Uma semana se passou desde o dia na roda gigante com Pedro.

Saí de casa com João e fui até a deles,tocando a campainha. Percebi que ninguém atendeu e chequei a porta,que estava aberta.

– Bi? – chamei,quando não vi ninguém no primeiro andar.

– Tô indo,Ka! – Bianca gritou do andar de cima.

Sentei no sofá pra esperá-la,e vi um vaso de flor numa mesinha ao lado. A flor estava meio murcha,como se estivesse esperando por água há dias. Uma ideia passou pela minha cabeça,e eu não pude ignorar.

Me levantei e fui até ela.

– Karina,eu sei o que você quer fazer.... – começou João,mas eu o cortei.

– Relaxa,maninho. Vai dar tudo certo!

Fechei os olhos e me concentrei.

– Vamos lá,Karina,você consegue. – Disse pra mim,mentalizando a flor num melhor estado.

Quando abri os olhos,lá estava ela. Agora a flor abria as pétalas e chamava a atenção por sua beleza. Sorri abertamente com a cena. Pra quem não tinha se dado bem na primeira missão com as flores,eu tinha me saído muito bem.

– Eu. Não. Acredito. – Pasmou João tanto quanto eu. – Você conseguiu! – Eu sorri boba e o abracei.

– Espera só até a Fira ver isso.... – disse em alto e bom som,chamando a atenção de duas pessoas que desciam as escadas.

– Quem é Fira? – Bianca perguntou,assim que chegou ao primeiro andar,acompanhada de Duca.

– Ahn...Eu disse Fira? – Congelei aonde estava. Olhei para João,na esperança que ele me tirasse dessa.

– Disse sim. E vamos combinar que é um nome bem estranho. – Duca riu,e eu tentei acompanhar,nervosa.

– Na verdade ela quis dizer Sa...Fira. Safira,né não K? – Indagou João,e eu só fiz concordar.

Aproveitei a deixa e resolvi deixar as coisas mais esclarecidas,descrevendo a minha mais nova parente.

– Safira é uma tia chata e rabugenta que mora no interior de Minas. – Duca e Bianca me ouviam com atenção,enquanto João só faltava me tirar dali a força. – Ela não gosta muito de mim,sabe? Eu não tenho culpa se ela implica comigo....

– Mas porquê justo Safira? É um nome bem incomum.... – Bianca perguntou. Eu estava pronta pra responder,mas João passou na minha frente.

– É tradição de família. Todas as mulheres por parte da nossa mãe tem nome de pedra preciosa. Tem a tia Safira,a tia Esmeralda,a tia Cristal...

– Eu adoro a tia Pérola. – Continuei a história,tentando não rir da cara de desespero e alívio do João quando viu que os dois acreditaram em tudo que acabamos de falar.

– Nossa,que tradição diferente,né Du? – Ele assentiu,tão surpreso quanto ela. – E o da sua mãe,qual é?

Bianca e suas perguntas surpresa. Respirei fundo e João respondeu:

– Ahn,a tradição parou quando a nossa mãe nasceu. Acho que enjoaram...

– Ou não tinham mais nomes pra colocar.... – retruquei,e os dois riram. – O nome da nossa mãe é Ana mesmo.

– É um lindo nome. – Bianca respondeu.

– Mas você tem sorte de a tradição ter parado na sua mãe,K. – Duca disse,e eu o encarei sem entender. – Já pensou que o seu nome podia ser outro? A sua mãe podia te chamar de Quartzo,de Hematita,de Rodonita....

Gargalhei alto com aquela possibilidade.

– Vem cá,desde quando você sabe tanto sobre pedras preciosas,hein Du? – Bianca perguntou.

– Eu sou muito culto. Você já devia saber disso,Bianquinha..... – Vangloriou-se.

– Sei,e esse celular aí na sua mão não tem nada a ver com isso,né? – Ela indagou,e nós gargalhamos.

– Poxa Bi,assim você magoa os meus sentimentos. – Duca fez bico que nem uma criança,e Bianca tratou logo de enchê-lo de beijos.

– Rodonita.....esse último aí ia ficar ótimo em você,maninha. – João apertou minhas bochechas.

Apesar de estarmos nos divertindo,senti falta de um certo alguém ali. E ele pareceu ouvir meus pensamentos,pois desceu as escadas e nos encontrou na sala.

