Living In The Moment escrita por Sra Manu Schreave


Capítulo 16
Capitulo 16 - A Carta


Notas iniciais do capítulo

Olá, meus amores,
Como vocês estão hoje? Eu estou cansada, sim, muito cansada, os professores não dão uma folga. Argh! Bem, venho pedir que não me matem depois de lerem o capitulo, sim? E, caso alguém queira saber, It Will Rain do Bruno Mars me inspirou muito nesse capitulo. Vocês finalmente descobrirão 'quem é Katniss Everdeen'.
Espero que gostem!
Amo Vocês!



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Acordo sorridente, nunca acordei tão feliz. Juro ouvir os pássaros cantarem lá fora, e poder ver o céu azul, sem nuvens. Juro poder ver um dia sem arrependimentos ou tristezas. Eu consegui. Eu contei amar Katniss Everdeen, e amei-a por toda essa noite. A melhor noite de minha vida.

Tateio a cama ao meu lado, e não consigo senti-la. Tudo bem. Ela deve estar na cozinha, aposto que minha camisa está tão grande quanto um vestido em seu corpo, e que está fazendo um café da manhã para nós, e está tão feliz quanto eu. Talvez um pouco em dúvida, com medo, insegura sobre todo esse amor que direciono a ela, mas não importa. Tudo dará certo.

Abro os olhos levemente e posso ver minha camisa no chão, diferente do que esperava, e as roupas dela não estão por aqui. Viro-me na direção que ela dormiu, ainda posso sentir seu cheiro sob o travesseiro e ver alguns de seus fios loiros na cama. Decido me levantar para ir à busca da minha ‘estrela’, minha. Tiro o edredom levemente de mim, mas quando vou me levantar, vejo uma folha de papel no lugar que Kat dormiu. Pego-a.

Está dobrada ao meio, então, não posso ler o que está escrito por dentro, mas por fora, tem apenas uma frase. “Não é difícil lutar pelo que se deseja, difícil é desistir do que mais se quer” é o que está escrito com sua letra de forma apressada. Até a letra dela é única, até a letra dela grita ‘Katniss Everdeen’. Mas, nesse momento, penso apenas no motivo dela escrever isto, esta frase. Após uma noite como a nossa, eu esperaria de tudo, menos um papelzinho com uma frase sobre desistir.

Respiro fundo em busca de uma coragem que não encontrada e abro o papel.

“Prezado avestruz,

Me perdoe, por favor!

Não por estar indo embora, isto é de minha natureza, algo inevitável, mas por tudo de errado que fiz, por te iludir, por omitir tanta coisa, por omitir parte de quem sou e, principalmente, por ter ficado mais tempo do que geralmente fico, por ter ficado tempo o bastante para você se apaixonar.

Na realidade, eu nunca menti sobre quem sou, mas guardei muito de mim. Sempre quis que você conhecesse apenas ‘aquela’ Katniss, a garota confiante e controlada, corajosa e espontânea, aquela que sabia seguir em frente. Essa que escreve é uma covarde, é meu lado que ninguém jamais amará, é meu lado negro. Até por que, se pudessem me ver como eu me vejo, se pudessem viver nos meus pensamentos, será que alguém, qualquer pessoa, me amaria? Sei que todos possuem um lado negro, e o fato de eu também possuir um não deveria me moldar, mas minha escuridão é mais espessa, é mais profunda.

Juro-te que nunca menti, nunca fingi ser alguém que não sou, nunca contei uma falsa história sobre mim. Eu apenas fiz o que as pessoas fazem desde sempre. Contei a minha história segundo a minha própria forma, fiz como todos os heróis conhecidos, mostrei apenas um lado, o lado que me torna forte, poderosa, mostrei apenas o lado que as pessoas poderiam amar, e me tornei uma heroína. Sei que isto não torna nada menos horrível, mas não há volta, e eu demorei a perceber.

Eu vou contar toda a verdade, aquela que ninguém nunca conheceu – talvez nem mesmo eu –, mas primeiro quero deixar algo claro – algo que talvez me deixe mais leve, menos culpada. O que nessas circunstancias seria egoísmo, mas é isso que sou, uma egoísta.

Você não me ama! É tudo uma ilusão montada por seu cérebro, pessoas se atraem por heróis. Você ama ‘aquela’ Katniss, não a mim. Ela não sou eu.

Duvido que esteja entendendo algo, mas vou explicar tudo, desde o princípio, desde a primeira Katniss.

