''Eu sei o seu segredo.''

Aquela frase não saía da cabeça de Bianca.

Ela não podia saber daquilo. Tanto tempo guardando aquilo a sete chaves,para justo a pessoa que ela mais odeia descobrir. Já era mais que injustiça.

Ela tinha seus motivos claros para odiar Priscila,ela sabia muito bem que a menina não fazia bem ao irmão. Desde que eles começaram a namorar,viu Pedro se mostrar mais agressivo e intolerante,não era mais o mesmo garoto alegre e brincalhão de todas as horas. E ainda tinham os novos hábitos.....Nem cantar direito – ainda que desafinasse -,coisa que ele amava fazer,cantava mais.

A morena queria mais que tudo ajuda-lo,mas não via mais como. Ainda que não visse mais saída,não iria desistir dele,isso nunca.

Desceu para pegar o copo d’água de Karina. Seria esse mesmo o nome dela? Perguntou mentalmente,enquanto enchia o copo de vidro. Mas outra coisa rondava sua mente: como ela viera parar no bairro? E assim,do nada?

Ela se virou para subir as escadas novamente,mas deu de cara com Duca a espiando.

– Ai,que susto garoto! Quer me matar,é?

– Só se for de amor..... – Ele disse,vendo a menina revirar os olhos. – Pode negar o quanto você quiser,mas eu sei que você gosta.

– Aham,tá. Vem cá,você viu o Pedro?

– Eu tava tirando um som lá fora com ele, - Duca viu os olhos da menina quase brilharem de tanta felicidade. Era bom para ela ver que o irmão voltara a dedilhar o amado violão. Mas o garoto não podia mentir,então teve que continuar a frase – mas a Priscila chegou lá e....

– Ela saiu com ele? – Bianca questionou,com raiva,e ele assentiu – faz muito tempo?

– Acho que não,eles devem estar lá fora ainda,por quê? Olha lá o que você v....

Ela não esperou o garoto terminar a frase,saiu em disparada,e assim como Duca tinha dito,os encontrou no portão de casa.

– Aonde você pensa que vai com ela,Pedro?!

– Vou sair com ela,maninha. Ela é minha namorada,esqueceu?

A morena sentiu o corpo estremecer com aquela frase.

– Nós fizemos as pazes. – Priscila sorriu para Bianca. Um sorriso de vitória. Pedro a abraçou de lado e beijou o topo da cabeça da menina. – Não é o máximo,Bi?

Ao ouvir a ironia transbordando na fala de Priscila,Bianca tentou,mas não conseguiu se conter.

– Eu vou te matar,garota! – E partiu pra cima garota,puxando a namorada do irmão pelos cabelos e marcando a menina com tapas.

Priscila não demorou a revidar,mas não conseguiu seu objetivo. Pedro conteve a namorada,enquanto Duca segurava Bianca.

– Me solta,Duca! Me solta,eu vou acabar com ela! – Bianca gritava,se contendo para não chorar na frente da ''cunhada''.

– Cê ficou louca,Bianca? – Gritou Pedro,assustado com a reação da irmã. Nunca a tinha visto tão descontrolada,nem quando perdia um papel importante nas peças escolares.

Priscila,por sua vez,sentia o peso das mãos de Bianca arderem em sua pele. O que mais queria era voar em cima da irmã de Pedro e colocá-la em seu lugar. Mas não podia,e por duas razões: primeiro,porque era muito melhor,naquela hora,se fazer de vítima.

– Cê tá bem,Pri? – Ouviu Pedro perguntar. Era hora de seu teatro começar.

– Não,Pê. Tá tudo doendo. – Choramingou,sendo amparada pelo garoto.

– Vamos embora daqui. – Ele disse,fuzilando a irmã,que era abraçada por Duca e olhava a cena com desprezo,mas principalmente tristeza.

A segunda razão era simples: se tinha algo melhor que descontar a rua raiva em Bianca,era provocá – la. Se um jeito ou de outro,ela precisava saber quem é que estava no comando da situação.

– Espera um minuto,Pedro. Eu quero dizer uma coisa pra ela. – Ela se soltou do abraço,se virando para Bianca. – Eu quero dizer que eu te entendo. Eu sei como é não conseguir controlar os impulsos....

Os olhos de Bianca se arregalaram com a última palavra. Ela não podia revelar o seu segredo,não ali e naquele momento,com Duca e principalmente seu irmão por perto. Ele jamais a perdoaria.

– Mas eu sei que você vai conseguir controlar a sua raiva. Tenho certeza que você vai ser uma pessoa melhor se conseguir.

Pedro,que aproveitou o ‘’discurso’’ da namorada para falar ao telefone,agora estava de volta.

– Vamos embora,Pri. Já ligaram pra gente,estão....

– Espera,eu ainda não acabei....

– Eu falei agora! – Bianca viu o irmão puxar o braço da menina com força para si,a levando para o carro.

– Pedro.... – tentou mais uma vez,em vão.

– Vem Bi,vamos entrar.

Agora,já dentro de casa,Bianca tentava se acalmar. Toda a sua tristeza dava lugar a raiva. Raiva da cegueira do irmão,de Priscila e de tudo.

– Eu não acredito que ela fez de novo!

Duca se sentou ao lado da menina e lhe deu um copo de água com açúcar.

– Bebe,vai te fazer bem.

E ela assim fez. Ainda que ver Bianca mais calma também lhe acalmasse,uma coisa ainda não lhe saía da cabeça.

– Bi....O que foi aquilo lá fora?

– Que pergunta é essa,Du? – Ela estremeceu com a pergunta,rezava que ele não se referisse a fala de Priscila. – Você tava comigo,viu o que aconteceu! Ela...

