Pov Malina

Novo dia. Novo treino.

Quando chegamos ao parque, decidimos logo ver como estavam os saltos de nós os três, tendo que chegar até uma fita rosa que o Endou quase se matou a colocar, e a aterragem.

O Shourinji estava sentado nas escadas da Torra Inazuma, vendo se conseguimos saltar o suficientemente alto para chegar à fita, segurava duas bandeiras, uma com um circulo e outra com uma cruz.

O resultado é que... Enfim, não estava a ser o melhor.

O Goenji conseguia sempre fazer o pontapé de bicicleta na perfeição e chegar até à fita sem qualquer problema, o Kabeyama, era de esperar que tivesse alguns problemas, mas, felizmente, já conseguiu chegar uma vez à fita, enquanto eu, continuo com problemas na aterragem. Faço bem o pontapé de bicicleta e ganho um circulo sem problemas, até minha sincronização com o Goenji está excelente, mas ainda não descobrimos um método para eu não cair ou para ele me agarrar sem nos magoarmos um ao outro.

—Hum... O Kabeyama e a Malina tem alguns problemas na aterragem.

—Não me digas...- murmurei, massajando o traseiro, que já estava dorido.

—Mas acho que de altura já é bastante! Vocês os dois estão sincronizados, agora vamos ver que tal se combinam os três.

—Vamos lá fazer o INAZUMA OTOSHI.

—Si-Sim... Claro.- O Kabeyama não parecia muito entusiasmado.

—Malina?

—Sim...- e eu muito menos.

Todos se reuniram para ver a finalização da técnica, parando o seu treino.

Nós os três posicionamo-nos e logo a seguir, saltamos os três juntos. Foi então que vi o Kabeyama virar a cabeça para baixo, dando apenas para eu e o Goenji pormos os pés em cima da cabeça e ombros dele, apesar da inicial ser nos ombros, o que nos fez desequilibrar e começar a cair. Antes de chegar ao chão, o Goenji tentou novamente ajudar-me puxando-me pelo braço o que me magoou um pouco no ombro.

—Estás bem?- e ajudou-me a levantar.

—Sim, mas...- ri-me- Acho que este método também não vai servir.- E sorriu de volta, antes de olharmos para o Kabeyama ainda sentado no chão e a tremer- O que se passa, Kabeyama?

—O que se passou? Ia tudo tão bem.

—É... É que... Tenho medo das alturas... Tenho vertigens.

Nem podia acreditar...

—Podias ter dito isso antes, homem.

—Claro, começaste a tremer e fechaste os olhos, por isso perdeste o equilíbrio quando nos apoiamos nos teus ombros.

—Então essa deve ser a razão de não conseguires aterrar como deve ser.- Estava de acordo com o Mamoru. Ele não conseguia evitar olhar para baixo e com o medo, era normal aquilo acontecer.

—Mas se não olhares para baixo não terás nenhum problema. Só tens que fixar o olhar no Goenji e na Malina.

—Sim! Boa ideia, Aki!- talvez assim resultasse- Vamos tentar outra vez?- e ambos assentiram.

O Mamoru deu um pontapé para a bola ir bem alto e voltamos a saltar. Mas o resultado foi o mesmo. O Kabeyama voltou a olhar para baixo, desequilibrar-se e eu e o Goenji caímos. Desta vez ele tentou agarra-me por baixo de ambos os braços mas ainda assim sentei-me bruscamente no chão.

—Au...- foi a única coisa que me saiu.

—Desculpa.- Levantei rapidamente a cabeça, sentindo-me corar.

—Nã... Não tens que pedir desculpa.- E voltei a levantar-me com a ajuda dele, voltando-me para o nosso companheiro- O que se passou, Kabeyama?- ele ainda continuava a tremer

—Estava a pensar em olhar só para o Goenji e a Malina, só para eles, mas de repente deu-me para olhar para o chão.

—Tal como estão as coisas, conseguirão estar prontos até ao próximo partido?- assim que ouvimos aquela voz, todos olhamos para junto de uma das várias árvores, vendo a Natsumi encostada a ela, de braços cruzados e sorriso nos lábios- Tive o trabalho de encontrar o caderno secreto e parece que não serviu para nada.

