Goddess of Revenge escrita por Bárbara Brizola


Capítulo 5
Capítulo 5: Política


Notas iniciais do capítulo

I am alive. o/
Apenas informando que estou no meio de uma viagem e para variar as coisas ficaram lentas. Estarei de volta em 04 de fevereiro e então o ritmo deve normalizar.

Soube que alguns me mandaram recomendações e que ainda não apareceram. Por favor, tentem reenviar e se ainda der errado entre em contato com o suporte.

Venham para o grupo do face: https://www.facebook.com/groups/385064741636249/

Divirtam-se!



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Uma semana e quatro dias. E nem sinal de que deveríamos retornar. Eu e Jane havíamos conversado muito sobre como lidaríamos com Odin quando o encontrássemos novamente e nos sentíamos confiantes, mas a demora começava a nos inquietar. Eu passava a maior parte do tempo orbitando em torno da minha família, para manter minha mente entretida. E naquele momento estava deitada em uma cadeira de madeira ao lado da piscina, vestindo um biquíni rosa, enquanto Jane e Pepper brincavam com uma bola dentro da água.

– Tentando ficar bronzeada? – Tony perguntou, largando a toalha e sentando numa cadeira ao meu lado. Ele usava óculos escuros, uma bermuda preta repleta de flores e trazia um livro sobre religião e mitologia nórdica na mão. De acordo com ele gostava de saber com quem estava lidando. Mas o que me chamou a atenção foi a cicatriz que exibia no peito nu. O lugar onde o Reator Arc tinha sido incorporado para lhe salvar a vida. Quando eu o conheci ele já estava ali e essa era primeira vez que o via sem. – Pare de encarar, não é educado. – Me repreendeu, tirando-me do meu devaneio.

– Desculpe. – Afirmei desviando o olhar. Ele fez uma careta dispensando minhas desculpas.

– Não ficou bonito e mesmo com plástica não teria ficado muito melhor. – Esclareceu. – Mas a Pepper acha sexy. – Aquilo me fez rir. – Ainda bem, já que eu não tenho joia nenhuma para me ressuscitar e ainda me deixar com pele de bebê.

– Super pele sardenta de bebê. Não fico bronzeada nem por decreto. – Debochei tentando desviar o assunto. Não gostava de lembrar das Joias e não era capaz de recordar o que havia acontecido comigo enquanto a Realidade fazia seu trabalho. Preferia me preocupar com um bronzeado que eu nunca teria. A única coisa que eu conseguia era escurecer as sardas já existentes e arrumar algumas novas que sumiriam com o tempo. Às vezes era premiada com um vermelhão ardido na pele. Quase uma cenoura ambulante.

– Mas não ficou nenhuma cicatriz não é? – Questionou curioso, me encarando por cima dos óculos.

– Não. – Indiquei a coxa que certa vez tivera uma marca enorme feita por espada. Nada havia restado. Nem as marcas de vacina. A Realidade havia me buscado no outro lado e me trazido inteira. Ou devolvido a alma a um corpo debilitado e o regenerado integralmente durante um ano de recuperação. E com a sorte que tinha, era um milagre que não tivesse recomeçado a enfeitar minha pele com novas cicatrizes. Na Batalha da Valhala eu havia tido muitas chances. Mas nem mesmo a flechada de Clint em minha panturrilha havia deixado marca.

– Lia, vai ficar fritando no sol a manhã inteira? – Pepper me perguntou da borda da piscina, interrompendo nossa conversa. Mostrei a língua para ela, antes de tirar meus óculos, levantar e me jogar na água abraçando os joelhos no ar. Assim que emergi, me juntei aos risos das mulheres ao verem Tony ser encharcado e levantar resmungando e secando o livro com a toalha.

Eu não poderia expressar em palavras o quanto estava agradecida por eles terem parado sua rotina de maneira tão repentina para estarem ali. E mesmo depois do problema de Jarvis, Tony havia permanecido. De acordo com ele nada parecia fora de ordem e aproveitar sua irmã era algo raro, então o software teria que esperar para receber uma atenção mais detalhada. Eu não reclamava. Estar com minha família era muito mais do que eu poderia pedir num momento em que as coisas estavam turbulentas como agora em Asgard. Só eu sabia como gostaria de poder transitar livremente entre os reinos. Se bem que Loki provavelmente já tinha notado. Era muito óbvio como eu sentia falta de tudo ali. Mas no momento eu começava a me preocupar sinceramente com o que quer que estivesse acontecendo e ansiava retornar. Apesar disso, entrei na brincadeira com Jane e Pepper. Se alguém tinha mais problemas que eu e merecia uma distração era a cientista.