– Você sabe que eu não tô falando disso,Bianca. – Ele cortou a menina,e então ela soube que estava certa. – O que ela quis dizer com ''controlar os impulsos’’?

Ela se levantou da mesa e agora estava de costas para ele. Não ia aguentar sustentar seu olhar enquanto mentia para o neto de Dalva.

– Ai Duca,sei lá! Essa menina é maluca,não fala nada que preste...

Duca agora também estava de pé,com os braços cruzados rente ao corpo.

– Tem certeza,Bianca? Porquê eu não acho que seja só jogo dela.

Não vendo mais saída,Bianca incorporou seu lado artístico e voltou a pousar seu olhar sobre Duca novamente,que ainda esperava uma resposta.

– Sabe o que eu acho? – Indagou,se aproximando dele. – Que você tá preocupado demais com essa garota,quando eu tô aqui precisando de você....

Antes que Bianca pudesse terminar a frase,Duca já a envolvia,puxando a garota mais para si.

– Então quer dizer que a princesinha da Ribalta precisa de mim? – Perguntou Duca,um meio sorriso brincando em seu rosto.

Não esperou resposta,ele não precisava de uma. Colou sua boca na dela,iniciando um beijo como se não houvesse amanhã.

Depois de se despedirem de seus novos vizinhos, - Bianca ainda intrigada da história sobre a asa delta - a–morena se escontrava preocupada novamente com o irmão,que ainda não tinha voltado para casa.

– Mais de meia noite e ele ainda não voltou..... – ela voltou a olhar no relógio de parede,enquanto Duca comia pipoca no sofá. – Quê que eu faço,Du?

– Volta pro sofá,Bianquinha. Daqui a pouco ele tá de volta,cê vai ver.

Estavam assistindo a um filme na tv,enquanto o garoto não chegava. Duca queria um filme de terror,mas acabou cedendo e vendo alguma comédia romântica com a menina.

Ah,o que ele não fazia por ela....

– Você me falou isso a uma hora atrás,e até agora nada. – Ainda relutante,voltou para o sofá. – Ele não chega e não dá notícias,meus pais não vão aparecer por aqui tão cedo,e eu...

– Peraí,deixa eu ver se eu entendi. – Ouviu Duca dizer,juntando sua mão com a dele. – Você não quer ficar sozinha,é isso?

Bianca sentiu o rosto arder quando viu ele chegar a conclusão que estava em sua mente.

– Erm.....É isso sim Duca.

– E quem disse que eu vou deixar você sozinha,Bi?

Duca sorria com zelo para ela,o que deixou a garota,que sabia ser tímida quando queria,ficar ainda mais vermelha.

– Não precisa fazer isso.

– Precisa sim. Eu quero fazer isso,você deixa?

Ela assentiu,se aproximando do garoto no sofá e pegando algumas pipocas.

– Agora bora ver o filme que eu quero saber o final. Vai,aperta o play.

– X –

Pedro dirigia a alta velocidade,sentia a adrenalina tomar conta de seu corpo. Sua cabeça ainda tomada pelos últimos acontecimentos.

A briga entre a irmã e a namorada não o assustava tanto. Sabia que as duas não se suportavam,mas tentava contornar a situação. Porém,nunca tinha visto a irmã tão agressiva. Agredir sua namorada dele já era passar dos limites,conversaria com ela depois.

Enquanto as duas discutiam,Pedro recebeu uma ligação que o irritara em cheio. ‘’Qual é moleque,vai amarelar?’’,foi o que ouviu no telefone. Não demorou para o sangue lhe subir a cabeça e ele perder a paciência com a namorada,a jogando no banco ao lado do seu e dando partida.

– Ficou maluco,Pedro?! – Gritou Priscila,massageando o braço que agora tinha a perfeita marca dos dedos do guitarrista. – Isso é jeito de me tratar,seu babaca?

Ela agora extravasava sua raiva desferindo tapas em Pedro. Ele parou o carro numa esquina qualquer e a segurou.

– Chega,Priscila! – Bradou Pedro,socando o volante. – Eu tô cansado dessa sua implicância com a minha irmã,já tá dando no saco tudo isso.

– Você sabe muito bem que é a sua irmãzinha que implica comigo! Não sei porquê,nunca fiz nada pra aquela...

– Olha lá o que você vai dizer! – Pedro estava a ponto de perder a cabeça com a namorada. Para Priscila,o único defeito dele era amar a irmã,defendo-na sempre em detrimento dela. Bufou,se dando por vencida.

– Ok,ok. Desculpa. Mas fala aí,tá nervoso por quê? Eu vi quando você atendeu o celular hoje,antes de sair.

– Aquele babaca do Cobra ligou,tirando uma com a minha cara.

– Era só mandar ele ir se foder e pronto! Cê se estressa muito fácil também. – Ela se aproximou mais dele e sussurrou: - Eu sei que você vai conseguir,então relaxa,ok?

Ele tentou se aproximar para beijá-la,mas ela se afastou e voltou a sentar no banco.

– Depois,agora liga essa merda de carro porque já estamos atrasados.

Agora,horas mais tarde,ele voltava pra casa. Um sorriso nos lábios mostrava que ele,assim como Priscila havia dito,ganhara mais uma. Ele era bom no que fazia e sabia disso.

Pensou em acender um cigarro enquanto voltava pra casa,mas sabia que a irmã o esperaria acordada e como não queria mais problemas com ela,desistiu.

Estava bêbado e fora de si,não conseguia enxergar nada a sua frente – pelo menos não com nitidez -,mas jurou ouvir uma voz chamando por ele.

– Pedro?