Goddess of Revenge escrita por Bárbara Brizola


Capítulo 3
Capítulo 3: Flores


Notas iniciais do capítulo

Estamos de volta pessoal!! Como tem passado?

A trama esta lentamente começando a se desenrolar e aos poucos as coisas estão tomando forma. Obrigada a todos que estão deixando seus reviews, sejam grandes ou pequenos. Fantasmas saiam das trevas. Mamain ama ocêis!

Obrigada de coração a Karina A de Souza que recomendou GOM. Você não sabe como fiquei feliz menina!

Divirtam-se!



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Passava um pouco das seis da manhã quando retornamos. Heimdall desejou bom dia a mim enquanto caminhávamos para a ponte. Ele e Loki trocaram um olhar frio e calculista. Definitivamente não se davam bem.

Eu estava absolutamente animada, enquanto andava descalça pela Bifrost. Trazia os sapatos em uma mão, enquanto Loki carregava a enorme sacola de presentes. Pepper havia comprado algumas calças jeans de marcas muito caras. Seria uma cena cômica eu andado de calças Diesel por Asgard. Além disso, havia alguns perfumes muitos bons e boa maquiagem. Eu sentia falta desse tipo de coisa. Como sempre ela havia mandado dúzias de doces e biscoitos, cremes, os produtos de higiene que eu gostava e anticoncepcionais. Eu não precisava de problemas.

Para minha surpresa Pepper ainda havia comprado uma edição de capa bonita de Hamlet para presentear Loki. Ela tinha muito tato e havia lembrado que eu mencionara certa vez o quanto ele gostava de ler. O deus havia tentado recusar dizendo que nada que pudesse ser imaginado por mentes mortais poderia surpreendê-lo. Bastou que eu perguntasse o quanto ele estava certo disso para que o deus levantasse uma sobrancelha aceitando o livro. Tony parecera, por algum motivo, escandalizado.

Acabamos voltando mais tarde do que pretendíamos de início, por isso planejávamos ir direto para a torre sem verificar se ainda haviam retardatários no salão principal.

Estávamos quase à porta do quarto quando o retinir de uma armadura chamou nossa atenção. Um guarda parecia estar a caminho e antes que dobrasse o corredor, Loki fez a sacola desaparecer. O homem parou diante de nós e apenas assentiu em respeito. Guardas raramente reverenciavam ou usavam títulos não militares.

– Senhor, o rei me pediu que verificasse onde passaram a noite. – Falou breve. O homem tinha olheiras como se tivesse ficado em claro nos esperando. Ergui os olhos para Loki de maneira instintiva. Não tinha a menor ideia do que responder. O moreno bufou irônico, abrindo lentamente um sorriso.

– Diga ao rei que já estamos de volta e ele não precisa se preocupar. – Afirmou com indiferença.

– Desculpe senhor, preciso que me digam o lugar. – O homem insistiu parecendo sem jeito. Loki estreitou os olhos.

– Fomos aos estábulos, como a rainha informou que faríamos. – O moreno afirmou, num tom perigosamente suave, abrindo a porta indicando que o assunto estava encerrado.

– Até essa hora?

– Está questionando o que seu príncipe faz? – Loki se voltou para ele, olhando-o de cima. Eu estava mais atrás e vi claramente quando o homem engoliu em seco. A fama do moreno o precedia.

– São ordens do rei, senhor. – Insistiu apreensivo. O príncipe projetou o maxilar para frente inspirando profundamente num gesto muito típico para momentos de irritação. Levei minha mão ao braço dele que soltou o ar lentamente. Eu praticamente via as engrenagens no cérebro de Loki trabalhando em mil direções.

– Soldado, alguma vez já esteve nos estábulos? – Questionou num tom ponderado. O homem pareceu confuso, mas assentiu. – E já fez isso acompanhado da sua senhora, com a certeza de que ninguém vai aparecer?