Lembra-se daquela garotinha que perdeu o pai e a irmã, sendo abandonada com uma mãe que estava chegando ao nível ‘problemas mentais’? Ela foi a primeira Katniss. Sabia que ela gostava de escrever e atuar? De criar personagens e coloca-los em pratica? Ela gostava, mas naquela época, no fim dos tempos felizes, aquilo não importava. Ela apenas estava tentando sobreviver, tinha ajuda de uma vizinha que era amiga de sua mãe, e recebia dinheiro do seguro de vida do seu pai e a indenização paga pela empresa de caminhões, que havia sido obrigada a pagar pela morte da irmã e do pai daquela garota, como se o dinheiro fosse traze-los de volta. Como se o dinheiro voltasse naquela noite natalina e apagasse todos os erros. Ela via a mãe se tornar uma louca, teve de aprender a controlar aquele dinheiro. Como uma criança pode sobreviver a isto? Eu não sei, mas ela sobreviveu, fisicamente, talvez as verdadeiras marcas estejam em seu psicológico. As marcas de um luto que não pode ser vivido, de uma perca grande demais para uma menina tão pequena, de ver o estado deplorável da mãe, de ter que aprender a ser responsável tão jovem, de ter de largar as bonecas e passar as calculadoras. As marcas ainda devem estar por aí, enlouquecendo a menina.

Apesar de tudo, aos poucos ela foi crescendo, foi avançando, e quando já estava com um pé na faculdade, o inesperado acontece... Sua mãe ‘ressuscita’. Isso deveria ser uma notícia boa, não? Mas, não era, assim que ela voltou a vida, passou a ser uma maníaca por trabalho, jogando tudo para cima da menina, que já não era tão menina mais, como se esta já não tivesse sofrido o bastante. “Fique com este dinheiro assassino. Esse dinheiro que tem o sangue de seu pai.” Foi o que ela disse. “Você deveria estar no carro naquele dia.”

Então, foi nesse ponto da história que a segunda Katniss veio. Katniss, a universitária. Tudo que importava para ela era finalizar aquela merda que havia começado por sua mãe, nada mais valia a pena, nem ninguém. Ela havia entrado na faculdade de psicologia com a esperança de conseguir a recuperação de sua mãe por conta própria, após muita pesquisa. Mas, de que adiantaria aquele diploma, aquelas informações, de que adiantaria toda aquela merda, se a última pessoa que importava havia se ido, da pior forma que alguém pode ir, nos abandonando antes de percebermos, nos decepcionando. A única coisa para que todas aquelas informações sobre como funciona o cérebro humano servia era enlouquece-la mais. Era faze-la se perguntar se sua mãe realmente queria que ela morresse. Então, se sentisse-se mal, viajava, afinal viajar sempre havia sido mais saudável que beber.

Quando se formou, a terceira Katniss apareceu. Ela vivia em Seattle, era fria e controladora, mas mesmo assim diversas pessoas se apegaram a ela, entretanto, ela nunca se apegou a ninguém, era a regra. Por que se apegar a alguém se elas sempre iram partir, nos abandonar, nos fazer sofrer? Se a maior fraqueza do ser humano é se apegar. Então, quando estava a um passo de querer se manter por perto daquelas pessoas, ela se foi.

Em Washington, veio a quarta. Ela era perfeccionista, cheia de padrões, e carregava o cheiro de perfeição. Mais uma vez, fugiu antes de se apegar. Sem deixar uma última carta ou um último abraço, apenas pessoas que se preocuparam e sentiram sua falta.

Em Las Vegas, foi a primeira vez que quis ficar em algum lugar permanentemente. Ela fez boas amizades. Havia aprendido a tatuar, a beber, a ouvir rock, e a jogar. Antes de ir embora fez uma tatuagem, Maktub. Está escrito. E se foi. Aliás, uma amizade que fez por lá foi uma garota incrível, Johanna, talvez este nome te lembre algo.

Em vários lugares a mesma coisa. Nova personalidade, fugas antes de sentimentalismo, sem cartas, sem e-mails, sem rastros.

Então, ela chegou a Chicago, os planos era ser.... Não se sabe, não havia nada definido. Até um cara bêbado aparecer na sala de seu novo apartamento. Ela tentou ser apenas mais uma personalidade inventada, mas você tirou o capuz que ela usava, tirou sua única máscara. Você teve uma Katniss que não possuía numeração. Foi o primeiro que chegou mais perto da verdadeira Katniss. E dessa vez, ela não fugiu antes de se apegar. Ela conheceu mais sentimentos de uma só vez que algumas pessoas conhecem durante toda a sua vida.