—O que é que disseste?- assim que o Someoka ia começar a refilar, o Mamoru pôs a mão à sua frente para o parar.

—Diz o que quiseres, mas eu sei que eles conseguiram fazer o INAZUMA OTOSHI. Sei disso porque confio neles e no final, ganharemos o jogo!

—Muito bem. Então, veremo-nos lá.- Voltou-nos as costas e foi-se embora.

—Capitão, tudo bem que confies tanto em mim, mas...

—Não te preocupes, Kabeyama.- Foi a minha vez de intervir- O Mamoru tem razão. Nós vamos conseguir! Mas primeiro temos que te treinar para que não tenhas medo das alturas!

Começamos imediatamente a pensar no que fazer! Tínhamos que começar a ajudar o Kabeyama a partir de alturas baixas e ir subindo gradualmente o nível conforme ele fosse aceitando bem as alturas a estava inicialmente.

Para começar, o Mamoru decidiu coloca-lo em cima da prancha de salto da equipe de natação, mas... Eu não tinha assim tanto a certeza que a altura fosse baixa o suficiente para ele não se assustar.

—Está bem. Podes tirar o lenço.- Assim que o tirou aconteceu aquilo que eu esperava... Assustou-se- Vamos começar desde a altar dos principiantes.

A Aki teve que ficar a pedir desculpa aos membros do clube de natação enquanto eu me preocupava em ver se corria tudo bem.

—Mamoru, tens a certeza que isto é boa ideia? Parece muito alto.

—Claro que não!- suspirei.

Nesse instante, só tive tempo de ver o Kabeyama escorregar e cair à água, molhando-me a mim e ao meu primo.

—Assim não. O próximo.- E espirrei.

Após nos secarmos, fomos até ao parque infantil tentar desde o cimo do escorrega.

—Mas... Kabeyama...- murmurei.

Nas grades de escalada.

—Assim é difícil.

Até que decidimos ir até ao clube pedir ajuda aos rapazes, e o Megane teve a ideia de empilhar latas de metal para o Kabeyama se colocar em cima.

—Oitenta centímetros certinhos!

—Muito bem! A seguir será um metro.- Ou pelo menos era o que eu esperava.

—Kabeyama com valor, espírito e vontade podemos superar todos os problemas, e isso tu tens de sobra.

—Se fosse assim estarias a tirar as melhores notas do colégio, Mamoru.- Ri-me ao ver a careta que o meu primo fez.

—Se esta técnica não venceremos o Wild, por isso Kabeyama, a equipe inteira depende de ti.- O Kazemaru tinha razão.

—Dizer isso é fácil...- comentou o defesa.

—Não permitirei que sejas o único a ter o trabalho todo.

—Capitão...

—Se o rival é forte então temos que ser ainda mais forte.

—Claro! Nós também nos vamos submeter a treinos especiais para melhorarmos!

—Sim!- gritaram todos após as minhas palavras.

—Então vou tentar esforçar-me um pouco mais, rapazes.- Mas assim que disse aquilo, as latas amolgaram-se e ele caiu para o chão, fazendo-nos a todos suspirar.

Entretanto decidimos que era o hora de treinar e fomos todos até ao campo junto rio onde começamos a fazer um jogo de defesas contra atacantes, ou por vezes até os centro campistas atacavam, outras vezes defendiam. Como não temos muitos jogadores temos que fazer tudo como podemos.

No meio do treino, nós três tentamos fazer a técnica por diversas vezes mas acontecia sempre os meus, eu e o Goenji não conseguíamos colocar os pés em cima dos ombros do Kabeyama, e por várias vezes acabei por arranhar o Goenji nos braços quando ele me agarrou.

—Não consigo. Continuo a olhar para o chão.

—Vamos outra vez.

—Não nos podemos render, Kabeyama! Em vez de pensares que não podes conseguir, pensa em como podes supera-lo!

—Como supera-lo?- creio que ficou a pensar nas minhas palavras, até que começou a chorar novamente- Não consigo superar-lo de maneira alguma.- E voltou a deitar-se no chão de mãos na cabeça.