– Não, senhor. – O homem respondeu começando a rir. Eu senti meu rosto combinar com os cabelos instantaneamente.

– Tente qualquer hora dessas. – Encerrou, entrando no quarto enquanto eu o seguia de perto em silêncio e morrendo de vergonha. Assim que fechou a porta se virou para mim que estava pronta para ralhar com ele por uma mentira constrangedora como aquela, quando vi um olhar de alerta em seu rosto. Senti a voz morrer em minha garganta. Eu conhecia muito bem aquela expressão. – Ele está desconfiado.

– Não existem provas. Heimdall não contaria... Contaria? – Perguntei insegura. Por mais que ele devesse lealdade a rainha, Odin estava acima dela.

– Não. Ele é leal demais a Frigga. Se falasse a colocaria em problemas. – Disse materializando o punhal e a sacola com meus presentes e os largando sobre uma poltrona. Tinha uma expressão irritada. – Odin apenas quer garantir que estejamos exatamente onde ele deseja. Ter certeza de controle total. – Concluiu perspicaz.

Aquilo me fez suspirar cansada. Às vezes me sentia como um pássaro preso numa gaiola luxuosa. Não importava o conforto. E não havia o que pudéssemos fazer. Estávamos submetidos aquilo. Não havia liberdade.

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As duas semanas seguintes foram tranquilas, apesar de eu ter notado Hugin e Munin me acompanhando com uma frequência maior. Eram os corvos vigias de Odin e eu os detestava quase tanto quanto ao velho. Mas fora isso nada além do normal acontecia. Dei aulas, passei mais tempo nas cozinhas e no quarto do que em qualquer outro lugar, ouvi Heimdall falar sobre guerras que eu só conhecia dos livros de história e sobre outras tantas que eu jamais teria ouvido falar, acontecidas há muitos séculos e muitas galáxias de distância.

Acompanhei Jane a Vanaheim quando fomos em busca de tecidos para novos vestidos. Éramos um pouco compulsivas juntas e acabávamos sempre com muito mais do que queríamos. Muito mais minha culpa do que dela, na verdade. Vanaheim lembrava um pouco uma cidade medieval com um comércio agitado e vasto, muito mais completo que o de Asgard. Adorávamos ver os comerciantes de outros reinos, com suas aparências exóticas e vendendo coisas ainda mais exóticas que eles. Apesar do movimento intenso nas ruas centrais, ainda era um reino extremamente agrário com suas casas simples e grandes áreas de plantação.

Eu gostava de ir ali com Jane. Era um momento de familiaridade em nossas vidas, um momento de puro lazer entre duas amigas como qualquer outra humana tinha direito. Contudo Jane não fazia ideia de que na montanha a extremo oeste da cidade havia uma caverna onde certa vez Loki e eu tínhamos nos escondido. Jane não fazia ideia de que ali eu tinha arrumado uma cicatriz na coxa por um golpe de espada pelo qual poderia ter morrido não fosse o deus. Ela tampouco fazia ideia de que eu tinha matado pela primeira vez naquelas terras. Mas aquilo tudo tinha sido há muito tempo e não passavam de lembranças distantes e irreais.

Agora eu era quase membro da família real. Quase. Estava distante daquela realidade de mal conseguir tempo para respirar sem tentarem empalar minha cabeça numa estaca. E gastava o meu excesso de tempo livre tentando ocupar a mente e achar alguma utilidade para mim. Mas esse tipo de passeio com Jane ao menos dessa vez tinha um objetivo. O casamento de Hogun seria naquele final de semana.

Não fazíamos ideia de como funcionava um casamento asgardiano. O pouco que conhecíamos é que era repleto de simbologias e a noiva não vestia branco, mas sim as cores do noivo. Geralmente ele usava algum detalhe nas cores dela, mas não era uma regra. Estávamos tão animadas para ver aquilo que parecíamos duas menininhas.

