto. Era engraçado isso. Quanto mais a gente mantinha a discrição, mais as pessoas ficavam curiosas, mais se especulava e mais atenção a gente chamava.

Era quase meio dia quando deixei o salão. Me despedi de John e fui rapidamente até meu carro. Eu estava com fome. Parei para pensar onde eu almoçaria, quando uma ideia apareceu. Eu não estava muito longe da Eaton's Company. Mandei uma mensagem para Tobias.

Onde você está?

Na empresa, por quê?

Eu não respondi. Queria fazer uma surpresa e convidá-lo para almoçar. Eu provavelmente devia ter perguntado se ele podia, ou se não tinha um almoço de negócios, mas eu não ligava muito.

Minutos depois, eu parava o carro no estacionamento da empresa dele, e descia do carro rapidamente. Essa seria a primeira vez que eu entraria ali, e eu só esperava não me perder até chegar na sala dele. Não pegaria nada bem a namorada não saber chegar na sala do namorado.

Passei pela sinuosa porta de entrada. Era lindo lá dentro. Tudo em tons claros, tudo muito iluminado. Coloquei um sorriso no rosto. Algumas pessoas notaram a minha presença. Algumas desviaram o olhar e cochicharam com o colega. Outros continuaram a encarar.

Fui até o balcão de recepção.

_Posso ajudá-la? - uma moça novinha, de uns vinte e pouco anos me recepcionou, com um sorriso no rosto.

_Ah sim, claro. Eu vim convidar Tobias... digo, o senhor Eaton, para almoçar. - eu sorri pra ela, esperando que ela liberasse a minha passagem para dentro da empresa logo.

_Eu vou avisar a secre... - ela começou, mas eu interrompi.

_Não, não precisa. Quero fazer uma surpresa. Não avise. - eu disse, ainda sorrindo. Ela com certeza sabia quem eu era, ela não ousaria teimar.

_Hã... claro, pode entrar. - ela apertou o botão do elevador e liberou minha passagem. Entrei no elevador ainda sorrindo. O elevador parou no andar da sala de Tobias. Sai dele, e me dirigi a porta da sala.

_Com licença - uma voz feminina, vinda de trás de onde eu estava, chegou aos meus ouvidos - Não fui avisada da sua presença... você não está autorizada a entrar na sala do senhor Eaton - eu me virei para encarar a dona da voz.

_Eu pedi para não ser anunciada. - eu sorri para uma mulher de uns trinta anos. Ela pareceu me reconhecer, mas não parecia querer me deixar prosseguir. - Quero fazer uma surpresa para o meu namorado.

_Eu tenho ordens diretas do senhor Eaton para não deixar ninguém entrar na sala dele sem ser anunciado - era impressão minha ou ela disse isso com um tom de desdém e desafio na voz?

_Sabe de uma coisa? Enfia essas ordens na onde você quiser. Eu não ligo. Não preciso ser anunciada para entrar na sala do meu namorado - Eu esperava, do fundo do meu coração, que Tobias não se importasse.

_Você não está me entendendo... - ela começou a falar cinicamente.

_Acho que você não está me entendendo - eu retruquei, e então me virei de costas pra ela e segui em direção a porta.

Abri a porta rapidamente, fazendo com que Tobias desviasse o olhar de uns papéis, que estavam a sua frente, e olhasse pra mim.

_Surpresa! - eu disse sorrindo e adentrando a sala. Ele também sorriu e se levantou da cadeira.

_Senhor Eaton, mil perdões - a secretária apareceu na porta - Eu tentei impedi-la... avisar que ela estava aqui, mas a senhorita não me ouviu e...

Eu olhei de forma cinica pra ela. Ela estava tentando me jogar contra Tobias.

_Não tem problema, Cara - Tobias disse, enquanto me abraçava - Beatrice não precisa ser anunciada. Ele tem permissão para entrar ou sair quando bem entender.

A tal Cara murmurou uma desculpa e saiu da sala, enquanto eu dava um sorriso triunfante pra ela.

Assim que ela fechou a porta, eu encarei Tobias.

_Não gostei dela - eu falei, fazendo com que ele risse - E eu estou falando sério. Você não viu o tom de cinismo que ela usou pra falar comigo.

_Ciúmes? - ele perguntou, fazendo com que eu desfizesse a minha careta e desse um sorriso pra ele.

_Para de graça. Não gostei dela. Você tem mesmo que ter uma secretária mulher?

_Ela é eficiente - ele deu de ombros.

_Ela é cínica, debochada e eu não ligo se ela é eficiente ou não - eu disse, fazendo com que ele risse.

_Eu tenho certeza que você está com ciúmes.

_Não estou com ciúmes, eu só não gostei dela.

_Sei... - ele disse, se apoiando na mesa de madeira e piscando pra mim - Mas, ao que se deve sua ilustre presença?

_Você já almoçou? - eu perguntei.

_Ainda não.

_Bem, então vim te convidar para almoçar comigo.

_Convite aceito - ele disse sorrindo - E, antes que você reclame, eu notei que você cortou o cabelo. - Ele então mexeu no meu cabelo, dando uma leve bagunçada.

_Você é atento, eu não cortei muito. - eu disse, sorrindo.

_Ficou muito bonito - ele disse, enquanto pegava a minha mão e guiava para a porta.

Nós passamos pela empresa de mãos dadas, e fomos até meu carro. Ele disse que conhecia um bom restaurante.