Saímos da água por volta da uma da tarde, quando Tony avisou que a comida estava pronta. Eu jurava que comeríamos alguma coisa queimada, mas para minha surpresa, ele havia feito carne assada no molho com batatas e parecia muito bom. Isso até eu achar a nota fiscal de uma churrascaria, esquecida em cima da pia. Tive a decência de a colocar no fundo da lixeira, largar uma lata de cerveja por cima e fingir que nada sabia.

Almoçamos empoleirados no sofá, ainda com as roupas de banho, enquanto meu irmão nos obrigava a assistir episódios das séries favoritas dele. Ele repetia algumas falas na mesma entonação dos atores.

Estava quase cochilando com a cabeça apoiada no colo de Pepper enquanto ela conversava com Jane, acariciando meus cabelos, quando um clarão iluminou a sala. Foi como se todos estivessem esperando aquilo acontecer.

Levantei de um salto enquanto o arco e aljava entravam pela porta da varanda aberta e vinham em minha direção. Anthony se pôs de pé permitindo que a armadura se ligasse a seu corpo, ao mesmo tempo em que Pepper e Jane recuavam para a outra ponta do recinto. Embora Jane rapidamente tivesse pego o punhal de sobre a mesa de centro onde ela o deixava a maior parte do tempo, não era exatamente recomendável que ela se envolvesse numa luta.

Peguei uma flecha e a coloquei no arco puxando a corda de luz. Tony tinha uma das mãos erguidas apontada para a porta. Ficamos lado a lado em silêncio aguardando quem quer que tivesse chegado. Pudemos ouvir o som de metal contra madeira, no ritmo dos passos na varanda. Então um homem surgiu diante da porta de vidro, espiando com curiosidade.

Os olhos verdes de Vidar rastrearam a sala por um breve segundo e depois exibiram linhas de expressão suaves acompanhando o sorriso dos lábios ao reconhecer a mim e a Jane. Então ele pareceu se dar conta de como estávamos vestidas. Suas sobrancelhas se franziram por um segundo antes que os olhos se arregalassem e ele passasse a encarar a televisão fixamente.

Eu e o Iron Man nos entreolhamos brevemente. Ele se inclinou e pegou um roupão preto que estava sobre uma poltrona e o jogou para mim, enquanto Jane e Pepper saiam da sala para os quartos se vestirem. Larguei o arco sobre a mesinha e me vesti rapidamente, plenamente consciente das minhas bochechas vermelhas. Não era como se as mulheres fossem à praia em Asgard. Pelo menos não de biquíni.

– Mais um em cortinas. Isso é algum tipo de moda? – Tony perguntou afiado, subindo a máscara da armadura.

– Isso é o uniforme de capitão do exército asgardiano. – Vidar respondeu tornando a nos olhar. Não pareceu notar a ironia nas palavras do meu irmão que parecia ter uma séria implicância com capas. O soldado pousou os olhos em mim e, sem falar mais nada, me ofereceu o que parecia um botão de roupa prateado e repleto de arabescos.

Assim que o toquei, se desfez em névoa e algumas poucas notas de uma melodia suave tocada na flauta encheram o ambiente. O início da mesma música que ele havia tocado certa vez numa casa no meio do nada e que sempre repetia, geralmente tentando sem sucesso me fazer acompanhar no violino. Era algo de certa forma muito privado e que não significaria nada a qualquer outra pessoa. Mesmo se alguém tivesse ouvido jamais daria uma maior atenção. Uma composição própria e para poucos ouvidos. Era um trecho curto, mas o bastante para reconhecer como sendo de Loki. Bastava para saber que apenas eu poderia reproduzir o ritmo. Ninguém seria capaz de ter forjado aquilo e nem o obrigado a tocar exatamente aquelas notas. Eu sabia que estava segura. Era hora de voltar para Asgard.