Loki já estava ficando impaciente com nossa correria. Thor parecia achar engraçado quando nos via confabulando com Frigga sobre vestidos. Sif parecia profundamente impaciente quando tentávamos envolvê-la. Eu não sabia se o que a irritava era o assunto em si ou o fato de Jane tentar falar com ela. A morena acabava passando a maior parte do tempo no pátio treinando com alguns soldados. E mais de uma vez havia insinuado que eu estava ficando mole por não aparecer com a mesma frequência de sempre.

Eu não me importava muito. Treinar não era exatamente uma atividade que me seduzisse em tempo integral. Era prazeroso ter um arco e um alvo, mas sendo parado meu interesse caia pela metade. Era fácil demais.

Loki já havia notado meu tédio e algumas poucas vezes em que me encontrara treinando sozinha, havia criado ilusões de guerreiros para que as coisas fossem um pouco mais interessantes. Isso aconteceu apenas três ou quatro vezes, antes que um dos adversários ilusórios me atravessasse com uma lança. Apenas uma ilusão. Sem sangue real, sem ferimento real. Mas a dor foi muito, muito real. Eu havia arfado e caído de joelhos, incapaz de gritar, mas com uma expressão tão assustada que por um segundo o próprio deus havia acreditado que algo estava extremamente errado.

Aparentemente mesmo que Loki não tivesse manipulado a ilusão para a dor, meu cérebro havia feito o serviço. Ele havia se convencido da veracidade do que me rodeava e respondido a um estímulo inexistente. Nunca mais treinamos juntos. Eu era incapaz de acompanhar o ritmo do moreno e se me envolvesse demais nas ilusões, as fraquezas da minha mente humana me causavam dor. O deus poderia me manipular diretamente para evitar que isso acontecesse, mas ambos sabíamos como eu reagia aquele tipo de coisa. Serviria apenas para me deixar atordoada e irritada. Por isso ter algo que me deixava realmente empolgada como o casamento era um bálsamo para afastar o tédio.

A celebração seria feita numa área de campo em Vanaheim. Sob a luz das estrelas, pois a felicidade não era crime para se ocultar atrás de paredes. Frigga, Jane e eu passamos o dia em companhia da noiva. Alis não tinha irmãs que a acompanhassem e sua mãe estava tão atarantada quanto qualquer mãe de noiva. Hogun tampouco tinha irmãs, por isso havia pedido a nós que fizéssemos, companhia à loira.

Alis era jovem para os padrões dos deuses. Não era feia, nem muito bonita. Com exceção dos cabelos extremamente loiros não havia nada que chamasse a atenção. Os olhos castanhos e o vestido azul marinho a faziam parecer um pouco mais pálida do que realmente era. Acabei eu mesma a maquiando. Um pouco de blush e ela não pareceria tão branca. Tinha seios medianos, cintura mediana, estatura mediana. Era mediana em tudo, mas o corte justo do vestido com as peças de armadura sobrepostas a faziam parecer cheia de presença. Mesmo que tremesse um pouco. Alis era muito tímida e demorou a se soltar em nossa companhia. Após algum tempo de insistência era tão falante quanto todas nós.

Estávamos na casa dela afastados alguns metros do local onde as cadeiras eram dispostas por amigos da família e a decoração ainda era arrumada. Coisa muito simples como flores do campo e alguns metros de tecido decorando aqui e ali. Eu podia ter certeza que um casamento da família real não teria aquela simplicidade toda, fosse em decoração, fosse em tradições. Frigga havia mandado trazer um arco decorado e dúzias de castiçais enormes com velas que não derretiam. Eram coisas caras demais para que uma família de agricultores pudesse bancar e aparentemente a família do noivo deveria se ocupar da festa e não da cerimônia em si, de forma que seria desonroso se o fizessem. Cada família pagava pelo que podia e os amigos presenteavam como queriam e tudo estava perfeitamente bem assim. Se um lado pudesse pagar muito mais do que o outro não era vergonha nenhuma.