Eu e o Goenji suspiramos, fitando-nos sem saber o que fazer.

*

Os treinos terminaram há horas, mas ainda assim precisava de treinar. Tinha que fazer alguma coisa para ajudar o Goenji, não podia estar sempre a depender do facto dele estar lá para me agarrar antes de cair. Tenho de superar o meu medo tal como o Kabeyama estava a fazer, porque posso acabar por me magoar e ao Goenji, e isso é a última coisa que eu quero.

Depois de ir buscar a minha mala desportiva a casa, corri até ao parque da Torre para fazer alguns treinos, quando vi, por baixo da torre, a saltar para cima de um pau preso por uma corda, o Goenji que caiu no chão de forma brusca.

—Olá Goenji!- e subi escada a cima- Então decidiste ficar. Estás a treinar para saltar desde uma base instável, não é? Posso treinar contigo?

—Malina...- e sorri.

—A verdade é que o Kabeyama não é o único que precisa de superar um medo, eu também preciso de superar o meu.- Retirei a mala e coloquei-a junto à entrada- Além disso, não quero estar sempre a depender de ti...- e voltei-me para ele- Por isso, desta vez, nada de me agarrar, pode ser?!

—Está bem.

E começamos.

*

—Mas o que andaste a fazer para chegares aqui neste estado?

Não conseguia deixar de rir com o nervosismo, pronta para receber o sermão dos meus pais. Neste caso, da minha mãe que me estava a fazer uma massagem nas costas enquanto estava sem a parte de cima da roupa, apenas de soutien aberto, deitada na minha cama.

—Estive a treinar com um amigo e... Ah!- gritei- O creme está gelado!

—Espera que vou aquece-lo para ti, Malina. Ora essa, aguenta-te. Mas esse teu amigo também não sabe ter mais cuidado?

—Ele não teve culpa!

—Pronto! Escusas de me falar assim. O que se passou afinal?

—Estive a treinar com o Goenji para conseguirmos fazer a INAZUMA OTOSHI e para que ele não tenha que ter o trabalho de me tentar ajudar quando começamos a cair. Não o quero aleijar nem quero que ele fique lesionado por minha culpa. Não me perdoaria...

—Pronto! Já está!- de repente, bateu-me nas costas.

—Au! Mãe!- e levantei-me apertando o soutien- Para que foi isso?

—Porque estou feliz por a minha filha estar apaixonada!

—O quê?! Eu nunca disse isso!- e riu-se.

—Nem é preciso! Basta reparar na maneira como falas!- senti-me corar violentamente- Malina, eu sei que o futebol é muito importante para ti, ganhar o campeonato é ainda mais, e acho ótimo queres o bem desse rapaz, mas és minha filha e não quero que te aconteça nada. Apesar de seres jogadora de futebol, está a jogar com rapazes, filha. Tens de ter cuidado também contigo.

—Eu sei.- Sorriu e deu-me um beijo na testa antes de se levantar.

—Vou acabar de fazer o jantar.- E começou a dirigir-se para a porta- Vai tomar um banho para relaxares e limpares a terra que tens no corpo, e quando terminar chamo-te.

—Está bem.- E saiu, não deixando de sorrir.

Ficava feliz por a minha mãe se preocupar comigo, mas sabia bem, desde o principio, os riscos que corria por jogar futebol com os rapazes. Mas eu só queria dar o meu melhor, este sempre foi o meu sonho e agora quero realiza-lo não só ao lado do Mamoru, mas também dos rapazes e do Goenji.

Apertei os lençóis da minha cama e senti as lágrimas caírem, sentindo que eu podia ser uma carga para o time.

Nesse momento, ouvi o celular tocar dentro da minha mala ao receber uma mensagem.

Limpei as lágrimas, fui até ele e quando o retirei da mala e abri, vi que era uma mensagem do Goenji.

"Estás bem? Reparei que ficaste que algumas dores nas costas depois do treino."

Tive que tapar logo a boca porque não pude evitar soluçar ao começar a chorar de alegria ao perceber que, apesar dos problemas que lhe tenho causado, ela preocupa-se comigo.