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Não precisamos de mais do que uma hora para arrumar nossas coisas. Obriguei Vidar a me ajudar a encher uma mochila com cervejas e as esconder com toalhas, enquanto Pepper ajudava Jane. E Tony, bom, corria confuso de um lado para o outro pegando coisas que estávamos esquecendo. A verdade é que eu não precisava de ajuda para traficar bebidas para Asgard. Queria apenas poder interrogar o deus longe dos ouvidos alheios.

–... então Frigga solicitou uma reunião do conselho. O casamento deles foi autorizado. – Informou Vidar. Se eu tivesse me virado um pouco mais rápido meu pescoço teria quebrado. Jane ficaria histérica. Um sorriso começou a se formar em meu rosto, mas se conteve ao ver a expressão do homem. Algo ainda estava errado.

– Diga.

– Foi autorizado apenas nos moldes de Midgard. Estão proibidos de seguir as tradições de Asgard. – Aquilo me fez franzir as sobrancelhas. Não era tão ruim. Vidar pareceu notar minha confusão. – Não vai ter validade, Lady Liana. Vai ser visto como um capricho do príncipe. Um mimo para uma concubina. – Senti a cor fugir do meu rosto levando as palavras consigo. Apenas fiquei ali, olhando pasma para ele.

Tony entrou pela porta aberta, me fazendo pular no mesmo lugar, e parou no batente olhando de Vidar para mim e de volta para o deus.

– Sabe, você não deveria ficar encarando as pessoas assim. – Afirmou pela segunda vez naquele dia. – Podem achar que você anda pondo chifres em alguém que nem sequer precisa de ajuda com isso.

– Pelo amor de Deus, Tony! – Protestei irritada tentando ao mesmo tempo não parecer tão chocada com as notícias e afastar o rubor do rosto. Vidar não abriu a boca para dizer nada em sua defesa, mas parecia capaz de rir se tentasse. Por isso joguei minha mochila nos braços dele. Talvez carregando algum peso mantivesse seus risinhos só para si.

Na sala, Jane conversava animadamente com Pepper. Algo ruim se remexeu no meu estômago. Em pouco tempo ela estaria profundamente desapontada e não havia nada que eu pudesse fazer para evitar aquilo. Me perguntei se não era assim que Frigga se sentia a maior parte do tempo. Aquilo apenas piorou minha sensação. Forcei um sorriso para a morena, enquanto caminhávamos para o quintal. Eu nem sequer teria coragem de prepara-la para o que estava por vir. Péssima amiga. Mas por outro lado era melhor que fosse o noivo a lhe dar as notícias.

Trocamos alguns abraços apertados e as despedidas foram breves. Tony podia ser mais emotivo do que gostava de aparentar. Então antes que percebesse a luz da Bifrost nos arrebatou e eu estava cambaleando como uma bêbada diante de Heimdall. O homem ofereceu um sorriso discreto e quase imperceptível. Não pude evitar sorrir amplamente.

– Bem-vindas de volta a Asgard. – Saudou naquele seu vozeirão, os olhos muito dourados perscrutando nossos rostos. Ele podia ver muitas coisas, mas agora era eu quem enxergava a preocupação no semblante dele. O guardião sabia que as coisas não iam bem. Mas Thor, que aparentemente estivera esperando junto ao guardião por nosso retorno, envolvia Jane num abraço apertado e parecia compartilhar da minha opinião de que as notícias poderiam esperar pelo menos um pouco.

– Lady Liana. – Ouvi Vidar chamar. O soldado indicava a saída da cúpula. Os noivos ainda estavam perdidos em beijos e abraços saudosos e não pareciam ter pressa de sair dali. Era óbvio que Loki não estaria me aguardando junto ao irmão. Ele não era um cachorrinho.

Meu cavalo estava ali, no lado de fora, esperando junto ao puro-sangue do soldado e aos dois outros animais que ainda aguardariam. Seguimos em silêncio por toda Bifrost. Por mais que eu morasse naquele reino há tanto tempo, não conseguia evitar me admirar com a opulência das casas, palacetes, lojas e tudo quase sempre em tons brilhantes de dourado. Era um pouco demais depois dos dias numa casa de praia. E as pessoas cochichando quando nos viam passar, não ajudavam a tornar o lugar mais convidativo. Mas estar vestida com roupas de midgard não favoreciam a discrição ao passar pelo meio da cidade.

– Acho que notaram nossa ausência. – Comentei com escárnio.