– Liana? – A garota chamou espiando para fora através das cortinas. Os convidados estavam chegando aos poucos. Levantei da mesa de madeira gasta e fui até ela. Me olhou com seu rosto redondo cheio de nervosismo.

– Quer uma água? Um chá? – Ofereci. A garota parecia tão nervosa que eu temia que desmaiasse ou vomitasse em cima de mim. Ela negou lentamente. - Tem alguma coisa errada? – Perguntei baixando a voz para que Jane e Frigga não ouvissem.

– Não exatamente...

– Alis?

– Eu não fui pareada com ele. – A loira murmurou encarando os próprios pés. Senti o asco me tomar. Uma tradição tão ridícula que senti vontade de estapear a menina por sequer considerar.

Deuses eram pareados em dado momento da vida. Geralmente quando sua natureza se tornava clara, seus pares também. Não como uma lei ou obrigatoriedade, mas era muito mais comum que os casamentos acontecessem dentro daquele círculo pré-estabelecido. E não era como se houvesse algum tipo de entidade que definisse os pareamentos. Era pura coincidência, baseada na natureza dos envolvidos que acabava gerando especulação entre as famílias e amigos. Naturezas extremamente opostas ou extremamente afins eram famosas por gerar os casamentos mais felizes. Às vezes mais de um bom par era proposto, às vezes apenas um. Contudo era um conceito em desuso já que casamentos como o de Alis eram cada vez mais frequentes. Ela nunca havia sido pareada com Hogun, já que ele era o conhecido por representar a Glória e ela nada mais era do que a Constância. Não eram opostos ou afins. Não era como se de fato representassem algo. E era isso que a deixava tão ansiosa. Mas eu não era tola de acreditar que apenas as naturezas eram envolvidas naquele tipo de combinação. Relações e posição social eram frequentemente levados em conta assim como os antigos casamentos arranjados de Midgard. Aquilo fazia da garota uma privilegiada, por casar com um homem de alta posição no exército e estimado pela família real. Eu a considerava privilegiada simplesmente por casar com alguém que claramente a amava tanto.

– Alis, eu nem sabia o que era ser pareada antes de morar em Asgard. Jane tampouco. E se você quer saber eu penso que estou muito bem. – Falei dando um sorrisinho malicioso a ela. A garota riu. – Se fosse para ser pareada eu estaria junto de Vidar e sabe Deus com quem Jane estaria. Pode imaginar o inferno que seria passar o resto da vida pisando em ovos? – Questionei a ela ainda num tom baixo. – O que interessa é que vocês se amam. Quem decide o que acontece daqui para frente são vocês e não o que as pessoas pensam que pode ser o melhor. Mas se você não estiver tão certa do que sente, eu posso avisar... Tenho certeza que Hogun vai ser cap...

– Não! – Alis, afirmou muito mais alto do que pretendia, segurando meu pulso, fazendo as mulheres olharem em nossa direção. Eu comecei a rir da reação exagerada dela. A garota acabou rindo também.

– A conversa parece ótima, mas acho que já podemos nos preparar para entrar, certo? – Frigga, perguntou se aproximando com um sorriso. Alis sorriu parecendo encantada com a ideia. Jane saiu da casa, em busca do pai da noiva para que ele a conduzisse ao altar. Nisso os casamentos asgardiano e midgardiano eram semelhantes. Frigga lhe entregou a katar tão polida que chegava a reluzir. Silenciamos por alguns minutos, apenas admirando a mulher. Nenhum buquê de flores. Elas estavam espalhadas pelos cabelos muito claros. Nós mesmas tínhamos os cabelos cheios delas, como mandava a tradição. Alis poderia ser uma das mais bonitas visões em um campo de batalha, pois parecia pronta para ela. Ao invés disso era apenas uma noiva preocupada com o futuro e chamada de volta a realidade pela batida do pai à porta.