– Cê tá brincando,né? Com esse olho azul,o nome dela só poderia ser diamante,isso sim. – Pedro argumentou,chamando a atenção de todos nós,mas principalmente a minha.

– Você acha mesmo,Pê? – Perguntei meio sem graça com o elogio,e vi ele assentir,sentando do meu lado no sofá.

– Não tá muito cedo pra bela adormecida acordar não? – Duca zombou.

– Verdade,cê só costuma acordar depois do meio dia no sábado... – Foi a vez de Bianca estranhar.

Ele revirou os olhos e se levantou,me puxando junto.

– Ô Duca,vai contar os grãos dos seus sacos de areia e me deixa em paz. – Disse Pedro,brincalhão. – E Bianca,vai cuidar do seu lutador,que eu e a Ka temos coisa melhor pra fazer.

– E pra aonde é que vocês vão,hein? – Ouvi João perguntar,mais especificamente pra mim.

Expliquei pra ele que hoje o colégio promoveria uma lavagem de carros com os alunos,para arrecadar dinheiro para a formatura.

Ele saiu comigo em direção a porta,mas eu o parei.

– Espera,Pedro. – Paramos no meio da sala,sob o olhar curioso de todos,principalmente de João. – Será que a gente não pode levar eles junto?

– Cê não tá falando sério,tá? – Choramingou,olhando para a expressão animada de Duca para vir conosco.

– Tô sim. – Sorri de volta.

– Opa,eu topo!

– Eu também! – Bianca respondeu,e João assentiu,com cara de ‘''livre e espontânea obrigação.'' – Eu até queria ir,mas você nunca anima,tinha até desistido... – Bianca dizia mais para si,com os olhos focados em mim.

Pedro olhou para eles e depois pousou seu olhar em mim.

– Quê que você não me pede chorando que eu não faço rindo? Bora lá,cambada.

– X –

Quando decidi ajudar Pedro,estabeleci algumas regras,a qual ele jurou solenemente seguir. A primeira delas era: fugir do ócio – a não ser que fosse produtivo.

Ele tinha aulas a tarde na Ribalta três vezes na semana,e quando não tinha,ia pra lá para ensaiar com a banda. Os fins de semana eram livres,então combinamos de fazer alguma coisa juntos nesses dias,para que ele não ficasse tentado a fazer o que não deve.

Não demorou para chegarmos até o colégio,que estava cheio de carros e de alunos em volta.

– Atenção pessoal,é pra molhar os carros,e não os coleguinhas,ouviram? – Edgar gritou no megafone,como se fosse adiantar alguma coisa.

A regra era meninas para um lado e meninos para o outro. Duca e Pedro foram para um lado enquanto eu segui por outro com Bianca.

Muitos carros lavados depois,Duca resolveu tirar a camisa,fazendo a vontade de muitas meninas da Ribalta e sob o olhar torto de Bianca.

– Que cara é essa,hein Bi? – Duca se aproximou,puxando a menina para si.

– E você ainda pergunta lutador? – Bradou,e Duca só fez rir. – Olha esse tanto de garota,tudo te olhand.....você tá rindo?!

Bianca começou a distribuir socos no peito de Duca,mas ele a segurou.

– Vam cá,isso tudo é ciúmes,é Bianquinha? – Sorriu maroto para a menina brava. – Não precisa,cê sabe que eu só tenho olhos pra você....

– Só os olhos? – Sussurrou próxima a ele. – Me solta que eu tenho que voltar.

– E se eu não quiser? – Bianca ia responder,mas Duca foi mais rápido e calou sua boca com um beijo.

– Karina! – Chamou uma das meninas,que ela reconheceu ser Fabi. – Pega mais um balde pra mim?

Ela assentiu e foi atrás do que a morena pediu. Entregou o balde a ela e quando voltou a postos,encontrou justo quem não queria ver ali.

– Você? – Indagou a loira,ao ver Priscila ali.

A ex namorada de Pedro fizera questão de tornar sua vida e a do ex um legítimo inferno aquela semana. Ela tentara por diversas vezes tentar algum diálogo,mas ele fora sempre ríspido,saindo de perto e muitas vezes a levando junto dele.