– Depois de o príncipe noivar publicamente, não demorou muito para que os criados notassem o sumiço da noiva e a agitação no palácio. Sua ausência não ajudava muito a disfarçar. – Esclareceu, enquanto passávamos por uma enorme praça. – E como todo segredo da família real...

–... toda Asgard ficou sabendo. – Completei o raciocínio com uma risada.

Era exatamente como o segredo sobre Loki ser um Jotun. Eu me lembrava muito claramente dos olhares de pena que recebia das criadas. Como se fosse alguma coitadinha por estar com ele. Talvez até mesmo achassem que o deus me maltratasse. A imagem intimidadora que faziam dele aliada a sua ficha criminal, para muitos era o bastante para ignorarem a verdade sobre a invasão a Valhala e o levante contra o rei. Afinal quando a rainha insurgiria contra seu marido? Eram apaixonados! E humanos sobreviverem aos campos das Valquíria? Bobagem. Aquilo devia ser apenas uma invenção do malvado Jotun para manchar a reputação do bondoso rei. Idiotas.

Mesmo aqueles que haviam visto o desenrolar dos fatos, como os guardas que estavam no palácio, pareciam questionar o próprio julgamento. E quando não tinham dúvidas, guardavam suas certezas para si. Como Vidar que certamente era capaz de ver toda a verdade, mas não era do tipo que se meteria em conversas entreouvidas sobre o assunto em uma taberna. A credince em torno dos Jotuns e a admiração, que beirava a devoção, do povo por seu rei, enevoavam a verdade. No entanto Loki preferia assim. Manter uma aura de suspeita em torno de si próprio e, por que não, em torno de mim. Sempre remanescia a dúvida sobre a verdade e o que éramos capazes. O que eu havia demorado a notar é que se essa dúvida a nosso respeito remanescia, de certa forma, havia uma sementinha de incerteza maculando a reputação do rei. Mas me incomodava que por enquanto continuassem a ver Odin, que embora fosse de fato um bom regente, como o melhor dos homens e Loki como um monstro. Eu odiava que o demonizassem quando tão obviamente o demônio dormia em outro quarto do palácio. Mas o temor que o príncipe inspirava em alguns, não parecia ser o bastante para manter as alpinistas sociais longe. E obviamente não era suficiente para garantir Sigyn longe, mesmo que ela não fosse uma delas.

Enquanto seguíamos para a entrada principal, passamos por alguns dos pátios de treinamento. Soldados experientes praticavam em pares em alguns deles, em outros os mais jovens se exercitavam. Vi Sif de longe, orientando Aidan no manejo de uma espada. E por fim em meio aos soldados que praticavam tiro com arco, Sigyn parecia tentar prender a atenção de Loki mostrando a ele algo na grande besta azul perolada que ela armava usando uma alavanca que lhe facilitava a puxada da corda até a trava. Não fui capaz de reprimir um bufo debochado quando o moreno fixou os olhos verdes em mim, deixando a garota continuar a falar sozinha sem ao menos notar. Sua expressão não se alterou mais do que estreitar o olhar e contrair os cantos da boca. Já eu achava que meu sorriso podia cair do rosto a qualquer momento, já que não parecia ter espaço para o tamanho dele.

– Com sua licença. – Vi os lábios dele formarem educadamente, sem no entanto a olhar novamente. A decepção momentânea deu lugar à surpresa no rosto da deusa, ao se deparar comigo. Apenas assenti lentamente indicando que a tinha visto e praticamente a dispensando da obrigação de vir até mim para me cumprimentar. Se a garota se atrevesse a isso eu podia acertar a cabeça dela com aquele brinquedo que ela chamava de arma.

– Tenho a impressão que ela não esperava que você voltasse. – Vidar falou num tom baixo de modo que apenas eu o ouvisse. Parecia achar tudo engraçadíssimo.

– Parece que não.

– O que acha de eu deixar o cavalo aqui e ir ajuda-la com a besta? – Perguntou enquanto Loki encerrava a distância entre nós. – Depois deixo suas coisas com alguma das criadas. – Avisou.

– Acho que você é muito gentil em querer ajudar.

– Ah, eu sei. – Resmungou um pouco impaciente, me fazendo rir baixo, finalmente desmontando. Cumprimentou Loki com a formalidade que a farda exigia, fazendo uma breve continência. Ele assentiu em resposta montando o cavalo sem dizer mais nenhuma palavra ao soldado que se afastou.