Frigga e eu saímos seguindo Jane pelo jardim em direção ao campo aberto. Os convidados já estavam quase todos ali. Os flautistas começaram uma melodia lenta e baixa que dava clima à meia luz que imperava. Meu vestido de seda champagne, se enroscava na grama conforme eu avançava. Era uma noite de temperatura agradável, mas senti frio nas costas expostas. Frigga se aproximou do rei que estava do lado esquerdo do grande arco florido próximo aos pais do noivo, o vestido grafite da mulher combinava com a cor da armadura do rei. Thor e Loki aguardavam vestidos em suas armaduras completas no lado direito, um pouco mais afastados da mãe da noiva. Jane parou ao lado do deus loiro. Seu vestido amarelo causava a impressão que os cabelos dele eram ainda mais claros aparecendo por baixo do elmo que por algum milagre resolvera usar.

Me coloquei em silêncio ao lado de Loki. Ele me dirigiu um olhar avaliador e malicioso de lado, antes de erguer os olhos para a noiva que começava a avançar em meio às pessoas. O decote nas costas do meu vestido era considerado ousado para os padrões de Asgard e isso fazia com que ele gostasse ainda mais. Trouxe minha atenção de volta a Alis e a Hogun que mal controlava o sorriso.

Conforme a noiva passava, as mulheres soltavam flores das mãos que voavam em direção ao céu enchendo o ar com o aroma suave. Eram os desejos de felicidade entregues às estrelas. Peguei uma das flores de um cesto fechado, para impedi-las de saírem pairando. A soltei no ar desejando que a natureza dos deuses não impedisse a felicidade. Um pedido para eles e para mim mesma.

Sigyn estava sentada na quarta ou quinta fileira, em um vestido de tule verde água e eu não podia deixar de notar a maneira como ela olhava para Loki. Eles eram pareados desde muito antes do meu nascimento e Odin fazia muita questão de não me permitir esquecer isso. Assim como costumava lembrar a Jane vez ou outra sobre o pareamento de Thor com Sif. Nenhuma de nós tinha recebido essa informação com muito bom humor. Frigga havia perdido algumas boas horas para nos convencer que aquilo era uma bobagem. Apesar disso eu tinha certeza de que, enquanto a noiva era passada das mãos do pai para as mãos de Hogun e os desejos subiam no ar, o mais sincero entre eles era o meu.

O noivo beijou uma das mãos dela e fez todos rirem quando tentou beijar a outra e deu de cara com a katar afiada. Acabou sorrindo um pouco sem jeito.

– Alis... – Ele começou a falar alto para que todos o ouvissem. Não havia ninguém que celebrasse a união. Aquilo era apenas entre eles. -...veste as minhas cores por sua própria vontade?

– Visto suas cores para que todos saibam que sou parte de um todo. – Ela disse com um sorriso. O homem tirou a capa longa e azul das costas, e a passou ao redor dos ombros da mulher.

– Hogun... – Foi a vez dela de falar. A voz soava tão baixa que mesmo estando perto eu mal a ouvia. Para ambos estava tudo absolutamente perfeito. - ...é por sua vontade que me recebe?

– Meu maior desejo é tê-la sob minha proteção. – Recitou pondo peso às palavras decoradas. Era isso que a capa deveria representar. Ele baixou ainda mais o tom de voz. – Nada me faria mais feliz. – Falou. Pela maneira como ela sorriu aquilo não fazia parte dos juramentos tradicionais. Eu podia ouvir Jane chorando baixinho e a celebração não costumava durar nem dez minutos. Loki olhou dela para mim como se esperasse o mesmo comportamento. Levantei uma sobrancelha para ele, que esboçou um sorriso de lado antes de voltar a atenção à cerimônia.

– Se seu desejo é esse, é por minha vontade que te faço protetor da minha vida. Mostre-se digno a cada dia e ela continuará pertencendo a você pela eternidade. – A loira recitou entregando a ele a katar com ambas as mãos. Uma demonstração de confiança. Ela a entregava sem hesitar. Ficava desarmada acreditando que o moreno seria seu protetor e a arma pertencia a Hogun na certeza de que jamais atentaria contra a vida dela.