Juntou todas as suas forças para que conseguisse se manter calma,ainda que fazer cair um raio cair na cabeça dela não fosse lá uma má ideia.

– Veio ajudar nossa equipe? Isso é bom,a Bianca sumiu e....

– Mas você é muito sonsa mesmo,né? – Priscila soltou.

– Desculpa,não entendi. – Ignorei a ofensa,e ela riu,sarcástica.

– Então deixa que eu explico: você se fez de amiga dele e daquela irmãzinha que se acha atriz,e quando teve a oportunidade ROUBOU O PEDRO DE MIM! – Agora ela gritava,chamando a atenção de todos ali.

Eu não ia ouvir aquilo calada,quando dei por mim já respondia as provocações dela.

– Eu não tenho nada a ver com o término de vocês! Se ele te deu um fora,foi porque quis! – Ouvi todos gritando,uns concordando,mas a maioria porque queria atiçar aquela discussão.

– Isso é o que ele quer que esses idiotas pensem! Foi só ele terminar comigo pra sair da festa com você. – Alguns murmúrios sobre o ocorrido começaram,como se quisessem dar alguma razão a ela. – Mas isso não vai ficar assim....

Ela estava pronta para avançar pra cima de mim com toda sua raiva,mas alguém a impediu.

– O que tá acontecendo aqui?! – Pedro gritou,segurando o pulso de Priscila. Ela emudeceu com a aproximação brusca dele. – Eu perguntei O QUE ESTÁ ACONTECENDO AQUI,PRISCILA. E eu acho bom você começar a responder.

Não podia ver o olhar de Pedro,mas sabia que seus olhos faiscavam raiva. Duca,Bianca e João conseguiram se aproximar de mim,e ela me abraçou.

– Ped-dro,eu....eu s-só tava.... – ela gaguejava sob o olhar intimidador do ex namorado. – Ah Pedro,ela te roubou de mim! Você terminou comigo por causa dela....

Ele riu irônico,sem deixar a raiva de lado.

– É isso o que você acha? – O número de pessoas só aumentava,alguns filmavam. – Pois eu vou te dizer porque terminei contigo: eu vi você,se atracando com o Cobra,no dia da festa. – Viu a menina palidecer diante da afirmação.

– V-você...foi tudo um mal entendido,você entendeu errado. – Ela ria nervosa.

– O único erro que eu cometi foi ter me deixado envolver por você.... – disse Pedro,com desprezo. Tanto pelo namoro,quanto pelo vício por drogas,e ela pareceu entender aquele duplo sentido.

– Ah,claro. Por quê eu fiz tudo sozinha,né Pedro? – Ironizou ela. – Não se faz de santo,porque você não é. Se você fez o que fez,foi porque também queria. Eu não te obriguei a nada! – Gritou,tentando avançar pra cima dele,sendo contida por dois alunos da Ribalta.

– E eu aposto que a sua irmãzinha nem sabe disso,não é Pedro? – Ela ria,descontrolada,vendo os papéis se inverterem. – Pelo o seu silêncio eu posso apostar que não. Mas eu vou adorar contar....

Vi Pedro tentar partir pra cima dela,mas segurei seu braço,antes que ele fizesse algo que se arrependesse depois – ou que pudesse prejudicá-lo.

– Ei,não vai na dela. Fica calmo. – sussurrei pra ele quando nossos olhares se cruzaram. Ele pareceu entender e assim fez,respirando fundo.

– Eu errei sim,e admito. Mas uma pessoa me disse uma vez que nunca é tarde pra começar de novo. - Ele olhou pra mim rapidamente. - Eu resolvi recomeçar tirando o que não presta da minha vida,e adivinha quem estava no topo da lista? – Sua respiração estava entrecortada,sua pulsação acelerada. Eu não duvidava estar do mesmo jeito.

– Mas o que está havendo aqui?! – Edgar e Lucrécia apareceram em meio a multidão,um pouco tarde demais. – Todos circulando,ainda temos muito trabalho!

Edgar berrava ao megafone,mas Pedro ainda tinha o olhar fixo em Priscila,que se preparava para sair de lá.

– E não que seja da sua conta,mas pra sua informação,Priranha, eu não tenho nada com a Karina. Mas não descarto essa possibilidade,e quer saber por quê? – Ele se aproximou a passos largos,erguendo o rosto dela a altura do dele. – Porque ela é muito,mas muito melhor do que você.