Seguimos caminho deixando aquele pátio para trás. Ele me dirigiu um olhar breve questionando a calça jeans que eu vestia. Dei de ombros enquanto passávamos sem parar pela entrada principal.

– O que ela queria? – Perguntei incapaz de me conter.

– Ajuda para calibrar a corda.

– E ela precisa de ajuda com isso? – Perguntei com deboche duvidando da veracidade daquilo. Era algo tão básico que era óbvio que o interesse dela era em proximidade e não em ajuda. Apesar disso, Loki não me respondeu oferecendo apenas um olhar frio pelo canto dos olhos. – E aonde estamos indo? – Questionei curiosa, trocando o assunto.

– Para longe de ouvidos curiosos. – Respondeu sem me olhar. Por mim pouco importava o lugar. Desde que eu pudesse descer daquele cavalo de uma vez e me manter a sós com Loki ficaria mais do que satisfeita.

– Vamos voltar para jantar?

– Está preocupada com o jantar?

– Não. – Respondi com um tom de desdém. – Não parece que vá ser exatamente uma festa.

– E não vai. – Concordou, enquanto saíamos novamente dos jardins e prosseguíamos pelas ruas da cidade numa direção que se distanciava do centro comercial. – O Conselho vai ficar para discutir com Jane e Thor o que eles pretendem fazer. – Ouvir aquilo fez com que eu fizesse uma careta. Era bom que o loiro a avisasse sobre os problemas antes que aquele bando de velhos bafejasse no pescoço dela. Nesse caso a cena seria de muito choro e constrangimento.

– E o que ele pretende fazer?

– A ideia genial dele era abdicar por Jane. – Explicou, o escárnio pronunciado nas sílabas arrastadas. Eu não esperava por nada muito diferente daquilo.

Era a ideia dele? O que você fez para o convencer a mudar de decisão? E por quê? – Quis saber. Era muito claro que o loiro não veria as coisas com a mesma atenção de Loki. Ele era o político ali. E pareceu achar graça em eu perceber tão de imediato que aquilo era coisa dele. Mas de quem mais poderia ser?

– Lembrei a ele que humanos são criaturas extremamente frágeis e que mortes acidentais existem. – Sorri ao ouvir aquilo. A linha de raciocínio de Odin era simples e previsível. O velho faria qualquer coisa para manter sua linhagem real na mais perfeita ordem. - E o questionei sobre se alguém ainda tinha dúvidas de que Jane poderia se envolver em algo trágico antes da renúncia ser feita.

– Achei que você fosse gostar de me ver com uma coroa de rainha. – Afirmei. Se Thor abdicasse o próximo na linha de sucessão seria ele. Sabia que as coisas não seriam simples assim, mas era óbvio que mesmo assim ele via muito mais longe do que eu.

– E vou gostar. Mas o caminho não é esse.

– Vai me explicar?

– Se Thor abdicar, Odin me deserdaria publicamente para garantir que eu nunca suba ao trono. O Conselho encontraria algum parente mais distante para ocupar esse lugar e o assunto seria encerrado.

– E você prefere apostar que o velho morra e Thor naufrague o reino e o largue em suas mãos antes do fundo do poço ou tenha um filho fraco demais para se manter na regência. – Conclui rindo. Loki era genial. Era um plano a longo, longo prazo, mas eu era incapaz de ver o deus do trovão como um bom regente. Era atrapalhado, impulsivo, tinha uma visão parca de política e pouca habilidade com relações públicas. Poderia demorar, mas era quase certo que o mais velho afundaria a administração, mesmo que o conselho tentasse remediar suas escolhas. O moreno poderia receber um reino que precisava se reerguer, mas eu tinha certeza que ele possuía todas as características que um bom governante precisava. Loki faria história entre os reis de Asgard. E eu não estaria lá para ver isso acontecer, mas não valia a pena lembra-lo disso em um momento em que ele parecia tão seguro de que as coisas dariam certo. Eu não queria demonstrar essa fraqueza.

– Você é esperta. – Falou em um tom que me deixava em dúvida sobre a sinceridade do elogio. Era mais provável que achasse que meu raciocínio havia demorado demais. No entanto não me era difícil notar que agora o deus estava decidido a mais do que apenas sentar-se novamente no trono. Queria que seu nome fosse lembrado como o melhor dentre todos que o fizeram antes e depois dele. Eu não conseguia ver como poderia dar errado.