O deus ergueu a clava repleta com pontas pontiagudas do chão a seu lado. Alis arregalou os olhos arrancando risadas de todos, inclusive do noivo.

– Eu não poderia fazer menos do que entregar a você a minha própria vida. Porque ela sempre foi sua. – O homem recitou, passando a ela a clava. Alis não tinha força para segurar e Hogun acabou ajudando-a a colocar a arma ao lado, arrancando ainda mais risadas. Ela estava muito vermelha, mas parecia incapaz de parar de rir.

– Acho que a vida dele, não está muito protegida. – Loki murmurou, me fazendo rir ainda mais, antes de lhe dar uma olhar reprovador. O noivo tornou a segurar as mãos da noiva.

– Sob as estrelas e diante dos homens declaro meu desejo de tê-la como esposa, se assim também for sua vontade Alis. – Recitou por fim. A mulher sorriu ainda mais amplamente, se é que era possível.

– Não existe vontade maior em minha vida. – Ela concluiu. Algumas pessoas começaram a aplaudir antes mesmo que ele a beijasse. Ninguém além deles precisava dizer nada. Ambos se declaravam casados e assim o eram.

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A comida era abundante e foi disposta cerca de meia hora mais tarde em travessas, postas sobre longas mesas. As pessoas conversavam e dançavam, comiam e bebiam muito satisfeitas. Para algumas era a primeira vez que viam a família real verdadeiramente de perto o que gerava certa bajulação em torno do rei e da rainha. Um grande alívio já que mantinha os olhos de Odin longe de nós. Loki e Thor não eram de todo dispensados, mas o bastante para podermos ficar em paz.

Nos afastamos um pouco da agitação principal onde os agora marido e mulher conversavam com os convidados. A clava passava de mão em mão numa brincadeira com seu peso.

– É pesada assim? – Jane perguntou ao loiro. Thor franziu as sobrancelhas rindo, encarando o hidromel que tinha nas mãos. Ele estava estranhamente quieto.

– De forma alguma. São exagerados. – Declarou naquele vozeirão. Loki inclinou a cabeça de lado o olhando com o deboche.

– Está esperando o que para pegar o Mjölnir e mostrar a eles o grande poder do herdeiro de Asgard? Um convite? – Questionou. Eu e Jane apenas nos entreolhamos reprimindo uma risada. Era impossível manter os dois juntos.

– Loki alguma vez na vida você consegue fechar a boca?

– Humm... Na verdade não. – Respondeu após uma breve pausa.

– Consegue sim. – Eu disse, me inclinando e beijando a boca dele o segurando pela nuca. Loki mais que depressa, me trouxe mais perto com uma das mãos pousando nas minhas costas nuas, correspondendo por alguns minutos. – Viu só?

– Tecnicamente minha boca não estava fechada. – Ele rebateu me fazendo rir.

– Se comportem. – Jane protestou embora sorrisse.

– Isso é ciúme, Jane? – O moreno rebateu repleto de ironia estreitando os olhos para ela. A garota deixou a boca se abrir completamente sem jeito. – Que constrangedor. – Concluiu de um jeito maldoso. Thor fechou as mãos em punhos e eu rapidamente me coloquei entre os dois.

– Vinho! Eu preciso de vinho. – Falei obrigando os olhos de Loki a pousarem em mim. Ele levantou ambas as sobrancelhas me olhando com frieza. Não era meu criado. Franzi as sobrancelhas numa expressão insistente. O deus bufou se afastando em direção a uma serviçal enquanto Jane se pendurava no loiro para conseguir desviar sua atenção do mais novo.