Ela se soltou dele com brutalidade,saindo de perto. Duca,Bianca,João e eu nos aproximamos dele,que agora tinha o olhar perdido.

– Como você tá,maninho? – Bianca perguntou,mas ele não respondeu. Apenas balançou a cabeça em sinal negativo.

Senti meu coração apertar com o estado dele. Aquilo não ia ficar assim.

– Acho melhor a gente ir embora,isso aqui já deu. – Duca disse,e todos concordaram.

– Espera só um minutinho? Eu preciso fazer uma coisa antes.

– Karina.... – João tentou dizer alguma coisa,mas eu o cortei.

– Eu já volto.

Peguei o que precisava ao longo do caminho e procurei meu alvo. Quando eu achei,não pensei duas vezes e fiz o que tinha vontade desde que ela se aproximou de mim.

– Priscila? – Ela se virou pra mim. – Presentinho pra você. – E taquei um balde de água suja em cima dela,sob o olhar espantado de todos,risadas de Duca e um meio sorriso de Pedro.

– Pronto,agora sim podemos ir.

– X –

Passamos o caminho inteiro fazendo piadas com o balde d’água que derrubei em Priscila,Duca imitando a voz dela e Bianca reclamando e comemorando ao mesmo tempo pelo término – ''como assim você termina com ela e não me conta???'',foi o que ela disse .

– É sério,Pedro! Justo eu,que sou presidente do fã clube ''Cai Fora Priranha!'',e você esconde isso de mim? – Agora ele já estava melhor,ria junto com a gente e participava da conversa.

Ele estava no banco de trás comigo e com João,enquanto Duca dirigia e Bianca estava no banco do passageiro.

– Eu não escondi nada,eu só...omiti alguns detalhes,nada demais. – Desdenhou,para irritar a irmã.

– Você não acha que o nome desse fã clube tá muito simples não,Bi? – Opinou Duca,e logo todos nós estávamos pensando em novos nomes,afinal,todos éramos integrantes do grupo.

– Fora Priscila. – João sugeriu.

– Volta Pro Mar Priranha – Disse,entre risos.

– Ah,já sei! – Bianca exclamou,quase dando pulinhos de felicidade. – ''Pedro Dá Logo Um Pé Nessa Priscila Porque Eu Mereço Uma Cunhada Melhor'' – Disse,olhando pra mim no fim da frase.

– Essa é perfeita! Fechou,é essa! – Duca disse,e todos rimos.

Quando chegamos,desci do carro,mas Pedro me impediu de ir pra casa,me puxando pra perto dele.

– Como você tá? – perguntou,um braço envolvia minha cintura e o outro tirava uma mecha de cabelo do meu rosto.

– Isso é sério? - Eu sorri fraco para ele. – Ela faz aquele escândalo todo,te expõe de todas as formas e você me pergunta se eu tô bem?

Ele me olhava com zelo,e entendi seu silêncio como se esperasse minha resposta.

– Eu tô bem sim,ela não teve tempo de fazer nada comigo...

– Já você não pode dizer o mesmo,né? – Riu pra mim,fazendo meu coração acelerar. – Eu adorei o balde que você jogou nela.

– Que bom,porque ela mereceu! – Disse convicta,e ele concordou. – Mas e você,hein? Como está?

Ele nada respondeu,apenas diminuiu nossa distância. Podia ver o quanto ele queria aquilo. Ele roçou seus lábios nos meus e eu fechei os olhos,me entregando aquela nova sensação.

– Pedro! – Bianca gritou,e pude ver que João estava com ela. – Entra logo! – Ela pediu,como se ansiasse algo.

Me afastei de imediato e ele me olhou um pouco confuso com a minha reação.

– Claro,Bianca. Eu não ia fazer nada mesmo,né? – Fuzilou a irmã com o olhar,e ela sussurrou um pedido de desculpas. – Vem,K.

Desviei o olhar de João,murmurando que depois conversávamos sobre o que viu.

Entramos e vi uma mulher e um homem,sentados no sofá ao lado de Bianca,que a abraçava. Deduzi quem eram quando ouvi Pedro dizer:

– Mãe? Pai?