– Sou sim. – Concordei olhando de maneira debochada para ele que ergueu as sobrancelhas numa fingida incompreensão. Deixamos o silêncio se abater sobre nós pela meia hora seguinte, enquanto nos perdíamos em pensamentos. Continuávamos rumando à trote para o leste e as casas começavam a parecer menos opulentas. Eu já podia ver toda extensão da área rural do reino com seus grandes campos de centeio, trigo, cevada e sorgo. Me lembrava bem da caçada ao Bilchsteim que havíamos feito naquela região. – E vai me dizer qual nosso destino? – Questionei enfim, quebrando o silêncio.

– Casa de campo. – Respondeu brevemente num tom vazio e desinteressado.

– Não sabia que você tinha uma dessas em Asgard. Sempre achei que preferisse as manter em outros reinos longe daqui.

– E costumava preferir, mas sair de viagem anda fora de questão. – Devolveu num tom frio. Na verdade ele providenciar um lugar para onde pudéssemos ir e conseguir um pouco de paz longe do resto da família real, do conselho e da corte, tinha demorado muito mais do que eu imaginava. E hoje distância seria uma das melhores coisas. Loki não era do tipo que se contentava simplesmente fechando-se na torre.

Seguimos por mais quinze ou vinte minutos e chegamos a uma casa de campo grande e toda feita de uma pedra clara e bonita. Alguns metros a esquerda um campo de sorgo se erguia a perder de vista. Os fundos do terreno eram ocupados pela extensão da mesma floresta aonde quatros anos atrás chegavam os sobreviventes da Valhala. Havia apenas aquele caminho até ali, e assim que nos aproximamos desmontamos deixando os cavalos soltos para pastar e beber água de um cocho na sombra. Eles não iriam embora.

Entrar na casa foi uma grata surpresa. Era rústica, mas muito agradável. Deixei meus olhos passearem pelo lugar, me perguntando se aquilo era o gosto pessoal dele ou apenas escolha aleatória de quem quer que tivesse construído o lugar, quando Loki se aproximou por trás de mim, envolvendo minha cintura e beijando meu pescoço. Deus, como aquilo me arrepiava.

– E por que você me trouxe até aqui? – Ironizei como se não soubesse, fechando os olhos e inclinando a cabeça para o lado, oferecendo mais espaço para os lábios e língua explorarem minha pele. Deixei minha mão pousar nos cabelos negros dele o mantendo ali.

– Longe de ouvidos curiosos. – Respondeu próximo ao meu ouvido com a voz alguns tons mais baixa e levemente rouca, enquanto os dedos longos e frios levantavam minha blusa e percorriam a pele já arrepiada da barriga em direção a um dos seios, cobertos por um sutiã que eu não fazia a menor questão de manter. E pela firmeza com que ele me segurava parecia ter tanta urgência quanto eu de se livrar do excesso de pano.

Me virei em sua direção, enquanto puxava aquela maldita blusa por cima da cabeça e a jogava em um canto qualquer onde ficaria esquecida pelas próximas horas. Ele mesmo se encarregou de dispensar o sutiã e me causar um gemido rouco e desejoso levando a boca a um dos seios enquanto minhas mãos tratavam de livra-lo da cota longa de couro, em busca de contato. Eu precisava sentir sua pele na minha.

Loki abriu as fivelas e livrou-se do peitoral de couro que completava a cota, expondo o peito nu, enquanto eu o beijava com lascívia me encostando a seu corpo. Minhas mãos por dentro da calça o fizeram arfar baixo e morder minha pele, enquanto ocupavam muito interessadas uma parte específica dele, mas minha boca logo tomaria o lugar delas quando nos ajeitássemos num divã preto que estava a um canto.

Ele não era do tipo que demonstrava saudades, pelo menos não me esperando atrás da porta como um cachorrinho. Era um homem mais intenso e urgente que isso. Palavras nunca seriam melhores que atitudes, e as suas me mostrava claramente o quanto eu era amada e desejada. Por hora o mundo lá fora não existia.

Mas voltou a existir antes do que desejávamos quando desabou sobre nossas cabeças durante a madrugada, trazendo consigo os estrondos, a confusão e o medo, os gritos, a fumaça e o fogo.


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Notas finais do capítulo

:v Review? Review?