Observei distraidamente o campo e encontrei Sigyn acompanhando Loki com o olhar enquanto conversava com Fandral. Ela tinha uma expressão dolorida que me incomodava profundamente. Desviou os olhos de volta a sua conversa com o deus, que no mínimo achava que ele era o causador daquele efeito.

Era sempre assim. Observando de longe, sorrisos tímidos, reverencias e gestos ponderados, graça e elegância. Sempre a espreita. Para mim ela era uma mosca zumbindo insistentemente contra um vidro. Insistente ao ponto de me irritar embora em quatro anos nunca tivesse feito nada que me desse reais motivos para perder a paciência. Vez ou outra se excedia um pouco, como no Dia de Frigga. Ou agora, enquanto largava sua taça de vinho sobre uma mesa, pedia licença a Fandral e atravessava o gramado em direção a Loki que era servido por uma criada. Jane e eu trocamos um olhar breve antes que eu fosse em direção a eles.

– ...a dança? – A ouvi falando naquele tom de voz baixo e macio. Ele ergueu os olhos para mim, fazendo com que a garota também o fizesse.

– Boa noite, Lady Sigyn. – Cumprimentei parando ao lado dele. A morena fez uma breve saudação com a cabeça, abrindo um sorriso trêmulo. Sua expressão era de culpa e a minha de desprezo.

– Boa noite, Lady Liana.

– Meu vinho? – Perguntei me virando exclusivamente para ele. Loki olhou de volta para Sigyn que o tinha preso entre as mãos pequenas. Levantei uma sobrancelha para a deusa.

– Desculpe milady, o príncipe não me disse que era seu. – Justificou. - Eu disse que estava com sede e ele me ofereceu.

– Nossa que dedução difícil, não? – Alfinetei com frieza. Claro que ele ofereceria. Típico. – Mas se não me falha a memória acabei de ver você largar uma taça ainda na metade.

– Ahn... Estava quente. – Ela justificou encarando a bebida. Estava tão vermelha quanto o líquido. Tirei a taça que Loki tinha nas mãos, o fazendo erguer ambas as sobrancelhas para mim que em resposta lhe ofereci um olhar de advertência. Aquilo apenas serviu para o deus apertar os lábios reprimindo um sorriso.

– Com sua licença, Lady Sigyn, mas agora quem não tem bebida sou eu. Boa noite. – Loki atalhou, levando a mão a minha cintura. Ela acompanhou o movimento como se estivesse hipnotizada, antes que ele me conduzisse para longe dela. Andamos alguns metros passando em meio aos convidados que reverenciavam conforme avançávamos. – Achei que fosse esganar ela ali mesmo.

– Era uma hipótese tentadora com o arco longe. – Rosnei em resposta. – Qual o problema dela?

– Achei que tivesse sido você a me explicar. – Afirmou com ironia. Aquilo apenas me fez revirar os olhos com impaciência.

– Ela está apenas esperando. É uma questão de tempo. – Falei mais para mim do que para ele antes de notar que o deus tinha ficado para trás. Na verdade Loki sequer estava prestando atenção em mim quando eu disse aquilo. Estava parado parecendo chocado enquanto olhava para o meio da pista. Retornei dois passos e tentei ver o que quer que fosse.

Foi então que me deparei com Thor, ajoelhado diante de Jane, o elmo que ele nunca usava entre as mãos dela. Não podíamos ouvir suas palavras daquela distância, mas as pessoas batiam palmas e gritavam, enquanto copos se quebravam no chão. Corri meus olhos pelos presentes e percebi que Odin parecia disposto a matar alguém ao lado de uma Frigga absolutamente encantada. Senti meu coração se esmagar quando vi Sif se afastando discretamente em direção ao centro de Vanaheim de onde Heimdall a levaria embora. Eu e Loki nos entreolhamos estupefatos. O príncipe herdeiro havia escolhido sua futura esposa. Hoje eu desejava mais do que nunca que um pedido feito a uma flor que flutuava tivesse algum valor. Puro egoísmo.


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