E agora, ela se vai, não para evitar ferir seus próprios sentimentos, mas para proteger os de outras pessoas. Sei que agora você deve achar que sou uma louca, talvez psicopata, cheia de personalidades desconhecidas. Mas, eu não sou isto. Eu sempre soube o que estava acontecendo, nunca deixei ‘algo’ me dominar. Eu sempre soube quem seria, e agora tenho certeza que serei a pessoa certa.

Abrace a todos por mim, diga que foram ótimos amigos, pessoas que mudaram minha vida – acreditem ou não. Diga que estou seguindo o caminho que sinto ser o certo. E que peço desculpas por todas as mentiras. Principalmente você, me perdoe se parti seu coração, essa nunca foi a intenção.

Quero deixar um último pedido, sei que sou indigna de algo assim, mas se você ainda acredita que sente algo por mim, eu te peço não se esqueça de mim, não me odeie, não olhe para trás e veja todos nossos momentos como uma farsa, todos nossos beijos como algo qualquer, nossa noite como se deitar com o desconhecido. Não foi isto. Nunca será. Todos os gritos de felicidade que dei ao seu lado foram verdadeiros, todas as palavras que pronunciei não foram uma farsa, todos os beijos que trocamos tiveram sentimentos, todo o carinho que demonstrei por você nesta noite foi verdadeiro. Não posso corresponder o que você disse. Não digo que te amo. Mas, digo que se por algum momento na vida, eu já tive certeza de algo, já tive vontade de algo, tinha haver com você. A minha certeza é que o que senti por você me transformou, e sei que por mais que duvide, não estou indo embora por mim, e sim por você, não estou contando a verdade por mim. Eu sei o que aconteceria se eu ficasse, nós teríamos mais momentos incríveis, você me amaria intensamente, de alma e corpo, seriamos um casal, a vida pareceria perfeita, até que algum dia tudo se desmoronasse. Como se desmoronaria, eu não sei, talvez encontrássemos alguém como encontramos Johanna, e você soubesse a verdade da pior forma possível. Se eu tenho vontade de algo, é de ficar, é de rasgar essa carta, me deitar novamente ao seu lado e ser quem você precise que eu seja, ser quem for necessário para estar ao seu lado.

Sei que assim que eu passar por aquela porta, não haverá mais luz do sol ou céu claro, todo dia vai chover. Todo dia vai chover como se fosse o fim, e eu precisarei de morfina para superar a dor, porque eu cheguei próxima de amar e deixei isto escapar. Cheguei perto de saber o que é a felicidade plena e a deixei ir. Afinal, na escuridão, você foi a minha única luz.

Por favor, nunca se esqueça... Viva sempre o momento!

Katniss Everdeen, a original."

Fico em choque ao ler isto. Não sei se sinto muito por ela, por mim ou nós. Eu ainda não acredito. Me sinto em choque. Ela não pode ter ido embora, ela não simplesmente deixar uma carta sob minha cama, no local que dormiu ao meu lado, no local que eu a amei, no local que tivemos nossa noite de amor. Ela não podia fazer isso. Ela não o fez, não o fez. Levanto-me, ainda em choque, passo as mãos no rosto, limpando as lágrimas derramadas, e corro em direção ao apartamento dela, pouco me importando se estou apenas de cueca, pouco me importando com nada.

Corro, corro como se fosse o fim do mundo. E, particularmente, para mim é. Entro no apartamento dela, aflito. Os sofás estão no lugar, é a primeira coisa que constato. Adentro o apartamento, passo a passo. Lento como se não estivesse correndo segundos atrás. Mas, este é um santuário, um santuário com coisas dela, com as escolhas dela, com as digitais dela e o cheiro dela. Percebo que todos os móveis estão no lugar, mas apenas os móveis. Seu guarda-roupa está frio, sua cozinha sem cor, suas estantes sem palavras e seu mural de fotos sem lembranças. Esse é um lugar sem graça. É o santuário dela, sem ela. É apenas um apartamento como qualquer outro, onde não se escuta o cantarolar alegre de minha estrela, onde não se vê fotos de coisas aleatórias ou uma viagem maluca. Ela se foi.

Deixo o apartamento dela, e sigo para o meu, que não é tão diferente do dela ou de mim. Tocado por Katniss Everdeen, com cheiro dela, leves detalhes feitos por ela, mas sem ela. Coisas simples e um cara tolo. Sento-me levemente em minha cama, sua carta ainda está sob ela. Sem aguentar mais, choro levemente, choro com coragem, choro com expressão, choro de verdade. Ela se foi. Ela veio, me mudou, me fez feliz e se foi.

— Você não pode fazer isso. Entrar na vida de uma pessoa, fazer com que ela se importe com você e ir embora. — murmuro para a carta, como se fosse um modo de fazer Kat escutar.

Respiro fundo, seco minhas lágrimas e pego meu celular.

— Não é por que levou outro fora, que pode me acordar. — Finnick já atende resmungando, após deixar chamar milhares de vezes.

— Eu tenho um código vermelho. —conto sutilmente, pouco me importando para as asneiras do Odair, apenas usando nosso antigo código para ele perceber a situação. Finnick fica calado por segundos, posso ouvir a voz de Annie.

— Quer vir aqui ou que vamos aí? — ele questiona sério.

— Eu prefiro ir aí. Tudo aqui cheira a ela, tem cara dela. Tudo aqui me faz pensar nela.

— Vou ligar para o Cato e Clove.

*****

Estamos todos nós aqui, os cinco. Sei que tirei os casais da cama, e atrapalhei possíveis sexos matinais, mas não me sinto mal. Na realidade, me sinto melhor estando com eles, sabendo que eles estão ao meu lado. Eles haviam acabado de ler a carta, e ninguém havia falado nada ainda.

— Isso é tão chato. — Cato tenta nos tirar do silêncio, mas no fim, esse comentário torna tudo apenas pior.

— Sabe o que é chato? — resmungo irritado. Não com ele, nem ninguém aqui, mas comigo. Comigo por ter me apaixonado por aquela garota. —Perceber que tudo que acreditamos é uma mentira. Isso é um saco!

Voltamos ao silêncio, me fazendo perceber que meu resmungo não ajudou em nada, apenas piorou a situação.

— Se você reencontra-la algum dia, a perdoaria? – Annie questiona tirando-nos do silêncio.

— Não sei, Ann... Nunca fui tão feliz quanto ontem, mas tenho certeza que nunca serei tão triste como hoje. – faço uma pausa pensativa, – E ninguém nunca consegue encontra-la mais uma vez, é como um mito, uma lenda.

— Aquela Johanna conseguiu. – Clove aponta.

— Katniss a encontrou, não Johanna que encontrou Katniss... – pontuo. – Além disso, mesmo se perdoasse, quem garante que ela não fugiria novamente? Quem garante que eu não iria viver para sempre dormindo com um olho aberto e outro fechado? — desabafo novamente.

Essa é a vida, cheia de ‘E, se?’. Isso é o que mais nos estraga, a imagem de como as coisas deveriam ser. ‘E, se?’. E, se eu nunca tivesse descoberto tantos segredos naquele dia? E, se Katniss não tivesse se mudado para Chicago ou para meu prédio? E, se?

— Agora tudo faz sentido. — sussurro, tentando camuflar a dor em minha voz. — Os segredos, o mistério, os sussurros com Johanna. Aliás, principalmente esses malditos sussurros. Até aquela maldita música ‘Livin’ La Vida Loca’ se encaixa na situação em geral agora.

— O que elas diziam, Johanna e Katniss, o que sussurravam? — Finn questiona.

— Johanna fava algo sobre ir embora, sobre alguma dor causada por Katniss, sobre a situação. Na hora, foi tudo um monte de palavras sem sentido, mas agora... Eu entendo tudo. Todas as palavras que aquela garota pronunciou. E, eu odeio isso.

— E, o que você vai fazer agora? — Annie questiona, após ficarmos em silencio pela décima vez.

— Eu não sei. Por um lado, eu quero esquece-la, por outro lado, eu sei que ela á a única pessoa neste mundo que vai me fazer feliz.


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Notas finais do capítulo

Gostaram? Espero que sim! Sofreram? Pois é! Acabaram os misterios sobre Kat, comentem sobre. Hahaha... Bem, espero as opiniões de vocês.
Se quiserem, favoritem, recomendem. Adoro quando recebo reviews, favoritos, recomendações, sério.
Bem, entrem no grupo do face: https://www.facebook.com/groups/655117534634266/
Beijos,
Manu Schreave